Artanis Léralondë
Ano de vestibular dA
Terminando de ler os livros do vestibular :traça:
Esse é o João Simões Lopes
Conheci ele através do livro "Lendas do sul", rapaz gente boa
Minha mãe contava uma história do Negrinho do Pastoreio e, agora que fui ver da onde era essa lenda.
"O negrinho do pastoreio", é considerada a mais genuinamente sul-riograndense, pois pontua o linguajar e ambiente típicos do gaúcho do interior do Rio Grande do Sul. Muito lida e contada, esta lenda reconstrói a trajetória do Negrinho a quem “não deram padrinho nem nome; por isso o Negrinho se dizia afilhado da Virgem, Senhora Nossa, que é a madrinha de quem não tem.” Talvez a lenda tenha sua popularidade embasada no quanto chocante é uma alegoria dos maus tratos aos escravos num Estado onde a escravidão não foi enfática nem agressiva. Fala de um tempo em que as estâncias, como símbolo da propriedade privada, começavam a surgir, e do fazendeiro como um mau caráter, contraponto da heroicidade mitificadora com que o campeiro gaúcho era sempre configurado, na qual a generosidade e hospitalidade eram fundamentais. Observe-se um fragmento do texto:
Era uma vez um estancieiro, que tinha uma ponta de surrões cheios de onças e meias-doblas e mais muita prataria; porém era muito cauíla e muito mau, muito.
Não dava pousada a ninguém, não emprestava um cavalo a um andante; no inverno o fogo da sua casa não fazia brasas; as geadas e o minuano podiam entanguir gente, que a sua porta não se abria; no verão a sombra dos seus umbus só abrigava os cachorros; e ninguém de fora bebia água das suas cacimbas.
Mas também quando tinha serviço na estância, ninguém vinha de vontade dar-lhe um ajutório; e a campeirada folheira não gostava de conchavar-se com ele, porque o homem só dava para comer um churrasco de tourito magro, farinha grossa e erva-caúna e nem um naco de fumo... e tudo, debaixo de tanta somiticaria e choradeira, que parecia que era seu próprio couro que ele estava lonqueando [...] (LS, p.79)
Um negrinho sem nome era empregado desse estancieiro que, irritado por perder uma carreira de cavalos em que esse era o ginete do baio, maltratou-o seguidas vezes obrigando-o a cuidar de tropilhas de animais que fogiam, ou porque ele se distraia dormindo, ou porque o filho do patrão, tão maleva como o pai, soltava os animais deixando-os fugir. O estigma de perder o gado passou a acompanhar o negrinho que de tantos maus tratos do estancieiro acabou morrendo jogado num formigueiro. E, como narra a lenda “nessa noite o estancieiro sonhou que ele era ele mesmo mil vezes e que tinha mil filhos e mil negrinhos, mil cavalos baios e mil vezes mil onças de ouro... e que tudo isto cabia folgado dentro de um formigueiro pequeno [..].” (LS, p.85), enfatizando-se o pouco valor dos bens materiais tão estimados pelo fazendeiro.
Ao final da narrativa, o negrinho ressucita, salvo por Nossa Senhora, sua madrinha, e passou a ser considerado como aquele que tem o poder de achar perdidos. Veja: “daí por diante, quando qualquer cristão perdia uma cousa, o que fosse, pela noite velha o Negrinho campeava e achava, mas só entregava a quem acendesse uma vela , cuja luz ele levava para pagar a do altar ...da Virgem, ...que o remiu e salvou e deu-lhe uma tropilha, que ele conduz e pastoreia, sem ninguém vêr”. (LS, p.86). Então, “quem perder suas prendas no campo, guarde esperança: junto de algum moirão ou sob os ramos das árvores, acenda uma vela para o Negrinho do pastoreio e vá lhe dizendo - Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi!... Se ele não achar... ninguém mais”. (LS, p.87)
FONTE
Bem gostosinho o livro