Do blog do Antonio Miranda:
Li uma matéria sobre ele na "Conhecimento Prático: Literatura", com o subtítulo "O modernista desconhecido". Gostei da poesia do cara, mas não li nenhuma obra, só uns negócios soltos. Algumas, aí:
Poeta quase desconhecido mas em fase de redescobrimento e estudo em seu estado de origem – o Mato Grosso do Sul, foi um fenômeno. Escreveu seus livros Areôtare e Sarobá, antes dos 20 anos de idade, na vanguarda de nosso Modernismo. É possível ver nele as influências de Manuel Bandeira e de Raul Bopp mas sua lavra é muito original. Usa o coloquialismo brasileiro com naturalidade. Seu versilibrismo é original, com acentuada cor telúrica, regional, às vezes de forma ingênua, mas militante pela denúncia das mazelas e das precariedades da vida das populações ribeirinhas na zona fronteiriça de Corumbá.
Li uma matéria sobre ele na "Conhecimento Prático: Literatura", com o subtítulo "O modernista desconhecido". Gostei da poesia do cara, mas não li nenhuma obra, só uns negócios soltos. Algumas, aí:
NATUREZA MORTA
Os trilhos velhos estão sendo trocados
por trilhos novos.
E os bondes enfileirados
andam devagar.
Os passageiros estão inquietos.
Alguns não se conformam
e descem apressados, praguejando.
Outros procuram distração
nas entrelinhas dos jornais.
Meus olhos grudaram nos gestos fortes
dos homens feios,
e eu, intimamente, justifico,
achei natural o atraso dos bondes
e a troca dos trilhos velhos...
ESMOLA
É verdade – me disse o moço sujo da esquina –
quando menino, toda vez que tropeçava e caía
sempre encontrava alguém para me levantar.
- Levanta, batuta, para cair outra vez!
Agora, que sou farrapo de homem,
que queria ser homem,
que já tropecei por este mundo a fóra,
que já cansei de ficar no chão,
não encontro ninguem que me tire da sargeta.
Pelo contrario, parece, ninguem me quer ver de pé.
Passam e jogam níqueis no meu chapéu furado.
Esses idiotas pensam que me fazem bem,
que pagam uma prestação do céu,
e que a esmola que me atiram,
humilhados e humilhantes,
me serve para alguma coisa.
- Idiotas! Imbecis! Criminosos!
Os trilhos velhos estão sendo trocados
por trilhos novos.
E os bondes enfileirados
andam devagar.
Os passageiros estão inquietos.
Alguns não se conformam
e descem apressados, praguejando.
Outros procuram distração
nas entrelinhas dos jornais.
Meus olhos grudaram nos gestos fortes
dos homens feios,
e eu, intimamente, justifico,
achei natural o atraso dos bondes
e a troca dos trilhos velhos...
ESMOLA
É verdade – me disse o moço sujo da esquina –
quando menino, toda vez que tropeçava e caía
sempre encontrava alguém para me levantar.
- Levanta, batuta, para cair outra vez!
Agora, que sou farrapo de homem,
que queria ser homem,
que já tropecei por este mundo a fóra,
que já cansei de ficar no chão,
não encontro ninguem que me tire da sargeta.
Pelo contrario, parece, ninguem me quer ver de pé.
Passam e jogam níqueis no meu chapéu furado.
Esses idiotas pensam que me fazem bem,
que pagam uma prestação do céu,
e que a esmola que me atiram,
humilhados e humilhantes,
me serve para alguma coisa.
- Idiotas! Imbecis! Criminosos!