A linha de visão se altera novamente,
numa era dita irreferente ao caos.
Corpos ainda voam enquanto
eu sigo, tanto quanto os outros.
A imobilidade de um instante,
frente à morte e sua velha face,
salva minha vida uma outra vez.
Dez são os segundos desse impasse.
O painel da desejada loja brilha
e irradia a centelha essênciativa.
O mundo se retorce sobre frangos
insanos enquanto tomo a iniciativa.
Saio numa corrida desesperada,
e a cada passo o mundo diminui.
A terra roda e regira ao redor
com ardor, e o inverso do universo reflui.
Retorno ao chão num baque inesperado.
“Gesto impensado, estou perdendo a calma...”
Rastejo ainda, como um simples louco,
através do buraco no vácuo de minha alma.
Formigas assustadoramente brilhantes
estão saltitantes por cantos ensangüentados
Atravesso afinal o limiar da insanidade
na cidade em ruínas, palco dos afogados
O mar de sangue já é nada para mim
assim que entro pela porta dos fundos.
As salas se reviram por caminhos
e ninhos incolores ou semi-destoados.
Os tanques não estão longe agora.
E a hora de minha paixão surgir
enfim se aproxima do limiar do real.
“Não há mais mal, ou desejo de ferir.”
Vozes inquietantes, não importa.
A porta se abre para o meu prazer.
Os desejados tanques estão todos
alinhados: “prontos para o lhe fazer”.
Um único fio de cabelo, simples
e reles carga de DNA acinzentada.
É tudo o que basta para lhe criar
e dar origem agora, minha fada
A fusão entre o real e o verdadeiro
começa num nevoeiro de íons delirantes.
Sentimentos rompem a frágil e pálida
crisálida, e ressoam: “Queime, queime”
“Queime para viver”, centenas de vozes
de microfones clamam por um momento.
E ele surge de seu casulo petrificado.
Assustado, ainda não compreende um lamento.
Sangue escorre pela janela de cima,
e acima se perdem os últimos suspiros
de uma pobre mulher engravidada.
Nada para se preocupar, exceto o vírus.
Vírus da loucura, da insanidade,
que de um jeito ou de outro tento
impedir que se aloje dentro dele.
Ele para, e agora é meu o lamento.
Vou para o próximo, não tenho
tempo ou desempenho para o futuro.
O desejo que me resta é só uma peça
sonsa e lenta do entremear do escuro