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Literatura erótica

E eu vou ser obrigado a escrever qualquer coisa lá sobre Bondage Fairies então. :timido:
 
Pra mim era uma estranheza falar de literatura erótica, só o que li nesse sentido era o pornozão mais ou menos doentio dos hentais da minha adolescência, um continho ou outro, alguma poesia raríssima e... nada.

Mas isso foi antes de James Joyce. Já haviam certas insinuações em 'Dublinenses', mas elas só elevaram a um nível mais pessoal e menos distanciado e frio das personagens em 'Retrato de um artista quando jovem' e mesmo ali as coisas tinham um caráter distante, mais relacionado a uma forma mais sexual de se viver a vida. Para o Stephen não há solução de continuidade entre imagens eróticas dos danados no inferno, o próprio ato sexual e a vida vivida. Isso é mais doentio que muito hentai mas é a sensação profana que adoece os homens, não a metafísica por trás dessa unidade (sorry, Mavz, poucas coisas são menos profanas que um bom rala-e-rola). Depois veio Ulysses e como fazendo jus ao seu título de 'épico do corpo', ao mesmo tempo que se vê as sensações corporais mais banais sendo glorificadas e santificadas, a mais santa das santas iconoclastias, é claro que o santo dos santos, a sexualidade não só não deixaria de ser abordada como o seria de forma visceral.

Ulysses, seja naquela orgia do sentimento que era 'Sereias', aquela musicalidade que se não era erótica, era absurdamente sensual, uma das coisas mais próximas da união de amor e sexo que já experimentei. O apogeu que foi 'Nausicaa' com os sonhos da srta. MacDowell carregados de uma presença fortíssima de sensualidade. Tudo ali, a inocência não tão inocente de quem se descobre, de quem se descobriu e tenta se estender, os sentimentos podrezinhos mais básicos, a aura de mistério e de entrega a um desconhecido em que se vai construindo todo um lindo castelo mas que é menos feito de nuvens que de desejo, que é outro tipo de nuvem. E no final a descoberta do ardor de Bloom, a narrativa se desloca e se é transportado de forma absurdamente sexual de uma fantasia virginal para uma fantasia realizada, uma fantasia imunda e gostosa de um homem feito, casado e senhor de si mas pleno de desejo, de vida, que pode estar tendo a esposa penetrada docemente naquele momento mesmo que ele bate aquela punheta, e se sabe daquele orgasmo fulminante, que sobe sujando e rasgando como aquele fogos de artifício rasgam e penetram o céu, e muita vida jorra, e jorra infinitamente. Com certeza uma das coisas mais apavorantemente sexuais que já li na vida. Digo, não é uma 'coisa sexual', é sexo literário, se algo tem de ser erótico, penso eu que deva se parecer com aquilo, quando a união dos corpos faz demolir o próprio texto em cima do leitor.

Depois vem aquele capítulo que pode ser considerado um orgasmo e uma alucinação, tudo é uma questão de grau mínimo. Nem sei o que falar aqui, Circe mexe comigo de tantas formas. Mas dá pra encerrar falando de 'Penélope', não? Enfim, imaginem uma vida relatada, contada, mastigada em um dia, mesmo uma hora, e uma vida sexual, uma vida que se conta não pelo sexo como metáfora da vida mas vida que se desenrola como desejo, como tensão, ardor, coisinha que arde ali embaixo e que não se segura, se entrega e explode.

Ah, eu não sei como deve ser literatura erótica, mas penso que ninguém tem capacidade incitar e excitar e ambos conexamente como Joyce faz. E o mais impressionante é que TODO o Ulysses é sim, só escolhi os capítulos mais 'interessantes'. Claro que o livro não é uma sucessão de putarias (essa palavra mesma inexiste aqui) mas existem capítulos mais quentes e o livro todo, seja em cada uma de suas partículas seja no todo, no espírito que ele exala, mas o livro é uma bela de uma foda. Sim, é, porque é aqui também que se tem uma grande intuição: não é que a vida se resuma a sexo, mas a vida é sexo, mas somente enquanto a vida for sexualizada e o sexo, vivificado. O que é moderno (e doentio) é crer, pensar e agir como se isso não fosse verdade. É o câncer da sociedade burguesa.


Todo mundo sabe que eu estava pesquisando. Como é que eu posso saber se eu gosto de uma coisa se não experimentei?

:hihihi:

sorry, não resisti

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Falar de Gabriel Garcia Marquez. É engraçado, porque o Gabo escreve livros muito eróticos ou pelo menos que a descrição da vida (ou semi-vida sufocante de certos personagens) é marcadamente orgânica, ou seja, não é bem uma questão de castidade ou de desregramento mas de 'seguir a corrente', que eu senti como algo vibrante ao extremo.

Em 'Memórias de minhas putas tristes' a história do velho ranzinza e comedor de putas é bem emblemática do que falei anteriormente sobre a 'quebra' tipicamente burguesa entre desejo e sentimento, a idealização fantasmagórica do sentimento e a materialização do desejo por conta de uma falsa dialética moral, uma deturpação do cristianismo, particularmente fortes em áreas latino-americanas. Aí se tem o quebrado homem europeu em um contato excitante com o mundo selvagem caribenho e essa luta sexual se expande em todos os sentidos da vida. Perde-se o sentido do amor, união de desejo e sentimento, não pela falta de amor mas pela sua brutalização e para se sanar isso somente com uma longa terapia suja, recuperação da união de tudo que está desunido, o homem que se redescobre no outro. Não é uma fraternidade no sentido iluminista ou uma babaquice etérea, é só uma penetração gostosa. Livro curto e triste, pois parece que a terapia é mais custosa e demorada, o amor deixa muitas sequelas em um coração acostumado ao frio...

Já 'Cem anos de solidão' é uma coisa diferente. Eu tive outras intuições. Parece que o sexo é igual e diferente da metafísica do tempo que parece se desenrolar nos 100 anos de solidão dos Buendía. É igual porque ele se mantém no cerne da coisa, gerando mais e mais vidas, contribuindo com o tempo que parece se repetir, que de fato se repete na ilusão de mais formas geradas sem atingirem nenhum fim, nenhuma durabilidade e nenhum sentido. O sexo é como uma extensão do tempo, o tempo impede o ser se manifesta fora de si mesmo, e o sexo gera um ser imperfeito, um ser submisso a um tempo amaldiçoado. Por outro lado é justamente através do sexo, na sexta geração da família Buendía, que a maldição parece, senão se desfazer, pelo menos se encerrar com certa 'glória', com certa compensação e fechamento verdadeiro, levando a certeza da redenção. É um sexo com amor, em outras palavras, é algo incestuoso sim mas mais importante que isso (como se não pudesse ser de outra forma), é que a união das partes despedaçadas dos homens (de que a maldição poderia ser uma alegoria, uma versão 'piorada' da condição existencial de todos os homens e suas famílias) se dá por ele.

Nesse livro é muito claro pra mim que toda a história da família, se é uma repetição no tempo e de forma degradada, o sexo o piora, mas a sexualidade, per se, é sempre de uma qualidade muito grande, é de uma intensidade, de uma força, como de pessoas tentando se livrar de suas correntes e forma desesperadora e talvez seja essa consciência (inconsciente do drama como um todo) que torne a mais doce penetração algo estéril, destinado a repetir a mesma tristeza e a mesma frustração futura. É um sexo que termina frustrado, que não une as pontas soltas. E, engraçado isso, é justamente uma relação do nível incestuoso (como a primeira, que abre a maldição da solidão) que fecha o ciclo.
 
mundodek

Seleção da Penguin - Os top ten clássicos eróticos

Um site bem interessante para se visitar é o da editora inglesa Penguin Classics onde recomendo o top ten temático para quem gosta de listas literárias. Selecionei a relação dos dez clássicos eróticos de todos os tempos eleitos pela Penguin, demonstrando mais uma vez que o sexo já era bastante utilizado na literatura bem antes da descoberta dos 50 tons de cinza (ver também do Mundo de K: 20 romances eróticos que se tornaram clássicos).

  1. Kama Sutra (estima-se que tenha sido escrito no período entre 400 a.C e 200 d.C) - Um dos guias sexuais mais antigos da humanidade, clássico indiano com aconselhamentos sobre todos os assuntos, desde a arte do beijo até poderosos afrodisíacos.
  2. Delta de Venus (lançamento póstumo em 1978) - Anaïs Nin (1903 - 1977) - Anaïs Nin passou vários dias na biblioteca estudando o Kama Sutra antes de escrever esta coletânea de clássicos eroticos que lhe renderam um dolar por página.
  3. A Filosofia na Alcova (publicado clandestinamente em 1795) - Marquês de Sade (1740 - 1814) - Segundo resumo da Penguin, Christian Grey (protagonista de 50 tons de cinza) se sentiria como um namorado bem comportado depois de ler as façanhas infames do Marquês de Sade.
  4. A Vênus das Peles (lançamento 1870) - Leopold von Sacher-Masoch (1836 - 1895) - Mais sadomasoquismo, desta vez no século XIX, na Áustria.
  5. O amante de Lady Chatterley (lançamento 1928) - D.H. Lawrence (1885 - 1930) - Quando este livro foi julgado por obscenidade em 1960, o promotor perguntou se desejaríamos que fosse lido pela nossa mulher ou criado. Mas o júri não concordou e, desde então, estre clássico tem sido lido por mulheres, criados e todas as pessoas também.
  6. Fanny Hill - Memórias de uma mulher de prazer (publicado clandestinamente em 1748) - John Cleland (1709 - 1789) - Este romance foi banido da Inglaterra no século XVIII e permaneceu proibido até os anos setenta.
  7. As Relações Perigosas (lançamento 1782) - Choderlos de Laclos (1741 - 1803) - Um clássico do romance epistolar de sedução e traição.
  8. História do Olho (lançamento 1928) - Georges Bataille (1897 - 1962) - Lembranças de perversões de um casal de amantes adolescentes.
  9. Em louvor das mulheres maduras (lançamento 1965) - Stephen Vizinczey (1933 - ) - Narra as aventuras amorosas e sexuais do jovem Andràs Vajda nos anos sessenta.
  10. Poemas eróticos - Ovídio (43 a.C - 17 ou 18 d.C) - As mulheres romanas da época não poderiam resistir (provavelmente) aos versos sedutores de Ovídio, ainda espirituosos nos dias de hoje.
(fonte: mundodek)

20 romances eróticos que se tornaram clássicos

Em conformidade com o recente interesse do mercado editorial em publicações eróticas, especialmete devido a uma certa trilogia de muito sucesso na tonalidade cinza, selecionei alguns clássicos muito bem escritos sobre este tema sempre presente na literatura universal. A ordem de aparecimento, como sempre, é apenas cronológica.

(01) Decameron (1352) - Giovanni Boccaccio (1313 - 1375);

(02) Moll Flanders (1722) - Daniel defoe (1660 - 1731);

(03) Fanny Hill (1748) - John Cleland (1709 - 1789);

(04) As Relações Perigosas (1782) - Choderlos de Laclos (1741 - 1803);

(05) Os 120 dias de Sodoma (1785) - Marquês de Sade (1740 - 1814);

(06) Madame Bovary (1857) - Gustave Flaubert (1821 - 1870);

(07) A Vênus das Peles (1870) - Leopold von Sacher-Masoch (1836 - 1895);

(08) Autobiografia de uma Pulga (1887) - Anônimo;

(09) Breve Romance de Sonho (1926) - Arthur Schnitzler ( 1862 - 1931);

(10) O amante de Lady Chatterley (1928) - D.H. Lawrence (1885 - 1930);

(11) História do Olho (1928) - Georges Bataille (1897 - 1962);

(12) Voragem (1930) - Junichiro Tanizaki (1886 - 1965);

(13) Trópico de Câncer (1934) - Henry Miller (1891 - 1980);

(14) Lolita (1955) - Vladimir Nabokov (1899 - 1977);

(15) Asfalto Selvagem: Engraçadinha (1959) - Nelson Rodrigues (1912 - 1980);

(16) A casa das Belas Adormecidas (1961) - Yasunari Kawabata (1899 - 1972);

(17) Delta de Vênus (1978 - póstumo) - Anaïs Nin (1903 - 1977);

(18) O Amante (1984) - Margarite Duras (1914 - 1996);

(19) Os Cadernos de Don Rigoberto (1997) - Mario Vargas Llosa (1936 - );

(20) A Casa dos Budas Ditosos (1999) - João Ubaldo Ribeiro (1941 - ).
(fonte2: mundodek)
 
Última edição:
Quero ler Lady Chaterley.

Hoje comprei essa 'Poesia erótica' preparado pelo José Paulo Paes e 'Antologia pornográfica' preparado pelo Alexei Bueno.

Comprei também os 'Delta de Vênus' e 'Fogo' da Anaïs Nin,
 
Só li uns contos do Sade naquela coleção 64 páginas e os achei bem meia boca. Acho que o Sade é uma figura muito superior a sua obra.

Tem também o "Mecânica dos Fluídos" que me fudeu várias vezes durante a faculdade, mas não sei se entra em literatura erótica.
 
O Amante da China do Norte. Magnifico, é erótico no seus "limites" (apesar do romance ser entre um "senhor" e uma garota, praticamente, uma criança), sereno, delicado... Aconselho.
 
Cada vez que leio sobre essas mulheres aí faturando mais de milhão com livro erótico, fico puto comigo mesmo por não começar a escrever logo alguma coisa. Quem sabe eu também peço demissão depois do terceiro livro? :timido:

Mas não... Fui inventar de publicar justo poesia! Satírica, ainda por cima. Que é a mosquinha na bosta do cavalo do bandido. :rofl:
 
Colando aqui, de maneira adaptada, o que postei no instagram sobre "A Casa da Paixão", de Nélida Piñon.
_____________

O mais belo texto erótico da língua portuguesa - teria dito o escritor português Almeida Faria a respeito deste livro. A plataforma ficcional do erotismo feminino - teria descrito a escritora estadunidense Toni Morrison, segundo relata Nélida em uma recente entrevista.

O próprio título do livro - "A casa da paixão" - é uma metáfora sobre o corpo feminino. Um texto erótico, sim, mas de um erotismo mediado por uma poética carregada de símbolos e metáforas e que subverte o que a autora uma vez chamou de "sintaxe bem-comportada". Não vou mentir. Não é uma leitura fácil. Eu diria até que foi a leitura mais desafiadora do ano e eu mesmo sinto que há diversas passagens cujo sentido eu não alcancei ou não estou seguro de tê-las interpretado adequadamente.

Em linhas gerais, "A Casa da Paixão" conta a história de Marta, uma jovem em processo de descoberta do próprio corpo, da própria sexualidade, do desejo. Órfã de mãe desde cedo, criada por uma ama, de nome Antônia - uma mulher que aparece na narrativa como uma figura animalesca, feia, malcheirosa, em tudo um contraste em relação à protagonista - e pelo pai - um homem torturado por desejos incestuosos em relação à própria filha e que, não podendo tê-la, persegue-a e arroga-se o direito de determinar-lhe o destino. Marta, no entanto, não se dobra aos desígnios do pai. Diz a certa altura: "Odeio os homens desta terra, amo os corpos dos homens desta terra, cada membro que eles possuem e me mostram, para que eu me abra em esplendor, mas só me terão quando eu ordenar."

Em certa medida, "A Casa da Paixão" reflete um texto em favor da libertação da mulher, a proclamar a legitimidade do desejo sexual feminino e da relação desta com o próprio corpo, tradicionalmente atrelada, no contexto de uma cultura judaica-cristã, ao signo do pecado, do profano. Tenho a impressão de que a narrativa parece redesenhar as fronteiras entre o sagrado e o profano, sacralizando o sexo, a comunhão ritual no altar do corpo, rejeitando a introjeção da culpa em favor da aceitação de um impulso natural.

Mas é um daqueles livros que recomendo com cuidado. Embora eu mesmo o tenha achado fascinante, acho que é um daqueles livros que não deve agradar a todos, que não vai ser nunca uma unanimidade.

Eu mesmo tive que procurar alguns textos acadêmicos a respeito, como leituras de apoio, pra me ajudar a digerir e a consolidar essa leitura.
 
Esse aqui aprendi na escola:

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci....
 
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