Primula
Moda, mediana, média...
[Primula] [Preços e Pagamentos]
Por favor NÃO FAÇAM COMENTÁRIOS ainda. Pelo menos até postar quatro mensagens consecutivas (mas se o comichão for muito grande, mandem MP, OK)
*****
Preços e pagamentos
por Regina Keiko Murakami
Primula
- Você não pode estar falando sério!
- Parece que estou brincando?
Cliche. Diálogos Padrão. Roteiro idiota.
De qualquer forma... dolorosa nova ordem mundial.
- Último palitinho.
- Como pode? Você roubou! Não pode fazer isso!
-Oh?
- Correção: ela pode fazer isso. - um terceira voz explicou. Uma voz masculina e tímida - Ela é nossa líder.
Seu nome era Sonny. Sua líder uma mulher chamada Marcie.
- Mas... - o homem protestou.
- Nada de "mas"! Você conhece a lei! Pare com essa choradeira!
A linha dos condenados era pequena comparado com o resto da vila. Eles sabiam que era para o bem de todos, mas não podiam evitar tremer. Eles morreriam. Claro que não sentiriam dor, mas suas vidas acabariam do mesmo jeito. E por isso eles estavam com medo.
- Mamãe! - uma garotinha chorou.
- Calma, meu bem. Tudo vai dar certo. - a mulher marcada para morrer disse para sua filha.
- Pare já com isso! Você sabe que vai ser pior pra ela depois.
A mulher concordou. Sua menininha se tornaria uma órfã. Ela tinha de morrer por sua menina. Não havia escolha para eles.
- Foi algo muito duro de se dizer... - Sonny falou enquanto eles voltavam para a Tenda Central. (que na verdade não era tenda. Há muito não se usam tendas... desde que conseguiram construir um abrigo grande o bastante para todos)
- O mundo é duro. Desde aquele ano de 2001... Aquele povo idiota! Malditos todos eles! Se você tem de passar sermão, diga algo para nossos ancestrais. Mesmo assim, isso não adianta nada agora.
- Mas não era necessário ser tão dura. Você costumava ser tão gentil...
- E pra que servia isso? Não percebe? A menina teria esperanças "Mamãe vai ser salva". Que eu a salvaria. E isso não é verdade, e então ela sentiria-se traída. E dessa forma, ela procuraria vingança em nos outros.
- Você não sente nada?
- Meu coração foi destruído muito tempo atrás. Meu corpo é de mulher, mas meu coração é de um monstro Sonny. Não há mais lugar para bondade e compaixão nele.
Algumas pessoas os olhavam com raiva. Algumas fitavam frustrados. Ele quase podia ouvir o que eles estavam pensando. Por que nossos entes queridos devem morrer. Isso não era justo... e assim por diante...
Marcie estava certa, mas ainda assim era cruel demais. Executar pessoas aleatóriamente... Ele podia entender se fosse para punir criminosos, mas gente inocente?
- Não existe gente inocente, Sonny. As crianças por exemplo - elas são bem cruéis se não fosse pelo adestramento que passam que chamamos de educação e respeito.
- Humanos não são animais, Marcie.
- Esqueça que é um animal, e você se torna um monstro, Sonny. Tente negar que você é um monstro e você acabará matando mais gente que Attila. As piores atrocidades da História foram feitas por gente que clamava ser "virtuosos". Não se esqueça disso.
- Mas nem todo mundo é tão ruim quanto você diz!
Marcie voltou-se para encará-lo: - Verdade... mas não há uma pessoa que possa ser considerada completamente inocent.
Uma multidão tinha seguido-os. Ela voltou-se para eles, condenados e sortudos: -Agora vão pra casa e vivam. Estejam de volta no final desta semana. É tudo.
Muitos gritaram e choraram, muitos disseram palavras duras para ela. Mas ela não se incomodou. Eles podiam se lamentar, temer, odiar. Cegos pelas suas emoções, quando deviam ser senhores das mesmas.
Eles não entenderiam e não viveriam completamente até o último dia. Bando de crianças.... será que eu tenho de explicar tudo?
- Sua vaca! - um homem cuja esposa foi escolhida gritou.
Marcie esperou até que se cansasse. Somente então ela falou:
- Poderia repetir os nomes da lista, Sonny? Com ordem de numeração e tudo, por favor.
-Marcie! - Sonny quase engasgou de surpresa.
Mas ele obedeceu depois de ver o olhar dela. Após cada número vinha um nome e um grito de "injustiça" do povo. Depois de vinte e nove nomes ele parou meio confuso.
- Qual o problema, Sonny?
Todos pararam de gritar e chorar. Eles ficaram meio que perdidos com as últimas palavras dela. Mas foi Sonny quem proferiu as palavras fatídicas.
- Você disse... que teríamos de sacrificar trinta pessoas... sorteamos vinte e nove...
Todos olharam-se uns para os outros. Mais um? Era demais! Eles deviam se livrar dessa louca que matava pessoas sem se preocupar um átimo com eles.
- Vocês estão certos! Vocês deviam me matar. AFINAL EU SOU O NÚMERO TRINTA DESSA LISTA!
Na hora todo mundo se calou. Eles pensaram que era uma brincadeira de mau gosto. Alguns pensavam que ela merecia, claro, mas...
- Devo repetir? Eu serei a última dessa lista a ser executada.
A onda de desconforto e confusão não abandonava a multidão. Suspirando, como se estivesse tremendamente cansada, Marcie explicou.
- Vocês disseram que isto era injusto. A vida é injusta, sinto muito! Vocês disseram que eu devia escolher melhor quem devia morrer. Escolher, vocês dizem? Por qual padrão? Devo proteger minha família? Hummm... eu não tenho família. Devo salvar as mães? Claro, apenas para matar os maridos delas, certo? Devo salvar apenas os inteligentes, fortes, velhos/sábios? Ah, tenha dó... a lista é infinita!
- Os criminosos! - uma senhora gritou.
- Todos aqui são criminosos. Ninguém aqui merece viver. Nossa espécie matou o planeta. Seria muito melhor apenas se nós deitássemos e morressemos!
Um silêncio mortal caiu sobre eles. Depois de um segundo, Marcie continuou: - Não há mais qualquer forma justa de julgar qualquer pessoa hoje em dia. Quem consideramos herói hoje pode ser considerado monstro amanhã. E vice versa: algumas pessoas que antes eram consideradas traidoras pela sociedade a história louvou como heróis depois.
- Minha lei é esta, e vocês concordaram com ela quando vieram a mim: eu salvaria suas vidas, mas essas mesmas vidas estariam em meu poder. Mas em troca este poder não tornaria minha vida mais fácil do que a vida de qualquer outro sob minha custódia.
- O que inclui meu tempo de vida também. Eu tenho o direto de escolher quem deve morrer. E fazendo isso, eu tenho de morrer com eles também.
- Eu disse que um dia alguns de nós teriam de ser sacrificados para que a vila e aqueles que amamos pudessem sobreviver. Não quero ouvir mais reclamações. Todos morrem um dia. Até lá, continuem vivendo. É tudo.
Sonny estava sem palavras. Ele não podia acreditar. Marcie morreria com eles? Era um absurdo, uma idiotice, e...
- Você não pode morrer! Quem vai cuidar da vila? - um dos Sortie gritou.
- Isso vai ser problema de vocês. Eu só vou tomar conta das coisas até sexta-feira. Depois disso, eu vou estar bem morta e enterrada. Gente morta não tem de se preocupar com os problemas dos vivos.
Agora Sonny se perguntava se os que sobrevivessem seriam tão sortudos assim...
*****
Notas de autor:
Sortie é pra designar os sortudos que não vão morrer. No original deixei como "lucie" como corruptera de "luckie"
"There's no innocents!"
Duna - Frank Herbert
Por favor NÃO FAÇAM COMENTÁRIOS ainda. Pelo menos até postar quatro mensagens consecutivas (mas se o comichão for muito grande, mandem MP, OK)
*****
Preços e pagamentos
por Regina Keiko Murakami
Primula
- Você não pode estar falando sério!
- Parece que estou brincando?
Cliche. Diálogos Padrão. Roteiro idiota.
De qualquer forma... dolorosa nova ordem mundial.
- Último palitinho.
- Como pode? Você roubou! Não pode fazer isso!
-Oh?
- Correção: ela pode fazer isso. - um terceira voz explicou. Uma voz masculina e tímida - Ela é nossa líder.
Seu nome era Sonny. Sua líder uma mulher chamada Marcie.
- Mas... - o homem protestou.
- Nada de "mas"! Você conhece a lei! Pare com essa choradeira!
A linha dos condenados era pequena comparado com o resto da vila. Eles sabiam que era para o bem de todos, mas não podiam evitar tremer. Eles morreriam. Claro que não sentiriam dor, mas suas vidas acabariam do mesmo jeito. E por isso eles estavam com medo.
- Mamãe! - uma garotinha chorou.
- Calma, meu bem. Tudo vai dar certo. - a mulher marcada para morrer disse para sua filha.
- Pare já com isso! Você sabe que vai ser pior pra ela depois.
A mulher concordou. Sua menininha se tornaria uma órfã. Ela tinha de morrer por sua menina. Não havia escolha para eles.
- Foi algo muito duro de se dizer... - Sonny falou enquanto eles voltavam para a Tenda Central. (que na verdade não era tenda. Há muito não se usam tendas... desde que conseguiram construir um abrigo grande o bastante para todos)
- O mundo é duro. Desde aquele ano de 2001... Aquele povo idiota! Malditos todos eles! Se você tem de passar sermão, diga algo para nossos ancestrais. Mesmo assim, isso não adianta nada agora.
- Mas não era necessário ser tão dura. Você costumava ser tão gentil...
- E pra que servia isso? Não percebe? A menina teria esperanças "Mamãe vai ser salva". Que eu a salvaria. E isso não é verdade, e então ela sentiria-se traída. E dessa forma, ela procuraria vingança em nos outros.
- Você não sente nada?
- Meu coração foi destruído muito tempo atrás. Meu corpo é de mulher, mas meu coração é de um monstro Sonny. Não há mais lugar para bondade e compaixão nele.
Algumas pessoas os olhavam com raiva. Algumas fitavam frustrados. Ele quase podia ouvir o que eles estavam pensando. Por que nossos entes queridos devem morrer. Isso não era justo... e assim por diante...
Marcie estava certa, mas ainda assim era cruel demais. Executar pessoas aleatóriamente... Ele podia entender se fosse para punir criminosos, mas gente inocente?
- Não existe gente inocente, Sonny. As crianças por exemplo - elas são bem cruéis se não fosse pelo adestramento que passam que chamamos de educação e respeito.
- Humanos não são animais, Marcie.
- Esqueça que é um animal, e você se torna um monstro, Sonny. Tente negar que você é um monstro e você acabará matando mais gente que Attila. As piores atrocidades da História foram feitas por gente que clamava ser "virtuosos". Não se esqueça disso.
- Mas nem todo mundo é tão ruim quanto você diz!
Marcie voltou-se para encará-lo: - Verdade... mas não há uma pessoa que possa ser considerada completamente inocent.
Uma multidão tinha seguido-os. Ela voltou-se para eles, condenados e sortudos: -Agora vão pra casa e vivam. Estejam de volta no final desta semana. É tudo.
Muitos gritaram e choraram, muitos disseram palavras duras para ela. Mas ela não se incomodou. Eles podiam se lamentar, temer, odiar. Cegos pelas suas emoções, quando deviam ser senhores das mesmas.
Eles não entenderiam e não viveriam completamente até o último dia. Bando de crianças.... será que eu tenho de explicar tudo?
- Sua vaca! - um homem cuja esposa foi escolhida gritou.
Marcie esperou até que se cansasse. Somente então ela falou:
- Poderia repetir os nomes da lista, Sonny? Com ordem de numeração e tudo, por favor.
-Marcie! - Sonny quase engasgou de surpresa.
Mas ele obedeceu depois de ver o olhar dela. Após cada número vinha um nome e um grito de "injustiça" do povo. Depois de vinte e nove nomes ele parou meio confuso.
- Qual o problema, Sonny?
Todos pararam de gritar e chorar. Eles ficaram meio que perdidos com as últimas palavras dela. Mas foi Sonny quem proferiu as palavras fatídicas.
- Você disse... que teríamos de sacrificar trinta pessoas... sorteamos vinte e nove...
Todos olharam-se uns para os outros. Mais um? Era demais! Eles deviam se livrar dessa louca que matava pessoas sem se preocupar um átimo com eles.
- Vocês estão certos! Vocês deviam me matar. AFINAL EU SOU O NÚMERO TRINTA DESSA LISTA!
Na hora todo mundo se calou. Eles pensaram que era uma brincadeira de mau gosto. Alguns pensavam que ela merecia, claro, mas...
- Devo repetir? Eu serei a última dessa lista a ser executada.
A onda de desconforto e confusão não abandonava a multidão. Suspirando, como se estivesse tremendamente cansada, Marcie explicou.
- Vocês disseram que isto era injusto. A vida é injusta, sinto muito! Vocês disseram que eu devia escolher melhor quem devia morrer. Escolher, vocês dizem? Por qual padrão? Devo proteger minha família? Hummm... eu não tenho família. Devo salvar as mães? Claro, apenas para matar os maridos delas, certo? Devo salvar apenas os inteligentes, fortes, velhos/sábios? Ah, tenha dó... a lista é infinita!
- Os criminosos! - uma senhora gritou.
- Todos aqui são criminosos. Ninguém aqui merece viver. Nossa espécie matou o planeta. Seria muito melhor apenas se nós deitássemos e morressemos!
Um silêncio mortal caiu sobre eles. Depois de um segundo, Marcie continuou: - Não há mais qualquer forma justa de julgar qualquer pessoa hoje em dia. Quem consideramos herói hoje pode ser considerado monstro amanhã. E vice versa: algumas pessoas que antes eram consideradas traidoras pela sociedade a história louvou como heróis depois.
- Minha lei é esta, e vocês concordaram com ela quando vieram a mim: eu salvaria suas vidas, mas essas mesmas vidas estariam em meu poder. Mas em troca este poder não tornaria minha vida mais fácil do que a vida de qualquer outro sob minha custódia.
- O que inclui meu tempo de vida também. Eu tenho o direto de escolher quem deve morrer. E fazendo isso, eu tenho de morrer com eles também.
- Eu disse que um dia alguns de nós teriam de ser sacrificados para que a vila e aqueles que amamos pudessem sobreviver. Não quero ouvir mais reclamações. Todos morrem um dia. Até lá, continuem vivendo. É tudo.
Sonny estava sem palavras. Ele não podia acreditar. Marcie morreria com eles? Era um absurdo, uma idiotice, e...
- Você não pode morrer! Quem vai cuidar da vila? - um dos Sortie gritou.
- Isso vai ser problema de vocês. Eu só vou tomar conta das coisas até sexta-feira. Depois disso, eu vou estar bem morta e enterrada. Gente morta não tem de se preocupar com os problemas dos vivos.
Agora Sonny se perguntava se os que sobrevivessem seriam tão sortudos assim...
*****
Notas de autor:
Sortie é pra designar os sortudos que não vão morrer. No original deixei como "lucie" como corruptera de "luckie"
"There's no innocents!"
Duna - Frank Herbert