Só tentando imiscuir-me na conversa
. A Literatura Brasileira é rica, mas temos o costume de achá-la inferior à internacional; acabamos,pois, jogando no lixo o legado de escritores que buscaram uma identidade só nossa, como Gonçalves Dias, Mário de Andrade, Vinícius de Morais. Esquecemos de Machado de Assis, o maior expoente do Realismo da língua portuguesa -pedindo desculpa a alguns que acham que é Eça de Queirós-, que ele sim é a cara da nossa literatura, ele desconstruiu e destrinchou a identidade nacional em seus contos, desprezando os modismos entre os escritores da época (o positivismo,darwinismo social).
Com algumas ressalvas, é bem por aí. A Literatura Brasileira é riquíssima. O que acontece, muitas vezes, é que com a obrigação da leitura de obras literárias (os ‘clássicos’) para a escola, -e o péssimo trabalho feito a partir dessas leituras, por muitos professores- as pessoas assumem uma postura de MUITA má vontade para com a nossa Literatura e, por isso, acabam se privando de leituras espetaculares.
Para citar um exemplo particular, quando eu prestei vestibular, vi na lista de livros obrigatórios, “Relato de um certo Oriente”, de um ‘tal’ de Milton Hatoum. Sério, eu não dava NADA por ele e, das obras indicadas, pensei que seria a pior. (sim, subestimei mesmo
). Por isso, a primeira obra que li foi “Laços de Família”, de Clarice Lispector (autora que eu já conhecia, adorava, e tal). Só então, pensei, “é, vou ler esse ‘Relato de alguma coisa’ logo, depois passo para as outras obras”.
Quando eu estava na metade do livro, pensei:” isso é, provavelmente, uma das melhores coisas que já li na minha vida. Virei fã desse cara”. Decidi procurar por mais ‘coisas’ escritas por ele e me deparei com o magnífico “Dois irmãos”. Etc.
E já que Machado de Assis foi citado, mais de uma vez, também quero dizer algumas coisas sobre ele. Mais especificamente, sobre Memórias Póstumas.
Eu poderia começar dizendo que é a obra inaugural do Realismo no Brasil. Mas isso
não diz nada. Eu poderia dizer, também, que é uma obra espetacular, de um escritor fenomenal. Mas isso, também, não diz nada. Eu posso dizer, também, que Memórias Póstumas é o meu livro preferido. Mas isso, mais uma vez, não diz nada. Pode não dizer a vocês, mas diz a mim. Diz que Machado soube observar os
podres poderes (Olá, Caê!) desse mundo. Ele exibiu uma burguesia com a tinta do ridículo, a burguesia que é insegura de sua força e de seus poderes, e deseja ser nobre, fidalga, valendo-se de todos os meios: a imaginação, a falsificação ou a imitação. Sirva de exemplo o pai de Brás, que deseja para a origem dos Cubas alguém
que não cheirasse à tanoaria (cuba é tonel, vasilha, barril). Daí, a origem foi deslocada para um licenciado, Luís Cubas, bacharel e amigo do vice-rei. Imagina-se, também, o nome Cubas associado a um mentiroso feito heróico (um ancestral arrebatou trezentas cubas aos mouros).
Paradoxalmente, na decomposição do cadáver de Brás, observa-se a edificação de uma personalidade narcísica, vaidosa, orgulhosa. Afinal, quais as primeiras palavras da dedicatória? AO VERME... E não é difícil decompô-la: AO VER-ME. Isto é, a chamada segunda fase do romance machadiano inicia-se com um poderoso e afiado olhar para a interioridade humana, extraindo daí o egoísmo, o interesse, a desagregação e o nada. Acho que “Eu sou egoísta”, do Raul, sintetiza, na medida do possível, a personalidade de Brás Cubas, e, por extensão, do enredo de Memórias Póstumas.
Quanto à pergunta inicial do tópico, eu não recomendaria os livros da série Crepúsculo.