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[L] [Minas Ecthelion] [Inevitável Fim do Mundo]

[Minas Ecthelion] [Inevitável Fim do Mundo]

Tomará que dessa vez não fique parecido com o texto de ninguém aqui. Hehe. Porém teve outra coincidencia. Depois que escrevi o I e II, parei um pouco para ver televisao, e tava passando impacto profundo! Mas até ajudou a inspirar um pouco, eu acho. Lá vai!
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I – No Carro



O mundo estava acabando. Acabando mesmo, e ninguém poderia impedir. Era noite, e um carro seguia pela estrada deserta tentando fugir, mas era impossível fugir do fim do mundo. Mais cedo ou mais tarde, o fim chegaria para eles. Era noite, e estava escuro. E no carro, pairava um silêncio mortal. Um dos personagens que estava dentro do carro, no banco do passageiro, quebrou o silêncio.

_ Você devia ter comprado o 1.6...
_ Ahn? Como?
_ O 1.6... O carro... Você preferiu o 1.0. 1.0 é... uma droga!
_ E que diferença vai fazer agora se meu carro é 1.0 ou 1.6? Céus! Olhe para trás! – um clarão brilhava bem na linha do horizonte, muito atrás. Era o fim do mundo; o mundo queimava. – Viu? Vamos morrer! Que se dane o 1.6!
_ Então por quê você está dirigindo?
_ Porque... quem sabe dá para escapar?
_ Você sabe que não dá...
_ Mas... Para morrer pelo menos um pouco depois...
_ Com um 1.6 você iria mais longe, demoraria mais para morrer...
_ É! Está certo. Devia Ter comprado o 1.6...


II – No Posto


O mundo acabava. Era inevitável. Na linha do horizonte, logo atrás, havia um clarão; o mundo queimava. O carro que seguia pela estrada deserta parou em um posto. Estava deserto. A luz que iluminava o posto piscava irregularmente. Quase que proposital. Dois homens saíram do carro. O que saltou pela porta dos passageiros disse para o outro:

_ Sente esses cheiros? É o aroma da floresta junto com gasolina. Será que não tem ninguém aqui?
_ Com certeza não. Você sabe por que. Vamos por a gasolina. Não sei se encho o tanque ou se deixo somente a metade. O que acha?
_ Se você encher, o carro vai ficar pesado, mas vai mais longe. Se você deixar pela metade, ele fica leve, mas a gasolina acabará mais cedo...
_ Isso eu sei! E é justamente essa a minha dúvida. Ir mais rápido ou ir mais longe?
_ Isso depende muito... Se você for mais rápido...
_ Que se dane! – interrompeu o motorista- Estou cansado desse joguinho. Vamos morrer de todo jeito!

O passageiro fez uma cara de convicção e disse:

_ Com absoluta certeza, você encherá pela metade! – e deu um leve sorriso.
_ Por quê você acha?
_ Você está com medo e desesperado. Por isso, você seguirá os seus sentimentos, os seus instintos. Você quer ir o mais rápido possível, e dane-se o futuro! É uma decisão precipitada, porém...
_ Então você acha que o melhor é encher o tanque? – interrompeu novamente o motorista?
_ Pense bem; agora não dá para saber qual é o melhor. Se o fim estiver vindo rapidamente, viveremos mais fugindo rápido. Se ele estiver vindo devagar, viveremos mais indo mais longe. Não dá para saber como que o fim está vindo. Mas – fez uma leve pausa- Vamos mais rápido!
_ Mas, por quê você acha que é o melhor depois de tudo que você disse?
_ O seu medo exige velocidade. O seu medo é o instinto mais forte do homem. Instinto de sobrevivência! Já que a situação é um dilema, vamos seguir seu instinto!– o passageiro riu um pouco. Continuou – Isso soa a metafísica!
_ Para mim, você parece um profundo conhecedor da mente humana! – o motorista também riu, e deu um tapinha amigável nas costas do passageiro. – Vamos rápido! Muito rápido! “Bota fogo Maquinista, que eu preciso, Muita Força! Muita força!”
_ Então vamos!

Porém, de repente, um grito felino se fez ouvir nas proximidades. Os dois se assustaram e resolveram ir checar o que era.


III – A onça e a capivara


Na estrada deserta, tudo estava calmo e pacífico, apesar de um recente grito que se fez soar pela noite. Ali perto, havia um posto e um carro estacionado. Dois homens caminhavam pela estrada a uns 100 metros do posto. Eles queriam ver de onde o grito viera, e quem o emitira. Logo atrás, o mundo queimava para o seu fim.

_ Acho que veio dali de dentro da mata. Nem parece mata! É mais uma floresta! – disse o motorista. – Vamos entrar ou não?
_ Você está curioso para ver o que é? – perguntou o passageiro.
_ Sim, um pouco...
_ Você gostaria de ver, mesmo sabendo que estaríamos perdendo tempo?
_ Não sei. Se bem que... Só um pouquinho de tempo não fará muita diferença. Está com a lanterna? Certo! Vamos entrar!

Os dois homens começaram a entrar na floresta. Estava muito escura. Somente a luz da lanterna iluminava um pouco as árvores. Tudo parecia congelado, nada se movia. Para a frente, só se via a escuridão causada pelas árvores, e à direita, bem longe, se via o clarão. De repente, um galho estalou; depois outro. E outro. Havia algo caminhando pela floresta junto com eles. Alguma criatura caminhava lentamente por entre as árvores. Os próprios estalidos pareciam intensificar a lentidão e frieza dos passos.

_ Veja! Logo ali! – apontou o passageiro para o chão, entre duas árvores.

Havia uma capivara morta no chão. A fraca luz mostrava o vermelho do sangue na pele. O passageiro se aproximou, tocou o animal morto e disse:

_ Foi morta logo agora!
_ Vamos sair daqui! – exclamou assustado o motorista. – O que matou esse bicho ainda deve estar por aqui!

Os dois homens fizeram o caminho de volta para a estrada. Porém, ao chegar no acostamento, eles viram algo muito estranho; havia um vulto negro bem no meio da estrada. E, quando a luz da lanterna iluminou o vulto, seus olhos brilharam. Era uma grande onça. Estava parada no meio do asfalto, o sangue pingava de sua boca. Depois de algum tempo em que os homens ficaram parados, petrificados, a onça começou a andar novamente em direção a floresta do outro lado da estrada, como se nada tivesse acontecido e ela estivesse em somente mais uma de suas noites.

_ Meu Deus! – exclamou o motorista – Por um momento achei que ela nos pegaria. Ainda bem que já estava saciada!
_ Você percebeu algo estranho? – perguntou o passageiro.
_ O que?
_ Na verdade, é estranho somente para nós. Para a onça é a coisa mais normal. Ela não sabe! Para ela, tudo segue seu curso normalmente. Ela não tem consciência de que irá morrer!
_ Acho que já vi uma frase que diz algo parecido. – o motorista pensou por uns instantes e continuou – “A consciência da morte é maior que a própria morte!”
_ Não, não é assim a frase. É do Dostoiévski. “A consciência da vida é maior que a própria vida. A consciência da felicidade é maior que a felicidade.” É uma afirmativa contrária. Uma crítica a alguns pensadores de sua época. Mas, a que você falou erroneamente também tem sentido. A consciência da morte é maior que a própria morte!



IV – A Natureza(Reflexões do passageiro)

“ A consciência da morte é maior que a própria morte! Sim, faz sentido! Para nós que sabemos que a morte está próxima, muito próxima, o sofrimento é maior que a própria morte. Da mesma forma que a consciência da vida maior que a própria vida também faz muito sentido. Aqueles homens preocupavam mais com desvendar os segredos da vida, as leis naturais e sociais; preocupavam mais com o sucesso e a glória, e esqueciam de viver!

A consciência da morte é maior que a própria morte! E eu nem preciso de pensar muito para comprovar. Tudo isso a minha volta é a prova viva! A onça fez seu banquete noturno habitual, continuou com sua vida normalmente. E, talvez, nem imagina o que está acontecendo lá naquele clarão. Nem imagine que o seu fim está próximo. Entretanto, está aproveitando seus últimos momentos aqui na terra de forma mais proveitosa que nós, humanos, que estamos totalmente desesperados!

Veja a paz ao meu redor! As árvores continuam a esperar ansiosamente o nascer do sol para fazer a fotossíntese. A natureza, mesmo estando tão parada que parece morta, está mais viva que nós, no momento. E olha! As estrelas! Sempre brilhando! Mesmo depois do fim elas continuarão brilhando! Quantas vidas de homens essas mesmas estrelas não viram passar sobre essa terra? E, elas sabem que todos nós devemos inevitavelmente morrer!

Morte! Nos preocupamos demais com ela. E, mesmo assim, as pessoas simples continuam a viver tranquilamente suas vidas, enquanto cientistas entram em depressão ao se depararem com toda a inutilidade de viver para depois morrer. Alguma coisa falta para esses homens. Esperança! Falta esperança para eles. Mas, todo homem tem esperança, por menor que seja ela.

Sim, a esperança que nos mantêm vivos. Mais que os instintos de sobrevivência como o medo. Mesmo os homens, principalmente as pessoas simples, sabendo que certamente morrerão, eles tem esperança de vida. É algo inexplicável, que faz com que nós não fiquemos desanimados perante a morte. É uma ilusão – sim, a esperança é uma ilusão - mas uma doce ilusão que nos mantêm vivos. E como eu gostaria de continuar vivo agora!

Esperança! A essência da vida do homem na terra! Com ela, vivemos; sem ela morremos. Há! Veja só essa frase de novo: A consciência da vida é maior que a própria vida! Como ela encaixa perfeitamente! Como é certo ir contra esta frase, que nem o autor! Sim, devemos Ter esperanças, mesmo sendo uma ilusão. É essa ilusão que nos faz viver!

Haha! Realmente, acho que sou metafísico!”


V – Contra a certeza (reflexões do motorista)

“ Ah Meu Deus! Está tudo se acabando! Por quê todos não estão enganados quanto ao fim do mundo! Como gostaria de continuar aqui! Coitada da onça, que nem sabe que em breve morrerá! Por quê eles não estão enganados? Como gostaria que eles estivessem enganados!

...

Será que eles não estão enganados? Como eles têm absoluta certeza que irá acabar? Talvez alguém tenha errado algo ao fazer os cálculos. Mas esse clarão... Já está acontecendo! Porém, e se ele não acabar com tudo? Devemos fugir rápido! E se todos tenham errado todos os cálculos a respeito do fim, e na verdade, somente uma pequena parte deva acabar? Sim! Quem sabe é isso!

Talvez eu tenha chance de sobreviver! Sim, é isso! Todos devem estar errados. Devemos fugir!


VI – O Pneu – O fim

Um carro seguia pela estrada deserta e escura. Atrás deles, podia-se ver no horizonte um forte clarão. Era o fim do mundo; o mundo queimava. De repente, houve um estalo; o pneu havia furado! O carro foi parando lentamente. Nem sequer parou no acostamento pois a estrada estava totalmente deserta. Dois homens desceram do carro.

_ Putz! Furou mesmo! – disse o passageiro.
_ Meu Deus! – o motorista estava inquieto – Isso vai atrasar muito! Acho que tenho um step ali atrás vamos ver!

O motorista foi para a parte de trás do carro e abriu o porta-malas. Enquanto isso, o passageiro permanecia parado, olhando para o céu, olhando para as estrelas.

_ Vamos rápido! – gritou o motorista – Nós temos que trocar esse pneu logo! Vem me ajudar, depressa!
_ Sim, vamos trocar – falou com um sorriso no rosto o passageiro – Vamos trocar muito rápido! Sempre em frente! Bota fogo Maquinista, que eu preciso, Muita Força! Muita Força! É, sempre em frente!
 
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Maldito. Você me deixou totalmente pra baixo agora! Que texto lindo, Minas! Muito bom mesmo, mil parabéns pra tu. Está excelente. Me fez pensar muito, eu não estou brincando, gostei pra caramba... Fazia tempo que não lia nada assim no CdE. =)

Pelo que já li dos seus textos, esse é um dos melhores. O tema é lindo e você abordou ele muito bem, está bem reflexivo.

A linguagem pra mim está ótima também.

A única coisa que queria dizer é que o dialogo no qual eles discutem sobre a gasolina ficou forçado demais. Eu daria uma olhada, ok?

É isso aí, moço. Bota fogo, muita força! Sempre em frente! =)
 
Muito Obrigado Melkor! Um elogio assim dexa feliz pra caramba! :D Aumenta a animação de continuar escrevendo e postando aqui(tenho muita dificuldade em escrever, estruturar frases, paragrafos, etc. Fica muito cansativo) Pq escrever eu gosto, mas é muito ruim ter um texto "morto", que fica guardado só para mim.

Vou dar uma olhada no dialogo da gasolina. Acho que entendo como que ficou forçado. Talvez não precisasse do posto, ou podia resumir a ideia daquela parte em dialogos bem curtos. Isso é bom para eu observar em textos futuros.
 

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