Meriadok Malkav
Pssst...You're gonna die soon
Autor: Meriadok Malkav (eu..=P)
Título: Os Dois Lados
1º Capítulo - Brigas, parte I
Eram duas da manhã. Acordaria cedo na manhã do dia seguinte para trabalhar, mas mesmo assim não conseguiu pregar os olhos até aquele momento. A discussão aquela noite a atingira de tal modo que ainda revirava as cenas vividas há algumas horas, e não conseguia descansar a mente.
Levantou-se, e sem a menor sombra de sono, foi andando pelo medonho caminho escuro até a cozinha, a fim de tomar um copo de água. Esbarrou nos ursos de pelúcia jogados no corredor e nas almofadas espalhadas pela casa; símbolos de uma fúria de amor.
Nossa garota-modelo morava sozinha naquele micro-apartamento, desses modernos, cuja planta baixa na propaganda é magnífica, mas, quando colocamos o pé dentro do hall, nos arrependemos profundamente de um dia ter comprado tal imóvel.
Pegou o copo e encheu-o de água. Virou e bebeu, e aquele líquido que entrava pelos seus lábios não tinha o sabor que ela estava precisando. Não tinha o gosto amargo da paixão, do amor, dos lábios grossos daquele que amava. Lágrimas molharam seu belo rosto, camuflado na penumbra da noite.
Viu-se então beijando-o, abraçando-o, amando-o, e chorou mais intensamente. Sua alma jorrava sangue pelos olhos – puros e ingênuos; lindos. Sofrimento, saudade; raiva, desilusão – esses opostos sentimentos se misturavam em seu coração, e suas lágrimas, se fossem vistas por algum ser, seriam entendidas como uma defesa pessoal natural.
Ligou o rádio e pôs-se a ouvir Legião Urbana, do sempre deprimido Renato Russo. Por que as pessoas ouvem músicas melancólicas quando estão deprimidas? Será que não vêem que este fato apenas aumentará sua tristeza? Pior são aqueles que ouvem músicas “pesadas”, talvez com o intuito de esquecer o que estão pensando. Então eu me pergunto, para que esquecer o sofrimento? Para que deixá-lo para depois? Por que não enfrentá-lo no momento certo, ao invés de fugir e, quando for tarde demais, olhar para o passado e se arrepender?
Laura não se questionou a esse respeito, era sua vontade apenas dormir e esquecer de sua tristeza, que a corroia por dentro, deixando-a extremamente maleável.
Voltou a cenas de sua infância, algo longínquo e agradável. Lembrou de seus sonhos e suas esperanças. Lembrou da sua ingenuidade e sentiu vergonha. Nesse momento, já havia esquecido o motivo por estar acordada até àquela hora, e já tinha descoberto muitos outros motivos para sofrer.
Como a mente humana é curiosa em seus defeitos e em suas qualidades.
Sempre inovadora e um tanto imprevisível, sempre pregando peças nos despreparados. O namorado, primeiro motivo que a levou a tal estado, não mais estava presente em seus pensamentos. Não?
Há controvérsias sobre esta afirmação. Os sentados à minha direita, dizem que é verdadeira, ela esqueceu-o nesse momento, pois se lembrava do seu tempo de ingenuidade, da sua infância. Já os sentados à minha direita, dizem que, exatamente por ela lembrar-se da sua infância, ela pensava em seu namorado, indiretamente. Isto, explicam, deve-se ao fato de que em sua infância ansiava por alguém como ele. Sonhava, almejava um jovem que a completasse.
Pura ingenuidade. Antes de comentar sobre o fato, deixo-me inclinar-me a opinião dos à minha direita, já que não sou o juiz do fato, e posso, pois, tomar partido.
Continuando, então, meu pensamento. Pura ingenuidade, eu dizia. Sim, essas crises, à noite, é apenas o começo. Daqui a alguns meses, verá o tamanho do erro cometido, e não mais se iludira com o homem de sua vida. Pena, digo-te, leitor, que esse conhecimento, por mais que tentado, dificilmente é passado oralmente. Muitos se iludem para alcançar esse conhecimento. Tanto sofrimento seria economizado se fossem ouvidas pessoas experientes no assunto.
No entanto, pessoas que não passam por tal experiência, tornam-se tolas no amor, e não entendem a verdadeira magnitude desse sentimento.
Nunca foram levados às nuvens, nem se sentiram totalmente dominados pelo seu amor. Por isso, apenas o sofrimento nos trás a visão de mundo necessária para vivermos. Pois, a vida sem sofrimento não é vida, é algo inútil e indigno de ser real. No entanto, um eterno sofredor também não é digno de viver.
Chego então, ao xis da questão. A vida deve ser equilibrada. Uma afirmação simples, mas cheia da essência da verdade.
Título: Os Dois Lados
1º Capítulo - Brigas, parte I
Eram duas da manhã. Acordaria cedo na manhã do dia seguinte para trabalhar, mas mesmo assim não conseguiu pregar os olhos até aquele momento. A discussão aquela noite a atingira de tal modo que ainda revirava as cenas vividas há algumas horas, e não conseguia descansar a mente.
Levantou-se, e sem a menor sombra de sono, foi andando pelo medonho caminho escuro até a cozinha, a fim de tomar um copo de água. Esbarrou nos ursos de pelúcia jogados no corredor e nas almofadas espalhadas pela casa; símbolos de uma fúria de amor.
Nossa garota-modelo morava sozinha naquele micro-apartamento, desses modernos, cuja planta baixa na propaganda é magnífica, mas, quando colocamos o pé dentro do hall, nos arrependemos profundamente de um dia ter comprado tal imóvel.
Pegou o copo e encheu-o de água. Virou e bebeu, e aquele líquido que entrava pelos seus lábios não tinha o sabor que ela estava precisando. Não tinha o gosto amargo da paixão, do amor, dos lábios grossos daquele que amava. Lágrimas molharam seu belo rosto, camuflado na penumbra da noite.
Viu-se então beijando-o, abraçando-o, amando-o, e chorou mais intensamente. Sua alma jorrava sangue pelos olhos – puros e ingênuos; lindos. Sofrimento, saudade; raiva, desilusão – esses opostos sentimentos se misturavam em seu coração, e suas lágrimas, se fossem vistas por algum ser, seriam entendidas como uma defesa pessoal natural.
Ligou o rádio e pôs-se a ouvir Legião Urbana, do sempre deprimido Renato Russo. Por que as pessoas ouvem músicas melancólicas quando estão deprimidas? Será que não vêem que este fato apenas aumentará sua tristeza? Pior são aqueles que ouvem músicas “pesadas”, talvez com o intuito de esquecer o que estão pensando. Então eu me pergunto, para que esquecer o sofrimento? Para que deixá-lo para depois? Por que não enfrentá-lo no momento certo, ao invés de fugir e, quando for tarde demais, olhar para o passado e se arrepender?
Laura não se questionou a esse respeito, era sua vontade apenas dormir e esquecer de sua tristeza, que a corroia por dentro, deixando-a extremamente maleável.
Voltou a cenas de sua infância, algo longínquo e agradável. Lembrou de seus sonhos e suas esperanças. Lembrou da sua ingenuidade e sentiu vergonha. Nesse momento, já havia esquecido o motivo por estar acordada até àquela hora, e já tinha descoberto muitos outros motivos para sofrer.
Como a mente humana é curiosa em seus defeitos e em suas qualidades.
Sempre inovadora e um tanto imprevisível, sempre pregando peças nos despreparados. O namorado, primeiro motivo que a levou a tal estado, não mais estava presente em seus pensamentos. Não?
Há controvérsias sobre esta afirmação. Os sentados à minha direita, dizem que é verdadeira, ela esqueceu-o nesse momento, pois se lembrava do seu tempo de ingenuidade, da sua infância. Já os sentados à minha direita, dizem que, exatamente por ela lembrar-se da sua infância, ela pensava em seu namorado, indiretamente. Isto, explicam, deve-se ao fato de que em sua infância ansiava por alguém como ele. Sonhava, almejava um jovem que a completasse.
Pura ingenuidade. Antes de comentar sobre o fato, deixo-me inclinar-me a opinião dos à minha direita, já que não sou o juiz do fato, e posso, pois, tomar partido.
Continuando, então, meu pensamento. Pura ingenuidade, eu dizia. Sim, essas crises, à noite, é apenas o começo. Daqui a alguns meses, verá o tamanho do erro cometido, e não mais se iludira com o homem de sua vida. Pena, digo-te, leitor, que esse conhecimento, por mais que tentado, dificilmente é passado oralmente. Muitos se iludem para alcançar esse conhecimento. Tanto sofrimento seria economizado se fossem ouvidas pessoas experientes no assunto.
No entanto, pessoas que não passam por tal experiência, tornam-se tolas no amor, e não entendem a verdadeira magnitude desse sentimento.
Nunca foram levados às nuvens, nem se sentiram totalmente dominados pelo seu amor. Por isso, apenas o sofrimento nos trás a visão de mundo necessária para vivermos. Pois, a vida sem sofrimento não é vida, é algo inútil e indigno de ser real. No entanto, um eterno sofredor também não é digno de viver.
Chego então, ao xis da questão. A vida deve ser equilibrada. Uma afirmação simples, mas cheia da essência da verdade.
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