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[L] [Skylink] [Fada]

Skylink

Squirrle!
[Skylink] [Fada]

O sol passeava lentamente pelos corredores do céu, levando seu brilho resplandecente para todos aqueles que desejavam, mesmo que inconscientemente, a luz e o calor de mais um dia nascendo em suas vidas. As nuvens se remexiam ao sabor do vento, enquanto a bela estrela se dirigia para um lugar que sempre fora belo e sereno, mesmo com o espírito irrequieto que o habitava.

Um jovem menino, que por vezes preferia esconder a própria idade, olhava para o céu escurecido, num tom de espera melancólico. O tempo sempre passa devagar para os olhos dos que esperam, e com ele não era diferente. Mas naquele instante era algo simples, um desejo singelo sem um grande fundo de motivos. E ele apenas desejava observar o nascer do sol, algo que não via há um certo tempo. E resolvera, por isso, passar esta noite em espera, aparentemente pelo simples prazer de contemplar a grande estrela surgindo.

Enquanto esperava, ele se deliciava em contar as estrelas mais longínquas que haviam no céu, assim como observar as várias formas que elas tomavam aos olhos dos que conheciam o prazer de sonhar e imaginar; embora ele mesmo se esquecesse disso por vezes, ou pensasse ter a plena certeza do que fazia, o que quase sempre acabava em desastre nos seus casos.

Apesar de bastante entretido com suas peripécias tanto artísticas quanto matemáticas, ele não externava isso para os olhos dos curiosos que por ali passavam e paravam para observa-lo. Para eles, ele era tão somente um menino perdido nos pensamentos bobos de admiração que temos quando crianças, mas que são a base de nossas emoções e conhecimentos, e que a maioria de nós acaba por se esquecer com o tempo, absorvendo as verdades do mundo e conservando a própria curiosidade quase velada.

Após um pequeno tempo, que o menino nem vira passar direito, o sol passou a surgir lentamente por entre os galhos da floresta, enquanto diversos tipos de pássaros cantavam para saudar o novo dia que chegava. Ele então se desanuviou dos pensamentos que lhe distraiam para admirar o grande motivo que o fizera acordar no meio da noite e vir até aquele local. E sentiu-se feliz, com a beleza aparentemente simples dos raios do sol, que se refletiam sobre as mais diversas matizes e traziam a própria essência da vida àqueles que clamavam por ela, e também ela vinha aos outros, que por vezes se esqueciam dos motivos que os faziam existir, ou que nem sabiam ao certo quais eram eles.

O menino também admirou por alguns instantes as belas aves e o canto entoado por elas, enquanto seu pensamento voava para os motivos pelos quais aqueles seres saudavam a chegada do novo dia. Era algo bastante importante, como ele sabia, mas em seu intimo havia brotado nos últimos tempos um sentimento que lhe externava a falta de algo, ou de um dia diferente. O dia que nascia agora parecia ser o mesmo, embora mantivesse a sua eterna alegria e beleza sobre todos os outros seres que por ali estavam. E apesar de saber motivos de tantas coisas, este ele não sabia explicar, e ultimamente se indagava sobre o que lhe faltava para ter aquela sensação plena de felicidade que sentia há pouco tempo atrás.

Por isso viera dar atenção ao nascer do sol, para relembrar um pouco do passado e talvez descobrir onde foi que uma parte de sua felicidade foi deixada ou perdida. Era esta a razão que agora o fazia deitar sobre a relva e velejar por seus pensamentos e sentimentos, enquanto ouvia os alegres pássaros à sua volta. E o pensamento voava, por todos os cantos dos mares da imaginação, como se fosse um belo navio alado, cruzando as fronteiras de conhecimentos e sentimentos. Mas apesar disso, ele não encontrava o que procurava, e por muitas horas ali ficou, com sua voz interior, seu melhor amigo que o compreendia em todas as questões, pensando sobre o que lhe faltava. Mas nem ela podia lhe ajudar naquele momento, já que dependia dos conhecimentos e pensamentos que ele detinha.

Um tilintar de sinos, porém, lhe tirou da profunda concentração em que estava enquanto deliberava sobre si mesmo. E os sinos lhe despertaram a curiosidade, que ele havia deixado velada sem notar, e com ela veio um sentimento quase mágico de beleza e admiração. E após se levantar em um salto, ele correu para dentro da floresta seguindo o belo som que ecoava por entre as árvores. E não sabia ao certo por que corria, mesmo tentando pensar enquanto o fazia. Os motivos se tornavam dispersos, enquanto o sentimento de necessidade aumentava em seu coração, como ele notava.

E assim ele percorreu um longo espaço, no tempo de alguns minutos, chegando a uma grande clareira. Lá, havia uma linda lagoa de água cristalina, que por algum motivo especial refletia o brilho do sol sobre as mais diversas cores, como se formasse um arco-íris de uma ponta à outra. E este parecia desejar que suas cores se espalhassem por todo o local, tanto que as pedras que existiam por ali eram de todas as formas e cores. Existiam árvores também, mas eram diferentes de todas as outras que o menino já tinha visto. Eram muito mais altas que as comuns, mas não tapavam nem impediam a entrada dos raios do sol, e conservavam em sua casca um tom acinzentado, quase prateado. E aqueles que soubessem enxergar mais veriam também o misto de admiração e felicidade que elas sentiam, ao perceber, assim como o menino, o ser que agora levitava serenamente no centro da lagoa.

E ali, um pouco acima das águas, estava uma fada. Não uma pequena fada, daquelas singelas que se avistava por entre os bosques durante caminhadas, e que sumiam no instante seguinte, mas sim uma donzela semelhante a uma princesa, muito mais que as simples elfas das antigas lendas. Talvez algumas se equiparassem a ela, mas nenhuma poderia chegar aonde ela chegou no coração do menino. E ela agora deixava o sino de lado e segurava uma harpa branca, enquanto seus dedos tiravam uma leve e maravilhosa melodia. As águas se agitavam levemente, produzindo pequenos círculos de ondas que se chocavam entre si e davam quase que uma forma à música. Ela então começou a cantar enquanto tocava, e as águas, naquele instante, reproduziam todos os sonhos daqueles que olhavam para elas.

A admiração do menino logo ultrapassou o limite das coisas contáveis, atraindo para fora da inconsciência a imensidão de sentimentos que não encontravam reflexo fora de seu espírito, mas permaneciam ali, sempre lhe impelindo a procurar algo que ele mesmo não sabia ao certo. Agora, porém, ele encontrava naquelas águas, quase místicas, as respostas para suas dúvidas e indagações. E ficou feliz, pois a resposta estava em sua frente, sob a forma da fada que lhe despertava a magia do sentimento que chamamos de amor.

Ele caminhou lentamente até ela que, tomada de surpresa, só soube sorrir ao avistar o belo jovem que se aproximava. As palavras não eram mais necessárias, quando os olhos de ambos se cruzaram. Ela parou de tocar, e a música continuou por si só, como se quisesse desenhar a história daquele momento. Por algum motivo, o jovem pôde caminhar sobre a água, que parecia desejar o toque de ambos e se remexia numa harmonia suave. E o coração dele batia acelerado, como se desejasse saltar do próprio peito, enquanto seus olhos eram fixos para as lindas madeixas de cabelo e o rosto da bela fada, e seu espírito, apesar de toda a excitação do momento, finalmente sentia ter encontrado a paz naqueles olhos escuros, que pareciam contar com toda a sabedoria e a experiência do mundo.

E, no tempo de um segundo, a beijou, enquanto seu espírito voava para próximo ao paraíso, e sua mente se esquecia do mundo, se centrando apenas na pessoa que amava e sentia naquele momento. E ela parecia fazer o mesmo, embora algo em seu semblante mostrasse uma tristeza incomensurável, mesmo com toda a alegria e felicidade daquele momento. E os olhos dele logo se fecharam, enquanto um sono como o de um encantamento o acometia e o levava dali, mesmo contra sua vontade.

E ele acordou atônito, pois finalmente encontrara aquilo que lhe trazia a paz e a alegria plenas novamente ao espírito. Mais que isso, lhe trazia algo que nem ele sabia descrever, embora já tivesse ouvido que davam o nome de amor a este sentimento que agora era parte dele. Por muito tempo a procurou, embora nem o local nem sua amada pudessem ser avistados, por mais que procurasse. Onde quer que olhasse, as flores e árvores eram as mesmas, sem nenhuma indicação do local mágico que estivera há pouco. Depois de um grande tempo procurando, ele acabou por desmaiar, num misto de cansaço misturado ao desespero.

Por um longo tempo dormiu, num sono profundo que por algum motivo lhe trazia à lembrança o cheiro de orvalho, enquanto sonhava com o momento em que estivera antes de adormecer. E quando acordou, voltou a dormir, como se esperasse encontra-la de novo em seus sonhos. Mas não mais a achou, por mais que vagasse por entre seus inúmeros devaneios. Apenas encontrou, pouco antes de acordar novamente, uma imagem distante, como se fosse um quadro pendurado nos céus.

Finalmente acordou, depois de um bom tempo, suficiente para o dia acabar e as estrelas surgirem novamente no céu. E era para elas agora que ele perguntava onde ela estava, o que fazia e porque o deixara ali, sozinho, novamente na imensidão da solidão que agora ele conhecia plenamente. E embora perguntassem, elas não respondiam, apenas pareciam brilhar de uma forma mais branda, como se estivessem com pena do pobre jovem que deixava as lágrimas caminharem por seu rosto.

Por fim, parou de chorar, como se por entre os momentos de amargura e lamento houvesse encontrado a decisão que lhe colocaria no caminho correto para resolver suas questões. Saiu, então, da floresta na qual havia entrado, para se dirigir de volta à cidade de onde viera, escondido dos curiosos que inevitavelmente comentariam seu sumiço, mas não imediatamente. Depois de caminhar um pouco de volta por onde veio, viu que o local em que havia acordado era bastante perto da estrada que tomara para chegar ao bosque, e logo seguiu por ela em direção à cidade, sob a luz da lua e das estrelas que iluminavam levemente o caminho.

Chegando enfim à cidade, passou despercebido dos guardas, que, como sempre, extrapolavam na bebida e esqueciam da troca de turno. Dirigiu-se logo para a biblioteca da cidade, onde eram guardados não somente livros, mas também pergaminhos e velhas notas que chegaram até ali através de dezenas de gerações. E infelizmente eram poucos os que iam por lá conhecer não só a própria cultura como também suas raízes, e cada vez mais se comentava entre os mais velhos que os jovens estavam crescendo ao léu, sem um conhecimento suficiente para definir o rumo que a própria vida levaria e sem conseguir entender os próprios sentimentos. Ele, entretanto, era exceção, e desde pequeno se habituara a ler e indagar sobre tudo, cultivando aquilo que os filósofos consideram a maior virtude dos humanos, que é a curiosidade de toda criança.

Seus motivos talvez não fossem claros, ou não fizessem totalmente sentido. Mas era seu coração agora que lhe impelia para lá, pelo súbito pressentimento de que poderia encontrar algo que lhe explicasse o que ocorrera, pois tinha certeza de que não havia sido apenas um simples sonho. Na biblioteca, havia alguns manuscritos guardados em locais de difícil acesso, talvez para evitar que pessoas simples não tivessem contato com o conhecimento que os chamados sábios guardavam para si. Ele, porém, crescendo ali, sabia todos os caminhos e acessos da biblioteca, que detinha algumas partes realmente obscuras e até perigosas. Só nunca tocara naqueles antigos pergaminhos por respeito, mas agora a necessidade da verdade de seu coração lhe compelia a por de lado estas questões.

Logo estava folheando rapidamente todos eles, procurando por alguma indicação que fizesse menção ao local ou à fada que havia visto e agora amava eternamente, independente da sua vontade. Depois de muito procurar pelos papéis, resolveu dar uma olhada na última sala da biblioteca, onde se acreditava que estavam manuscritos de grande importância. Era definitivamente difícil de chegar até lá, mas ele logo conseguiu, conhecendo perfeitamente as várias passagens e os pequenos e grandes truques empregados no local.

Na última sala, que se escondia atrás de uma grande porta de mármore, encontrou dezenas de papéis, que continham os mais diversos e importantes assuntos. Neles estavam registros de lendas e profecias, além de algumas belas poesias, que detinham um ar misterioso. E foi nelas que ele finalmente encontrou o que procurava. Uma delas se destacava a seus olhos, e foi nela que percebeu as respostas para seu grande desejo. Ela contava a história de um velho sábio, que muitas respostas encontrara durante toda a sua vida, mas que não pôde deixar seu legado para mais do que algumas fadas, que infelizmente não tem a capacidade de se comunicar diretamente com humanos simples. E após a morte dele, elas se dispersaram pelo mundo.

Conta o resto da poesia que com elas caminha até hoje grande parte dos segredos da verdadeira essência da vida, e que aqueles que as avistam, descobrem aquilo que seu próprio coração procura. Ele então se deu conta de que fora exatamente isto que acontecera, e enquanto saia daquela câmara escondida, tentando pensar no que fazer, tateava no escuro o caminho de volta. E após deixar a biblioteca, resolveu dar ouvido somente ao que seu coração dizia e ao que sua voz interior, seu melhor amigo, lhe aconselhava naquele momento.

Foi até sua casa para dormir e repensar mais uma vez. E de manhã, acordou com a plena certeza do que fazer. Pegou todo o seu dinheiro e foi até uma loja, onde comprou o mais belo presente que havia encontrado. O vendedor estranhou, já que ele não costumava ser uma pessoa que comprasse presentes, e nunca soubera de alguém para quem o jovem daria tal presente. Ele não se importou, e enquanto saia da cidade, sem se importar com quaisquer olhos que o estivessem fitando, pensava e tentava imaginar como chegar até aquela lagoa.

E seguindo um caminho que fizera somente para avistar o sol, e depois fechando os olhos e seguindo simplesmente por onde seus pés desejavam, ele chegou enfim, talvez por algum milagre ou intervenção divina, ao lugar que a jovem fada lhe mostrara. E era como ele vira antes, um local mágico aonde poucos chegavam, seja por interesses alheios aos homens ou por necessidade de um refúgio da realidade, que há tantos cerca e engole

Lá, ele depositou debaixo de uma pedra multicolorida, diferente de todas as outras, seu belo presente, que era, por acaso, o gosto de alguém em quem ele confiava plenamente. E com ele, depositou todas as suas esperanças e desejos, além de seu amor que ali estava guardado para sempre, enquanto aquela pessoa por quem esperava não chegasse. Junto, ele deixou uma poesia, da qual hoje só resta uma pequena parte, que explicita seus motivos e sentimentos. O jeito de encontrá-lo talvez tenha se perdido, ou só ela pudesse ler.

Após isso, pôs-se a viajar pelo mundo, tanto procurando e esperando sua amada, como também descobrindo e aprimorando sua própria alma. Encontrou e descobriu muitas coisas, tanto por si só, como também com a ajuda de seus amigos. Mas seu sentimento permaneceu agarrado à esperança que depositara, e por muitos anos ele esperou, não conseguindo amar mais ninguém além daquela que ele havia visto apenas por sonho, mas que lhe revelou a sua alma inteira em único instante.

Anos depois, uma jovem moça, de longos cabelos escuros, passeava pelo bosque, quando algum sentido oculto dentro de si lhe guiou por um caminho inusitado. Ao seguir por ele, sem nem saber o motivo, ela acabou por encontrar uma bela lagoa, num local evidentemente mágico, como anunciavam as pedras coloridas e o eterno arco-íris que por ali se formava. E ao pegar uma pedra que se destacava entre as outras, encontrou um pequeno embrulho embaixo dela, junto com uma bela poesia...
 
Última edição:
Muito bom Sky. Tem muito lirismo. Demorei um pouco para me situar, mas logo fui pelo pelo ambiente mágico do conto. Parabéns. :wink:
 
Cara, está muito bom. É o primeiro conto seu que leio, e está bom o suficiente a ponto de ser difícil acreditar que foi você que realmente escreveu.

Conselho: não continue! O fim está perfeito assim! Se vc continuar, vai estragar a graça da curiosidade.
 

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