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[L] [O Sujo de Sangue] [Contos Sujos]

[O Sujo de Sangue] [Contos Sujos]

Ok, acabo de escrever um novo conto tosco, bem ao meu estilo, e ao invés de criar um novo tópico, preferi concentrar toda a merda num lugar só. Conforme eu for compondo algo novo, eu vou atualizando o primeiro post, e colocando em evidência, no começo, os textos que se encontram aqui.


1 - O Cocho, o Cego e o Louco

2 - Apenas mais uma história de amor

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O Cocho, O Cego e o Louco


Basta um dia ruim para fazer de você um louco, ou inválido.

A vida tem dessas coisas: pregar peças. Seja pela sucessão de fatos sem sentido, ou por um trauma específico. Uma hora você está comendo pipoca, e na outra morrendo por uma apendicite causada pelo grão do milho.

Uns chamam estes acontecimentos de destino, uns de acaso, outros ainda de má sorte. É bem verdade que as três rotulações são um tanto obscuras se pensarmos a respeito. Engraçado como damos nomes a coisas que não compreendemos. Tem realmente que existir um sentindo para tudo? Será que a vida é um novelo de situações que emaranhadas atingem tal grau de complexividade harmoniosa?

Eu acho que não.

O Cocho

Aos 7 anos de idade, seu pai, tão atencioso com seus estudos, fez questão de encapar seu caderno escolar. Um jeito um tanto excêntrico de começar os estudos, tendo todos os dias, antes de abrir o caderno, a visão de um ancião grisalho, barba emaranhada ao cabelo, com o ombro de leito, cabeça obliquamente posta, contrapesando com uma sobrancelha erguida, sugerindo eloqüência num olhar quase apocalíptico. Seu pai dizia que aquela espécie de Papai Noel boêmio de nome estranho sabia das coisas, que era uma boa companhia de estudos. E assim, por providência, ou convenção, como o fator determinante na hora de um garoto escolher um time de futebol, nossa personagem adotou Karl Marx como estereótipo masculino, um exemplo.

Conhecemos o perfil clássico do herói mártir: infância difícil, problemas familiares... O aqui em questão não podia ser diferente. Mãe morta, seu pai era um militante ébrio, que voltava para casa sempre com o amanhecer às costas, vozeando cânticos do partido comunista. Desde de pequeno se acostumou com a idéia de que tinha de viver por si só, cuidar de si mesmo. Nem por isso se tornou uma pessoa solitária, anti-social. Ao invés de reservar-se, procurou nas relações sociais preencher o vazio causado pela ausência de espírito familiar. Era aquele garoto que cumprimentava o jornaleiro a caminho da escola, que oferecia ajuda à tia gorda com as sacolas. Nem por isso podíamos classificá-lo como personificação de garoto alegre, peralta e de bem com a vida, sua socialização saudável era apenas uma espécie de instinto, como já explicado. Afinal, um filho de bêbado que engoliu Karl Marx desde pequeno, não chega a ser de espécie alguma comum. Estranho entender seu senso de individualismo, completamente conflitante com sua boa socialização. É como se ele precisasse da atenção das pessoas, mas não confiasse nelas.

Foi aluno prodígio, de muitos amigos e poucas namoradas. Feio, mas carismático. Tinha aquele rosto que da vontade de ficar olhando, tão singular. Falava bem, poetizava pouco. Meio que sem o perceber acabou seguindo em meandros os passos do pai. Extremamente politizado, ainda jovem filiou-se ao partido socialista, logo após a morte de seu pai, que encontro seu fim vítima apendicite. Formou-se advogado com bolsa de estudos. Pelo sucesso acadêmico e carisma, rapidamente ganhou status no partido, tornando-se mais tarde presidente regional. Foi deputado. Ganhava bem, mas ainda assim não deixava o subúrbio da sua cidade: um pólo industrial de contingente hegemonicamente trabalhador.

Os membros do seu partido apostavam forte no nosso herói marxista. Como deputado ganhou a simpatia do povo por ter sido aceita sua proposta para a criação de uma organização de direitos trabalhistas. As eleições para prefeito estavam próximas, e desta vez, a escolha de um candidato de esquerda era iminente. Não podia deixar de ser este candidato nossa, agora ilustre, personagem.

Sua campanha ia de vento em poupa. Seu perfil era apelativo: jovem suburbano que conseguiu ganhar na vida, se formar advogado e tornar-se deputado. Quem, nesta comunidade de pessoas simples, não gostaria da idéia de colocar um semelhante no poder?

Mas eis aí o acaso, destino, má sorte, ou seja lá como você leitor queira chamar, mostrando sua face obscura: três meses antes das eleições houve uma greve de trabalhadores numa industria petroquímica. A situação começava a ficar hostil com a chegada da polícia, e alguns militantes do partido socialista ali presentes decidiram chamar representantes oficiais para negociações. Situação perfeita para promover o nome do candidato a prefeito. Mas este não atendeu ao pedido, ou melhor, foi impossibilitado de fazê-lo. Aproveitava sua folga no meio da semana para pintar as paredes do lado de fora da sua casa, e ao escutar um vizinho clamando por socorro, sua pressa foi tamanha para recorrer que acabou caindo do andaime onde estava, fraturando sua perna direita de maneira escabrosa. Simples assim, brusco assim, estupidamente fatídico.

O acidente deixou nosso militante marxista cocho permanentemente. Daí para frente seria chamado pela alcunha de Ponto Vírgula, pela inconstância de seus passos, e mais para frente de Vagabundo. Arrastava a perna direita eternamente, como um fardo do qual preferia se livrar. A debilidade em si não acabou com a vida de nosso jovem deputado, ele mesmo o fez. Poderia quem sabe ter tocado em frente, vencer a eleição sem problema algum, mas não este personagem, do qual eu fiz questão de frisar, logo no começo seu senso de individualidade. Ele tinha que ser forte, afinal, nesta vida, ninguém era por ele. Nunca pôde se apoiar em ninguém. Faltou-lhe o seio materno, a sobriedade do pai. Como podia ser plenamente habilitado para a vida se estava sempre a carregar a maldita perna direita?

Mas uma vez seguiu os paços do pai. Procurou refúgio na boemia, o abrigo no seio de uma meretriz, o consolo dos ébrios colegas de infortúnio. Amargurou-se ao ponto de tornar-se inconveniente. Deu vexame num debate em púlpito montado na Praça Central, balbuciando bêbado, ofensas pessoais ao outro candidato, questionando sua heterossexualidade. O partido o afastou, aconselhando que repensá-se melhor na sua candidatura, em sua vida política em si.

Bêbado orgulhoso... Fácil saber o lugar onde nosso amigo mandou que seus colegas "enfiassem" a sua candidatura.

Hoje, aquele que um dia quase foi prefeito, jaz jogado num beco, em companhia de outros desafortunados à catequizá-los nos ideais marxistas. Anos mais velho, sua barba grisalha emaranhada ao cabelo, com o ombro de leito, como um velho que ele conheceu aos 7 anos, na capa de seu caderno de escola.

O Cego

Era o garoto gordo da classe. Aquele que os outros chamam de Azeitona enquanto chutam sua mochila. Claro que se apaixonou pela garota linda do grupo, e sua frustração por ela desprezá-lo era enorme. Tinha dislexia, não era bom nos estudos, tão pouco em atividades desportivas. Não era antipático, nem mal educado, mas sua vida social sempre fora um fiasco assim como sua época na escola. As professoras adoravam alugá-lo, para o deleite do resto da sala. Uma situação exprime todo seu trajeto acadêmico:

- Vamos falar um pouco dos animais, crianças. E, como sempre, eu peço a ajuda do meu assistente mirim. Quantas patas tem o cavalo?
- Quatro, professora – responde Azeitona.
- Por isso ele é chamado de...?
- Quadrúpede.
- Exato. E você, quantos pés tem?
- Dois.
- E como te chamas?
- Serafim.

É, não gostava de estudar, mas conhecia tudo de Guerra nas Estrelas e empilhava quadrinhos debaixo da cama. Órfão, morava com os tios maternos, e com o filho deles, um garoto dois anos mais velho. Obviamente, havia uma distinção clara de tratamento entre os dois. Sempre que aprontava, nosso pequeno amigo obeso tinha de ouvir em modorra, sermões que sempre começavam com “Por que você não tenta ser mais como seu irmão?”.

Na época de escolher uma profissão, decidiu ser policial, talvez influenciado, inconscientemente, pelas revistas em quadrinhos que ainda lia. Tornou-se Sargento Azeitona. Gostavam dele no distrito: sempre disposto aos trabalhos de suporte, como buscar confeitos na padaria, ou trazer o jornal de manhã. Apesar do dinheiro ser curto, foi nesta correria de vida, em que censurar pivetes eram os grandes momentos, que Azeitona passou “bons” anos de sua vida, até a morte de seus tios. Já à margem dos trinta, morava ainda com o irmão postiço, que agora se casava e levava a esposa para morar com eles.

A casa por direito era do irmão, e nosso Sargento passou a ser destratado depois das mudanças de rumo das coisas. Sempre pensava em ir embora de uma vez, mas lhe faltava iniciativa, aliás, algo que na vida, sempre lhe faltou. Resmungava sozinho, mas nunca ia procurar um novo lugar para morar.

Ainda vivendo este impasse, Sargento Azeitona certo dia fora convocado para apaziguar uma greve numa empresa petroquímica. Nesta fatídica sexta-feira, faltou quem negociasse pacificamente por um acordo, e a manifestação tornou-se um conflito extremamente violento. Saraivadas de balas de borracha caíram raivosas sobre a multidão, assim como bombas de gás lacrimogêneo, tendo uma destas um destino acidentalmente diferente do que a multidão: era tragicômico ver aquele policial gordo vacilando ao caminhar célere, gritando: Estou cego! Estou cego!

Mas ele realmente estava, o que deixa a cena muito mais trágica do que cômica. A bomba atingiu em cheio em meio a seus olhos. Foi levado ao hospital, mas não havia muito que se pudesse fazer para reparar o acaso, a má sorte. Depois de recuperação, não havia quem o fosse buscar no hospital, sendo que o irmão assim recusou, no que Azeitona chamou um táxi, tranqüilizando os médicos responsáveis a respeito de seu destino. Foi deixado à porta de casa, mas não teve coragem de entrar. Pedia ajuda na rua para ir a algum destino. Sem rumo, vivendo uma espécie de sonho, foi se deixando levar como uma folha que ao cair da árvore se abandona ao vento. Naquela noite ele dormiu na praça, assim como a seguinte. Na outra inda conheceu um bom senhor grisalho que discursava Karl Marx, que viria a ser seu companheiro de vadiagem por um longo tempo, quando estes decidiram levar seus dias na área litorânea da cidade.

O Louco

Sua mãe era sua vida. Não tinha amigos, não brincava na rua, nem se quer ia à escola, a própria senhora se encarregava dos seus ensinamentos acadêmicos, e de maneira rígida: 8 horas de estudos por dia. Era sua mãe completamente paranóica com relação ao resto da sociedade. Ao ter sido largada pelo conjugue antes da maternidade perdeu a fé na pessoas, e se isolou do resto do mundo. Mãe já idosa vivia de uma aposentadoria curta, o suficiente para proporcionar a si e ao filho uma vida sem escassez no subúrbio da cidade.

O garoto era esperto. Passou sua infância como um rato na pequena biblioteca de casa: um cômodo em que a velha senhora teve o cuidado de juntar seus muitos livros, bens que dava muito valor. Era uma criança extremamente educada, de uma polidez incomum até em senhores. Tinha o olhar vivo, pronto para saltar da órbita a qualquer momento. Sua não socialização prejudicou muito sua saúde mental, deixando-o um tanto incomum. Tinha suas experiências em livros, e possuía de natureza uma curiosidade extremamente singular.Aos 12 anos já tinha lido todo o acervo de livros de casa, que pouco crescia, devido ao alto custo dos livros.

Uma situação ilustra a excentricidade da vida deste dois ermitões, isolados do mundo: no fim de uma semana em que o garoto tanto insistiu para que a mãe lhe proporcionasse uma nova leitura, a anciã exaurida lhe deu o catálogo telefônico da cidade dizendo que se tratava de uma peça de teatro moderno. Três dias depois o garoto ressalva para sua velha senhora: - Não entendi nada no enredo, mas... que elenco heim?

Passaram se os dias e os anos, longos como um catálogo telefônico. Até que certa vez, ao sorver uma canja no almoço, a idosa mulher se engasga com um osso de frango. Desesperado, o filho sai à rua, ensandecido em busca de socorro. Um senhor, vizinho, que pintava o exterior de sua casa caí de uma andaime ao tentar recorrer, nada que lhe chamasse a atenção no momento de urgência. O socorro veio, frustrado pela demora: a senhora já estava morta.

A excentricidade do jovem tornou-se o que a sociedade chama de loucura. Não aceitava a morte de sua mãe, principal alicerce na formação de sua estrutura psicológica. Sua frustração se transformou em ódio, e este foi direcionado à sociedade no momento em que nosso garoto começou a interagir com ela. Agrediu, e por pouco não matou, o dono da avícola, por este não ter logrado em retirar todos os ossos do frango que era vendido em miúdos.

Com o incidente, o jovem de olhos esbugalhados foi preso, e posteriormente à sua avaliação psicológica, transferido para um manicômio.

Mas ainda não foi aí que sua violência, infundada pela razão dos outros, teve seu fim. Privado da leitura, todos os dias ele buscava acalmar-se observando o crepúsculo matutino de cima do muro que dava para a praia. Algo, entretanto, perturbava o cenário: dois senhores tinham o hábito de caminhar pela areia da praia de manhã, um à frente de óculos escuros e bengala, e outro atrás, arrastando a perna direita. Aquilo perturbava cada vez mais nosso jovem rato de biblioteca, até que certo dia ele pulou o muro, e espancou até a morte o senhor cocho que andava atrás do de bengala. Depois de retido, quando perguntaram ao agressor o porquê de seu ato, este respondeu:

Todos os dias eu tento ler o que este senhor de óculos escuros escreve com sua bengala na areia da praia, e este maldito cocho, arrastando sua maldita perna, apaga!









Apenas mais uma história de amor.


Há muito tempo, ao sul da Inglaterra, vivia um humilde marceneiro. Homem de cultura específica, mas era prudente e sábio na tradição, eis porém o dia em que sua astúcia o traiu:
Certo dia, tendo ido exercer seu ofício próximo ao castelo de seu senhor, quis o destino que ele se depara-se com seu futuro objeto de estima. Logo ali, a poucos metros de distância, nos jardins do rei, corria ela por um corredor de urzal, com uma melissa em sua fronte, seu cabelos dourados à brincar na luz matutina. Simplesmente linda, como ele muitas vezes tornou a ver, e a cada dia com uma nova flor de adereço. Violetas, margaridas e muitas outras tiveram sua vez, por isso ele a chamava em seu coração de Primavera, sempre a lhe mostrar uma flor, bem-aventurada por estar em sua fronte. Ah, e que contrastes eram conseguidos entre aquelas flores de cores diversas e sua pele, mais alva que a neve.
E por muito tempo ele a contemplou, divisando-a de soslaio de fora do castelo. Ele sabia que Primavera era princesa, mais preferia não pensar nisso, preferia não pensar em nada, apenas regozijar-se daquela visão maravilhosa.
Ora, o ano já ia bem avançado quando de súbito, numa manhã fria, todo o povo foi chamado à comparecer ao pátio do castelo, onde do púlpito o rei faria uma declaração. O pobre marceneiro estava lá, e é difícil descrever sua reação perante o seguinte discurso do rei: - Meus amigos, queiram por favor tomar atenção sobre minha decisão no que diz respeito ao destino de minha filha a princesa! No auge de sua vivacidade a princesa vem recebendo freqüentes propostas de pretendentes dos mais variados, porém todos eles de reinos distantes, já que não possuímos jovens rapazes na casa real das nossas cortes vizinhas. Por não querer me separar dela é que tomei a decisão de que minha filha irá se casar com um homem do nosso reino, e já que a mesma não se casará com um príncipe, informo-lhes que a posição não será critério, o pretendente não precisa nem ao menos ser da corte! Que todos escutem agora: A mão da princesa será concedida àquele que escrever a melhor declaração de amor dentre todas do reino! Os candidatos deverão entregar suas cartas até o por do sol de amanhã, para que no entardecer seguinte seja declarado o feliz vencedor.
No mesmo instante em que o rei terminou houve um imenso alvoroço, tamanho era o número de mancebos a correr e a atropelar aqueles que jaziam entre eles e seus respectivos destinos. O marceneiro porém, ainda permanecia ali, sendo esbarrado por todos os lados, pasmo. No momento em que o rei deu seu padecer ele vacilou, quase caiu desmaiado, não obstante ele ainda estava de pé, e se encontrava na mesma posição depois de várias horas. - Como pode o rei conceder tal graça por tão pouco? - refletia ele. - E o que pode expressar algumas poucas palavras que seja tão glorioso? - Porém o pensamento que mais lhe incomodava enquanto este agora batia no peito e arrancava o cabelo era: - Maldito camponês ignorante! Por que não aprendeste a ler-escrever ?!
Mas ele não ficaria ali parado para sempre. Precisava agir, fazer algo. Então, em meio aos seus pensamentos deturpados ele se lembrou de seu amigo de infância, mestre nas ciências e nas letras, com o qual contraíra amizade na época em que sua mãe cuidava da casa do amigo, este por sua vez de boa condição financeira. Costumavam brincar e praticar as mais derivadas peraltices quando Olhos Grandes (nome pelo qual até hoje é chamado pelo marceneiro) não tinha que estudar. - É isso! Olhos Grandes não deve faltar-me num momento desses, e ele em si não se interessaria pela proposta do rei, já que é casado. - E com este pensamento seu coração se inflamou de esperança. Não poderia esperar nem mais um minuto! Andar não era suficiente, ele corria, voava em direção a casa do amigo mestre, e lá chegou, instantes depois, o coração a lhe bater na garganta. Deu uma golada, respirou fundo e bateu com uma mão na porta, enquanto a outra alinhava seus cabelos por detrás das orelhas.
Olhos Grandes o recebeu de maneira calorosa, como sempre o recebia, não importando quão recente havia sido a última visita. Indagaram-se sobre a saúde, de um, e de outro, e já na sala, o marceneiro foi direto ao assunto. Após expor de maneira ludibriosa todo o amor que sentia por Primavera, não foi necessário que este pedisse a Olhos Grandes que lhe escrevesse a carta de amor a princesa, ele próprio assim pode concluir: - Não é necessário que continues, vou imediatamente buscar a pena, a tinta e o papel. Não admitireis que a única coisa que se oponha a tão feliz união seja o manuseio de uma pena, pois creio que se depender da força do seu coração palavras lindas serão postas sobre o papel através de minhas mãos, palavras que não serão sobrepujadas por pessoa sequer em todo o reino.
E assim sucedeu. Enquanto o marceneiro jorrava todo seu amor em forma de poesia, seu amigo se esforçava para escrever conforme este ditava, já que a ansiedade lhe corroía. Cerca de uma hora e poucas rasuras depois, a carta estava terminada. Olhos grandes começou a ler do início, porém não logrou em terminar, a carta lhe foi tomada da mão pelo marceneiro: - Não faça isto! Se eu achar que não ficou bom (o que com certeza acontecerá se você terminar), passaremos o resto da semana corrigindo, aperfeiçoando e ainda sim não me sentirei satisfeito. Não tenho todo esse tempo, e devo partir agora, levando a carta a corte sem ao menos conferir o resultado final.
A noite já estava a dar lugar ao dia, num crepúsculo de muitas cores, enquanto o marceneiro caminhava, pensativo porém mais brando, em direção ao castelo. A carta foi entregue, e, com o objetivo cumprido bem afrente do prazo, foi possível uma volta à casa tranquila, com a mente exposta a sonhos de possibilidades. Em meio a estes, foi fácil encontrar um sono profundo depois de uma noite não dormida. Sono que durou todo o dia e só foi interrompido ao entardecer pela corneta à ressonar em todo reino anunciando o término do prazo de entrega das cartas dos pretendentes.
Aquela noite não foi possível encontrar o sono, já que a ansiedade tornou a corroer-lhe. No início, andou para lá e para cá na sua pequena sala, entretanto, percebendo que não poderia passar o resto da noite daquele jeito, tratou de aprumar-se. Tomou um banho com os melhores sais que possuía, envergou-se com o que havia de melhor em seu armário e saiu buscando o alívio da noite. Caminhou até o sol tornar a aparecer e ainda um pouco mais. Neste dia não comeu, nem deu atenção a qualquer outra coisa, apenas aguardou o entardecer próximo aos jardins do castelo, na esperança da visão de sua amada. Mas ela não apareceu, o que contribuiu para que o dia fosse longo como um ano. Mas o crepúsculo enfim chegou e a convocação do rei mais uma vez se fez.
Quando todos jaziam no pátio externo do castelo o rei surgiu sendo antecipado por uma escolta de uma dúzia de soldados ricamente trajados. Trazia consigo (pela mão direita levantada à altura dos ombros) a princesa, linda de se ver, com uma flor de prata exposta em meio a seu decote voluptuoso. O rei, sem muitas delongas, após agradecer a todos aqueles que participaram e parabenizar a todos pela grande quantidade de boas obras, anunciou o felizardo. E que surpresa de todos ao perceber no humilde marceneiro (conhecido por grande parte das pessoas do reino devido a efetividade de sua labuta) o grande vencedor! O rubor invadiu-lhe a face, e em meio a uma mistura de felicidade, surpresa e constrangimento foi chamado pelo rei a ler o instrumento de sua vitória frente a toda a corte. Enquanto caminhava extasiado em direção ao púlpito lhe bateu de repente o desespero. Como seria capaz de ler a carta que supostamente tinha escrito se não sabia ler? Estava branco quando atingiu o palanque e recebeu a carta da mão do rei que lhe fez um sinal com as mãos para que desse início. Sem saber o que fazer, tremendo, completamente entregue ao desespero tentou dissimular, entretanto, numa tentativa completamente frustrada em meio a gaguejo e soluços, todos puderam perceber claramente que o humilde marceneiro não sabia ler. Por conseguinte, completamente irado, o rei em seu pensamento acreditou que o marceneiro nem ao menos teria sido capaz de ditar a carta, era um impostor, que usara sabe lá deus de que artimanha para que algum mestre lhe arranja-se o que entregar. Imediatamente ordenou que prendessem o pobre camponês que nem ao menos tentou reagir. Insano o rei bradou a toda a corte que o usurpador pagaria uma penitência por ter mentido, tentando se passar por escritor de uma carta que ele não havia escrito. Com assombro a multidão ouviu a penitência definida pelo o rei. Com razão, já que esse consistia de o marceneiro ter de comer em meio a um ensopado de cogumelo seu próprio membro sexual do qual seria previamente despojado.

Moral da história: "Escreveu não leu o pau comeu"
 
COITADO DO HOMEM!!!
E eu pensando q seria uma historinha de amor bunitinha...e foi, até q chegou o final. Mas noosssssaaa, só pke ele não sabia ler? Coitado! E ter um destino tão ruim só pq quem escreveu a carta não foi ele? Esse rei num entendia nada de amor...se entendesse ia entender o pobre coitado...
Mas ficou mto bem escrita a história. O final foi o mais inusitado possível!^^ :)
 
hahaha..eu tbem tava pensando q ia ser uma historia bonitinha....gostei da descrição do local no primeiro parágrafo...urzal, melissa..etc, e do vocabulário...
 
Esse final foi tão inesperado e sem nexo que eu simplesmente tenho que dizer que é um texto totalmente ao estilo Sujo de Sangue. :clap:

:lol:
 
Eu gostei, muito bom Sujo, a história do Cocho, do Cego e do Louco é fantástica, em principal a parte do Cocho; achei por demais interessante, de verdade.

Continue escrevendo! :clap:
 
Os dois estão otimos!
O Primeiro é um quebra-cabeça, se você não le um parte se perde!

O segundo eu não achei tão bom quanto o primeiro, mas a moral está hilária! :lol:
 

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