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Leite Derramado (Chico Buarque)

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primeira crítica ruim que li sobre o leite derramado:

Uma obra de arte não se qualifica pelo tema ou por suas ideias, mas pela maneira como usa a linguagem para concretizá-los. Julgar uma ficção pela concordância ou discordância em relação ao que ela diz é tão limitado quanto julgá-la pela estrutura como se esta fosse independente do assunto. Na literatura nacional, o tema Brasil tem sido dominante, mas raramente concretizado com uma linguagem sutil, porque amarrada por clichês ou mitos que sacrificam o particular em nome do geral. É uma espécie de tropismo literário, uma tendência automática a ir na direção do sol tropical, a vergar o discurso sempre para a mesma fonte ideológica. O grande artista traduz um ponto de vista em uma visão de mundo, não o contrário.

O novo romance de Chico Buarque, com o fraco título Leite Derramado, me parece um exemplo disso. No bom Budapeste, ele contou uma história que se passa na Hungria e diz respeito à maneira como a ligação afetiva com a origem passa pelo idioma, como na cena em que o narrador telefona para o Brasil apenas para ouvir palavras como goiabada e Guanabara. De uma cadeia de fatos específica, portanto, se levantaram questões que dizem respeito a uma nacionalidade e também a qualquer nacionalidade. Em Leite Derramado, de volta ao Rio, temos a narrativa de um homem de 100 anos que está no hospital e mistura memórias em que se destaca o amor por uma mulata boa de maxixe, Matilde. Mas esse enredo não consegue ir além da velha noção de que debaixo de um racista brasileiro existe alguém que não vê a própria mestiçagem racial.

O ângulo lembra os livros de um Philip Roth, como o recente Indignation, narrado por um homem sob efeito de morfina, e lembra mais ainda Machado de Assis – inspiração de Roth, no caso – pela maneira como o tom de memorialismo se declara omisso e esquivo. Eulálio d’Assumpção é um desses sujeitos da “elite branca” que se crê refinada e é grosseira com os outros, em especial os empregados, como vemos em tantas famílias “quatrocentonas” decadentes. É filho único, criado por babá, machista, obcecado com genealogia – que incluiria figuras importantes do Império – e brande sempre a frase “meu nome abre portas”. Para ele, com suas lembranças do início do século passado, não ter nascido em Paris soa como desprezível obra do acaso...

No entanto, tal personagem, crível e forte, é desperdiçado com o modo ao mesmo tempo apressado e monótono da linguagem, mais próximo de Estorvo do que dos livros seguintes. Os outros personagens não ganham vida e, também por isso, não temos sentimentos ambíguos em relação ao narrador. Como sempre, o texto é eufônico, com a conhecida habilidade de Chico para metáforas e analogias (“Cada mulher tem uma voz secreta, com melodia característica, só sabida de quem a leva para a cama”), mas a pontuação (muitas vírgulas, algumas fora de lugar) e a escassez de achados não ajudam. Não conseguimos nem mesmo partilhar um pouco do incômodo que Eulálio repetidamente diz sentir no hospital.

Ele também fala de traficantes, evangélicos e outras mudanças sociais e culturais do Brasil mais recente. Só que aí o livro acaba. Não se pode, claro, exigir de um velho esnobe e moribundo, com suas lembranças assumidamente vagas sobre uma mulher – como “pensar num país e não numa cidade” –, que faça uma retrospectiva panorâmica e elaborada, mas tampouco se pode evitar a sensação de que essa galeria humana promete mais do que cumpre. Nenhum tema é explorado, implícita ou explicitamente; e não há espaço para dúvidas, para que se façam perguntas sobre o comportamento dos personagens. Saudar a formação mestiça do Brasil parece ser o bastante.

Li também o novo de Bernardo Carvalho, O Filho da Mãe, que é tão diferente do de Chico, mas também precisa do contraponto generalizador chamado Brasil. Com escrita mais telegráfica que nunca, apesar de diálogos em alguns momentos editorializados e do carregamento habitual de informações e citações, o livro não tem a pegada ensaística de Mongólia, com o qual mais se parece. A história, que também não faz os jogos de identidade pós-modernos que o autor costumava fazer, se passa em boa parte em São Petersburgo e envolve relações de mães com filhos, levados para a guerra na Chechênia, e de rapazes com rapazes. No começo é difícil fixar quem são os personagens, mas depois um deles, Andrei, filho de Olga, ganha importância porque seu pai, Alexandre Guerra, voltou para o Brasil depois de 20 anos na Rússia.

Como em Budapeste, a identidade cultural é remetida por meio do idioma, que Andrei escuta turistas pronunciando; é “a língua de sua infância, a língua do pai, que ele só compreende em parte”, “que ele não domina mas sente”. Mas esse não é o tema central, e sim o de que “não pode haver guerra sem mães. Mais do que ninguém, as mães têm horror a perder”. Dramas filiais, porém, não dominam o livro, que raramente adquire a temperatura emocional que associamos às novelas russas. Apenas o epílogo é violento. E nele o Brasil híbrido, sem conflitos étnicos expostos, parece se tornar uma referência às avessas.

Mesmo em geografias distantes, a literatura nacional segue com sua auto-obsessão, como a América (e o sonhado “grande romance americano”) para os escritores americanos, mas sem a mesma eficiência criativa, sem a mesma capacidade média de captar o microcosmo e não tipificá-lo. Como já dizia Machado de Assis há mais de 135 anos, o que torna Shakespeare um inglês não é o cenário da história nem o passaporte dos personagens, mas “certo sentimento íntimo” que, por isso mesmo, dispensa formulações absolutas.

Fonte: Blog do Daniel Piza no Estadão
 
Anica, a Veja também não gostou do Leite Derramado.
Tem lá no site do Chico o artigo pra ler: www.chicobuarque.com.br

Acho que quando a Veja não gosta de uma obra, é ponto positivo pra ela! :D
 
Gente, o Chico leu para mim, com aquela voz :eba::iei: Pareço boba? :sing:
Vou destacar novamente o link: http://www.leitederramado.com.br/wordpress/?p=41
 
Mais opiniões sobre Leite Derramado:


[align=justify]Chico Buarque revisita Machado de Assis

Cinco anos depois de Budapeste, aclamado pela crítica e pelo público – e que chega em maio aos cinemas, com direção de Walter Carvalho –, Chico Buarque está de volta à cena literária, onde costuma ser sempre tão aguardado quanto na musical. Em Leite Derramado, que chega às lojas com 70 mil cópias encomendadas, o autor cria um romance de tons sombrios, erguido sobre fragmentos de memórias narradas por um velho solitário que agoniza num leito de hospital. Ao relembrar seus dias de riqueza, seus amores, suas perdas, o personagem também apresenta ao leitor décadas de história do Brasil e do Rio de Janeiro, que aparecem em seus tempos de esplendor e em flashes da mixórdia contemporânea.

Sem pretensão de espelhar a História, porém, o romance reflete sobre temas recorrentes nos romances de Chico: a solidão e a alienação.

Há em Leite Derramado uma indisfarçável semelhança com o clássico Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Sobretudo na narrativa em primeira pessoa, memorialística e irônica, por um “quase morto” – em Machado, o personagem já morreu. O protagonista do livro de Chico, como Brás Cubas, é um homem à sombra do pai, que nunca teve grandes feitos dos quais se orgulhar e perdeu como regra – dinheiro, amores, família. É filho de uma elite com os dias contados, cuja fortuna foi sumindo com o tempo até desaparecer por completo.

O que há de original é que o relato do personagem, construído a partir de lembranças do passado, é embaralhado pela confusão mental provocada pela idade avançada e uma possível demência senil e pelos medicamentos (entre eles, a morfina). Muito do que está sendo contado, portanto, pode ser verdade, ou fruto do delírio de um homem que rasteja em direção ao fim.

A partir das memórias suspeitas e inexatas do protagonista, Chico costura as páginas com uma (inegável) beleza triste, quebrada apenas por recorrentes momentos de ironia, que capítulo a capítulo, traçam um retrato cruel e patético dos bem-nascidos. [/align]

Fonte: Gazeta do Povo
 
(Ressucitei!)
Eu li o livro como indicação da faculdade e isso foi muito bom, pois fiz um paralelo com a obra sociológica do pai do autor, Sérgio Buarque de Hollanda - "o pai do Chico", hehe - e isso foi de grande valor. Para quem ainda não leu, ou já tenha lido, fica a dica para comparar o Leite Derramado com algumas partes do Raízes do Brasil, principalmente nos capítulos: O semeador e o ladrilhador; e o tradicionalíssimo Homem Cordial.
A elite portuguesa no Brasil se torna mais bizarra ainda...
 
e o blog do meia ganhou mais uma resenha sobre o livro:

[align=right][size=x-small]
“Quando saísse daqui, eu pretendia pedi-la em casamento, mas ela não me quer mais.”
Chico Buarque, “Leite Derramado”[/size][/align]


[align=justify]Em seu recente livro intitulado “Leite Derramado”, lançado em 2009 pela editora Companhia das Letras, o polivalente Chico Buarque conta a história da família Assumpção, narrada pelo personagem Eulálio Montenegro d’Assumpção. O romance de escrita sedutora e fluente é rico por retratar de forma expressiva a realidade da cultura brasileira dos últimos cem anos.

Eulálio se encontra enfermo na cama de um humilde hospital e em meio aos delírios e ao esquecimento, causado pela idade avançada e, provavelmente, pela doença de Alzheimer, tenta passar suas confusas lembranças a uma enfermeira, com quem promete se casar.[/align]

CLIQUE AQUI PARA CONTINUAR LENDO O ARTIGO...
 
Há uns dias Diogo Mainardi andou falando algumas coisas sobre o Chico Buarque, como por exemplo isso aqui (no original, aqui):

[size=large]Edna entendeu tudo[/size]
"Edna O’Brien foi arrastada a um encontro entre Chico Buarque e Milton Hatoum. O que ela afirmou, assim que conseguiu escapar do encontro? Que Chico Buarque era uma fraude. O que ela afirmou em seguida, durante o jantar? Que se espantou com a empáfia e com o desconhecimento literário dos dois autores"

Edna O’Brien está fazendo um conto sobre "Chico". Ela pronuncia "Chico" com um "T" na frente, como em Chico Marx. Por isso mesmo, "Chico", em seu conto, ganhou o nome de Harpo, como em Harpo Marx. Mas o inspirador da festejada escritora irlandesa – pode bater no peito – é o nosso "Chico": Chico Buarque.

Edna O’Brien conheceu "Chico" uma semana atrás, na Flip, em Paraty. Depois de participar de um debate, ela foi arrastada a um encontro entre Chico Buarque e Milton Hatoum. O que ela afirmou, assim que conseguiu escapar do encontro? Que Chico Buarque era uma fraude. O que ela afirmou em seguida, durante o jantar? Que se espantou com a empáfia e com o desconhecimento literário dos dois autores. E o que ela repetiu para mim, alguns dias mais tarde, em outro jantar, no Rio de Janeiro? Que Chico Buarque era uma fraude, que ela se espantou com sua empáfia e com seu desconhecimento literário, e que se espantou mais ainda com sua facilidade para enganar a plateia da Flip.

No conto de Edna O’Brien, Chico Buarque – ou Harpo – é tratado como "Astro do rock". O personagem é inspirado em Chico Buarque, mas tem também umas pitadas de Bono, do U2, admirador de Edna O’Brien. A narradora – uma autora irlandesa – está numa feira literária no Brasil. De alguma maneira, ela é inserida no séquito de um cantor que, como Chico Buarque, se meteu a fazer romances. Há uma atmosfera onírica no conto. Essa atmosfera onírica foi estimulada pelo fato de Edna O’Brien, nas quatro noites que passou em Paraty, atormentada pela batucada permanente do lado de fora da janela de seu hotel, nunca ter dormido. Quando saiu de Paraty, ela se refugiou no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, mas continuou insone, atormentada pela festa de casamento de Pato, o jogador do Milan, com Sthefany Brito, a atriz de Chiquititas. Sthefany é com "Y", como Paraty, e "Chiquitita" tem um "T" na frente, como Chico Marx.

Eu já resenhei um romance de Chico Buarque: Benjamim. Nele, um homem à beira da morte relembra o passado, misturando realidade e sonho. Em Leite Derramado, seu último romance, um homem à beira da morte relembra o passado, misturando realidade e sonho. Chico Buarque, como Harpo, é o buzinador das letras: fon-fon. Ele está para a literatura assim como Dilma Rousseff está para as teses de mestrado. Ou assim como José Sarney está para Agaciel Maia. Edna O’Brien passou apenas uma semana no Brasil. Mas ela entendeu tudo: neste país fraudulento, o que mais espanta é a facilidade para enganar a plateia, enquanto a batucada continua do lado de fora.

sobre isso tudo o que o adorei (bom, pelo menos achei hilária) foi um post no wagner & beethoven:

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:rofl:
 
Hahahahhahahaha! Adorei!

Eu já li Benjamin e Estorvo, pelo visto vou adorar esse :grinlove:
 
Um estudo sobre Matilde

Oi gente!
Queria compartilhar com vcs uma impressão que tive sobre Matilde, vale ressaltar que são apenas impressões, uma vez que Chico deixa lacunas para pensarmos o que quisermos, farei por spoiler, em respeito a quem ainda não leu.

Eulálio cita mil fins sobre o desaparecimento da esposa, entretanto lendo com atenção e percebendo as reações dela (pelos olhos do marido, já que ele quem narra toda história) logo após o nascimento da filha, como a cena em que ele a flagra derramando o leite materno na pia do banheiro (por isso o nome do livro), na minha cabeça ficou subentendido uma suposta depressão pós parto, por isso ela sumiu

E vcs? o que acham?
 
Gente, isso explica porque aqueles olhos azuis fazem com que toda mulher acima de 40 queira "casar (censurado para menores de 18 anos) com ele"!

***

Estou lendo e vai tão depressa... mini capítulos :P
 
Tive essa sensação também, Line. Primeiro achava só que...

ela tinha se cansado dele, que parecia absurdamente ciumento e meio que jogava água no fogo dela, digamos assim. mas o momento da pia do banheiro me parece bem revelador.
 
Agora que me toquei que não tinha até agora falado sobre Leite Derramado. :O

A verdade é que não sei fazer resenhas nem comentários profundos sobre alguma obra. Pobre do meu resenhista interior...

Vou iniciar um estudo em Dezembro (pretendo) sobre traços autobiográficos do Chico nessa obra.
 

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