Primula
Moda, mediana, média...
[Primula] [Crônicas]
Antigo título: Duas crônicas de 30 de junho de 2002
São dois textos curtos... um meio triste, o outro não, nessa ordem para que vocês não terminem deprimidos.
Sobre o mesmo tema: Copa 2002. Fatos fictícios.
Como pode?
por Primula
Regina Keiko Murakami
Em um momento de profunda alegria de repente... como pode?
Foi um momento lindo. Quase que ninguém acreditava que pudesse ser possível, mas de repente se tornou realidade: Brasil pentacampeão. Aqui e ali podia-se ver o mundo chorando de felicidade, lágrimas sofridas e suadas de nossos campeões, lágrimas sofridas e suadas de todo o povo brasileiro.
Alegria que não podia ser contida. Que precisava ser festejada.
E que companhia melhor pra comemorar senão nossos irmãos? E onde mais comemorar senão fora de nossas casas, no seio de nossa nação?
As cornetas tocando, os apitos gritando, homem, mulher, criança, cantando, dançando.
Era uma comunhão de felicidade, onde todos esqueciam suas desavenças e medos. Onde todos esqueciam suas vidas sofridas, unidos em um só sentimento, corpo e alma. Um gigante não por que nosso país é grande, mas um gigante por estávamos unidos. Coração batendo como um só.
Como pode?
Ninguém viu, ninguém nunca vê. E como poderiam se todos estávamos felizes, se todos éramos irmãos naquele instante?
Foi apenas um estampido dentre outros. Tantos fogos, tantos rojões e buscapés...
Os fogos normalmente proporcionam alegria e fascinação. Queimaduras também, se o sujeito não sabe usar, ou se comprou na barraca da esquina. Mas esse estampido foi diferente.
Esse estampido era de tiro. E só fui perceber quando Andréia caíu na minha frente. Pegou o coração. Morta.
Podia ter acontecido com qualquer um. Acho que nem tavam atirando pra matar, era de farra mesmo, tiro pro alto, pra comemorar como a gente o penta. Mas pena que a gente comemorava em lugar alto. Acho que foi azar e infelicidade nossa.
Mas é engraçado que de repente na felicidade que todos compartihavam antes, a dor agora é só minha.
Gente miúda
por Primula
Sabe, a televisao de casa é pequena. O pai diz as vez que antigamente no tempo do vô era tudo preto-e-branco. Tipo aquele canal dois que passava o Ratimbum.
Mas mesmo com antena ruim dava pra ver. Verde e amarelo contra a Alemanha vestida de branco. O Burrão Bueno falando merda como sempre. Mas quem liga proque esse cara fala?
A gente sofreu tanto, sabe? Nossa como demorou pra ver eles jogar bonito como onti. Eu gritava, a mae gritava, o pai xingava. Parecia que eles esqueceram como que é bola no pé!
Mas ontem tudo mudou! Funcionou tão bonito que fiquei bobo chorando e sofrendo, sofreno e chorano. Mas valia a pena, num fosse que a imagem ficava mais borrada que as formigas da televisao.
Eu sintia uma agonia no peito quando aquele goleiro alemao agarrava a bola. Parecia uma parede aquele disgrassado. As vez nao... quem sabe eu nao tava meio alterado e via ele como gigante proque ele nao deixava a bola passar? Acho que foi isso! Quando a gente tá desesperado acontece da gente enxergar demais ou demenos. Isso a mae sempre fala quando eu me machuco.
Mas aí entrou! Sabe no da Turquia? Eu só gritei gol dipois de algum tempo porque não percebi que tinha entrado. Achei que a Tv tava ruim, mas o Riverino disse que ele tambem não tinha percebido o gol na Turquia quando tava assistindo na padaria com o pai. E a televisao da padaria era melhor que a nossa. (mas eu num pude ver porque tava lotada a padaria de domingo com o jogo. O portugues aproveitou a televisao melhor pra vender mais)
Aconteceu a mesma coisa dessa vez. A bola entrou mas demorou um pouco preu perceber que era gol nosso!
Quequecequeria? Pensei que o Rivaldo chutou e o goleiro pegou. Mas aí apareceu o ronaldinho e...
O Geferson cortou o cabelo igual ao ronaldinho. O pessoal logologo também vai lotar o seu Zé pedindo pra cortar igual. Até o pessoal que tirava sarro.
Mas eu quero ficar igual ao Ronaldinho. Vou crescer e vou segurar a taça que nem eles. Vou trazer orgulho pros meus pais e pro meu pais.
Antigo título: Duas crônicas de 30 de junho de 2002
São dois textos curtos... um meio triste, o outro não, nessa ordem para que vocês não terminem deprimidos.
Sobre o mesmo tema: Copa 2002. Fatos fictícios.
Como pode?
por Primula
Regina Keiko Murakami
Em um momento de profunda alegria de repente... como pode?
Foi um momento lindo. Quase que ninguém acreditava que pudesse ser possível, mas de repente se tornou realidade: Brasil pentacampeão. Aqui e ali podia-se ver o mundo chorando de felicidade, lágrimas sofridas e suadas de nossos campeões, lágrimas sofridas e suadas de todo o povo brasileiro.
Alegria que não podia ser contida. Que precisava ser festejada.
E que companhia melhor pra comemorar senão nossos irmãos? E onde mais comemorar senão fora de nossas casas, no seio de nossa nação?
As cornetas tocando, os apitos gritando, homem, mulher, criança, cantando, dançando.
Era uma comunhão de felicidade, onde todos esqueciam suas desavenças e medos. Onde todos esqueciam suas vidas sofridas, unidos em um só sentimento, corpo e alma. Um gigante não por que nosso país é grande, mas um gigante por estávamos unidos. Coração batendo como um só.
Como pode?
Ninguém viu, ninguém nunca vê. E como poderiam se todos estávamos felizes, se todos éramos irmãos naquele instante?
Foi apenas um estampido dentre outros. Tantos fogos, tantos rojões e buscapés...
Os fogos normalmente proporcionam alegria e fascinação. Queimaduras também, se o sujeito não sabe usar, ou se comprou na barraca da esquina. Mas esse estampido foi diferente.
Esse estampido era de tiro. E só fui perceber quando Andréia caíu na minha frente. Pegou o coração. Morta.
Podia ter acontecido com qualquer um. Acho que nem tavam atirando pra matar, era de farra mesmo, tiro pro alto, pra comemorar como a gente o penta. Mas pena que a gente comemorava em lugar alto. Acho que foi azar e infelicidade nossa.
Mas é engraçado que de repente na felicidade que todos compartihavam antes, a dor agora é só minha.
Gente miúda
por Primula
Sabe, a televisao de casa é pequena. O pai diz as vez que antigamente no tempo do vô era tudo preto-e-branco. Tipo aquele canal dois que passava o Ratimbum.
Mas mesmo com antena ruim dava pra ver. Verde e amarelo contra a Alemanha vestida de branco. O Burrão Bueno falando merda como sempre. Mas quem liga proque esse cara fala?
A gente sofreu tanto, sabe? Nossa como demorou pra ver eles jogar bonito como onti. Eu gritava, a mae gritava, o pai xingava. Parecia que eles esqueceram como que é bola no pé!
Mas ontem tudo mudou! Funcionou tão bonito que fiquei bobo chorando e sofrendo, sofreno e chorano. Mas valia a pena, num fosse que a imagem ficava mais borrada que as formigas da televisao.
Eu sintia uma agonia no peito quando aquele goleiro alemao agarrava a bola. Parecia uma parede aquele disgrassado. As vez nao... quem sabe eu nao tava meio alterado e via ele como gigante proque ele nao deixava a bola passar? Acho que foi isso! Quando a gente tá desesperado acontece da gente enxergar demais ou demenos. Isso a mae sempre fala quando eu me machuco.
Mas aí entrou! Sabe no da Turquia? Eu só gritei gol dipois de algum tempo porque não percebi que tinha entrado. Achei que a Tv tava ruim, mas o Riverino disse que ele tambem não tinha percebido o gol na Turquia quando tava assistindo na padaria com o pai. E a televisao da padaria era melhor que a nossa. (mas eu num pude ver porque tava lotada a padaria de domingo com o jogo. O portugues aproveitou a televisao melhor pra vender mais)
Aconteceu a mesma coisa dessa vez. A bola entrou mas demorou um pouco preu perceber que era gol nosso!
Quequecequeria? Pensei que o Rivaldo chutou e o goleiro pegou. Mas aí apareceu o ronaldinho e...
O Geferson cortou o cabelo igual ao ronaldinho. O pessoal logologo também vai lotar o seu Zé pedindo pra cortar igual. Até o pessoal que tirava sarro.
Mas eu quero ficar igual ao Ronaldinho. Vou crescer e vou segurar a taça que nem eles. Vou trazer orgulho pros meus pais e pro meu pais.