A Navalha
Samaro chegou ao saguão. Estava morto, quase literalmente. Lá, apenas estavam Fearur, acariciando seu pequeno lobo, que tentava dormir.
- Olá. – disse Samaro, com esforço
- Olá! – exclamou Fearur – Pera... Você é o Samaro! Agente viu você morrer ontem!
- Eu...Eu me lembro, um pouco. Eu lembro de um grifo e um cachorro voador, só isso. – disse Samaro – Depois, conversei com alguém...
- Um assassino anão!! – disse Fearur – Não lembro o nome dele.
***
Ainda sorrindo, Hlaf olhou para frente. O mar estava lá, agitado.
O sol, nascendo, porém, não emitia calor algum. A luz também era fraca, porém, não estava preocupado em re-acender o feitiço do farol.
Pensava maquiavelicamente. Pensava numa real guerra... De repente, teve uma idéia ótima.
***
- Kron... – disse Samaro – Me lembrei.
- Esse mesmo. – disse Fearur – Você levou dois tiros no tórax!
- Eu morri, então... – disse Samaro – Alguém me...Ressucitou.
Ouviu-se então o contínuo bater de pés. Estranho. Nunca que havia algo assim em Haupinbourg. Pela ordem em que batiam, e a harmonia que seguiam, com certeza pertenciam a uma criatura sozinha.
- Espera um pouco. –disse Samaro, e parou para ouvir o que acontecia. – É uma criatura só.
Fearur ficou concentrado durante alguns segundos.
- Não, não é nenhuma criatura natural. – afirmou
O feiticeiro lembrou-se da carta. Segundo o lich, ele teria de ser forte para resistir tudo o que ele iria enviar.
Sorriu.
- Fearur.
- Sim.
- Você tem algo que me cure rápido?
- Apenas um chá de ervas, na algibieira.
- Poderia me emprestar? Devolvo depois algum dos meus objetos mágicos.
- Sim...
Fearur então correu e trouxe rapidamente um chá de tonalidade levemente púrpura.
Samaro, bebeu o chá.
- Obrigado... – disse o feiticeiro, confiante
Samaro saiu então do saguão, e encontrou o jardim. Viu a Colina Gramada mais para oeste. A fonte, no centro. Lembrou-se de que no segundo dia em que estava na Morada dos Aventureiros, uma folha cortou-lhe o rosto, como navalha.
Parou, sentindo o vento fazer voar os cabelos. Estava sem o costumeiro chapéu. Isto lhe tirava um pouco o aspecto de mago.
Ouviu os passos, que pareciam mais próximos. Começou um pequeno feitiço, então.
Levantou uma mão e começou a fazer gestos, movimentando os dedos. Estava emocionado e preocupado ao mesmo tempo. Respirava rápido.
Porém, quase nada, comparado ao grande choque quando encarou pela primeira vez o monstro que o lich colocara em seu caminho.
Um ser que parecia um gato. Muito maior, com certeza. Ao invés do rosto felino, uma enorme face dracônica.
Samaro havia preparado, com o feitiço, sete cargas de ataque. Sete lâminas do vento.
Por instinto, por assim dizer, lançou uma lâmina contra a face do bichano assim que o encarou.
Voltou a racionalidade. O gato dracônico se recuperara muito rapidamente do ferimento. Vendo a situação, Samaro lançou as outras seis, uma após a outra.
O bichano rolou. O feiticeiro, andou até ele. A sua face se contorcia em dor.
- Fearur, chame Hans! – gritou ele, esperando que o colega druida ouvisse.
Samaro compreendeu que o ser ainda não tinha morrido. Porém, não havia notado que não estava nem perto de morto.
Um segundo depois e o bichano já estava em cima de Samaro. O toque das patas era gélido, mortal.