Embora não seja inesperada a morte de uma mulher de 98 anos, recebi a notícia com tristeza. Como escrevi na minha lista atualizada do Meus cinco Livros, aqui no fórum, na qual incluí um de seus romances, tenho um carinho muito particular pela sua obra. Há poucos autores de cuja obra eu tenha lido tanto. Lygia sempre disse que considerava seus leitores seus cúmplices e eu realmente passei a me ver envolvido nessa relação de cumplicidade.
Teve uma vida longa, produtiva e absolutamente triunfante. E merecidamente, conseguiu ter a visibilidade que tantas outras (boas) escritoras brasileiras não alcançaram. Fez-se cânone em vida.
Em diversas ocasiões, Lygia disse que queria ser lida enquanto ainda estava quente, porque - citando o poeta Tomás Antônio Gonzaga - as glórias que chegam tarde, chegam frias. Acho que ela pôde sentir o calor da glória ainda em vida. Na recepção da crítica, nos prêmios colecionados, no amor de um público leitor bastante devotado. E como ela dizia também: preferia ser amada que compreendida.
E fenômeno impressionante: nessa era das redes sociais, cresceu muito entre um público leitor bastante jovem, o que é curioso considerando a resistência que essa faixa etária tende a ter à literatura brasileira canônica. E criou-se ali como que uma comunidade de leitores de Lygia Fagundes Telles, bolha à qual passei a pertencer, travando contato com alguns de seus leitores espalhados pelo país.
Para finalizar, lembro uma frase que Lygia diz no documentário Narrarte, dirigido pelo seu filho Goffredo Telles Neto:
"Me leia! Não me deixe morrer!"
Não morrerá nunca, Lygia!