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Literatura e Música: no princícpio era o dó, e do dó fez-se ré

Melian

Período composto por insubordinação.
A vida é uma ópera, e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestração é excelente... — Mas, meu caro Marcolini...
— Quê?...

E, depois, de beber um gole de licor, pousou o cálice, e expôs-me a história da criação, com palavras que vou resumir.

Deus é o poeta. A música é de Satanás, jovem maestro de muito futuro, que aprendeu no conservatório do céu. Rival de Miguel, Rafael e Gabriel, não tolerava a precedência que eles tinham na distribuição dos prêmios. Pode ser também que a música em demasia doce e mística daqueles outros condiscípulos fosse aborrecível ao seu gênio essencialmente trágico. Tramou uma rebelião que foi descoberta a tempo, e ele expulso do conservatório. Tudo se teria passado sem mais nada, se Deus não houvesse escrito um libreto de ópera, do qual abrira mão, por entender que tal gênero de recreio era impróprio da sua eternidade. Satanás levou o manuscrito consigo para o inferno. Com o fim de mostrar que valia mais que os outros, — e acaso para reconciliar-se com o céu, — compôs a partitura, e logo que a acabou foi levá-la ao Padre Eterno.
(Dom Casmurro - Machado de Assis)

Vamos ver quem anda brincando de compor a ópera e quem tem cuidado de conduzi-la? Do que você está falando, Melian? Estou falando de estabelecermos relações entre a música e a literatura. Não, eu não quero estabelecer um padrão exato para isso. Nada do tipo: "Ah! mas é só para falarmos de intertextualidade ou musicalização também serve?" É tudo junto e misturado, gente. O foco principal é falarmos sobre as referências literárias nas canções. E, não, não há a necessidade de conceituarmos isso, entende? O que importa não é saber dizer se o processo intertextual de Até o fim é uma paródia ou paráfrase, o importante é que se perceba que há um namoro da letra da canção com o Poema de Sete Faces de Drummond. Só isso.

Para começar:

A terceira margem do rio - Caetano Veloso, canção homônima daquele que é considerado um dos melhores contos da Literatura brasileira, A terceira margem do rio, escrito por Guimarães Rosa. Eu acho a canção belíssima. Caetano captou, bem, o tom do conto e, baseado nisso, fez uma canção memorável. Sobre o conto, eu me junto ao côro dos que dizem que ele é, junto de A missa do Galo (do meu IDOLATRADO Machado) o melhor conto da Literatura brasileira.


Um índio - Caetano Veloso: QUEM, meu Deus, QUEM consegue não estabelecer a relação imediata com O Guarani, de José de Alencar, quando ouve "apaixonadamente como Peri..."?



Vambora :grinlove:, da Adriana Calcanhotto (MINHAMÚSICAPREFERIDADACALCANHOTTOEMTODOSOSTEMPOSEUNIVERSOS). Um dos versos da canção é "Na cinza das horas", que remete ao nome de um livro do Manuel Bandeira... Além disso, a canção tem um tom melancólico, tal qual o tom que perpassa não só A cinza das horas, primeiro livro do poeta, mas toda a sua obra. Vambora, ainda, faz referência a uma obra do Ferreira Gullar, chamada Dentro da noite veloz, nos versos: "Ainda tem o seu perfume/ Pela casa/ Ainda tem você na sala/ Porque meu coração dispara? / Quando tem o seu cheiro/ Dentro de um livro/ Dentro da noite veloz..." Tenho todos os problemas do mundo com o Gullar dos últimos tempos, porque ele se tornou um maldito reacionário, mas Dentro da noite veloz tem os poemas do Gullar que mais me fascinaram, porque é uma obra MUITO política. Gosto, mesmo.


Já que estamos falando sobre a Calcanhotto e o Gullar, agora vai um caso de musicalização, mesmo: o poema Traduzir-se.



Capitu, de Luiz Tatit. Relação direta com Dom Casmurro, de Machado de Assis: "Capitu, a ressaca dos mares, a sereia do sul, captando os olhares, nosso totem tabu, a mulher em milhares, Capitu".



Até o Fim (muito bem interpretada por Zeca Baleiro, BTW) – Chico Buarque: a humorística exploração do ‘gauche’, presente em “Poema de sete faces”, de Drummond.

Assentamento - Chico Buarque: tem uma linda homenagem ao Corpo de Baile, do Guimarães Rosa :grinlove:. Tem referência ao Tutaméia, nesta canção também, bem no início, quando o conto "Barra da Vaca" é retomado e coisa e tal.


Pedro Pedreiro – Chico Buarque. Chico admitiu que tinha lido muito Guimarães, na época, e quis, de certa forma, ‘emulá-lo’ (podemos pensar em uma espécie de pastiche, né?). “Penseiro”, neologismo. Etc.


Murders in the Rue Morgue, do Iron Maiden. Oi, baseada no conto "Os assassinatos da rua Morgue" do Edgar Allan Poe :grinlove:.


Fleurs Du Mal, da Sarah Brightman, é uma clara referência ao poema escrito por Baudelaire (não só ao poema, mas à obra homônima, do poeta francês):


O nome da banda Joy Division veio do livro House of Dolls, de Karol Cetinsky. No livro, Joy Division era o nome como era chamado o lugar onde as mulheres judias eram mantidas prisioneiras e eram OFERECIDAS sexualmente aos oficiais nazistas. :cry:

O nome da banda Belle & Sebastian:grinlove: foi retirado de um livro infantil, "Belle et Sébastien", escrito pelo francês Cécile Aubry.

Carrie - Europe. Adoro a banda, e a canção é muito foda, embora não seja a minha preferida da banda, que é Coast to Coast (pois é, The final countdown não é a minha preferida). Nosso imaginário está povoado pela Carrie do filme de Brian de Palma, né? Mas o filme é baseado no livrinho lindo do Stephen King, chamado Carrie, a estranha.


Eu citaria o álbum Nightfall in Middle-earth (que estou ouvindo, no momento), do Blind Guardian, todo baseado em O Silmarillion :grinlove:, mas preciso deixar de ser putinha do Silma. Preciso?


Enfim, a ideia é essa, pessoas. Prossigam.
 
Última edição por um moderador:
Me lembrei dessa interpretação fodaça da Maria Rita, que tem esses versos que eu tanto gosto:


"Tanta gente se esquece que é preciso viver
Combater moinhos, caminhar entre o medo e o prazer
Somos todos na vida, qualquer um de nós
Vilões e heróis, vilões e heróis"




Dom Quixote

Maria Rita

Cavaleiro andante estrela marginal
Sobre o Rocinante escravo de metal
Um acorde rasga o céu
Raio negro a cavalgar o som
E cavalgar sozinho... e cavalgar

Viverá pra sempre em nosso coração
O moinho vento nova geração
Um menino vai crescer
Procurando em cada olhar o amor
E caminhar, sozinho... e caminhar
Tanta gente se esconde do sonho com o medo de sofrer
Tanta gente se esquece que é preciso viver
Combater moinhos, caminhar entre o medo e o prazer
Somos todos na vida, qualquer um de nós
Vilões e heróis,vilões e heróis

Viverá pra sempre em nosso coração
O moinho vento nova geração
Um menino vai crescer
Procurando em cada olhar o amor
E caminhar, sozinho... e caminhar
Tanta gente se esconde do sonho com o medo de sofrer
Tanta gente se esquece que é preciso viver
Combater moinhos, caminhar entre o medo e o prazer
Somos todos na vida, qualquer um de nós
Vilões e heróis,vilões e heróis

E seja onde for, qualquer lugar
Leva a luz que te conduz
Jamais abandonar o dom que te seduz
E seja onde for, qualquer lugar
Leva a luz que te conduz
Jamais abandonar o dom que te seduz.

 
Última edição por um moderador:
Prefiro Gita nesse sentido:


- Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que Ele me falou:

Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado,
Não falo de amor quase nada,
Nem fico sorrindo ao teu lado.

Você pensa em mim toda hora.
Me come, me cospe, me deixa.
Talvez você não entenda,
Mas hoje eu vou lhe mostrar.

Eu sou a luz das estrelas;
Eu sou a cor do luar;
Eu sou as coisas da vida;
Eu sou o medo de amar.

Eu sou o medo do fraco;
A força da imaginação;
O blefe do jogador;
Eu sou!... Eu fui!... Eu vou!...

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou o seu sacrifício;
A placa de contra-mão;
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição.

Eu sou a vela que acende;
Eu sou a luz que se apaga;
Eu sou a beira do abismo;
Eu sou o tudo e o nada.

Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra,
Do fogo, da água e do ar!

Você me tem todo dia,
Mas não sabe se é bom ou ruim.
Mas saiba que eu estou em você,
Mas você não está em mim.

Das telhas eu sou o telhado;
A pesca do pescador;
A letra "A" tem meu nome;
Dos sonhos eu sou o amor.

Eu sou a dona de casa
Nos pegue pagues do mundo;
Eu sou a mão do carrasco;
Sou raso, largo, profundo.

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão;
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão.

Eu!
Mas eu sou o amargo da língua,
A mãe, o pai e o avô;
O filho que ainda não veio;
O início, o fim e o meio.
O início, o fim e o meio.
Eu sou o início,
O fim e o meio.
Eu sou o início
O fim e o meio.

Sobre o Bhagavad Gita disse:
Bagavadguitá, também conhecido pela grafia Bhagavad-Gita (em sânscrito: भगवद्गीता, transl. Bhagavad Gītā, "Canção de Deus") é um texto religioso hindu. Faz parte do épico Maabárata, embora seja de composição mais recente que o todo deste livro. Na versão que o inclui, o Maabárata é datado no Século IV a.C..
O texto, escrito em sânscrito, relata o diálogo de Krishna (uma das encarnações de Vixnu) com Arjuna (seu discípulo guerreiro) em pleno campo de batalha. Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre seu dever, e recebe iluminação diretamente do Senhor Krishna, que o instrui na ciência da auto-realização. No desenrolar da conversa são colocados pontos importantes da filosofia indiana, que incluía já na época elementos do bramanismo e do Sankhya. A obra é uma das principais escrituras sagradas da cultura da Índia, e compõe a principal obra da religião Vaishnava, popularmente conhecida como movimento Hare Krishna e difundida a partir de 1965 no ocidente por Bhaktivedanta Swami Prabhupada.

A obra foi traduzida e comentada pelo erudito indiano, dando origem ao Bhagavad-Gita - Como ele é, contendo os principais ensinamentos da dogmática vaishnava e instruções do serviço devocional a Críxena segundo os preceitos da Sociedade Internacional pela Consciência Krishna, a ISKCON. Nestes preceitos, o livro apresenta a ciência da auto-realização e da consciência em Críxena através do serviço devocional e da bhakti-yoga.

O Bagavadguitá é a essência do conhecimento védico da Índia e um dos maiores clássicos de filosofia e espiritualidade do mundo. A filosofia perene do Bagavadguitá tem intrigado a mente de quase todos os grandes pensadores da humanidade, tendo influenciado de maneira decisiva inúmeros movimentos espiritualistas.

Trechos do Bhagavad Gita disse:
Por que você se preocupa sem motivo?
De quem você tem medo, sem razão?
Quem poderia matá-lo?
A alma não nasce nem morre.
Seja o que for que aconteceu, foi para o bem;
o que quer que esteja acontecendo, está acontecendo para o bem;
o que quer que virá a acontecer, também será somente para o bem. [...]

O que é seu hoje, pertenceu a alguém ontem,
e pertencerá a alguém depois de amanhã.
Você está desfrutando erroneamente do pensamento de que isto é seu.
A causa de seus sofrimentos é esta felicidade ilusória. [...]

Seu e meu, grande e pequeno,
Apague estas idéias de sua mente.
Pois tudo é seu e você pertence ao Todo.
Este corpo não é seu e nem você é deste corpo.
O corpo é feito de fogo, água, terra e éter
e um dia desaparecerá nestes elementos.
Porém a alma é eterna - então, quem é você? [...]

Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu, nem todos esses reis; e no futuro nenhum de nós deixará de existir. [...]

Fixa tua mente em mim, penetra em mim o teu entendimentoporque, sem dúvida alguma, após a morte, viverás em mim nas Alturas.

Assim seja: vou enumerar-te meus atributos divinos, ainda que me limite aos principais, ó melhor dos kurus, pois não há limites para minha grandeza.

Sou a morte que tudo arrebata e o nascimento de tudo que adquire vida. Entre os atributos femininos sou a glória, a beleza, a eloqüência, a memória, a inteligência, a constância e a misericórdia.

Uma das minhas músicas preferidas do Mestre Raul Seixas fala de DEUS! Não um deus pagão, o deus bíblico, ou mesmo um deus hindu, mas o Deus-Verdade, o Deus-Ser, Infinito, Imperecível, Imutável, a Essência de Tudo, o Brahman, Princípio e Fim de todas as coisas. A música é uma adaptação belíssima do poema Bhagavad Gita, que relata os conselhos de sabedoria eterna e filosofia hindu de alcance universal e profundidade insondável do deus Krishna, uma das manifestações (ou avatar) do Deus Um que se revela ao príncipe Arjuna, que se debate sobre a legitimidade moral da guerra dos Bharatas. O Gita é parte da gigantesca epopeia 'O Mahabharata', clássico dos clássicos da literatura épica, religiosa e filosófica da Índia e de todo o hinduísmo, incluindo inúmeras escolas e seitas, vedantas ou não, movimentos New Age, harekrishnianismo e outros setores esotéricos e religiosos.

Eu, como grande admirador do Mestre, só passei a admirá-lo mais depois que dei uma estudada no hinduísmo e pude ter um relance da enormidade, da grandiosidade, do poder, do tamanho do Bhagavad Gita e de toda a sabedoria hinduísta.

Hare Krishna!
 
Última edição por um moderador:
A primeira música que me veio à memória foi "Venus in Furs", do Velvet Underground:

Shiny, shiny, shiny boots of leather
Whiplash girlchild in the dark
Comes in bells, your servant, don't forsake him
Strike, dear mistress, and cure his heart

Downy sins of streetlight fancies
Chase the costumes she shall wear
Ermine furs adorn the imperious
Severin, Severin awaits you there

I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears

Kiss the boot of shiny, shiny leather
Shiny leather in the dark
Tongue of thongs, the belt that does await you
Strike, dear mistress, and cure his heart

Severin, Severin, speak so slightly
Severin, down on your bended knee
Taste the whip, in love not given lightly
Taste the whip, now plead for me

I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears

Shiny, shiny, shiny boots of leather
Whiplash girlchild in the dark
Severin, your servant comes in bells, please don't forsake him
Strike, dear mistress, and cure his heart
Para a época, parece-me uma letra bem incomum, inspirada pelo livro homônimo de Leopold von Sacher-Masoch, tratando de temas como bondage, submissão e S&M.


Uma outra que gosto bastante é esta do Cure:

Standing on the beach
With a gun in my hand
Staring at the sea
Staring at the sand
Staring down the barrel
At the arab on the ground
I can see his open mouth
But I hear no sound

I'm alive
I'm dead
I'm the stranger
Killing an arab

I can turn
And walk away
Or I can fire the gun
Staring at the sky
Staring at the sun
Whichever I chose
It amounts to the same
Absolutely nothing

I'm alive
I'm dead
I'm the stranger
Killing an arab

I feel the steel butt jump
Smooth in my hand
Staring at the sea
Staring at the sand
Staring at myself
Reflected in the eyes
Of the dead man on the beach
The dead man on the beach
A letra é inspirada pelo livro O Estrangeiro, de Albert Camus, e não tem nada de racista, mas a controvérsia sempre acompanhou a canção. Parece que o Robert Smith ficou tão cheio de ter de explicar a letra toda hora, que acabou mudando-a nas últimas turnês ("Kissing an Arab", "Killing an Ahab", "Killing Another").


Não poderia também deixar de citar esta música da Kate Bush:

Out on the wiley, windy moors
We'd roll and fall in green
You had a temper, like my jealousy
Too hot, too greedy
How could you leave me?
When I needed to possess you?
I hated you, I loved you too

Bad dreams in the night
They told me I was going to lose the fight
Leave behind my wuthering, wuthering
Wuthering Heights

(Chorus) Heathcliff, its me, Cathy come home
I'm so cold, let me in-a-your window

Oh it gets dark, it gets lonely
On the other side from you
I pine alot, I find the lot
Falls through without you
I'm coming back love, cruel Heathcliff
My one dream, my only master

Too long I roam in the night
I'm coming back to his side to put it right
I'm coming home to wuthering, wuthering,
Wuthering Heights

(Chorus)
Oh let me have it, let me grab your soul away
Oh let me have it, let me grab your soul away
You know it's me, Cathy
A letra, como percebe-se pelo próprio título, provém de O Morro dos Ventos Uivantes, famoso romance de Emily Brontë, com alguns versos sendo citações diretas da obra. Foi o single de estreia da cantora e tornou-se uma canção clássica no repertório dela. Lembro de ter ouvido a música quando criança, mas só bem mais tarde fui entender o que ela cantava naquele refrão. :dente:


Gosto muito também desta dos Titãs:

O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa...

Peste bubônica
Câncer, pneumonia
Raiva, rubéola
Tuberculose e anemia
Rancor, cisticircose
Caxumba, difteria
Encefalite, faringite
Gripe e leucemia...

E o pulso ainda pulsa
E o pulso ainda pulsa

Hepatite, escarlatina
Estupidez, paralisia
Toxoplasmose, sarampo
Esquizofrenia
Úlcera, trombose
Coqueluche, hipocondria
Sífilis, ciúmes
Asma, cleptomania...

E o corpo ainda é pouco
E o corpo ainda é pouco
Assim...

Reumatismo, raquitismo
Cistite, disritmia
Hérnia, pediculose
Tétano, hipocrisia
Brucelose, febre tifóide
Arteriosclerose, miopia
Catapora, culpa, cárie
Câimba, lepra, afasia...

O pulso ainda pulsa
E o corpo ainda é pouco
Ainda pulsa
Ainda é pouco
Assim...
Difícil não pensar em Augusto dos Anjos ou mesmo no poema "Pneumotórax", de Manuel Bandeira, ao ouvir essa música.


Há, também, as músicas de uma adaptação teatral de 1984, do George Orwell, que o Bowie estava planejando, mas que teve de ser abortada depois dos direitos terem sido negados a ele. Essas músicas acabaram indo parar no álbum Diamond Dogs, como, por exemplo, esta aqui:

Someday they won't let you, so now you must agree
The times they are a-telling, and the changing isn't free
You've read it in the tea leaves, and the tracks are on TV
Beware the savage jaw
Of 1984

They'll split your pretty cranium, and fill it full of air
And tell that you're eighty, but brother, you won't care
You'll be shooting up on anything, tomorrow's never there
Beware the savage jaw
Of 1984

Come see, come see, remember me?
We played out an all night movie role
You said it would last, but I guess we enrolled
In 1984 (who could ask for more)
1984 (who could ask for mor-or-or-or-ore)
(Mor-or-or-or-ore)

I'm looking for a vehicle, I'm looking for a ride
I'm looking for a party, I'm looking for a side
I'm looking for the treason that I knew in '65
Beware the savage jaw
Of 1984

Come see, come see, remember me?
We played out an all night movie role
You said it would last, but I guess we enrolled
In 1984 (who could ask for more)
1984 (who could ask for mor-or-or-or-ore)
(Mor-or-or-or-ore)


Quanto a canções cujas letras são textos musicados, uma de minhas favoritas é esta dos Secos & Molhados, sobre um poema de Vinícius de Moraes:

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
Faz parte, junto com o também musicado "Rondó do Capitão", do maravilhoso primeiro disco da banda.


O Caetano também tem inúmeras músicas desse tipo, mas minhas favoritas acho que são estas:

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá e viva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá

Soando como um shamisen
E feito apenas com um arame tenso um cabo e uma lata
Velha num fim de festafeira no pino do sol a pino mas para
Outros não existia aquela música não podia porque não
Podia popular aquela música se não canta não é popular
Se não afina não tintina não tarantina e no entanto puxada
Na tripa da miséria na tripa tensa da mais megera miséria
Física e doendo doendo como um prego na palma da mão
Um ferrugem prego cego na palma espalma da mão
Coração exposto como um nervo tenso retenso um renegro
Prego cego durando na palma polpa da mão ao sol

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá e viva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá

O povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro
Da maravilha no visgo do improviso tenteando a travessia
Azeitava o eixo do sol

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá e viva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá

E não peça que eu te guie não peça despeça que eu te guie
Desguie que eu te peça promessa que eu te fie me deixe me
Esqueça me largue me desamargue que no fim eu acerto
Que no fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim
Me reservo e se verá que estou certo e se verá que tem jeito
E se verá que está feito que pelo torto fiz direito que quem
Faz cesto faz cento se não guio não lamento pois o mestre
Que me ensinou já não dá ensinamento

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá
Poema de Haroldo de Campos, nunca imaginei que pudesse ficar tão decorável. :dente:


A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil.
Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte...
É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do norte.
Não encontrei a versão original, mas essa cover também ficou muito boa. A letra vem de um texto (em prosa!) de Joaquim Nabuco, do livro Minha Formação.
 
Última edição por um moderador:
Ode descontínua e remota para flauta e oboé. De Ariana para Dionísio, da Hilda Hilst :grinlove: foi musicada pelo Zeca Baleiro. Os poemas são magníficos e ficaram brilhantes musicados. Sério. Só para vocês sentirem um gostinho, vai aí o meu poema preferido de Ode, musicado (até uso esse poema como minha descrição, lá no Meia Palavra). Sério, sintam a delícia do poema:

 
Última edição por um moderador:
Algumas músicas que me vem à mente são estas:



Pato Fu - "A Hora da Estrela"

Bela homenagem composta pelo John e pelo Pato Fu para a obra da Clarice Lispector.
Quando Fernanda Takai canta que “a hora da estrela vai chegar”,é bastante emocionante.


David Bowie - "1984"

David Bowie sempre soube o que fazia.E mais uma vez ele acerta ao escrever uma canção se baseando na obra "1984" do George Orwell.



The Police - "Don't Stand So Close To Me"

Sting e The Police usando "Lolita" do Vladimir Nabokov,para compor esta bela música.


Secos & Molhados - "Não,Não Digas Nada"

Mais uma vez os Secos & Molhados acertam em cheio,ao musicar lindamente o poema de Fernando Pessoa.
 
Última edição por um moderador:
Um dos maiores trabalhos vocais da música romântica russa (e por que não da história?) é o The Bells, de Sergei Rachmaninoff. Este trabalho sonoro é inspirado no famoso poema de E.A. Poe, e nota-se claramente a preocupação do compositor de manter o ritmo do poema, bem como frequentes "pontos" na música, que simbolizam os mesmos sinos representados na sonoridade do poema.

A estrutura da música parte de um primeiro movimento serelepe, e gradativamente vai ficando mais tensa e pesada até chegar no IV movimento, onde é absolutamente melancólica - conforme a construção do poema.

Não costumo apoiar traduções e adaptações para outros idiomas, mas ainda assim essa tá tranquilamente na minha "top list"

Enfim, leiam, escutem e interpretem vcs mesmos:

E.A. Poe - The Bells
Sergei Rachmaninoff: The Bells

HEAR the sledges with the bells—
Silver bells!
What a world of merriment their melody foretells!
How they tinkle, tinkle, tinkle,
In the icy air of night!
While the stars that oversprinkle
All the heavens, seem to twinkle
With a crystalline delight;
Keeping time, time, time,
In a sort of Runic rhyme,
To the tintinnabulation that so musically wells
From the bells, bells, bells, bells,
Bells, bells, bells—
From the jingling and the tinkling of the bells.

Hear the mellow wedding-bells
Golden bells!
What a world of happiness their harmony foretells!
Through the balmy air of night
How they ring out their delight!—
From the molten-golden notes,
And all in tune,
What a liquid ditty floats
To the turtle-dove that listens, while she gloats
On the moon!
Oh, from out the sounding cells,
What a gush of euphony voluminously wells!
How it swells!
How it dwells
On the Future!—how it tells
Of the rapture that impels
To the swinging and the ringing
Of the bells, bells, bells—
Of the bells, bells, bells, bells,
Bells, bells, bells—
To the rhyming and the chiming of the bells!

Hear the loud alarum bells—
Brazen bells!
What tale of terror, now, their turbulency tells!
In the startled ear of night
How they scream out their affright!
Too much horrified to speak,
They can only shriek, shriek,
Out of tune,
In a clamorous appealing to the mercy of the fire,
In a mad expostulation with the deaf and frantic fire,
Leaping higher, higher, higher,
With a desperate desire,
And a resolute endeavor
Now—now to sit, or never,
By the side of the pale-faced moon.
Oh, the bells, bells, bells!
What a tale their terror tells
Of Despair!
How they clang, and clash, and roar!
What a horror they outpour
On the bosom of the palpitating air!
Yet the ear, it fully knows,
By the twanging
And the clanging,
How the danger ebbs and flows;
Yet, the ear distinctly tells,
In the jangling
And the wrangling,
How the danger sinks and swells,
By the sinking or the swelling in the anger of the bells—
Of the bells—
Of the bells, bells, bells, bells,
Bells, bells, bells—
In the clamour and the clangour of the bells!

Hear the tolling of the bells—
Iron bells!
What a world of solemn thought their monody compels!
In the silence of the night,
How we shiver with affright
At the melancholy meaning of their tone!
For every sound that floats
From the rust within their throats
Is a groan.
And the people—ah, the people—
They that dwell up in the steeple,
All alone,
And who, tolling, tolling, tolling,
In that muffled monotone,
Feel a glory in so rolling
On the human heart a stone—
They are neither man nor woman—
They are neither brute nor human—
They are Ghouls:—
And their king it is who tolls:—
And he rolls, rolls, rolls, rolls,
Rolls
A pæan from the bells!
And his merry bosom swells
With the pæan of the bells!
And he dances, and he yells;
Keeping time, time, time,
In a sort of Runic rhyme,
To the pæan of the bells—
Of the bells:—
Keeping time, time, time,
In a sort of Runic rhyme,
To the throbbing of the bells—
Of the bells, bells, bells—
To the sobbing of the bells:—
Keeping time, time, time,
As he knells, knells, knells,
In a happy Runic rhyme,
To the rolling of the bells—
Of the bells, bells, bells:—
To the tolling of the bells—
Of the bells, bells, bells, bells,
Bells, bells, bells—
To the moaning and the groaning of the bells.
 
Última edição por um moderador:
Monte Castelo do Renato Russo, que se utiliza da bela I Epístola de São Paulo aos Corintios e do soneto 11 de Luiz Vaz de Camões: "Amor é fogo que arde sem se ver". Incrível como os versos de um e outro se completam.

 
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Flor da idade (como eu amo essa canção, meu Deus!), do Chico Buarque :grinlove:, que nos remete ao poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade:


 
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Sacam só:


Morte de Virginia Woolf, etc.
 
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Estava aqui, de boa, lendo Viagem, da Cecília Meireles e, lá pela metade de "Marcha", acabei por me deparar com estes versos:

Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudade;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.

Soltam-se os meus dedos tristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.


Foi daí que o Fagner tirou a inspiração para escrever Canteiros, né? Na verdade, foi plágio, mesmo. Mas, ao que parece, até houve uma história de colocar a Cecília como coautora. :think:
 
Manowar adaptando a Ilíada para compor um épico heavy metal de 28 minutos. :grinlove:
O recorte escolhido para a adaptação vai do ataque de Heitor ao acampamento grego, passa pela morte de Pátroclo, a confecção de nova armadura para Aquiles, e a vingança deste, exultante, sobre Heitor.


O destaque vai para a parte IV, "The Armor of the Gods", que é um baita solo de bateria que representa as forjas de Hefesto criando a nova armadura para Aquiles.
Sagaz.
:batera:
 

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