
(Ilustração de "Prophecies of Merlin" de Geoffrey of Monmouth, Sec XII - Autor do conto do qual me inspirei para isso)
Durante uma noite conturbada eu tive um sonho. Sonhei que dois dragões duelavam sobre um lago, um Alvo, como a neve mortal do inverno do Norte, que fere as plantações e mata nossos sábios anciões. O outro, Carmesim, como o sangue que nossos valorosos homens derramam em batalha, ao defender seus lares e nossa terra.
A batalha, em sua violência, mesmo ocorrendo nos ares, agitava a superfície do lago, tal a sua fúria. As duas bestas Mitológicas revoavam, ferindo uma a outra, com garra e chama, por longo tempo. Para quem, atemorizado, observava de longe o titânico embate, temendo por suas vidas e almas, parecia que o Dragão Branco levava vantagem,
Até que, em um atroz momento, atirou o Vermelho na água, com um golpe devastador. Tudo parecia perdido, a espectral figura dominava e um silêncio de morte cobriu a terra por alguns instantes.
Porém, cego em seu orgulho, vangloriando-se de ignóbil vitória, o dragão-espectro não quis tomar conhecimento do que acontecia a seus pés: o lago parecia dotado de orgulho próprio por sua vez, fervilhando de ódio sob ele, parecendo querer engolfá-lo, para que fizesse companhia a seu oponente caído.
No entanto, momentos depois, revela-se a fonte de tal fúria, pois eis que, das profundezas do lago, surge, tal qual Fênix, renascido em vôo magnânimo, o Dragão Vermelho, mais forte que quando começou a batalha, curado não se sabe por que motivo: se sua própria vontade soberana, ou se pela terra, que se recusou a acolhê-lo em seu descanso final, dizendo: Vai, filho, ainda precisamos de ti.
Em golpe ascendente e mortífero, garra e chama uma vez mais flagrantes, o ígneo defensor arrebata-se sobre seu algoz, ferindo-o de morte. Coberto de sangue, quase de modo a parecer, aos olhos descuidados dos camponeses atônitos que os dois lutadores eram da mesma matiz, o Branco percebe que sua hora se avizinha, e que se continuar, será ele que dará alimento aos seres que habitam as águas abaixo.
Derrotado, o Adversário se retira, em vôo incerto porém veloz, dirige-se quem sabe, para o Norte gélido, onde poderá recuperar suas forças, e prolongar sua vil existência, ou talvez, encontrar um túmulo mais a seu gosto. De qualquer modo, por hora, O Dragão Vermelho Reina sobre o Lago.
Este, meus amigos, foi o sonho que tive, e que Merlin interpretou corretamente. Erigi um Castelo no local , este mesmo local no qual, hoje, narro este acontecimento, pois o Lago que me foi revelado por Morpheus jaz sobre nossos pés, o fosso que nos circunda é sua água límpida. Eu, Uther da Bretanha, o Dragão Vermelho, ostento meu pavilhão sobre o Castelo, e desejo que todos partilhem da proteção de suas paredes de sólida rocha. Possa seu interior ser como o lago foi para para o altivo Dragão Carmesim, no sonho, um local onde as forças se dobram, e as injúrias desaparecem.
Bem Vindos a Camelot, Castelo de prata sobre verde, em planalto soberano, do qual se vê toda a terra.
por: André Guia, direitos autorais protegidos conforme a lei de Direitos Autorais, número 9610, de 19/02/1998
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