Primula disse:
Ressuscitando tópico (já que tem mais gente nova no pedaço)
Realmente, vale muito a pena falar mais um pouco a esse respeito.
Vou me concentrar só no conteúdo e não na forma.
Concordo com o que Primula disse.
Não existe uma receita, uma maneira certa de escrever, ou se existe não conheço. Mas, comigo funciona mais ou menos assim:
1. Primeiro surge a idéia, que é uma visão bastante geral da história que quero contar. Essa idéia é uma espécie de esqueleto, de roteiro. Não precisa ser muito detalhada, nem estar escrita num papel. Por exemplo, no caso do meu livro, guardei-a simplesmente na minha cabeça. De qualquer forma, mentalmente ou por escrito, é bom que esse "roteiro" exista e tenha começo, meio e um fim. Ele é o rumo seguro, pelo qual podemos seguir.
2. O segundo passo é começar a escrever. Dependendo do nível de complexidade da história é bom que, nos primeiros capítulos, o narrador se dedique a situar o leitor no mundo. O que eu quero dizer com isso é que é bom apresentar os personagens e o ambiente que os rodeia (sem descuidar do enredo - para não tornar a história tediosa e exageradamente descritiva). Essa apresentação não é importante apenas para o leitor, mas também para o escritor que passará a conhecer melhor suas criações. Esse é um ponto importante:
no roteiro você tem a idéia geral, é como ver uma cidade de um avião. Mas quando você anda pelas ruas da cidade, ou seja, quando passa a escrever, vai descobrir muitos detalhes, não só sobre os personagens, mas também sobre o ambiente e sobre o enredo. É como se, além de autor, você fosse também um leitor. Na minha opinião, é isso que faz escrever ser tão legal.
3. O que eu disse até aqui tem algumas conseqüências. Em primeiro lugar, esses detalhes que você vai descobrindo vão mudando a paisagem, ou seja, o enredo, os personagens e o ambiente ganham em riqueza e podem se transformar, em relação ao roteiro inicial.
Na minha opinião, é muito importante que o escritor permita essas transformações. Vou dar um exemplo: quando comecei a escrever meu livro, achava que o personagem principal era mais ou menos um clone meu. Mas depois, conforme fui escrevendo, descobri que ele tinha muito pouco a ver comigo!

Suas escolhas eram muito diferentes das que eu faria (o que me deixava, às vezes, até um pouco irritado). Mas acabei me conformando, pois conclui que assim o personagem se tornaria mais coerente consigo mesmo, mais complexo e mais verdadeiro. Essas mudanças podem afetar também o enredo e o ambiente, transformando, assim, o roteiro inicial. A história fica mais imprevisível e isso é muito bom!!! Entre outras coisas, ajuda a fugir dos clichês.
4. Por isso, acho que vale a pena deixar que essas mudanças aconteçam. Mas há um limite: o gosto do escritor. Se um personagem quer fazer alguma coisa que vai deixar a história pior, o escritor não precisa nem deve deixar. Mas veja bem:
é a preferência do escritor que conta. A história é sua e você deve agradar acima de tudo a si mesmo. Escrever fica muito mais prazeroso dessa forma e, em conseqüência, seu desempenho deve ser melhor. Já falei isso num outro tópico. Não se esqueça que é quase impossível agradar todo mundo. Se você fizer uma mudança (qualquer mudança) por que você acha que os outros vão gostar, não se iluda: alguém vai detestar essa mudança. Se esse alguém for você, então vai ser muito difícil ou muito chato continuar escrevendo. Portanto, acima de tudo, preocupe-se se a história está agradando você, não se preocupe com os outros. Se a história te agradar, é bem possível que as pessoas que têm preferências parecidas com as suas também gostem.
É isso.
Acho que já escrevi até demais. Mais vale a pena repetir: não existem fórmulas. No fundo, cada pessoa que escreve tem que encontrar seu próprio caminho.