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Leite Derramado (Chico Buarque)

Thorondir

Usuário
'Leite derramado' é o título do novo livro do escritor, músico e dramaturgo, Chico Buarque. O livro é um romance que se passa no Rio de Janeiro cujo enredo gira em torno da história de uma família. Mais do que isso, não se sabe: a sinopse ainda não foi divulgada. O livro tem aproximadamente 200 páginas e será lançado AMANHÃ (28) pela Companhia das Letras.

www.leitederramado.com.br
 
eu não me conformo com esse mistério todo ao redor da sinopse. ><

edit: alguém está sabendo de alguma "noite de lançamento" ou algo que o valha?
 
Jogada, né? Porque bom, já é do Chico e isso já bastaria para divulgar. Mas como ninguém sabe NADA sobre o enredo para sequer pensar "Ih, vai ser uma merda", todo mundo ficará no frisson até amanhã. E frisson é sempre bom para propaganda.
ahá, finalmente mais informação:

mantém o padrão dos livros anteriores: a narrativa é em primeira pessoa e o protagonista se revela digno de suspeita do leitor, porque distorce o mundo ao ritmo de seus caprichos e deboches. O enredo gira em torno das memórias patéticas de Eulálio, um aristocrata carioca centenário que conta suas aventuras nos anos 20 e 30 preso a uma cama de hospital. “Gira em torno” é o termo correto, porque a narrativa se organiza em 23 capítulos, cada um deles abordando um episódio da longa existência do protagonista. Eulálio conta sua história em espirais que partem de lembranças nítidas, passam por digressões e atingem o delírio, talvez causado por medicamentos fortes do hospital. Narcotizado, fala a um interlocutor esfumaçado, que tanto pode ser sua filha de 80 anos como a jovem enfermeira por quem se apaixona. Com isso, o ponto do em que o narrador se encontra oscila constantemente, como se deslocasse sem querer as suas lembranças. Do presente, passeia pelo passado distante como se fosse agora há pouco. No passado, prevê um futuro que já aconteceu - ou não. “É esquisito ter lembranças de coisas que ainda não aconteceram, acabo de lembrar que Matilde vai sumir para sempre”, diz Eulálio, em referência à mulher.

Da névoa de recordações surge um arremedo de saga da decadência de uma família, dos privilégios de seu pai, senador da República Velha, ao tataraneto, traficante de drogas. A vida de Eulálio se degrada aos poucos. Inicia na convivência com notáveis em seu palacete na “raiz da serra”. Mais tarde, muda-se para um apartamento chique na Zona Sul, até que é obrigado a saldar dívidas e se conformar em dormir no sofá do quarto-sala da filha, no subúrbio. Por fim, pai e filha vão morar em um quarto nos fundos de um templo pentecostal.

As desgraças familiares importam menos que Matilde. Ela encarna a paixão eterna e desperdiçada, envenenada pelo ciúmes. Daí o título do livro. Eulálio contempla extasiado a mulher com os seis fartos de leite, amamentando a filha. E a imagem vulgar do ditado “não se deve chorar pelo leite derramado” se converte em epifania, em iluminação. Pois é Matilde e seu leite amargo quem assombra as memórias de Eulálio. Ela dançando samba ao som de “Jura”, de Mário Reis, ela se envolvendo com um francês, ela morena, com seu olhar de “pingue-pongue”, ela vítima da desconfiança doentia do marido, a desaparição súbita.. Invevitável comparar o amor de Eulálio e Matilde com a relação destrutiva entre o ciumento Bentinho e a enigmática Capitu, do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Pena que Matilde não tenha um milésimo do mistério e da complexidade de Capitu. Como todas as figuras que não são os narradores nas obras de Chico, ela parece uma sombra esmaecida de mulher, ao passo que Eulálio parece vivo, até porque Chico se baseou em pessoas da geração de seu pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, com as quais conviveu intensamente. É o caso de seu “padrinho” musical, Vinicius de Moraes, embora Eulálio se pareça mais com um socialite do tipo Jorginho Guinle. Leite derramado daria um bom filme, ou, melhor ainda, uma minissérie de televisão... Caso o adaptador corrigisse e aumentasse a densidade de Matilde na trama.

Lá na Época tem a matéria completa -> http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI66044-15220,00-CHICO+BEBE+O+LEITE+AMARGO+DA+MULHER+AMADA.html


O site que o Tauil colocou também já está com informações. ^^ Inclusive o primeiro capítulo -> http://www.leitederramado.com.br/wordpress/wp-content/uploads/leite_derramado.pdf
 
Poucos escritores no Brasil têm tanta moral como Chico Buarque, para ter um lançamento de livro tão badalado como o de Leite derramado (que chega hoje às livrarias). Até ontem à noite nada se sabia sobre a mais nova obra de Chico, a não ser o título e que a informação de que o enredo girava em torno de uma família (sim, a Companhia das Letras só divulgou isso, até mesmo para as livrarias). E enquanto para alguns escritores isso pode simplesmente nem fazer a diferença, no caso dessa obra vi mais do que um leitor curiosíssimo sobre o que seria o tal do Leite Derramado. Vi até contagem regressiva (do tipo “Faltam três dias, faltam dois dias…”).

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Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A visão que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência.
A saga familiar marcada pela decadência é um gênero consagrado no romance ocidental moderno. A primeira originalidade deste livro, com relação ao gênero, é sua brevidade. As sagas familiares são geralmente espraiadas em vários volumes; aqui, ela se concentra em 200 páginas. Outra originalidade é sua estrutura narrativa. A ordem lógica e cronológica habitual do gênero é embaralhada, por se tratar de uma memória desfalecente, repetitiva mas contraditória, obsessiva mas esburacada.
O texto é construído de maneira primorosa, no plano narrativo como no plano do estilo. A fala desarticulada do ancião, ao mesmo tempo que preenche uma função de verossimilhança, cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso da personagem parece espontâneo, mas o escritor domina com mão firme as associações livres, as falsidades e os não-ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar.
Em suas leves variantes, as lembranças obsessivas revelam sutilezas ideológicas e psíquicas. E, como essas lembranças têm forte componente plástico, criam imagens fascinantes. É o caso do “vestido azul” comprado pelo pai para a amante, objeto de alta concentração significante. Esse objeto se expande, no nível da narrativa, como índice de elucidação da intriga, no nível fantasmático, como obsessão repetitiva do filho, e no nível sociológico, como ilustração dos usos e costumes de uma classe. Tudo, neste texto, é conciso e preciso. Como num quebra-cabeça bem concebido, nenhum elemento é supérfluo.
Há também um jogo com os espaços onde ocorrem os acontecimentos narrados. As várias casas em que o narrador morou, como as décadas acumuladas em suas lembranças, se sobrepõem e se revezam. Recolocá-las em ordem cronológica é assistir a uma derrocada pessoal e coletiva: o chalé de Copacabana, “longínquo areal” dos anos 20, é substituído por um apartamento num edifício construído atrás de seu terreno; esse apartamento é trocado por outro, menor, na Tijuca; o palacete familiar de Botafogo, vendido, torna-se estacionamento de embaixada; a fazenda da infância, na “raiz da serra”, transforma-se em favela, com um barulhento templo evangélico no local da velha igreja outrora consagrada pelo bispo. Embaixo da última morada do narrador, nesse “endereço de gente desclassificada”, está o antigo cemitério onde jaz seu avô.
Percorre todo o texto, como um baixo contínuo, a paixão mal vivida e mal compreendida do narrador por uma mulher. Os múltiplos traços de Matilde, seu “olhar em pingue-pongue”, suas corridas a cavalo ou na praia, suas danças, seus vestidos espalhafatosos, ao mesmo tempo que determinam a paixão do marido e impregnam indelevelmente sua lembrança, ocasionam a infelicidade de ambos. Os preconceitos e o ciúme doentio do homem barram a realização plena da mulher e levam-na a um triste fim, que, por não ter nem a certeza nem a teatralidade dos desfechos de uma Emma Bovary ou de uma Ana Karênina, tem a pungência de um desastre. Embora vista de forma indireta e em breves flashes, Matilde se torna, também para o leitor, inesquecível.
O fato de nem no fim da vida o homem compreender e aceitar o que aconteceu torna seu drama ainda mais lamentável. Os enganos ocasionados por seu ciúme são tragicômicos, e o escritor os expõe com uma acuidade psicológica que podemos, sem exagero, qualificar de proustiana.
Outras figuras, fixadas a partir de mínimos traços, também se sustentam como personagens consistentes: o arrogante engenheiro francês Dubosc, que a tudo reage com um “merde alors”; a mãe do narrador, que, de tão reprimida e repressora, “toca” piano sem emitir nenhum som; a namorada do garotão com seus piercings e gírias. É espantoso como tantas personagens conseguem vida própria em tão pouco espaço textual. Leite derramado é obra de um escritor em plena posse de seu talento e de sua linguagem.

Leyla Perrone-Moisés
 
Compararam o estilo com o de Machado.
Ah... Vi que o livro é baseado na música "O Velho Francisco" do próprio.


Já gozei de boa vida
Tinha até meu bangalô
Cobertor, comida
Roupa lavada
Vida veio e me levou

Fui eu mesmo alforriado
Pela mão do Imperador
Tive terra, arado
Cavalo e brida
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco
Vem todo domingo
Tem cheiro de flor

Quem me vê, vê nem bagaço
Do que viu quem me enfrentou
Campeão do mundo
Em queda de braço
Vida veio e me levou

Li jornal, bula e prefácio
Que aprendi sem professor
Freqüentei palácio
Sem fazer feio
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco
Vem todo domingo
Tem cheiro de flor

Eu gerei dezoito filhas
Me tornei navegador
Vice-rei das ilhas
Da Caraíba
Vida veio e me levou

Fechei negócio da China
Desbravei o interior
Possuí mina
De prata, jazida
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Hoje não deram almoço, né
Acho que o moço até
Nem me lavou

Acho que fui deputado
Acho que tudo acabou
Quase que
Já não me lembro de nada
Vida veio e me levou
 
Eu só não entendi uma coisa. A Companhia das Letras não deu sinopse para ninguém, tava um mistério só. E hoje, no dia do lançamento, já tem 'n' resenhas sobre o livro. Será que ela liberou o livro antecipadamente para alguns jornalistas, mas fez acordo para só publicarem resenha hoje? Se sim, que inveja viu? ><
 
Estou na metade do livro. Ele tem um 'que' narrativo do Gabo em Memórias de Minhas Putas Tristes, contando coisas em primeira pessoa, falando sobre a dor, criando algumas lembranças, etc. Está gostoso de ler, mas ainda não sei bem o que esperar, é bem diferente de Budapeste e Estorvo (não li "Benjamin").
 
Anica disse:
Eu só não entendi uma coisa. A Companhia das Letras não deu sinopse para ninguém, tava um mistério só. E hoje, no dia do lançamento, já tem 'n' resenhas sobre o livro. Será que ela liberou o livro antecipadamente para alguns jornalistas, mas fez acordo para só publicarem resenha hoje? Se sim, que inveja viu? ><

Foi isso mesmo, Anica. Alguns jornalistas receberam o livro no começo do mês.

Pips, eu só vou ter acesso ao livro na segunda-feira, se você contar alguma coisa, eu te soco o nariz! :P
 
Qualquer detalhe que eu der vai ser em spoiler. Não se preocupe.

Aliás, o livro é bem curto, não tem nem duzentas páginas. E são capitulos rápidos também.
 
Hum, só para avisar: como estávamos comentando sobre as livrarias virtuais, fui dar uma fuçada e todas elas já têm o livro em estoque, então é só uma questão de escolher a que está vendendo mais barato (pelo menos para quem for comprar pela internet).
 
Tou louco para ler esse livro! Vou usar um vale-desconto que ganhei de uma livraria próxima à PUC pra comprá-lo.

Também curti esse video do youtube, superou minha vontade de não ler o primeiro capítulo até comprar o livro xD
 
Apenas para salientar o que a Anica disse:

Eu paguei 30 royals no meu livro na FNAC, lá o livro está com 20% de desconto.
 
Anica disse:
28,80 nas americanas, saraiva e na cultura. pelo visto deve estar meio padronizado

é isso ae, anica, a página dinâmica do buscapé mostra esse valor como mínimo.

já na da estante virtual, ele ainda nem aparece, tá cedo ainda pra venderem ele como usado, mesmo novo.
 

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