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[L] [V][O Buraco]

V

Saloon Keeper
[V][O Buraco]

Muita gente tem dificuldade em escrever diálogos. Às vezes os diálogos parecem falsos e forçados, ou simplesmente inverossímeis.

A principal coisa a se pensar, ao escrever diálogos é "esse personagem realmente diria isso nessas circunstâncias?" ou mesmo "uma pessoa diria isso no mundo real?"

Eu estava pensando nisso e resolvi fazer uma história curta, só com diálogos. Meu objetivo é descobrir se os diálogos foram suficientes pra que se entendesse o que estava se passando, sem que parecessem forçados.

Não tive nenhuma pretensão de fazer uma história extremamente interessante ou criativa, isso é uma coisa despretensiosa, que eu escrevi na hora e nem revisei. É mais uma experiência do que qualquer outra coisa.

Bom, aí vai:





O Buraco




-Posso ajudar?
-Er... eu queria ver... hm, pregos.
-Hm, que tipo você quer?
-Ah, tem muitos?
-Todos esses aqui.
-Hm... eu não sei. Alguma coisa resistente. Não quero meus quadros caindo na cabeça das visitas.
-Bom, tem esses. São de aço.
-Ótimo, vou levar.
-Ok, quantos?
-Um.
-Um?
-Hmm... melhor dois. Pra garantir.
-...
-Quanto é?


***


-Alô?
-Alô.
-Quem é?
-Sou eu.
-Ah. Tudo bem?
-Tudo, e aí?
-Meio doente. Nem fui trabalhar hoje.
-Putz... toma... sei lá, um remédio.
-Caramba, boa idéia! Como eu não pensei nisso antes?
-Vai te catar. Só tava sendo educado.
-Ok, ok. Mas eu já tô melhor. Afinal, o que você quer?
-Ahn, dá pra você vir aqui? Queria que você me ajudasse a pendurar um quadro.
-Hm... não sei. O elevador tá quebrado.
-Porra, são dois andares! Deixa de ser bicha.
-Tá, tá. Então espera.



***


-Porra, demorou pra cacete!
-Ih, não começa. Então, é esse o quadro?
-É.
-Hm. E onde você vai pendurar?
-Ali.
-Ali?
-É, por que?
-Acho que ficaria melhor ali.
-Ah, não sei não. Acho que ali ele vai ficar meio escondido.
-Mas ali já tem aquela planta. O outro lado vai ficar muito vazio.
-Hmmm... é, tem razão. Segura ele ali pra eu ver, então.

-Aqui tá bom?
-Mais pra cima.
-E agora?
-Tá torto.
-F.oda-se. É só pra marcar a altura, né?
-Mas eu quero ver como vai ficar.
-P.uta m.erda. Pronto, tá reto agora?
-Agora tá. Hm, vai ficar legal.
-Ótimo. Então marca.
-Cadê o lápis?
-Sei lá.
-Tenho certeza que eu deixei ele aqui, em cima da TV.
-Cara, pega qualquer um. Eu tô ficando cansado de segurar essa porra.
-Tá, calma aí.

-Pronto. Não foi tão difícil assim, foi?
-Pra você, com certeza não. Fui eu que fiquei segurando esse trambolho.
-Não reclama. Eu tive que trazer ele da loja até aqui.
-E o que eu tenho a ver com isso? O quadro é seu.
-Bom, agora a gente tem que pregar.
-Isso é contigo mesmo. Não quero ser responsável se alguma coisa acontecer com a sua parede.
-Ah, o que poderia acontecer?
-Sei lá. De qualquer jeito, é melhor você fazer isso.
-Bom, lá vou eu.

-Ei, você tá ouvindo isso?
-Ah, é o Seu Juca, do 72. Deve estar reclamando do barulho.
-Bom, eu não tiro a razão dele. Só você pra querer pregar um quadro a essa hora da noite.
-Eu não imaginei que seria tão difícil. Achei que eram só duas batidinhas e pronto. Mas tá foda.
-Bate com mais força.
-Ok... caramba, o Seu Juca tá realmente p.uto.
-Você tá conseguindo entender o que ele tá dizendo?
-Alguma coisa sobre reclamar com o síndico... sei lá. Pronto... agora foi. Só mais uma batidin... P.UTA QUE PARIU!
-!
-Er... oi, Seu Juca.
-...
-Seu Juca? Você tá ficando branco...
-Cacete!!!! Seu maluco!!!! Você abriu um buraco na parede!!!!!!
-Mas, seu Juca... eu não tive culpa. Parece que a parede tava... oca, sei lá.
-Assim não dá! O síndico vai ficar sabendo disso, pode ter certeza!!! Vou falar com ele agora!!!!
-Peraí, Seu Juca, vamos convers...
-...

-Mal educado. Deixar a gente falando sozinho, assim. Porra, é a minha parede também. Ele tinha que entender isso.
-Meu, olha esse buraco.
-Ele ficou realmente puto.
-Também! Olha só o tamanho desse buraco!
-Pára de falar do buraco!
-Mas... putz!
-Ei, não sabia que o Seu Juca tinha um Home Theater.
-Nem eu...
-Engraçado olhar a sala dele, assim. A gente não imagina como as paredes são finas entre um apartamento e outro.
-É mesmo. Por falar nisso, parece que essa tá oca por dentro. Por isso arrebentou.
-Peraí, eu vou pegar uma lanterna pra gente olhar lá dentro.
-Isso!


***


-Pronto.
-Olha lá, olha lá.
-Calma.
-...
-Caramba, que buracão aqui dentro. Acho que vai até o poço do elevador.
-Cacete.
-Hmmm... não consigo ver nada. Peraí, você é mais magro. Acho que dá pra você olhar mais no fundo.
-Ok, vou tentar.
-...
-Hmmm... é, acho que vai até o elevador, mesmo. Peraí, o que é isso?
-O quê?
-Ssshhh! Espera. Tô ouvindo alguma coisa... tem algo vindo... AAAAHHHH!!!! RATOS!!!! RATOS POR TODA PARTE!!!!
-AAAAAHHHHHHHH!!!!!!! ELES ESTÃO ENTRANDO AQUI!!!!
-AAAAAAAAAAAHHHHHHHH!!!!!!!!!!!
-AAAAAAAAHHHHHHH!!!!!!!!
 
HAhahaahaha, muito bom. Eu normalmente tenho mais facilidade com diálogos do que com descrições. Deu pra entender bem sua história, mesmo utilizando apenas diálogos. Parabéns!
 
Gostei, V... Uma idéia muito criativa, um texto muito bem elaborado usando uma situação comum com palavras do dia a dia, sem deixar de ser interessante. A idéia de um texto sem descrições foi incrível! Entendi a história toda e não senti falta delas, parabéns! ^^
 
Mto bom V! :lol: , até me lembrou um fato q aconteceu comigo, mas isso não vem ao caso :roll:

Deu pra fazer uma história engraçado só com dialogos, bem criativo....
 
Tipo, seria mais interessante se a história fosse contada completamente em ações, sem soar forçada.

Mas já que vc tava tentando com diálogos... ficou legal. Mas ainda soou meio estranho, "não-real". Parecia que estavam falando no telefone o tempo inteiro.
 
Folco Gamgee disse:
Tipo, seria mais interessante se a história fosse contada completamente em ações, sem soar forçada.

Mas já que vc tava tentando com diálogos... ficou legal. Mas ainda soou meio estranho, "não-real". Parecia que estavam falando no telefone o tempo inteiro.

Folco, você não entendeu que a história só serve como exercício para desenvolver a técnica de diálogos?

Olha, achei muito legal. É fato que, muitas vezes quando escrevemos uma conversa, em nossa cabeça temos idéia do que está acontecendo, mas nem sempre o diálogo é lido da forma desejada por outra pessoa. Por isso é importante não usar só as ações como tipóia, e fazer os diálogos o mais realistas (e explícitos) possíveis.
 
É... não dá pra sair lendo também como se os personagens estivessem falando mecanicamente tudo que tá escrito, sem nenhuma pausa nem nada. Tem que ler pensando na entonação, no timing, etc.

Senão vai parecer forçado mesmo.
 
o V tocou no ponto certo.. o timing.. enquanto pra vc, Folco, soou forçado e pouco desenvolviido, eu particularmente adorei... além de soar bem verossímil(acho que todos conhecem manés do tipo), é engraçado...
 
Parabéns V.. Ficou muito bom... não acho que tenha ficado forçado.. Ficou bem criativo, da para se entender perfeitamente...
 
Folco Gamgee disse:
Folco, você não entendeu que a história só serve como exercício para desenvolver a técnica de diálogos?

Entendi, mas para mim não ocorreu muito desenvolvimento.

Relaxa, Folco. Cê tá velho antes mesmo de ter dobrado o cabo da boa esperança. Nem tudo tem de ser Kubrick sabia?

Aliás, se é exercício para uso de diálogo, o V não devia pensar muito em desenvolver nada... afinal são dois manés... que desenvolvimento você quer apra eles??? :mrgreen:

(aliás se fosse Virginia Wolf e outro suicída, provavelmente não diriam nada e só morreriam no final)

Que dá pra entender, é óbvio. Qualquer primata-subdesenvolvido-mentalmente conseguiria entender o que estava acontecendo.

Como disse: relaxa... tá querendo o supra-sumo da Monalisa num exercício? Caspite, Leonardo fez muitos rascunhos e exercícios antes da obra final!

Tais querendo uma briga, heim? :wink: heheheh... falta da briga diária com o Knolex dá nisso...
 
Primula, eu to mais relaxado que o Jack Handey.

E eu não estou pedindo nada profundo ou desenvolvido da história do V. Eu entendo que o texto dele foi um exercício com diálogos. O meu único problema é que eu não achei eles reais. Só isso.
 
são reais infelizmente... ainda bem que você não viu muitos manés por aí, hehehe...
 
O PERIGO DE TEXTOS SEM DESCRIÇÕES

- Hum... vai bem devagar, tá amor ?
- Hmmm.. assim ?
- É, mais forte um pouquinho, só que devagar... ah... iiiissooo...
- Assim...
- É... ah... sim...
- Hum... e assim...
- Não ! Não. Páre. Volta.
- Assim ?
- Não. Como você estava fazendo antes.
- Assim ... ?
- Não. Ah, agora já era. Comece de novo.
- Assim... ?
- Mais pra cima... isso... ah... ah... mais pros lados... hm...
- Assim ?
- É ! Isso... hum...

- Ah... ah... ah...

- Assim ?
- Não ! Mais pra baixo ! Agora foi demais...
- Ah, nem é pra tanto ! Estou tentando ...
- Você estragou tudo !
- Achei que assim era mais gostoso !
- Não. Do outro jeito era melhor.
- Assim ?
- Não, agora você já estragou tudo.
- Deixa eu tentar denovo.
- Tá. Isso... hum... ah... assim...
- Aqui ?
- Sim, oh sim...
- Tá bom ?
- Ah... agora tá ! Ah... ah... mais forte ! Mais forte !
- Assim ?
- Mais forte !
- Hum... ah... assim ?
- Isso ! Isso ! Assim... oh... sim...
- Aqui está bom ?
- Sim ! Está ótimo ! Continua coçando...
 
Fico até espantado que o Folco ache irreais esses diálogos.. em qualquer ambiente, seja ele o mais variado possível ao mais normal, é facílimo ouvir coisas do tipo...
 
Fico até espantado que o Folco ache irreais esses diálogos.. em qualquer ambiente, seja ele o mais variado possível ao mais normal, é facílimo ouvir coisas do tipo...

Se esses ambientes reais são um seriado da Globo...

Sei lá, achei muito... sei lá. Não parece real. É como o CGI em Final Fantasy, tá bem perto, mas não é.
 

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