Skylink
Squirrle!
Pessoas atravessavam por todos os cantos, em ritmo frenético e divagante; com frias faces taciturnas a fitar o nada que reluz por trás dos olhos cansados, dos corações destoados diante dos espelhos às suas voltas. Passavam...E repassavam inconstantes; por todos os lados, fantasmas a assombrar meus pensamentos e angústias.
Minha mente irresistia ao doce hiberne dos sonhos dos sonhos, ilusões de aconchego que se projetavam sobre uma tela preta, com uma luz escura e um negrume dissonante a cobrir tudo a sua volta. Mas as pálpebras se abriam, insatisfeitas com a perfídia de minha essência, que acabara de condena-las a respirar novamente as matizes sem contraste que permeavam tudo ao redor daquele lugar.
E eis que havia o movimento! O movimento que transitava bestializado, cada qual ali buscando a própria fuga daquele inferno desterializado, tornado real diante da face melancólica de cada alma que por lá permanecera. E havia também um homem, um homem que se movia inconstante, com olhos psicóticos a mirar algum canto obscuro de uma sala desconhecida nos corredores de sua própria mente.
Mas apesar de tudo isso, o silêncio era apenas um breve resquício das lembranças por entre os gritos ressonantes e o ricochetear da chuva na estrutura metálica e fatídica da estação. E até os surdo-mudos compunham suas falas em meio ao vazio inexorável do local, que me afligia enquanto se prolongava a espera.
As horas já passavam em frente aos meus olhos diletantes, em outras eras, em outros momentos... E atravessavam os dias, os meses, as estações e os anos de toda uma vida em frente a eles enquanto o tédio se adiantava para tomar o seu lugar nas divagações que me rodeavam.
Só que logo ele era deixado de lado enquanto meu corpo cedia ao frio, agora real também e não apenas etéreo. E a mente se rendia involuntariamente à fome dos olhos esmaecidos que fitavam o conforto e o aconchego dos outros, pouco mais que parcas blusas de liquidação ou peças sem cor. Mas ao menos eles detinham sapatos secos, ainda que não fossem de marca alguma e comprados na feirinha de uma esquina qualquer...
Mesmo assim, o falso fantasma do consumismo e sua austera sensação de sobrepujação não escondiam de mim a impressão de inferioridade ante os fantasmas que se remexiam à minha frente, muito menos pálidos do que eu. E que revelavam suas almas num ciclo intermitente, de simples andares destinados a mais um simples ato, um simples passo ou uma simples troca.
Sim, que ele ainda existia em tudo a minha volta, impregnado como peste sanguinolenta. E seu serviçal, o dinheiro, se movia por entre todas as mãos, das mais duras até as mais ávidas, num circunlóquio semi-alienante. Mas era pobre o dinheiro, sujo, e eram pobres os que trocavam as notas e pequenas moedas, e que engordavam um abutre distante, dono da velha estação suburbana calcada em sua arcaica e ao mesmo tempo moderna estrutura metálica. Sim, pois diziam que tudo que era velho se tornava novidade ao seu novo tempo num futuro promissor...
E eu, alheio a tudo isso, era agora só um velho no presente, mais um fantasma que observava os outros espíritos ao redor de um corpo resfriado. E no meio da cena patética um fantasma falava, ao que outro também o fazia. Se diziam poetas, eles, simples criaturas notívagas que complementavam a etérea emoção de um dia acinzentado, com o horizonte escurecido desde o seu início. Que o negrume da noite engolira a tudo enquanto o dilúvio não parara, e tudo agora se separava mais ainda nas pequenas ilhas...
Mas a mente estava distante do vazio, e havia apenas um suspiro baixinho ressoando no ambiente: “Quissá pudessem existir sobre cores...”
Minha mente irresistia ao doce hiberne dos sonhos dos sonhos, ilusões de aconchego que se projetavam sobre uma tela preta, com uma luz escura e um negrume dissonante a cobrir tudo a sua volta. Mas as pálpebras se abriam, insatisfeitas com a perfídia de minha essência, que acabara de condena-las a respirar novamente as matizes sem contraste que permeavam tudo ao redor daquele lugar.
E eis que havia o movimento! O movimento que transitava bestializado, cada qual ali buscando a própria fuga daquele inferno desterializado, tornado real diante da face melancólica de cada alma que por lá permanecera. E havia também um homem, um homem que se movia inconstante, com olhos psicóticos a mirar algum canto obscuro de uma sala desconhecida nos corredores de sua própria mente.
Mas apesar de tudo isso, o silêncio era apenas um breve resquício das lembranças por entre os gritos ressonantes e o ricochetear da chuva na estrutura metálica e fatídica da estação. E até os surdo-mudos compunham suas falas em meio ao vazio inexorável do local, que me afligia enquanto se prolongava a espera.
As horas já passavam em frente aos meus olhos diletantes, em outras eras, em outros momentos... E atravessavam os dias, os meses, as estações e os anos de toda uma vida em frente a eles enquanto o tédio se adiantava para tomar o seu lugar nas divagações que me rodeavam.
Só que logo ele era deixado de lado enquanto meu corpo cedia ao frio, agora real também e não apenas etéreo. E a mente se rendia involuntariamente à fome dos olhos esmaecidos que fitavam o conforto e o aconchego dos outros, pouco mais que parcas blusas de liquidação ou peças sem cor. Mas ao menos eles detinham sapatos secos, ainda que não fossem de marca alguma e comprados na feirinha de uma esquina qualquer...
Mesmo assim, o falso fantasma do consumismo e sua austera sensação de sobrepujação não escondiam de mim a impressão de inferioridade ante os fantasmas que se remexiam à minha frente, muito menos pálidos do que eu. E que revelavam suas almas num ciclo intermitente, de simples andares destinados a mais um simples ato, um simples passo ou uma simples troca.
Sim, que ele ainda existia em tudo a minha volta, impregnado como peste sanguinolenta. E seu serviçal, o dinheiro, se movia por entre todas as mãos, das mais duras até as mais ávidas, num circunlóquio semi-alienante. Mas era pobre o dinheiro, sujo, e eram pobres os que trocavam as notas e pequenas moedas, e que engordavam um abutre distante, dono da velha estação suburbana calcada em sua arcaica e ao mesmo tempo moderna estrutura metálica. Sim, pois diziam que tudo que era velho se tornava novidade ao seu novo tempo num futuro promissor...
E eu, alheio a tudo isso, era agora só um velho no presente, mais um fantasma que observava os outros espíritos ao redor de um corpo resfriado. E no meio da cena patética um fantasma falava, ao que outro também o fazia. Se diziam poetas, eles, simples criaturas notívagas que complementavam a etérea emoção de um dia acinzentado, com o horizonte escurecido desde o seu início. Que o negrume da noite engolira a tudo enquanto o dilúvio não parara, e tudo agora se separava mais ainda nas pequenas ilhas...
Mas a mente estava distante do vazio, e havia apenas um suspiro baixinho ressoando no ambiente: “Quissá pudessem existir sobre cores...”