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[L] [Melkor, o inimigo da luz] [Revolta das marmotas assassinas]

Melkor- o inimigo da luz

Senhor de todas as coisas
[Melkor, o inimigo da luz] [Revolta das marmotas assassinas]

Minha primeira comédia, espero que gostem, aqui vão apenas os três primeiros capítulos:

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A CELA


Ela acordou olhou ao redor. Nada. O local escuro onde estava não deixava que visse nada, mas ouvia com clareza os passos do lado de fora, passos pesados que se aproximavam. Levantou-se do chão frio onde havia dormido e cerrou os olhos a espera de algo, não sabia o que, mas esperava algo. Esperava algo há muito tempo, já não tinha certeza do que era e se viria, mas continuava a esperar.
O rangido da porta de metal a fez sentir um arrepio estranho, então com a fraca luz que vinha de fora viu alguém parado na porta. Uma mulher, uma mulher gorda e de cabelos longos, era só o que podia ver. Quando o braço daquela mulher se precipitou para tocar no interruptor ela gritou:
- Não tente!
- Oh, minha criança, então já está acordada? – respondeu a mulher com uma voz doce, retirando o braço de perto do interruptor – Porque não podemos acender a luz, minha querida?
- Não me chame assim, pare!
- Como quiser, mas terá que me dar um motivo para não acender a luz.
- A luz... Tudo menos ela... A luz, você não sabe o que significa a luz, você não entende...
- É só luz, minha pequena criança... Como conversaremos no escuro?
- Estou aqui há meses no escuro e não senti falta da luz, se quer conversar será do meu jeito. Feche a porta.
- Não acho que seja uma boa idéia, além do que...
- Feche-a!
- Como quiser, pequena – disse a mulher com sua voz doce.
- Sinta-se à vontade em meu quarto.
- Querida, você sabe que isto não é um quarto. É uma cela.
- Qual a diferença?
- A diferença é que está aqui presa. Você sabe porque está presa?
- É claro que sei.
- O que tem a dizer sobre isto?
- Nada.
- Você não está ajudando
- Nem você. Não quero conversar, me deixe em paz.
- Você não pode passar sua vida inteira assim, você era tão bela e alegre, o que aconteceu?
- Como sabe se era bela e alegre?
- É meu trabalho, Mel.
- Não me chame de Mel, nunca. Meu nome é Rosana.
- Seu nome não é Rosana, querida.
- Quem decide isto não é você.
- Não, mas foi sua mãe. Você foi registrada como Melissa, e este é seu nome.
- Me diz, o que é o nome?
- Como assim, criança?
- Você entendeu. O que é um nome?
- É como as pessoas te chamam, qual é sua identificação perante a lei, mocinha.
- Já te avisei, pare de usar esses nomes comigo. Não sou uma criança há muito tempo.
- Para alguns, nós sempre seremos crianças, não concorda?
- Não.
- Olha, agora chega. Não tenho muito tempo, você deve imaginar que sou uma mulher ocupada e você não está cooperando. Quer me contar o que aconteceu?
- Você sabe, porque está me perguntando?
- Porque relatórios não contam sentimentos, quero saber o que você sentiu, o que passou na sua cabeça enquanto tirava a vida de um ser vivo cruelmente.
- Ah! Sejamos francas aqui! Não era um ser vivo, era um babuíno!
- E babuínos não são seres vivos?
- Sim, são... Mas aquele... Aquele monstro...
- Continue, querida.
- Já te avisei! Pare de me chamar assim!
- Está bem, desculpe... Onde paramos?
- No babuíno. Você entende, não entende? Eu tinha meus motivos, ele... Ele nos traiu...
- Traiu a quem, afinal?
- A nós! Aos humanos, às marmotas!
- Marmotas, você disse?
- Você ouviu, não se faça de idiota.
- Como assim “marmota”?
- A sigla AMARGA lhe diz algo?
- Não, realmente não.
- Como imaginava... Não posso explicar para você, sua ignorância a faria desconfiar de minha sanidade.
- Querida, sua sanidade já está em maus lençóis, senão não estaria aqui.
- Não me chame de querida, a última pessoa que o fez morreu, já lhe avisei.
- Então você matou mais alguém além do babuíno?
- Não exatamente...
- Bom, falemos disto depois. Voltemos então para a sigla AMARGA. O Que significa? Tenho quase certeza que o primeiro “A” significa associação.
- Acertou. AMARGA... Desculpe, mas não estou preparada para falar sobre isto.
- É necessário, que tal fazer um esforço?
- Impossível.
- Então acho melhor eu ir embora, minha criança – disse a mulher gorda virando-se para a porta.
- Associação das Marmotas Anônimas Revolucionárias Guerreiras da África.
- Como?
- AMARGA. A sigla...
- Ah, entendo – a mulher então virou-se novamente para Mel.
- E não me chame nunca mais de criança.
- Então quer falar sobre as tais marmotas?
- Não, hoje não... A lembrança ainda é muito dolorosa... Sinto o sangue escorrer pelas minhas mãos... Prefiro que conversemos amanhã, tudo bem?
- Está bem... Adeus, minha... Adeus.
Quando a mulher saiu pela porta de ferro e a solidão voltou para a cela de Mel, ela sussurrou para si mesma:
- Parece que estamos nos entendendo, Rebeca.


INICIA-SE A LENDA

Agora tudo começou a ficar claro... As Marmotas... Ela lembrava direito o que acontecera... Aquele dia na fazenda, o encontro com Roger... Sim, como era feliz...
Estava sentada na pedra, embaixo da pedra passava o rio que dividia a fazenda de sua avó com a fazenda do vizinho. Qual era mesmo o nome dele? Sam, isto mesmo. Sammy, como eu o chamava.
Chorava de raiva, não sabia porque, mas chorava. Um vazio estava no seu coração desde que era uma criança... Costumava ir até lá para chorar. Estava pensando no rio. Ele parecia estar cada vez mais alto, dava a impressão que um dia engoliria a pedra onde sentava.
Caminhando nas planícies viu um grupo de animais andando, mas não eram vacas ou cavalos, eram seres pequenos, gordos e peludos. Não exatamente gordos, fofinhos, sim, fofinhos.
O que ia à frente era maior e usava uma armadura, no inicio não acreditou que estivesse usando uma armadura, mas era sim uma armadura. Levantou-se e ficou de pé olhando aqueles animais caminhando, coloquei uma mão na frente do sol para enxergar melhor, então o que usava uma armadura parou e virou-se para a tropa.
Não pôde entender o que acontecia, mas todas viraram e começaram a marchar rapidamente para perto de Meggy. Sem saber o que fazer, apenas esperou até que chegassem até ela. Cerrou os olhos como costumava fazer em ocasiões de tensão.
Elas chegaram e ficaram a olhando, o líder sempre na frente da tropa. Ela não entendia o que estava acontecendo, afinal, o que elas queriam?
- Está aqui há muito tempo? – perguntou o líder das marmotas para ela.
- Hey, você fala?
- Não
- Claro que fala, está falando comigo!
- Então eu falo!
- O que você quer?
- Justiça
- Fala sério
- Justiça! É o que todas nós queremos!
- Nós quem? Estes ratos que estão te seguindo?
- Não somos ratos, somos marmotas!
- O que é uma marmota?
- Então é verdade, o mundo está perdido – disse ele abaixando a cabeça com um olhar triste.
- O mundo está perdido porque?
- Não percebe?
- Não
- A nossa cultura está sumindo, sendo substituída... As pessoas nem ao menos lembram de nós!
- Porque lembraríamos?
- Porque? Você quer saber porque? Nós salvamos a humanidade no passado, nós vivíamos como iguais, até que fomos traídos pelos castores guerreiros e tivemos que nos esconder por séculos até novamente ressurgimos.
- O que os castores fizeram?
- Não queremos lembrar disto, desculpe. Mas estávamos dispostos a esquecer tudo que eles fizeram contra nós, eles, porém, atacaram nossa cidade subterrânea ontem e mataram milhares de crianças de nosso povo, isso é intolerável!
- Que maldade!
- Sim, por isso queremos saber se você viu um exército de castores passar por aqui. Acreditamos que eles vão fazer um dique neste rio para acabar com o suprimento de água de nossas cidades.
- É claro que não!
- Certeza?
- E eu não perceberia um exército de castores passando embaixo do meu nariz?
- Obrigada, menina... Precisamos continuar nossa marcha, apesar de tudo...
- Ei, espere!
- Diga
- Eu não vi o exército, mas agora que você tocou no assunto, o nível do rio aumentou muito hoje, estava pensando sobre isto agora mesmo...
- Então o que temíamos se concretizou – disse ele com um tom de medo na voz – precisamos ir! Soldados, sigam o curso do rio, andem, vou na retaguarda, preciso conversar com esta garota.
- Pode falar, senhor marmota.
- Ei! Sou uma marmota, mas tenho nome!
- E qual é seu nome? O meu é Meggy!
- Roger... Prazer em conhece-la.
- O prazer é meu, o que você queria falar comigo afinal?
- Acho que preciso da sua ajuda. Você conhece o terreno daqui, não é? Além do mais é uma humana e pode se aproximar dos castores sem que eles a ataquem.
- Eu adoraria... Mas tenho medo...
- Não tem o que temer, é grande. Nós somos pequenas e não temos como nos defender dos castores guerreiros.
- O que exatamente eu tenho que fazer?
- Pôr esta essência de gambá azedo em cima do dique. Então eles de lá sairão e nossos exércitos camuflados no ambiente os matarão impiedosamente.
- Ma...Matar?
- Sim. M, E, T, E, R!
- Errr...
- Diga
- É M, A, T, A, R...
- Bah, que seja! Meter, matar... Faz diferença?
- Faz...
- Alguém já te disse que você não tem educação?
- Já. Algum problema? – disse ela o encarando e atravessando o rio com um pulo.
- Não, não... Oh, céus! O exército já está longe daqui, você me distraiu!
- Não, não distraí.
- Não importa, me leve até eles, você tem passos longos... Atravessa um rio enorme com um passo...
- Que rio enorme? Ah... Esse rio... Fala sério, nem é tão grande. De qualquer jeito, não importa o que vocês digam, não ajudarei num assassinato cruel...


O 14° DIQUE DO OESTE


“Diabos, como foi que deixei que uma marmota falante e peluda a convencesse? Droga, é só uma marmota, marmotas nem ao menos falam! Acho que estou pirando, sim, só pode ser!
Se não estivesse pirando porque eu estaria correndo atrás de um exército de marmotas com uma marmota de armadura sentada em meu ombro me dando ordens? Não há outra explicação, não. Marmotas não falam, o que estou fazendo?”
- Porque parou, Meggy?
- Porque marmotas não falam...
- Mas é claro que falam! Não estou falando com você?
- Por isso mesmo!
- Eu falo e posso garantir que sou uma genuína Cynomys ludovicianus da família Scuridae, resumindo, uma bela marmota do rabo preto!
- Que bizarro! E você acha isso legal?
- Isso o que?
- Como isso o que? Ser uma marmota! Que coisa ridícula!
- Olha quem fala! Você parece uma jamanta andando, toda desengonçada...
- Ah, então é melhor que você vá correndo...
- Não, não... Esquece o que eu disse e corre.
Continuou a correr. “Que marmota atrevida! Rabo Preto... Vou mostrar pra ele!”. Tinha que rever o plano. Chegaria até o dique, despejaria aquele liquido fedorento e sairia correndo, não era um grande papel, mas seria de extrema importância.
Mas... E as crianças? Ajudaria no assassinato de castores inocentes? Bom, não eram tão inocentes, mas quem são as marmotas para julgar alguém?
Agora era tarde demais, aquela maldita marmota a convenceu e ela deu sua palavra... Quem mandou ser fraca e facilmente influenciável?
Finalmente alcançou o exército, estava simplesmente atônita. Eram marmotas, como corriam tão rápido?
- Senhor, chegamos ao nosso limite. A tropa que foi mais para frente já está camuflada a espera da saída dos castores, nós, da tropa da retaguarda, iremos impedir a fuga deles.
- E as crianças? – interferiu Meggy
- Como assim?
- Matarão todas crianças do dique?
- E desde quando crianças ficam em diques de guerra?
- Diques de guerra?
- Você não acreditou que os castores realmente vivem em diques? Papo furado! Eles os constroem como fortalezas!
- Incrível...
- Sim, agora você tem que ser rápida, nós... Err... Estamos com problemas financeiros e não temos disfarces muito eficientes, se você me entende.
- Está bem, vou indo, é só seguir para aquela direção, certo?
- Certíssimo! Boa sorte, menina!
- Eu tenho nome, sabia?
- Não, agora anda logo e para de reclamar.
Não deu nenhuma resposta para a marmota mal educada. Coitada, ninguém contou pra ela que ela não pode falar...
“Já posso avistar o dique... Ele é enorme, posso ver ali um castor vigia e... Ei! Espere, não pode ser! As marmotas acham mesmo que estão camufladas? Tem um ali segurando um graveto com algumas folhas na frente de seu rosto... Problemas de orçamento? Santa marmota!”.
Calma. Precisava de calma, só isto. Aproximou-se do dique lentamente com o frasco na mão, gotas de suor escorriam de sua testa. Bastava fazer aquilo e sair correndo... Só isto...
Então um castor gritou e saiu correndo do dique girando um laço. Amarrou Meggy e a olhou com um olhar sádico.
- Acha que pode nos enganar, mocinha? Não nos destruirá, nós conquistaremos o mundo, não pode nos impedir!
- Droga, eu sabia que vocês não se enganariam com os disfarces das marmotas!
- Marmotas? Tem marmotas aqui? Oh, uma marmota em cima da árvore, e outra atrás de um arbusto! É verdade, estamos sob ataque!
- Ataque? – disse outra saindo do dique
- Sim, marmotas por todos os lados! Atacar!
Então saíram centenas de marmotas de alçapões do chão e do dique, então as marmotas abandonaram seus disfarces e começaram a atacar. O castor que havia prendido ela saiu correndo, então ela retirou a corda e se escondeu longe dali em um local de onde poderia ver a luta sangrenta. Que animais mais selvagens!
Enquanto algumas marmotas lutavam, outras destruíam o dique, de forma com que finalmente com um estrondo a água forçou o dique já enfraquecido e o destruiu. Todos pararam de lutar e então os castores lamentaram a destruição do dique.
- A água do rio é livre para correr, não cabe a vocês decidir seu curso. Que isto seja um aviso, vocês não destruirão nosso povo.
- Somos mais fortes que vocês, suas marmotas malditas. Somos castores guerreiros e não perdemos tão facilmente. Vocês verão, vocês verão!
- Chega! – gritou Meggy
- O que? – disse o líder dos castores
- Esta briga infantil já me deu nos nervos. Vocês são animais bonitinhos e pequenininhos, deviam ser fofinhos e inocentes!
- Não, não devíamos!
- Ah, deviam sim!
- Se sua ignorância acha que marmotas e castores são seres irracionais inocentes, realmente você está perturbada.
- Eu achei por 13 anos que marmotas e castores não falassem!
- E não se enganou?
- Não exatamente... Ainda acho que isso é um sonho, se alguém me beliscasse eu aposto que acordaria... Ei, o que significa isto? Tem um castor roendo minha perna!
- Você disse que se alguém te beliscasse você acordaria... Acordou?
- Claro que não! Quer dizer... Eu acho... Ah, vocês estão me confundindo!
- Então não se intromete... Onde estávamos?
- Não sei – disse Roger
- Ah, estávamos brigando.
- Ah sim! Vocês não destruirão nosso sonho de um mundo onde marmotas e humanos possam viver em harmonia com direitos iguais.
- Esqueça, seu velho tolo! Eles já esqueceram a importância dos animais. Já esqueceram quantas vezes os castores destruíram exércitos de babuínos mercenários que atacaram suas cidades, quantas vezes as marmotas perseguiram até a morte as fuinhas que roubaram ovos de galinhas para vender pro mercado negro. Não há nada para fazermos, Roger.
- Devemos lutar.
- Faça o que quiser, só não me inclua no seu plano inútil.
- Não estou te incluindo no meu plano...
- Não discute comigo! Que marmota insistente!
- Mas porque vocês atacaram nossas cidades?
- Não podemos dizer, no devido tempo vocês saberão. Tropas, recuar!
- Vai deixa-los ir? – perguntou Meggy
- É inútil tentar algo, os castores são guerreiros hábeis, nós não temos tropas suficientes para continuarmos a luta.
- Ah, e aqueles seus disfarces... Pelo amor de deus, quem vocês acharam que estavam enganando?
- Na verdade, até você ser capturada os castores não tinham visto as marmotas camufladas...
Vamos mudar de assunto?

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(continuação...)

- Vamos mudar de assunto?
- Sim, é melhor.
- O que vocês vão fazer agora?
- Como assim, Mel?
- Oras, o que as marmotas vão fazer? Vão continuar esta guerra contra os castores?
- Não sei, temos que consultar o nosso líder. Sabe, é ele quem cuida destes assuntos.
- Ué, não é você o líder?
- Eu? Não! Sou o líder do MMRL somente, mas existem forças superiores a mim, senhorita!
- MMRL?
- Movimento das Marmotas Revolucionárias de Libertação... Este nosso grupo é independente do Governo das Marmotas ou do Conselho das Toupeiras. Somos marmotas de comunidades alternativas que queremos a harmonia entre humanos e marmotas.
- Comunidades alternativas?! Conselho das Toupeiras?! Governo das Marmotas?! Que coisa mais brega, que disparates!
- Disparates, é? Você diz isto porque nunca te contei a história da Frente de Libertação dos Jacarés Hidráulicos!
- Como é que é? – disse Melissa sem conter o riso
- Sim, foi há muito tempo... Eu ainda era uma marmotinha pequena, bonitinha, inocente e desligada do mundo. Os jacarés começaram a atacar todos seres humanos que viam e iniciaram a colonização dos esgotos para impor seus direitos e fazerem os humanos os tratarem com respeito.
- Como assim? Os jacarés são tratados com respeito! O que exatamente eles queriam?
- Err... Queriam que uma certa lei fosse revogada...
- Que lei?
- A lei que diz que é proibido amarrar jacarés em hidrantes.
- Ah, você ta brincando, né?
- Não, é sério!
- Hahahahaha, que coisa patética! – disse Melissa, e os dois caíram em um ataque de riso que só parou algumas horas depois.



A CELA – Dia dois



Escuridão, como aquilo era bom. Não havia luz, sem luz não podia haver medo, não precisava enxergar suas mãos, não precisava ver o sangue. No escuro podia sempre dormir, sempre ficar acordada, sempre fazer o que quisesse...
Passos pesados do lado de fora, respiração funda. Sim, Rebeca estava vindo, finalmente. Esperou por ela por toda manhã.

Rangido da porta, a luz vermelha fraca que vinha de fora. Desta vez não tentou acender a luz, apenas fechou a pesada porta após entrar na cela e ficou quieta esperando uma reação de Mel.
- Não pensava que eu não estaria a sua espera, não é?
- Não, já me conformei com o fato de você sempre estar acordada quando venho te visitar. Já desisti e não tento mais entender.
- Eu não estou sempre acordada, apenas desperto para recebe-la em meu humilde quarto.
- Já falamos sobre isto, Rosana, isto é uma cela.
- Achei que meu nome fosse Melissa.
- Ontem você quis ser chamada de Rosana, não foi?
- Mas hoje quero ser chamada de Mel... Era assim que ele me chamava...
- Ele quem?
- Roger.
- Seu amiguinho?
- Não, o líder do Movimento das Marmotas Revolucionárias de Libertação...
- Ah, não começaremos com isto novamente, não é?
- Sim, mas não nós, eu começarei. Mas você tem que parar de me interromper, como posso contar uma história deste jeito?
- Ontem você não queria falar sobre as marmotas, o que lhe fez...
- Mudar de idéia?
- Sim.
- Lembranças de um passado feliz, somente isto.
- Então vamos começar. Sugiro que conte como conheceu o tal Roger.
- Ah, foi lindo! Estava numa pedra e ele surgiu com aquele exército enorme de marmotas, todas elas tinham armaduras douradas como o ouro e empunhavam machados enormes. Eram ferozes, sim, me metiam medo... Eu fui correndo até eles e os intimidei e os obriguei a me levarem com eles para o campo de batalha.
- Campo de batalha?
- Sim, eles pretendiam destruir os castores assassinos em seu dique enorme de ferro. O plano era simples: Eu colocava fogo no dique e quando os castores saíssem de lá as marmotas em seus trajes totalmente camuflados de tecnologia avançada os matariam. E assim ocorreu.
- Mel, você não está mentindo, está?
- Claro que não! Está bem, não foi uma vitória tão fácil assim, eles tinham arqueiros e...
- Chega! Não se coloca fogo em ferro, Melissa!
- Não vou discutir com você, sua gorda. Eu que estava lá, não você!
- Do que você me chamou? Temos que cuidar de sua boca, pois está suja demais pro meu gosto! Um dia inteiro sem sobremesa, para ver se aprende!
- Provavelmente não vou aprender, se até hoje não aprendi.
- Então veremos, ah se veremos!
Rebeca saiu da cela. Um sorriso apareceu no rosto de Mel, mesmo que no escuro um sorriso fosse indiferente.



A GURIA ESTRANHA



Mas afinal, o que aquela guria estranha estava fazendo? O que a filha da Janice estava tramando? Alguma coisa ela estava aprontando!
Clotilde esgueirava seu pescoço pela cerca de sua casa para espiar o que fazia Mel no jardim do vizinho. A guria passava de um lado para o outro carregando coisas estranhas, fazendo coisas estranhas e falando sozinha. O pior de tudo era aquele rato que ela levava no colo. Seu marido, Johnatan, disse para ela que não era um rato e sim uma marmota de rabo preto, mas obviamente aquilo não era uma marmota. Alias, Clotilde, ou Clo-Cló, como Johnatan a chamava carinhosamente, nem ao menos sabia o que era uma marmota.
“Marmotas, marmotas! Eu sei muito bem a diferença entre um rato e uma... Como é mesmo? Ah, marmota. Ratos são fofinhos, gordinhos, tem aqueles dentes enormes e tudo mais. Marmotas, hmmm, ah... Marmotas são marmotas! Diabos, preciso descobrir o que é uma marmota...”, pensou Clotilde.
Primeiro a guria passou com uma tábua enorme, depois com uma caixa de ferramentas, depois enquanto fingia aparar a cerca viva a ouviu murmurar “malditas minhocas conspiradoras... malditos castores...”, mais tarde enquanto fazia o almoço e acompanhava Melissa com seu binóculo viu ela olhar pros lados desconfiada e após isto entregar algo brilhante pro rato dela. Mas o pior foi à meia noite, quando ao ouvir um gemido horrível olhou para o jardim da casa da guriazinha e viu ela torturar um castor em uma máquina de madeira, provavelmente o que ela havia construído durante o dia.
“Torturar animais é o que há de pior nesse mundo, preciso ligar para Patrícia para contar isto! Ela não vai acreditar!”.


A MENINA DA CASA AO LADO

Ás vezes Johnatan tinha a impressão de que sua mulher enlouquecia. Coisas normais, fofocas sobre suas amigas, fofocas sobre as...Hmm...Mulheres idosas que jogam boliche no clube, fofocas sobre as suas inimigas, fofocas... Bem, essas coisas normais.
Clo-Cló chegou até a ter um ataque de ciúmes doentio quando viu Johnatan conversando com Patrícia, sua melhor amiga, mas ela não tinha razão porque eles eram apenas amigos e estavam casualmente conversando. Só porque estavam abraçados não quer dizer que tinham um caso, amigos se abraçam... Não é?
De qualquer modo, ultimamente ela andava se excedendo. A coisa ficou pior depois dela acordar ele de seu sono profundo afirmando que a vizinha torturava um castor em seu jardim, o que ele não conseguiu ver porque segundo ela “o castor fugiu e o exército de marmotas foi embora”.
Depois desse episódio bizarro ela começou a falar sobre uma conspiração de marmotas que a vizinha, filha da Janice, ajudava secretamente. Depois disso veio a história do terremoto causado por minhocas, o ataque das gaivotas loucas, o roubo dos ovos para nutrir o mercado negro da fuinhas... Começou a ficar doentio.
Ele estava pensando em ligar para um psicólogo, não, melhor ainda: Uma psicóloga. Essa história de mulher contar segredo pra um homem que não seja o marido dela é muito suspeita.
Melhor ligar para Patrícia e contar tudo pra ela, ela não vai acreditar!


A FILHA DA VIZINHA DE CLOTILDE


Clotilde andava ligando todo dia para Patrícia, ela simplesmente tinha vontade de desligar o telefone. Se ganhasse um real para cada vez que ouvisse “você não vai acreditar” provavelmente estaria rica.
A história das marmotas até seria plausível, hoje em dia essas crianças estão depravadas e seriam capazes de falar com animais e torturar outros pro seu bel prazer. Agora dizer que minhocas causam terremotos quando bem pagas e fuinhas roubam ovos e manipulam o mercado negro já é um exagero. Mas tudo bem, estava disposta a fingir que acreditava e não agüentar aquela chata falando o dia todo, mas ela começou a falar sobre gansos leprosos e outras coisas. Talvez fosse melhor arranjar uma psicóloga para ela, não, melhor ainda! Arranjar um psicólogo lindo para ela trair Johnatan...
Não que ele fosse feio, ele até era muito atraente, mas era extremamente boçal e irritante. Lembrava Fred, marido de Janice, todo certinho e romântico. Esses homens não percebem que hoje em dia isto está tão fora de moda. Que tipo de mulher gosta hoje em dia de poesia e receber flores? Que anacronismo era o marido da vizinha de Clotilde! Qual era o nome dela mesmo? Começava com J... Janice, isto!
Ele inclusive ligou para Patrícia anteontem. Disse que queria conversar sobre o estado mental de Clotilde, afirmou que ela “não acreditaria” no que ela andava dizendo. Infelizmente ela realmente não ganha um real pra ouvir isso... Ah se ganhasse!
Na verdade, provavelmente ele ligou para ouvir sua voz, ela tinha certeza de que ele tinha uma quedinha por ele, ah se tinha!


MINHOCAS

Aquela situação toda era muito estranha, mas algo precisava ser feito. Depois de entrar no tal MMRL Melissa não teve paz. Primeiro teve aquelas reuniões nas cavernas secretas das marmotas da áfrica. A idéia de inventar que era um passeio da escola, que seria um Safári e todas suas amigas iriam não deu certo para sua mãe pagar a viagem, porque logo ela ligou para a escola e desmentiram a história. Ela então começou a chorar e disse que precisava ver onças pintadas senão não descansaria em paz. Inventou algo como “sinto que vou morrer, e não quero morrer antes de ver uma onça pintada” e logo sua mãe se convenceu, foi até fácil.
Ainda bem que sua mãe não sabia que não existem onças pintadas na áfrica, mas isso não importava mais. Ao chegar lá foi vendada e levada para um quartel secreto onde foi apresentada para os membros da AMARGA (Associação das Marmotas Assassinas Revolucionárias Guerreiras Africanas).
Depois disso ficou a par de alguns projetos hiper secretos e conheceu o charmoso líder da organização. Seu nome ninguém pôde revelar, mas era uma marmota de patas vermelhas e dentes brilhantes, unhas pontudas e tudo mais! No início achou estranho sentir atração por uma marmota, mas era normal, não era?
Não, não era... Mas tudo bem, era só uma admiração boba. Ou não.
Enfim, estava em sua casa quando Roger apareceu com dez marmotas dizendo que Mel corria perigo, porque ouviram boatos de que os castores haviam firmado acordos com as minhocas. De início riu da idéia de que seria atacada por minhocas, afinal, aquilo era uma guerra de animais maníacos, mas ser assassinado por minhocas é algo muito estranho.
Não obstante, dias depois de instalar Roger na sua garagem e falar para sua mãe que era seu rato de estimação, o que obviamente chateou Roger, ocorreu um tremor na terra. Era de noite, então correu até Roger para ver se ele estava bem, e ele estava em posição de defesa.
- Ei, o que ocorre, Roger?
- O que ocorre? O ataque das minhocas?
- Ah, pelo amor de Deus! Já te disse, minhocas lá atacam alguém?
- Sim, e o pior é que atacam.
- Elas fazem o que?
- Remexem a terra e provocam terremotos. Este foi o primeiro, um aviso.
- Nossa! Precisamos fazer algo, não quero morrer!
- Calma, devemos ter calma, e a primeira coisa...
- Vamos morrer, vamos morrer! – disse Mel correndo em círculos agitando os braços
- Não vamos morrer!
- Vamos sim, terremotos matam muitas pessoas no Japão, sabia?
- E eu tenho cara de marmota japonesa?
- Existe marmota no Japão?
- Existe marmota em todo canto, no Alaska encontramos as marmotas gélidas, por exemplo.
- Por todo planeta Terra?
- Sim, e também no monte Olimpo, em Marte, sabe? Aquela montanha enorme que deram este nome bizarro...
- Você ta brincando, né?
- Não, é sério! Nós mandamos uma missão tripulada para lá antes do homem pisar na lua. Vê aquelas crateras?
- Sim, são meteoros que caíram.
- Não! São tocas de marmotas marcianas... Deixe de ser inocente, menina!
- Está bem, mas temos que nos defender das minhocas antes, depois dissertamos sobre as marmotas de marte.
- Boa decisão. Temos que capturar um castor e interroga-lo
- Como se captura um castor?
- É a coisa mais fácil do mundo, Mel. Coloque um pedaço de carne numa armadilha e eles vêm de bando.
- Carne? Castores são herbívoros!
- É o que eles querem que vocês humanos pensem.
- Mas os livros dizem que são herbívoros!
- E quem escreveu os livros sobre castores? Vai me dizer que você acha que foi um ser humano?
- Hmm... Eu acho, na verdade...
- Você tem que perder essa inocência, senão vai ser inútil pra MMRL.
- Desculpe. Eu entrei pro MMRL para ajudar o mundo e salvar as marmotas, espero estar sendo útil.
- Sim, você está, fui meio grosso. Desculpe...
- Hey, está tudo bem, não me ofendi...
- Agora chega de papo, né? Vamos logo fazer a armadilha
- Ok! Você é quem manda!
A armadilha foi armada em três dias apenas. As ordens de Roger foram tão precisas e inteligentes que não Mel não entrou problema algum. Primeiro procurou tábuas de madeira de tamanhos específicos e as trouxe para casa. Teve que comprá-las e custaram uma fortuna, mas Roger não precisava saber disto, apenas diria que as achou em qualquer lugar.
Melissa tinha uma estranha sensação quando passava perto da cerca de sua casa e a vizinha fingia aparar a grama e a olhava com um olhar interrogativo. Os seus vizinhos eram o que havia de mais estranho no mundo.
Clotilde era uma senhora de idade obesa que usava óculos enormes e ridículos e passava o dia inteiro em casa como uma boa dona de casa. Na verdade cuidar da casa era o que ela menos fazia. Metade do dia pelo menos ela ficava em sua cadeira de balanço na varanda tricotando e observando as pessoas que passavam, às vezes anotando algo em um caderno, provavelmente fofocas para contar para a tal amiga, Patrícia.


Uma comparação que Mel adorava fazer era que Clotilde tricotava agasalhos de lã para bebês (apesar de nunca ter ficado grávida, pois como toda vizinhança sabe ela é estéril) como tecia fofocas. A cada vez que a agulha passava na roupa que tricotava ela inventava uma nova mentira, pensava em um novo boato para lançar, analisava seus vizinhos, pensava mal de todos. Como se tecesse, ou tentasse fazê-lo, a vida de todos a sua volta.


Clotilde: A tecedeira. Era assim que Mel a chamava. A tecedeira. Já seu marido, Johnatan, ou Johny como Clotilde o chamava carinhosamente, era um pouco menos bizarro do que ela. Okay, ele dizia trabalhar como analista de sistemas, mas pelo que Mel percebeu quando ele foi consertar um computador na sua casa, ele mal sabia onde ligava o computador. Além disso, Mel sempre achou que ele tinha um caso escondido, ele tinha cara do tipo de homem que poderia ter um caso com a melhor amiga da mulher. Sim, era isso que ele aparentava ser, um cafajeste.

Ah, tinha outra coisa que incomodava Mel. Tinha duas alternativas a escolher: Ou Johnatan só tinha uma gravata ou tinha muitas idênticas, porque todas vezes que ela o viu ele estava com aquela gravata roxa com desenhos de pandas. Que tipo de pessoa usa uma gravata com pandas? Um maníaco depressivo e possessivo, só se for!

Não que Mel fosse de reparar nos outros, de modo algum! Alias, isso também lembra o fato dela ter brigado com uma amiga já faziam dois anos porque ter ficado com nojo dela. Depois de reparar que ela havia vindo com a mesma calça Jeans durante sete dias seguidos ela não agüentou mais ficar perto da tal garota...
Não, mas definitivamente não costumava olhar e reparar nessas coisas, isso você poderia esperar de Clotilde, mas não de Mel. Agora já que tocamos no assunto da Clotilde, ela também usou aquela meia rosa comprida estranha três dias seguidos, provavelmente dormiu com elas e não as tirou! Um disparate!

De qualquer modo, não se importaria com uma pessoa fofoqueira como Clotilde, tinha outras preocupações. Castores e minhocas perigosíssimas estavam por perto!
Depois de armar a armadilha em seu quintal sob constante vigilância da sua vizinha neurótica, não tardou em capturar um castor selvagem. Ele recusou-se a falar, para o agrado de todos, afinal, construíram uma armadilha e uma máquina de tortura (sobrou madeira, então Mel deu a idéia da máquina) e agora usariam.
Já na tábua de madeira onde era esticada pelas patas, ela ainda se negava a dizer quando seria o próximo ataque das minhocas. Castor mais sem graça! Depois de um tempo, torturar se torna algo extremamente chato. Ele nem gemia, nem gritava, nem cospia nas pessoas que se aproximavam... Que Diabos de tortura era aquela afinal? Esses castores não assistem filmes e depois não sabem interpretar torturas, que sacanagem!
Num momento de distração ele acabou por fugir e todo exército de marmotas que estava lá foi atrás dele, e enquanto Mel esperava pela volta deles teve a impressão de ver seus vizinhos com binóculos da janela. Devia ser impressão, só podia.
No dia seguinte as marmotas voltaram sem o castor, e enquanto Melissa arrancava o mato do seu jardim Clotilde esticou seu pescoço pela cerca e começou a falar sobre as marmotas e os castores com ela:
- Hey Mel... Eu sei sobre eles...
- Eles? Eles quem? – tentou disfarçar Melissa
- Os castores. Vigiei você durante os últimos dias, é tudo tão terrível. Estava pensando, sabe as minhocas? Eu acredito que o próximo ataque...
- Espere um minuto! Como você sabe de tudo isto?
- Um pescoço comprido é tudo nesta vida, querida!
- Você não tem um pescoço comprido...
- Poderia ter! Mas de qualquer modo, calculando as fases da lua e a posição atual de plutão, creio que o próximo ataque das minhocas ocorrerá no equinócio, que alias é depois de amanhã. As minhocas devem causar um terremoto aproximadamente na hora do almoço, não concorda?
- Na verdade não tentamos prever o ataque... As marmotas voltaram hoje mesmo e disseram que a busca pelo castor foi em vão. Estamos cegos, não sabemos o que acontecerá.
- Como assim? Sua organização não tem... Cientistas?
- Claro que não, é uma associação de marmotas, o que você esperava?
- Uma organização ao menos decente. Hey, posso entrar pra AMARGA?
- Você já sabe até o nome da organização?
- Não!
- Claro que sabe, acabou de dizer!
- Err... Eu confesso, eu confesso. Instalei uma escuta no seu chapéu e ouvi a conversa de vocês...
- Você é uma maníaca, sai de perto de mim, maníaca!
- Shhh, quieta! Os abutres podem nos ouvir! Eles estão esperando por qualquer sinal para avisarem os castores. Vai me dizer que não notou que o vento está mais fraco hoje?
- Na verdade não.
- É por isso que eu preciso entrar pra AMARGA!
- Sinto muito, eu consegui entrar pra AMARGA com muito esforço e eles deixaram claro que eu seria a última humana, mas você pode entrar pro MMRL se quiser...
- É, eu acho que sim. Melhor então você comunicar Roger, eu vou entrar para não criar suspeitas. Talvez você e Roger possam jantar em casa hoje a noite, Johhny vai ter uma reunião até tarde.
- Vou pensar, tchau.


“Como a vizinha gorda sabe de mais coisas que eu? Isso é inadmissível, precisamos fazer algo, ela vai se ver, ah se vai!”, pensou Melissa. Mas não estava com raiva, se sentia inferior... De qualquer jeito, enquanto Mel estava no esconderijo nuclear que as marmotas construíram Clotilde não ouviu nada, porque o esconderijo é à prova de ondas de rádio ou radiação. Os planos mais secretos ela não sabe nem saberá. Sabendo o básico ela pode até ser útil. Sim, pode ser muito útil...
“Hmmm, o que ela quis dizer quando se referiu a mim como pequena? Ei... ”.
 
CELA – Dia três.


- Acorde pequena. Não vai comer sua comida? Melissa? Você está me ouvindo?
- Fale. – disse Mel saindo de seu transe
- Dormiu bem esta noite?
- Não dormi, não durmo há muito tempo.
- E você não acha que deveria?
- Porque? Só me faria sofrer, lembrar do que não quero. Não, dormir não!
- Calma, não precisa dormir se não quiser. Estou aqui para ajudar somente.
- E se eu não quiser ser ajudada?
- Você quer, mocinha. Isto é o que me toca mais, você quer e tenta demonstrar o contrário.
- Eu não quero.
- O que você quer então, se não quer ajuda?
- Que você morra.
- Isso não pode fazer, seus desejos acabam quando invade os desejos de outra pessoa. Eu quero viver, seu desejo é contra o meu, não irei morrer só porque você quer. Só há um desejo maior que os nossos, o de Deus.
- Ah, me poupe! O meu desejo é que morra, o seu desejo de viver invade o meu desejo. Porque então você vive? Deus não passa de uma desculpa para a falta de conhecimento e a fraqueza do homem. Quem é forte não tem fé.
- E não tem esperanças.
- Falsas esperanças? Não, prefiro não ter.
- Você... Fala sério? – disse ela com a voz um tanto diferente, talvez trêmula.
- Como assim?
- Mel, você quer mesmo que eu morra?
- Não. Não gastaria meu tempo desejando sua morte, ela é indiferente para mim. Se algum dia acontecer, simplesmente aconteceu. Não me fará feliz ou triste. Sou indiferente.
- É mesmo? Em relação a todas vidas ou só a minha? Não pareceu indiferente à morte do babuíno...
- Sou só indiferente à sua vida ou morte. Talvez outras vidas pra mim não tenham importância, mas a sua é que está em questão. Se você vier todo dia me tirar das minhas lembranças, sua morte será bem vinda.
- Isso é algum tipo de... Ameaça?
- Não me tome por uma assassina, o destino da Existência de tudo que existe esteve em minhas mãos uma vez, eu segurei o fogo secreto em minhas mãos agora queimadas, eu senti pulsar o sangue da criação em meu corpo.
- Mel, Mel... Não se iluda, suas mãos não estão queimadas!
- Estão queimadas, você não pode ver, mas estão. Não é só o que você enxerga que existe.
- Desculpe-me, mas sou adepta de São Tomé. Só acredito no que vejo.
- Então é uma adepta da tolice e da ignorância.
- Não é isto que está em questão.
- O que está em questão?
- Você.
- Não estou em questão.
- Ah, está. Estou sendo paga para desvendar sua mente.
- Desista, não vai conseguir.
- Por hoje chega, não vou conseguir nada de você hoje. Amanhã volto para conversarmos melhor.
- Pode ir, não to nem me importando.
- Até amanhã – disse ela indo para fora.
- É disso que se trata, não é? – disse Mel, e a mulher gorda apenas parou, sem virar-se – Não é o dinheiro em si, mas o prazer de desvendar uma mente perturbada, o prazer e realização. Foi tudo o que você sempre buscou na psicologia, Rebeca. Seu sonho sempre foi desvendar uma mente, não é? Então vou te dizer uma coisa, a minha você não vai desvendar, e vou fazer o máximo possível para atrapalhar seu trabalho.

Rebeca apenas continuou a andar e fechou a porta de ferro suavemente. O silêncio invadiu sua cela. Melissa sentiu frio.
 
Tô lendo seu conto... A Meggie vira Melissa? Porque? E bem no meio da história... Bem...
Melkor, seu texto está legal sim, mas meio pouco legível... Coloque um capítulo por post e letras grandes e em negrito pro título...
Porém, a história é engraçada...

Já notou que historias engraçadas tem mais fala que narração? :mrgreen:
 
Hmm, eu tinha alterado pra Melissa mas não mandei o começo de novo, acabei esquecendo. Ainda bem que você reparou, hehehe, ia ficar bizarro porque eu não tinha visto. Vou mais tarde fazer o que você disse
 
O MERCADO NEGRO


Roger, após o jantar instrutivo com Clotilde, sugeriu para Melissa que se preparassem para o ataque do dia seguinte. Ele ficou impressionado com as investigações dela, na verdade, nem Mel nem Roger esperavam uma apresentação no Power Point de 73 slides com fotos e arquivos confidenciais que ela roubou de castores da reserva florestal que ficava a 100 quilômetros da sua casa.
Durante as explicações das contas e a justificativa do uso de uma equação de décimo grau sem resultados existentes para aquele caso Roger quase pirou de excitação. Ele na volta ficou um tempão falando para Melissa que ela devia ser a cientista do MMRL, se possível até mesmo do AMARGA. Mel sentiu inveja dela, mas de qualquer modo, Mel era o braço direito de Roger e sabia de todos planos das marmotas, era muito superior a Clotilde... Pelo menos tinha quase certeza que era.
Quando Roger disse “vamos nos preparar” ela não imaginou a complexidade da preparação. Realmente ela não imaginava que iriam ter que passar pelos túneis das toupeiras para chegar até o chamado “Mercado Negro”. Quem ouve acha que é algo realmente sombrio e obscuro, mas que nada! Os corredores largos eram iluminados com luz fluorescente e tinham placas indicando os locais de compra. Quando você pegava um item das estantes bastava checar o código de barra e o preço aparecia numa telinha de cristal liquido, era realmente incrível.
Enquanto escolhiam armas para se defenderem chegou uma fuinha carregando uma sacola de ovos. Para que diabos eles roubavam ovos tendo tudo aquilo? Resolveu perguntar para um vendedor.
- Hey, posso fazer uma pergunta?
- Além da que já fez?
- Sim. Olha, e reparei que vocês trazem ovos para cá. Porque as fuinhas roubam ovos se têm toda essa tecnologia?
- Como você acha que nos desenvolvemos tanto? Com os ovos!
- Não entendo.
- Roubando ovos eles deixam de existir em abundância, o preço então sobe. Quando está alto, vendemos todos antes dos fazendeiros e o preço cai. Eles vendem seus ovos por uma mixaria antes que estraguem e quando as galinhas botam novos ovos roubamos e repetimos o ciclo.
- Que maldade!
- É a lei da sobrevivência, minha filha! Veja só o que pudemos comprar com o dinheiro arrecadado! Pagamos uma fortuna pras toupeiras cavarem estes corredores luxuosos, compramos tecnologia de ponta, pagamos dragões para simularem erupções e afastarem escavações comprometedoras. Nós controlamos o mundo!
- Não é pra tanto.
- Claro que é! Já comeu algum ovo na sua vida?
- Claro que já!
- Então você tem um microchip instalado no seu corpo. Nós colocamos estes chips não detectáveis nos ovos, quando você ingere o primeiro ele se instala em você, já o segundo é descartado e sai nas suas fezes, mas de forma invisível. Assim, temos um controle das posições de cada ser humano.
- Vocês me dão medo!
- Eu sei – sorriu ele com satisfação – Essa é a graça da história.
- Okay, obrigado.
- Disponha.

Roger havia comprado algumas granadas, papel de parede colorido a prova de radiação, placas de “bem vindo” daquelas de colocar no jardim que amenizam terremotos e outras coisas. Esse mercado negro era realmente estranho, mas depois que começou a conversar com marmotas nada mais parecia estranho.
Incrível era pensar que durante séculos os homens desconheceram a importância desses animais e suas guerras internas. Placas tectônicas, bah! É muito mais fácil admitir que minhocas assassinas causam terremotos.
Saíram pela entrada 367 do túnel, que dava na Inglaterra. Lá estava boa parte do exército do AMARGA, liderados por uma marmota velha e gorda cujo nome era Leonardo. Os artigos anti-radioativos e anti-terremotos foram pela saída 567, que dava no jardim de Mel, e instalados pelas marmotas lá escondidas.
Agora estavam prontos para a batalha, destruiriam a base dos castores, que ficava em um rio perto de Londres. Marcharam então trezentas marmotas e uma humana na direção do rio.
- Roger...
- Diga, Mel.
- Qual é o plano?
- Hm?
- O plano, conte-me.
- Não temos um. Ou melhor, é o plano número 341. Você o estudou a fundo?
- Não muito, mas este é o plano “Gaivotas ao Luar”. O que tem haver?
- Opa, é o 342 a que me refiro.
- Ah bom, o “Gatos andando pra trás”... Ei...
- Diabos, errei de novo. Acho que é o 333, tenho quase certeza.
- “Mate quem puder...”?
- Sim, esse!
- Como assim?
- Saia correndo gritando e mate o máximo de castores que puder.
- Não vou matar ninguém.
- Então fica aqui e não reclama.
- Você não vai me deixar aqui.
- Você que não quer ir.
- Eu quero ir.
- Então vá.
- Mas não quero matar.
- Fique, ora pois!
- Mas... Ah, para com isso!
- Não estou fazendo nada.
- Devemos tirar esses sentimentos ruins de nossos corações, matar não é o correto, não podemos tirar simplesmente a vida de alguém sem mais nem menos. A vida é uma dádiva e além do mais...
- Gente – disse Roger para a tropa – Atacar!
- Hey, peraí! Voltem!
-
Já não havia ninguém por perto. Ali haveria uma chacina, e nada Mel poderia fazer.
 

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