Odin281
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Prenúncios de uma nova guerra abala os reinos livres de Exódia.Boatos de que a forataleza negra,nas terras amaldiçoadas de Asgaroth,estava sendo reconstruída e refortificada,e de que suas tores pulsavam novamente com magia arcana.Boatos que falavam de uma aliança entre orcs e elfos negros.
A paz em Exódia estava ameaçada,um forte e imponente inimigo levantava-se nas sombras profundas de Asgaroth,mas ninguém sabia ao certo quem ele era,ou quais eram suas ambições.
Espero que gostem desta história,adicionarei mais capítulos conforme for acabando de revisá-los.
Título:Crônicas de Exódia
Cap1:Os dois mensageiros
Gênero:Fantasia Medieval
Autor:Odin281
Alcântara era um pequeno e rústico vilarejo , lembrando o estilo bárbaro , com casas simples feitas de madeira e cobertas de palha , erguidas de um chão escuro e úmido , praticamente amontoadas uma sobre as outras . Localizava-se ao extremo norte das terras do reino de Dillan , tendo ao oeste a pequena cadeia de montanhas chamada de Montes Quebrados e ao norte , além das plantações , a Floresta de Eduars . Ao sul e leste erguia-se um imenso bosque com árvores de troncos finos e extremamente altas , porém caprichosamente dispersas entre si , o que tornava possível se enxergar até uma certa distância por entre seus troncos . A simplicidade do vilarejo refletia-se em seus moradores , trajavam roupas de pano grosseiro : os homens calça e camisa ; as mulheres , vestidos longos e descoloridos geralmente cobertos por algum avental . Tinham rostos largos e rudes , corpos - na grande maioria - atarracados , com musculatura forte e ossos largos e comumente andavam descalços , mesmo sobre solo o acidentado . Viviam das suas plantações e da criação de galinhas e porcos , que ora ou outra caminhavam livremente entre o vilarejo , já que os chiqueiros ficavam entre as casas e sempre um ou dois escapavam e só eram recolocados em seu lugar quando invadiam alguma casa . Fora alguns desentendimentos entre os moradores , a paz reinava em Alcântara . Pelo menos até um fato que marcaria para sempre a sua história ...
Outra tarde se passava tranquila no vilarejo , e os moradores colhiam nas plantações algumas cenouras para o jantar , sem saber do estava para acontecer . Esgueirando-se por entre as sombras das árvores da Floreta de Eduars um bando de orcs atacou os camponeses , que fugiram para suas casas . Logo um grande tumulto se instalou no vilarejo e as pessoas escondidas em suas casas podiam ver pela janela a invasão dos orcs . Praticamente todos os porcos e galinhas foram levados . Não invadiram as casas , porém os olhares de alguns moradores cruzaram-se com os dos orcs , um olhar cruel e sanguinário acompanhado de um sorriso ameaçador por entre suas mandíbulas , como um aviso : não haviam invadido as casas , mas isso não demoraria à acontecer .
No dia seguinte Alcântara amanheceu coberta por cinzas e fumaça : os orcs tinham saqueado as plantações e depois as incendiado . O caos instalou-se por completo entre todos “ o que iremos fazer ? ” todos se perguntavam . Logo essa pergunta foi feita a Érick , filho de Beren , que fora um grande líder em Alcântara e morrera a cerca de um ano deixando-o no comando . Érick saíra-se bem até então , mas agora não sabia como agir , nem mesmo seu pai enfrentara uma situação daquela . Uma espécie de conselho foi feito no centro do vilarejo , do qual todos participaram .
-Devemos deixar a cidade . - sugeriam alguns
Érick permanecia apreensivo , em todos os seus trinta e cinco anos jamais pensara em estar diante de uma ocasião destas . Permanecia sentado em uma cadeira apertando a cabeça com ambas as mãos como se quisesse esmagá-la . Ele tinha um porte diferente do restante dos aldeões , assemelhava-se a seu pai , era alto e magro e tinha um rosto mais alongado e suave , embora agora , devido a preocupação , não se diferenciasse tanto dos demais .
-Sim , sim . Devemos partir . - apoiavam outros
-Para onde ? - finalmente manisfestou-se Érick – Não a outra cidade próxima a nós , e não temos comida o suficiente para fazermos uma viagem longa .
Todos refletiram e concordaram ser verdade .
-Mas se ficarmos aqui , vai ser pior . - disse outro e novamente foi apoiado
Érick refletiu por mais um tempo .
-Há boatos de um exército de Dillan que está em uma campanha contra os orcs . - disse por fim – Não estão distantes daqui .
-Dillan ? - repetiu ironicamente um dos anciões de Alcântara – Não nos comunicamos com Dillan há muito tempo , não pagamos mais tributos ao rei . Porque viriam nos ajudar ?
Com essas palavras novamente a dúvida instalou-se na mente de todos . Érick olhou severamente para o ancião que proferira aquelas palavras e este retribuiu-lhe um sorriso sarcástico . Era um homem alto e meio corcunda com uma espessa barba branca caída sobre o peito , chamava-se Dautenor , e era o mais velho ancião de Alcântara , o que lhe dava prestígio e respeito . Ele questionava Érick desde que este assumira o comando da vila , e Érick sabia bem o motivo .
-Queria estar em meu lugar – disse ele - , não é Dautenor ? - terminou dando enfase a frase
O velho respondeu com um meio sorriso completo de malignidade .
-Então o que faria ? - perguntou Érick fitando seriamente seu oponente
-Essa é primeira lição da liderança – falou Dautenor sem tirar o sorriso irônico dos lábios - , deve tomar as decisões sozinho , ou então dar a lugar a quem saiba fazê-lo sem pedir opiniões a terceiros .
Érick sentiu uma imensa ira tomando conta de si , uma vontade incomensurável de se atirar contra Dautenor e sufocá-lo , porém recobrou a calma , sabia que era isso que seu adversário queria .
-Já tomei minha decisão . – afirmou Érick - Enviarei dois mensageiros até a Planície de Roven , onde , segundo informações , o exército se encontra . Pedirei por ajuda .
-Espero que a receba . - disse por fim Dautenor antes de se virar e sair da reunião com um sorriso triunfante entre os lábios , não via porque discutir , acreditava que mesmo se encontrassem o exército , este não viria ao socorro de Alcântara , e tinha realmente razões para acreditar nisso . Alcântara ficava no território de Dillan , porém há muito tempo rompera relações com esta , ou melhor , simplesmente se esquecera desta e se permitiu com isso também cair no esquecimento . Agora poderia ser tarde para reatar velhas alianças . Por isso o velho ancião acreditava fielmente no fracasso do plano de Érick e se preocupava mais em como usaria esse erro contra ele .
Após escrever a carta na qual pedia ajuda às tropas de Dillan , Érick escolheu dois dos mais rápidos jovens do vilarejo para entregar a mensagem .
-Diga que temos urgência . - pediu Érick
E assim os dois jovens deixaram Alcântara em disparada rumo ao sul e logo sumiram entre as enormes árvores do bosque .
-Desejo-lhes sorte . - disse Erick como se a si mesmo . Ao se virar topou com Dautenor ,
com aquelo velho sorriso irônico de sempre ele disse .
-Foi um belo plano , sem dúvida nenhuma . - Érick apenas fitou seriamente depois retirou-se
Os dias passavam-se e a aflição de Érick aumentava à cada um deles , assim como o constante medo de ver seu plano fracassar , e Dautenor colaborava em muito para isso : andava para lá e para cá espalhando o caos entre os moradores .
-Ainda realmente esperam pela ajuda de Dillan . - dizia ironicamente – Dillan nos esqueceu há muito tempo . Para as montanhas , é para onde devemos ir .
-Fazer o que nas montanhas ? - retrucou Iasdam , um jovem camponês que seguia fiel à Érick – Morrer de fome ? Ou esperar que os orcs nos ataquem lá também ? Me diga !
-Érick têm corrompido suas mentes – persuadia Dautenor - , está lhes fazendo esperar sentados por vossa destruição . Está lhes tirando a chance de lutar .
-Besteira ! - interveio Iasdam – Você e suas mentiras é o que está condenando esse povo e já faz algum tempo . - terminou com um olhar resoluto e desafiador á Dautenor , este continuou a olhar-lhe com um ar de superioridade , quase inabalável . - Vamos embora daqui Noran – disse Iasdam a outro jovem camponês ao seu lado – me cansei dessas mentiras . - entretanto Noran baixou a cabeça e não se moveu
-Talvez ele tenha razão Iasdam . - interpelou este ainda que incerto sobre suas palavras
-Não diga que acredita no que ele diz – falou Iasdam inconformado , e algo como uma nuvem de lágrimas inundou seus olhos – Não você . - completou desapontado , quase como se traído .
Iasdam e Noran haviam sido criados juntos , como irmãos , e eram grandes amigos de Érick , por isso uma dor indescritível tomara conta de Iasdam ao ver seu amigo deixando-se corromper pelas palavras enganosas de Dautenor . Por mais uma vez ele lançou um olhar triste para seu amigo antes de partir , e este apenas baixou a cabeça como se envergonhado . Nem mesmo Noran sabia porque acreditava nas mentiras de Dautenor , porém a razão era eminente : medo ; e esse era o mesmo sentimento que se apoderava de todos , e muitos outros também deixaram-se enganar . Érick percebia isso , porém sabia que era inútil bater de frente com Dautenor , portanto tudo que lhe restava era rezar aos deuses para que os seus dois mensageiros retornassem logo . E com boas notícias .
A planície de Roven ficava na parte leste de Dillan , era um vasto campo onde o verde estendia-se até onde a vista alcançava . Ao longe , ainda mais ao leste , era possível se ver os cumes dos Montes Verdejantes erguendo-se imponentes contra o céu ; ao oeste , o rio Callas corria suavemente em direção ao norte , como uma serpente prateada sobre o campo verde . Era por volta de meio dia e o sol de outono queimava forte , como se fosse o mais quente verão . Sentado sob a tênue sombra de árvore William relia , sob os olhares ansiosos dos dois mensageiros , a carta que haviam lhe entregue . Seus olhos castanhos percorriam o papel lentamente , fazendo uma leitura minuciosa , e seus cabelos , também castanhos e caídos à altura dos ombros , esvoaçavam com o vento . Por fim levantou sua cabeça e encarou os dois jovens mensageiros , seu semblante era sério e disfarçava sua jovialidade ; tinha vinte e três anos , e à dois estava naquela campanha contra os orcs , a qual , até então , acreditava ter terminado . Passou vagarosamente a mão pela curta barba que começava a crescer novamente em sua face e finalmente falou .
-Quais são seus nomes ? - perguntou
Os dois jovens se encararam , depois um deles respondeu .
-Sou Jonas , filho de Brunm e este – apontou para o outro – é Nicolai , filho de Guhlai .
William levantou-se , aprumou o corpo e enrolou a carta nas mãos . Seu olhar perdeu-se ao longe , em direção ao noroeste , em direção à Dillan , porém seus olhos não podiam ver nada além da imensa planície verde .
-Pensei que finalmente havia acabado . - disse como se para si mesmo
-Corremos muito para chegar até aqui – revelou Nicolai
-E quase não nos pegaram há tempo . - admitiu William – Estávamos de partida .
Os mensageiros olharam-se confusos .
-Para onde ? - perguntaram
-Para casa . - respondeu William – Se é que ainda sabemos onde é . - tentou brincar esboçando um sorriso que logo se apagou , pois o cansaço e as lembranças dos difíceis dias passados o impediam de sorrir verdadeiramente .
Os dois mensageiros não podiam esconder sua preocupação . Um outro guerreiro aproximou-se deles , era um homem extremamente alto e forte , com longos cabelos amarelados assim como sua barba , ornada de finas tranças , dando-lhe um ar selvagem , ainda mais asseverado pelo brilho frio de seus olhos azuis . Chamava-se Barhrack .
-Já estão prontos para partir . - disse o guerreiro com uma voz gutural
William baixou a cabeça pensativo , olhou para longe e viu os soldados conversando e se abraçando descontraidamente , motivados por poderem finalmente voltar para casa , depois olhou para a apreensão dos dois jovens mensageiros e por fim para Barhrack .
-Talvez haja algo mais que devamos fazer antes de ir para casa . - disse com um certo tom lúgubre , Barhrack olhou-lhe confuso , William entregou-lhe a carta .
Barhrack pegou a carta com um olhar desconfiado , depois leu seu conteúdo rapidamente e seus olhos apertavam-se conforme seguia a leitura como se não acreditasse no que lia .
-Onde diabos fica Alcântara ? - perguntou desconcertado
Os mensageiros olharam-se e hesitaram na resposta , como se um esperasse que outro a desse .
-Fica ao norte daqui senhor . - respondeu por fim um deles , ainda que temeroso , e não era para menos , de fato a figura de Barhrack intimidava a qualquer um que o olhasse .
-No território de Dillan ? - perguntou-lhe novamente o enorme guerreiro , o jovem pareceu se encolher de medo antes de dar a resposta .
-Sim . - sussurrou entre os lábios
Barhrack olhou para William .
-Podemos conversar ? - William apenas assentiu com a cabeça e ambos caminharam para um lugar mais distante , deixando uma grande tensão entre os dois mensageiros .
-Nunca ouvi falar desse vilarejo . - disse Barhrack
-Nem mesmo eu . - admitiu William
-Ficará realmente nas terras de Dillan ?
-Não vejo porque mentirem . Existem muitos povos desconhecidos vivendo em Dillan , sem que sequer saibamos .
-E qual é o nosso compromisso com esses povos ? - indagou Barhrack
William refletiu por algum tempo , depois respondeu .
-Deixei Dillan com um único objetivo – olhou profundamente nos olhos de Barhrack - : livrar Dillan e o seu povo dos orcs . Eles são o povo de Dillan , mesmo não tendo levado isso em conta até então . Não descansarei até ter conseguido . - terminou resoluto em suas palavras
Barhrack baixou a cabeça tentando encontrar motivos para contestar palavras de William , após um tempo falou .
-Voltamos para Dillan – disse por fim - , em uma semana estaremos lá . Enviaremos então ajuda a este vilarejo . Se mandarmos cavaleiros chegaram lá em menos de quatro dias .
William abriu um meio sorriso .
-Eles não dispõem de tanto tempo . Nem mesmo sei como resistirão até nós mesmos chegarmos até eles .
-Agora levantou bem a questão capitão . Poderemos estar nos arriscando em vão . - Barhrack fez uma breve pausa , depois prosseguiu – Já perdemos muitas vidas , e cada perda é um amigo , um pai , um irmão , um marido ... Muitos que esperam em Dillan podem não ver a pessoa esperada retornar , porém terão a certeza de que morreram para salvá-los . Os que morrerem nessa batalha , morrerão por pessoas que nem ao menos conhecem , que nem mesmo sabem que existem .
William permanecia perplexo , cabisbaixo e com o olhar perdido .
-Nosso estoque de comida está findando - prosseguiu Barhrack - , mal dará para fazermos a viagem de volta . Segundo as informações da carta toda a comida deles foi também roubada e o que têm lá , mal dá para eles mesmos . Não poderemos nos abastecer lá . Se não condená-los à morte em batalha , poderá condená-los à morrer de fome . É uma decisão difícil William , mas deve ser tomada com todo cuidado . Não sei se valerá à pena perder a vida de mais um desses homens que aqui estão .
William reconhecia a verdade nas palavras de Barhrack , este era um homem misterioso e que pouco falava de si , porém era também justo e preciso em suas decisões ; sua opinião tinha de ser levada em conta .
-Pense bem . - disse Barhrack – Sabe que seus homens acatarão suas ordens , independentes de qual sejam . - terminou , depois virou-se e saiu com passos firmes
William havia deixado Dillan à frente de dois mil homens , os quais enfrentaram as mais terríveis provações em busca de um ideal : libertar Dillan dos orcs . Porém agora , daqueles mais de dois mil bravos guerreiros , restavam pouco mais de trezentos , exaustos ... sedentos de voltar para aqueles que os esperavam . William também já começava a pensar se já não estava realmente na hora de levar aqueles heróis para casa .
A paz em Exódia estava ameaçada,um forte e imponente inimigo levantava-se nas sombras profundas de Asgaroth,mas ninguém sabia ao certo quem ele era,ou quais eram suas ambições.
Espero que gostem desta história,adicionarei mais capítulos conforme for acabando de revisá-los.
Título:Crônicas de Exódia
Cap1:Os dois mensageiros
Gênero:Fantasia Medieval
Autor:Odin281
CAPÍTULO I
Os dois mensageiros
Os dois mensageiros
Alcântara era um pequeno e rústico vilarejo , lembrando o estilo bárbaro , com casas simples feitas de madeira e cobertas de palha , erguidas de um chão escuro e úmido , praticamente amontoadas uma sobre as outras . Localizava-se ao extremo norte das terras do reino de Dillan , tendo ao oeste a pequena cadeia de montanhas chamada de Montes Quebrados e ao norte , além das plantações , a Floresta de Eduars . Ao sul e leste erguia-se um imenso bosque com árvores de troncos finos e extremamente altas , porém caprichosamente dispersas entre si , o que tornava possível se enxergar até uma certa distância por entre seus troncos . A simplicidade do vilarejo refletia-se em seus moradores , trajavam roupas de pano grosseiro : os homens calça e camisa ; as mulheres , vestidos longos e descoloridos geralmente cobertos por algum avental . Tinham rostos largos e rudes , corpos - na grande maioria - atarracados , com musculatura forte e ossos largos e comumente andavam descalços , mesmo sobre solo o acidentado . Viviam das suas plantações e da criação de galinhas e porcos , que ora ou outra caminhavam livremente entre o vilarejo , já que os chiqueiros ficavam entre as casas e sempre um ou dois escapavam e só eram recolocados em seu lugar quando invadiam alguma casa . Fora alguns desentendimentos entre os moradores , a paz reinava em Alcântara . Pelo menos até um fato que marcaria para sempre a sua história ...
Outra tarde se passava tranquila no vilarejo , e os moradores colhiam nas plantações algumas cenouras para o jantar , sem saber do estava para acontecer . Esgueirando-se por entre as sombras das árvores da Floreta de Eduars um bando de orcs atacou os camponeses , que fugiram para suas casas . Logo um grande tumulto se instalou no vilarejo e as pessoas escondidas em suas casas podiam ver pela janela a invasão dos orcs . Praticamente todos os porcos e galinhas foram levados . Não invadiram as casas , porém os olhares de alguns moradores cruzaram-se com os dos orcs , um olhar cruel e sanguinário acompanhado de um sorriso ameaçador por entre suas mandíbulas , como um aviso : não haviam invadido as casas , mas isso não demoraria à acontecer .
No dia seguinte Alcântara amanheceu coberta por cinzas e fumaça : os orcs tinham saqueado as plantações e depois as incendiado . O caos instalou-se por completo entre todos “ o que iremos fazer ? ” todos se perguntavam . Logo essa pergunta foi feita a Érick , filho de Beren , que fora um grande líder em Alcântara e morrera a cerca de um ano deixando-o no comando . Érick saíra-se bem até então , mas agora não sabia como agir , nem mesmo seu pai enfrentara uma situação daquela . Uma espécie de conselho foi feito no centro do vilarejo , do qual todos participaram .
-Devemos deixar a cidade . - sugeriam alguns
Érick permanecia apreensivo , em todos os seus trinta e cinco anos jamais pensara em estar diante de uma ocasião destas . Permanecia sentado em uma cadeira apertando a cabeça com ambas as mãos como se quisesse esmagá-la . Ele tinha um porte diferente do restante dos aldeões , assemelhava-se a seu pai , era alto e magro e tinha um rosto mais alongado e suave , embora agora , devido a preocupação , não se diferenciasse tanto dos demais .
-Sim , sim . Devemos partir . - apoiavam outros
-Para onde ? - finalmente manisfestou-se Érick – Não a outra cidade próxima a nós , e não temos comida o suficiente para fazermos uma viagem longa .
Todos refletiram e concordaram ser verdade .
-Mas se ficarmos aqui , vai ser pior . - disse outro e novamente foi apoiado
Érick refletiu por mais um tempo .
-Há boatos de um exército de Dillan que está em uma campanha contra os orcs . - disse por fim – Não estão distantes daqui .
-Dillan ? - repetiu ironicamente um dos anciões de Alcântara – Não nos comunicamos com Dillan há muito tempo , não pagamos mais tributos ao rei . Porque viriam nos ajudar ?
Com essas palavras novamente a dúvida instalou-se na mente de todos . Érick olhou severamente para o ancião que proferira aquelas palavras e este retribuiu-lhe um sorriso sarcástico . Era um homem alto e meio corcunda com uma espessa barba branca caída sobre o peito , chamava-se Dautenor , e era o mais velho ancião de Alcântara , o que lhe dava prestígio e respeito . Ele questionava Érick desde que este assumira o comando da vila , e Érick sabia bem o motivo .
-Queria estar em meu lugar – disse ele - , não é Dautenor ? - terminou dando enfase a frase
O velho respondeu com um meio sorriso completo de malignidade .
-Então o que faria ? - perguntou Érick fitando seriamente seu oponente
-Essa é primeira lição da liderança – falou Dautenor sem tirar o sorriso irônico dos lábios - , deve tomar as decisões sozinho , ou então dar a lugar a quem saiba fazê-lo sem pedir opiniões a terceiros .
Érick sentiu uma imensa ira tomando conta de si , uma vontade incomensurável de se atirar contra Dautenor e sufocá-lo , porém recobrou a calma , sabia que era isso que seu adversário queria .
-Já tomei minha decisão . – afirmou Érick - Enviarei dois mensageiros até a Planície de Roven , onde , segundo informações , o exército se encontra . Pedirei por ajuda .
-Espero que a receba . - disse por fim Dautenor antes de se virar e sair da reunião com um sorriso triunfante entre os lábios , não via porque discutir , acreditava que mesmo se encontrassem o exército , este não viria ao socorro de Alcântara , e tinha realmente razões para acreditar nisso . Alcântara ficava no território de Dillan , porém há muito tempo rompera relações com esta , ou melhor , simplesmente se esquecera desta e se permitiu com isso também cair no esquecimento . Agora poderia ser tarde para reatar velhas alianças . Por isso o velho ancião acreditava fielmente no fracasso do plano de Érick e se preocupava mais em como usaria esse erro contra ele .
Após escrever a carta na qual pedia ajuda às tropas de Dillan , Érick escolheu dois dos mais rápidos jovens do vilarejo para entregar a mensagem .
-Diga que temos urgência . - pediu Érick
E assim os dois jovens deixaram Alcântara em disparada rumo ao sul e logo sumiram entre as enormes árvores do bosque .
-Desejo-lhes sorte . - disse Erick como se a si mesmo . Ao se virar topou com Dautenor ,
com aquelo velho sorriso irônico de sempre ele disse .
-Foi um belo plano , sem dúvida nenhuma . - Érick apenas fitou seriamente depois retirou-se
Os dias passavam-se e a aflição de Érick aumentava à cada um deles , assim como o constante medo de ver seu plano fracassar , e Dautenor colaborava em muito para isso : andava para lá e para cá espalhando o caos entre os moradores .
-Ainda realmente esperam pela ajuda de Dillan . - dizia ironicamente – Dillan nos esqueceu há muito tempo . Para as montanhas , é para onde devemos ir .
-Fazer o que nas montanhas ? - retrucou Iasdam , um jovem camponês que seguia fiel à Érick – Morrer de fome ? Ou esperar que os orcs nos ataquem lá também ? Me diga !
-Érick têm corrompido suas mentes – persuadia Dautenor - , está lhes fazendo esperar sentados por vossa destruição . Está lhes tirando a chance de lutar .
-Besteira ! - interveio Iasdam – Você e suas mentiras é o que está condenando esse povo e já faz algum tempo . - terminou com um olhar resoluto e desafiador á Dautenor , este continuou a olhar-lhe com um ar de superioridade , quase inabalável . - Vamos embora daqui Noran – disse Iasdam a outro jovem camponês ao seu lado – me cansei dessas mentiras . - entretanto Noran baixou a cabeça e não se moveu
-Talvez ele tenha razão Iasdam . - interpelou este ainda que incerto sobre suas palavras
-Não diga que acredita no que ele diz – falou Iasdam inconformado , e algo como uma nuvem de lágrimas inundou seus olhos – Não você . - completou desapontado , quase como se traído .
Iasdam e Noran haviam sido criados juntos , como irmãos , e eram grandes amigos de Érick , por isso uma dor indescritível tomara conta de Iasdam ao ver seu amigo deixando-se corromper pelas palavras enganosas de Dautenor . Por mais uma vez ele lançou um olhar triste para seu amigo antes de partir , e este apenas baixou a cabeça como se envergonhado . Nem mesmo Noran sabia porque acreditava nas mentiras de Dautenor , porém a razão era eminente : medo ; e esse era o mesmo sentimento que se apoderava de todos , e muitos outros também deixaram-se enganar . Érick percebia isso , porém sabia que era inútil bater de frente com Dautenor , portanto tudo que lhe restava era rezar aos deuses para que os seus dois mensageiros retornassem logo . E com boas notícias .
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A planície de Roven ficava na parte leste de Dillan , era um vasto campo onde o verde estendia-se até onde a vista alcançava . Ao longe , ainda mais ao leste , era possível se ver os cumes dos Montes Verdejantes erguendo-se imponentes contra o céu ; ao oeste , o rio Callas corria suavemente em direção ao norte , como uma serpente prateada sobre o campo verde . Era por volta de meio dia e o sol de outono queimava forte , como se fosse o mais quente verão . Sentado sob a tênue sombra de árvore William relia , sob os olhares ansiosos dos dois mensageiros , a carta que haviam lhe entregue . Seus olhos castanhos percorriam o papel lentamente , fazendo uma leitura minuciosa , e seus cabelos , também castanhos e caídos à altura dos ombros , esvoaçavam com o vento . Por fim levantou sua cabeça e encarou os dois jovens mensageiros , seu semblante era sério e disfarçava sua jovialidade ; tinha vinte e três anos , e à dois estava naquela campanha contra os orcs , a qual , até então , acreditava ter terminado . Passou vagarosamente a mão pela curta barba que começava a crescer novamente em sua face e finalmente falou .
-Quais são seus nomes ? - perguntou
Os dois jovens se encararam , depois um deles respondeu .
-Sou Jonas , filho de Brunm e este – apontou para o outro – é Nicolai , filho de Guhlai .
William levantou-se , aprumou o corpo e enrolou a carta nas mãos . Seu olhar perdeu-se ao longe , em direção ao noroeste , em direção à Dillan , porém seus olhos não podiam ver nada além da imensa planície verde .
-Pensei que finalmente havia acabado . - disse como se para si mesmo
-Corremos muito para chegar até aqui – revelou Nicolai
-E quase não nos pegaram há tempo . - admitiu William – Estávamos de partida .
Os mensageiros olharam-se confusos .
-Para onde ? - perguntaram
-Para casa . - respondeu William – Se é que ainda sabemos onde é . - tentou brincar esboçando um sorriso que logo se apagou , pois o cansaço e as lembranças dos difíceis dias passados o impediam de sorrir verdadeiramente .
Os dois mensageiros não podiam esconder sua preocupação . Um outro guerreiro aproximou-se deles , era um homem extremamente alto e forte , com longos cabelos amarelados assim como sua barba , ornada de finas tranças , dando-lhe um ar selvagem , ainda mais asseverado pelo brilho frio de seus olhos azuis . Chamava-se Barhrack .
-Já estão prontos para partir . - disse o guerreiro com uma voz gutural
William baixou a cabeça pensativo , olhou para longe e viu os soldados conversando e se abraçando descontraidamente , motivados por poderem finalmente voltar para casa , depois olhou para a apreensão dos dois jovens mensageiros e por fim para Barhrack .
-Talvez haja algo mais que devamos fazer antes de ir para casa . - disse com um certo tom lúgubre , Barhrack olhou-lhe confuso , William entregou-lhe a carta .
Barhrack pegou a carta com um olhar desconfiado , depois leu seu conteúdo rapidamente e seus olhos apertavam-se conforme seguia a leitura como se não acreditasse no que lia .
-Onde diabos fica Alcântara ? - perguntou desconcertado
Os mensageiros olharam-se e hesitaram na resposta , como se um esperasse que outro a desse .
-Fica ao norte daqui senhor . - respondeu por fim um deles , ainda que temeroso , e não era para menos , de fato a figura de Barhrack intimidava a qualquer um que o olhasse .
-No território de Dillan ? - perguntou-lhe novamente o enorme guerreiro , o jovem pareceu se encolher de medo antes de dar a resposta .
-Sim . - sussurrou entre os lábios
Barhrack olhou para William .
-Podemos conversar ? - William apenas assentiu com a cabeça e ambos caminharam para um lugar mais distante , deixando uma grande tensão entre os dois mensageiros .
-Nunca ouvi falar desse vilarejo . - disse Barhrack
-Nem mesmo eu . - admitiu William
-Ficará realmente nas terras de Dillan ?
-Não vejo porque mentirem . Existem muitos povos desconhecidos vivendo em Dillan , sem que sequer saibamos .
-E qual é o nosso compromisso com esses povos ? - indagou Barhrack
William refletiu por algum tempo , depois respondeu .
-Deixei Dillan com um único objetivo – olhou profundamente nos olhos de Barhrack - : livrar Dillan e o seu povo dos orcs . Eles são o povo de Dillan , mesmo não tendo levado isso em conta até então . Não descansarei até ter conseguido . - terminou resoluto em suas palavras
Barhrack baixou a cabeça tentando encontrar motivos para contestar palavras de William , após um tempo falou .
-Voltamos para Dillan – disse por fim - , em uma semana estaremos lá . Enviaremos então ajuda a este vilarejo . Se mandarmos cavaleiros chegaram lá em menos de quatro dias .
William abriu um meio sorriso .
-Eles não dispõem de tanto tempo . Nem mesmo sei como resistirão até nós mesmos chegarmos até eles .
-Agora levantou bem a questão capitão . Poderemos estar nos arriscando em vão . - Barhrack fez uma breve pausa , depois prosseguiu – Já perdemos muitas vidas , e cada perda é um amigo , um pai , um irmão , um marido ... Muitos que esperam em Dillan podem não ver a pessoa esperada retornar , porém terão a certeza de que morreram para salvá-los . Os que morrerem nessa batalha , morrerão por pessoas que nem ao menos conhecem , que nem mesmo sabem que existem .
William permanecia perplexo , cabisbaixo e com o olhar perdido .
-Nosso estoque de comida está findando - prosseguiu Barhrack - , mal dará para fazermos a viagem de volta . Segundo as informações da carta toda a comida deles foi também roubada e o que têm lá , mal dá para eles mesmos . Não poderemos nos abastecer lá . Se não condená-los à morte em batalha , poderá condená-los à morrer de fome . É uma decisão difícil William , mas deve ser tomada com todo cuidado . Não sei se valerá à pena perder a vida de mais um desses homens que aqui estão .
William reconhecia a verdade nas palavras de Barhrack , este era um homem misterioso e que pouco falava de si , porém era também justo e preciso em suas decisões ; sua opinião tinha de ser levada em conta .
-Pense bem . - disse Barhrack – Sabe que seus homens acatarão suas ordens , independentes de qual sejam . - terminou , depois virou-se e saiu com passos firmes
William havia deixado Dillan à frente de dois mil homens , os quais enfrentaram as mais terríveis provações em busca de um ideal : libertar Dillan dos orcs . Porém agora , daqueles mais de dois mil bravos guerreiros , restavam pouco mais de trezentos , exaustos ... sedentos de voltar para aqueles que os esperavam . William também já começava a pensar se já não estava realmente na hora de levar aqueles heróis para casa .
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