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Luzes da cidade

Anica

Usuário
Ótimo artigo de Irinêo Baptista Netto que saiu na Gazeta, compartilho com vocês aqui:

“Espere um pouco”, diz o escritor Luís Henrique Pellanda, como se buscasse informações em algum ponto invisível do café onde encontrou este repórter. “Vou elaborar em cima disso [da pergunta] e ver o que acontece.” A pergunta era sobre Curitiba. Por que, de repente, a cidade parece ter uma cena literária tão forte?

“Não foi de repente. Faz tempo que a cidade tem bons escritores”, diz Pellanda. Ele e José Castello, carioca radicado aqui há quase duas décadas, venceram na semana passada o prêmio da Fundação Biblioteca Nacional, um com o livro de contos O Macaco Ornamental, o outro com o romance Ribamar.

O barulho no café era alto e chovia no lado de fora como parte da gangorra climática dos últimos dias (meses?, anos?). Era terça-feira e Pellanda, depois de falar um pouco sobre certos hábitos curitibanos, chegou à “Teoria das Lendas”. Mais sobre ela daqui a algumas linhas.

Algo se passa com a literatura de Curitiba há tempo. Hoje, a cidade tem uma aura literária que ultrapassa o estado e faz os escritores daqui e os livros escritos aqui serem comentados no país inteiro. Tão importante quanto isso, a cidade venceu o “eixo” para ter um cenário e referências próprios.

No mercado editorial e também fora dele, a palavra “eixo” se refere ao binômio Rio de Janeiro – São Paulo e, com frequência, o termo é usado com o peso que o ex-presidente George W. Bush costumava dar ao “eixo do mal” dos terroristas. Rio e São Paulo não chegam a ser “do mal”, mas artistas sabem como é complicado ganhar destaque quando não se está em uma das duas cidades.

A questão não é avaliar se Curitiba “aconteceu” ou não na literatura – seja lá o que isso signifique –, mas destacar o fato de que a capital tem uma potência literária evidente e ocupa uma posição semelhante a de Porto Alegre (com um porém: os gaúchos são mais leitores que os paranaenses, mas esse é outro assunto).

“Talvez a potência que você descreve venha da vocação para a invisibilidade”, diz José Castello, numa troca de e-mails com a reportagem. “Por causa do temperamento introvertido e tímido, os escritores pouco se encontram, pouco se comunicam, raramente se veem. Fazem viagens solitárias mas, talvez por isso, muito ricas. Quietos, solitários, invisíveis, eles não param de trabalhar e de se superar.”

Cristovão Tezza palmilhou o país e o estrangeiro falando sobre O Filho Eterno, o romance brasileiro mais premiado desta década. Lageano que vive na capital do Paraná desde sempre, ele acaba de publicar Um Erro Emocional debaixo de elogios e, nas viagens que faz, tem de lidar com a curiosidade alheia sobre a cidade que define como “mental, introvertida e introspectiva”, características também do ato escrever. As pessoas querem sa­­ber o que se passa em Curitiba pa­­ra abrigar tão bons escritores.

“É uma boa pergunta, até porque não temos de fato uma longa tradição [literária]. A cidade tem 300 anos, mas a nossa literatura maior começa de fato com Dalton Trevisan”, diz Tezza. “Curitiba é uma cidade, até hoje, de ‘estrangeiros’ – o estranhamento é um traço indispensável de quem escreve. Ela também é autofágica – gosta de falar mal de si mesma e dos seus. Afinal, nosso ponto turístico clássico se chama Boca Maldita. Ter senso crítico, até o limite, é sempre qualidade boa para quem escreve.”

Ele diz que Curitiba era uma espécie de exílio antes do surgimento da internet (lembra do “eixo”?). “O sentimento de exílio também é bom para quem escreve”, emenda. E há a famosa disciplina local, que respeita rotinas e filas. “Não parece, mas isso faz bem para o talento de quem escreve”.

No café, Pellanda havia acabado de comentar os tais hábitos curitibanos e falava da tradição local nas revistas e jornais literários – ele mesmo é hoje coeditor do Rascunho – quando tascou: “As lendas colaboraram”.

Lendas?

“Como o Leminski e o Dalton”, responde Pellanda. O mundo literário de Curitiba não é muito grande nem muito velho, mas as poucas histórias que tem são fabulosas ou trágicas e acabam virando objeto de culto. É a “Teoria das Lendas” e ela faz sentido.

Dalton Trevisan é o “vampiro” de 85 anos intolerante à vida social. Paulo Leminski (1944-1989) era o poeta faixa-preta em judô. Wilson Bueno (1949-2010), o romancista obcecado pela forma do texto que morreu esfaqueado em maio passado. A galeria de autores locais – nascidos ou não em Curitiba – tem figuras simbólicas da literatura experimental: Manoel Carlos Karam (1947-2007) e Valêncio Xavier (1933-2008) são referenciais para autores como Joca Reiners Terron e Marçal Aquino.
 
Anica, Fantastico artigo...

Eu não sou de Curitiba, sou do famoso "eixo do mal", mas tudo que já ouvi da cidade trás uma conotação mística da cidade. Lembro de bandas de rock falar que Curitiba é o melhor palco para se tocar, e sempre tive a impressão que Curitiba é o palco perfeito para qualquer artista nascer... não sei exatamente por que, mas é minha visão...
 

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