Analisando o trecho do Silma que vai da queda de Fingolfin e fiquei surpreso com alguns detalhes interessantes que têem a ver com Lúthien.
Segundo se conta Beren num primeiro momento não pôde se aproximar de Lúthien porque, nas palavras do Silma, suas pernas estavam acorrentadas, como se a natureza de seu corpo não quisesse obedecer.
Logo a seguir Lúthien inicia uma série de encantamentos para libertar ou quebrar a ordem de aprisionamento que estava contendo os elementos naturais em volta dela dentro do bosque, por exemplo, a voz das águas que se liberta ou os sinais da estação para que prossigam em seu caminho.
Se nós pensarmos bem, o corpo dos homens sempre era tratado como uma área mal compreendida pelos Poderes (como se vê no diálogo de Eru que nos informa da reticência em conceder a vestimenta para os mortais).
Em outras palavras a partir disso é possível dizer que o corpo dos homens podia ser influenciado pela absorção externa de poder sub-criativo de outros seres que inclusive podia ser usado pelo proprietário da vestimenta. De maneira que o corpo deles, por ser formado por matéria sob domínio dos Valar podia mudar e com isso afetar as decisões deles. Quer dizer, a água que estava no sangue de Beren continuava no domínio de Ulmo, os minerais no domínio de Aule e por aí vai de forma que comandar o próprio corpo era domar um micro-cosmo que se caísse na mão de Melkor também absorveria a deformidade que o aprisionaria.
No caso de Beren a absorção de encantamento da parte de Luthien passa a render frutos para o usuário na forma de libertação (e a balada significa justamente libertação do cativeiro). E enquanto um maia podia confundir e enfeiar aquilo que governava outro maia podia esclarecer ou embelezar o seu domínio.
Beren, que era um excelente rastreador, antes de chegar na floresta-labirinto buscava uma coisa. No meio do caminho chega ao centro do labirinto que não obstante, também recebia manutenção de Melian e sua filha. Esse tipo de manutenção é notado no lago Tarn Aeluin que tinha fama de ter sido consagrado pela própria Melian.
Essas absorções a partir de fontes naturais criadas para "manutenção" de poder subcriativo podiam gerar "estranhezas" como homens púkel, Beorn, árvores de coração negro ou o que seja... Mas que permaneciam como que sob a guarda com pleno direito de uso daqueles que a possuíam para serem usados sob a responsabilidade do portador. Se for visto por esse ângulo os corpos dos filhos (elfos também) eram como jóias que podiam ou não serem valorizadas com mais pedras, etc...
De modo que para ser curado com poder sub criativo era preciso estar associado a ele ou então não funcionaria. Para liberar ou libertar esses pontos o portador da cura precisava se colocar frontalmente contra o perpetrador do mal que acometia a vítima. E foi assim que Lúthien se colocou contra a escuridão de Melkor, enfrentando o mal que perseguia Beren e se diz que ela teve a maior angústia dos Eldalie de seu reino pois o que ela viu a dispôs com tanta urgência que podemos apenas supor através do amor que a libertou.