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[L] [Melkor, o inimigo da luz] [Carta Suicida]

Melkor- o inimigo da luz

Senhor de todas as coisas
[Melkor, o inimigo da luz] [Carta Suicida]

Observação: Não vou me matar.

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À minha mãe:

Querida mamãe, estou partindo - É, indo embora - Acho que não volto. Estou fugindo de tudo que está preso aos meus pés; quero voar! É muito peso para eu carregar sozinha.
Mas peso não é destrutível, nada no mundo é destrutível, então deixo parte dele para você. Carregue ou faça como eu: se junte a mim e deixe o peso para outra pessoa carregar. Porque a vida é só isso, carregar e entregar pesos.

Quando foi que eu recebi o primeiro? Ah sim, quando nasci. Recebemos, neste dia, o peso da vida. E é a este peso principalmente que reivindico. Não queria deixar pra ninguém, queria que ele simplesmente fosse para o fundo do mar e tudo acabasse. Mas meu nome está escrito por aí, está nas capas dos meus cadernos, está nas minhas poesias, está nos meus documentos... Eu ainda existo!

Como herança – porque não tenho nada meu – deixo a minha vida, minha existência nesse mundo, para todos vocês. São minha família e agora vão ter que lidar com isso. Não se preocupem, eu carreguei sozinha, vocês podem faze-lo. A não ser que eu tenha recebido um peso maior que todos. Ah, mas vocês não aceitariam isto, aceitariam?
Chega de falar de mim. Vamos falar de você. Vamos falar de como eu vim pro mundo, tudo bem? Há algum tempo comecei a pensar se eu fui planejada, se você queria que eu nascesse. Ou melhor, comecei a pensar se eu fui planejada por ambas as partes, porque se bem te conheço você planejaria sozinha para segurar o papai. Você é insegura e inescrupulosa, eu sei! Será que eu fui uma arma, então? Uma perguntinha, mamãe: Você já me amou?

Não precisa pensar em como se desculpar ou justificar a sua vida perante mim. Eu já não posso ouvir, eu sei que você sabe. Esta carta é transparente. Eu sou transparente. Todos nós somos.
E não pense que não sei como você me despreza! Eu sei exatamente o que você queria que eu fosse, eu sei exatamente quanto lhe decepcionei. Depois de um tempo de atuação o ator perde o tato, mamãe. Eu comecei há muito tempo a ver que você não se interessava pelo que eu falava ou pelo que eu pensava. Eu achava que podia falar pra você tudo que viesse à minha cabeça, você é minha mãe, mas me enganei. Meu porto seguro não era você.

Eu era só uma criança querendo mudar o mundo, mamãe! Porque você não me ouviu nunca? Eu teria te contado sobre meus planos e te pedido conselhos. Talvez neste momento eu não estivesse escrevendo isto; odeio escrever.
Cansei de você. Cansei do seu rosto redondo, da sua voz ridícula, do seu cabelo curto, dos seus dentes amarelos de nicotina. Quero que você morra logo, assim como eu. Não é questão de vingança, a vida é um alívio. Quero te salvar. Te salvar não sei do que.



Ao meu pai:

Oi papai, tudo bem? Eu sei que você sabe, mas vou te contar: quem lhe escreve é sua filha, sua princesinha. Sua princesinha que cresceu. É, sua princesinha que agora abdica à coroa que nunca teve. E não teria, não é mesmo? Mulheres não sobem ao trono nesta monarquia familiar, sobem? Ah, é claro que não! Só queria confirmar. Eu posso ouvir sua resposta de onde quer que eu esteja: negação viaja longe, sabia, papai?
Parecia que eu te amava, quando você começou a ler a carta? Que bom, então te enganei mais uma vez. Eu sempre te engano tão fácil, pobrezinho... Você deve ter se sentido muito feliz quando pensou – por um instante – que eu te amava mais do que amava a mamãe. Será que só eu percebia a sua necessidade de ser melhor do que ela? Espero que não, porque do contrário talvez minha morte não machuque o mundo como deveria. Você perdeu, independente do que você queria ganhar. Você não provou nada, você não ganhou a admiração e o reconhecimento de ninguém, não é mesmo? Então foi em vão! Ah, como isso me deixa feliz!

Ainda não aprendeu? Vou te dizer mais uma coisa, antes que você se sinta feliz novamente: não morro por você! Não morro por ninguém, morro por mim. Morro porque minha vida não é vida, é morte. Nasci pra esse fim!
Eu tinha uma esperança de sucesso e felicidade. Minha adolescência brilhava, parecia ouro. Pela primeira vez eu podia escolher e achar que, escolhesse o que fosse, eu tinha um futuro brilhante pela frente. Estou vendo quão brilhante ele é!
Você já se perguntou porque morri, como morri? Ah não, imagino que você esteja se perguntando no custo da morte! Seria humor negro afirmar que você está pensando em quanto custou todos esses papéis de carta com cheiro de framboesa? Fique calmo, não vou dar despesas, não mais! Não preciso de caixão, você vai ver.

Sabe que eu realmente fico triste por você? É. Você pode ter feito tudo o que fez, mas o caminho que você trilhou é digno de reconhecimento. Eu já te admirei, sabia? É uma pena que todo o potencial que você tinha tenha se esgotado e você tenha enlouquecido. Imagine só a manchete: adolescente pobre morre em acidente em trânsito! Porque você não morreu aquele dia, papai? Me diga!
Agora não sei mais o que escrever. É estranho. Quando pensei em não morrer sozinha eu achei que tinha tantas coisas pra dizer pra vocês que não pensei imaginei que eu ficaria assim, quieta, durante um parágrafo. Não quero uma morte silenciosa, não sou lacônica, quero fazer barulho!

Já perguntei isso para a mamãe e vou perguntar pra você: eu nasci por acaso? Fui fruto de planos conjuntos, de distração ou você não sabe dizer? Se não sabe, preste mais atenção na mulher com quem você se deita. Na próxima vez em que forem fazer amor – vocês fazem? – preste atenção. Se ouvir algum sibilo, corra! Estou te avisando.
Espero que este papel esteja seco quando chegar nas suas mãos porque não quero que você saiba que eu choro; que sou fraca, que sou humana. Ah, acabei de contar, que distraída eu sou! Agora você já sabe.

Não se sinta tão especial, eu não carrego tanto ódio de você. Não sei odiar. Na verdade, você não foi um mau pai. Eu podia dizer que você tirou minha virgindade, que você me bateu ou que não me amou. Mas eu sei que é mentira e não quero mais mentir. Você só nunca esteve aqui, comigo. Em todo seu esforço para nos dar uma vida melhor, papai, você morreu. Pra mim. Mas eu te perdôo e agora me sinto mal por estar te fazendo chorar. Infelizmente, não há retorno nas minhas palavras, odeio editar o que já fiz. Sinto muito.



Ao meu irmão:

Espero que você esteja feliz. Agora sua mesada será dobrada, irmãozinho! Não te faz feliz? Pense então nos meus brinquedos, nas minhas coisas... Na minha cama! Você sempre a quis não foi? Então é tudo seu!
Não, nada vem de graça. Como já disse à mamãe, estou deixando com você um pedaço da minha vida. Tome, estenda suas mãos sujas e pegue antes que lhe escape. Você quer, pobrezinho, sempre gostou de sofrer!

Porque você sempre teve tanta inveja de mim, afinal? Me conte, nem que seja em pensamento, porque morro ignorante! Morro nua, não levo nenhum mistério. Me conte, irmãozinho! Ou vai deixar sua irmãzinha morrer triste? Eu sei que você me ama, acima de tudo. Por isso me odeia. Não doravante, não se sinta frustrado por não conseguir me fazer feliz nem quando não estou mais aqui: eu sempre fui triste.
Podem dizer que eu sou triste porque quero. Que sou complicada. Mas só vejo mais longe que os outros. Me diz, maninho, qual é o sentido da vida? Da sua vida. Casar, ter filhos? Ter dinheiro? Viajar pelo mundo? Porque você não tenta então encontrar o sentido da sua felicidade e não da dos outros? Nunca passou pela sua cabeça que esses estereótipos de felicidade já tem dono? É crime nas leis dos homens pegar o que não é seu sem permissão!

É por isso que morro. Porque descobri que minha vida não tem motivo, não tem sentido. São poucas que têm, não faço parte desse grupo. Minto. O sentido da minha é morrer.
Sou mulher; hoje em dia tenho liberdade. Antigamente, porém, eu não tinha. E não me diga que é tolice, que eu nem nascida era. Eu não tinha liberdade e quero essa não-liberdade de volta. Ela fazia minha vida feliz, me dava algo pelo que lutar. Porque o mundo evoluiu? Funcionava muito bem antes, você tem que concordar.

Eu não tenho remorsos contra você. Mesmo que você tenha tentado me sabotar durante todos dias de nossa existência conjunta e tenha buscado tudo que alcancei, te perdôo. Te perdôo sim. Eu perdôo o mundo todo, na verdade. Não existe crime mal intencionado, todo mundo faz o que acha que é certo. Eu sei que você fez tudo o que fez porque via o sentido da sua vida na minha. Sinto te dizer, mas você perdeu tempo! Há! Agora você sabe porque é infeliz, a minha vida é vazia!
Parece brincadeira, tudo isso, não é? Quando você ver meus olhos brancos fitando o vazio você vai entender que é verdade. Aconteceu. Eu não estou mais aqui. Está na hora de se virar sozinho, boa sorte. Na pior das hipóteses, já andei o caminho para você. A única coisa que você precisa fazer é se juntar a mim. Espero de braços abertos.



Aos meus avós

Desculpem-me por não reservar um parágrafo só para vocês. Acho que vocês entendem, não é? Afinal, não tenho nenhuma grande mensagem para vocês. Vocês é que me ensinaram muita coisa e me ensinarão ainda mais em breve. Perdoem minha sinceridade, mas todos nós sabemos que não tardará para nós nos vermos. Por isso, se alguém me procurar ou precisar me dizer algo importante, me tragam a mensagem! O que mais temo, aqui, é perder o contato com as pessoas. Surpresa: tenho amigos! Vocês nunca acreditaram, não é mesmo?

Porque eu tinha que ser a menina triste pra vocês? Os outros netos eram tão felizes... Ah, tinha que haver alguém triste na família. Isso eu entendo. Só não entendo porque teve que ser eu. Expliquem pra mim por favor. Não, não vão, né? Eu até prevejo a cena: vovô se lamentando enquanto corta salame na mesa para is amigos enquanto vovó sentada no sofá contan a história para as amigas. “Ela era uma menina tão triste. Dizem – eu não sei, é o que dizem – que problema assim vem quando a criança nasce”. Vocês conseguem ser mais previsíveis que essa carta ridícula. Já me arrependo de te-la escrito, acreditam? Falando nisso, vocês sabiam que eu escrevia, não é mesmo? Ou nunca quiseram saber?
Ah. Por favor, tragam o baralho. Eu não sei se terei o que fazer depois de morta. Ou será que tudo acaba? Não me importa, aqui nunca começou, O Fim já é avanço.




Ao mundo:

Acho que preciso ir. Tenho um plano a executar. Se tudo der certo esta carta estará por aí, na internet e nos jornais. Quem sabe nas revistas? Morte é dinheiro! E então todos vocês que me lêem saberão que aqui do outro lado eu estou esperando todos vocês. Venham, venham! Eu morri e quero levar todos comigo! Pareço presunçosa? Não sabem metade do que sei!

Mamãe, não se assuste. Papai, pare de chorar, eu achei que você era homem! Não, irmãozinho, não venha me encontrar. Quem sabe eu não sirva de exemplo pra você: não servi pra mim mas vejo luz enquanto as cortinas se fecham. Talvez um de nós ainda tenha alguma coisa para fazer. Se for eu, sinto muito, não poderei cumprir nada que o destino tenha me reservado. Faça-o por mim, sim?

Agora não sei como terminar tudo isso. Eu comecei, agora preciso de um Fim. Porque um fim? Porque algumas coisas têm que ser de certas maneiras. Não há morte se não há dor para alguém e por isso faço o que faço. Eu quero morrer e só vou morrer quando fizer alguém sentir minha falta. Só morro quando alguém perceber isso.

Porque sei que ninguém ia sentir minha morte, nem mesmo vocês, mamãe e papai. Vocês iam chorar e iam sofrer, sim, mas porque sabem que tem que faze-lo. Alguém disse que é assim, não é? Porém, vocês choram por mim ou por vocês? Sabem a resposta, não é? Quem será que vai chorar por mim? Alguém vai, eu sei que vai. Talvez seja a vizinha. Vão deixa-la chorar antes de vocês mesmos? Ah, que vergonha, papai! Você que chora tão bem vai deixar te passarem a perna?

Chega. Cansei de brincar. Estou pronta. Já contei pra mim mesmo o que eu estou fazendo e todos os porquês. Acho que eu me entendi. É o bastante. Agora percebo que ninguém vai chorar por mim senão eu. Adeus. É meu fim, não seu, então não chore. Até porque algum dia vai acontecer com todos nós. Só cheguei antes. Só isso.
 
:cry:
Que triste, cara! Só acho que você errou um pouco botando essa visão fria e realista da vida num jovem denovo, assim como em Acusê... Aliás, os dois textos se parecem um pouco...
 
Porque eu errei? É a minha visão. É a minha visão dentro da visão da menina do texto O Último Fim. Na verdade não é ela, ou melhor, é ela tanto quanto todos os meninos dos meus contos são o mesmo. Não sei se vocês entendem, mas essa visão existe e é real. Então acho que não tá errada. Mas se você achou triste já me deixa feliz =)
Espero que você tenha refletido também.

E não se parece com o Acusê! Haha, esse texto é um dos meus de que eu mais gosto... Eu nem simpatizo muito com o Acusê. Além disso, um é uma carta suicida e o outro é um conto de natal! =)
 
Melkor disse:
Porque eu errei? É a minha visão. É a minha visão dentro da visão da menina do texto O Último Fim. Na verdade não é ela, ou melhor, é ela tanto quanto todos os meninos dos meus contos são o mesmo. Não sei se vocês entendem, mas essa visão existe e é real. Então acho que não tá errada. Mas se você achou triste já me deixa feliz =)
Espero que você tenha refletido também.

E não se parece com o Acusê! Haha, esse texto é um dos meus de que eu mais gosto... Eu nem simpatizo muito com o Acusê. Além disso, um é uma carta suicida e o outro é um conto de natal! =)
Cara, sabia que você ia se matar!!! :mrgreen:
Tipo, eu acho estranho os protagonistas desse texto e de Acusê serem jovens (pelo menos é o que aponta as descrições) e terem essa visão tão fria, triste e realista da humanidade. Não que eu não tenha as vezes, mas eles parecem tão tristes e irônicos!
Mas tá legal, cara.
 
Nossa... fiquei deprê ao ler. Acho que seriam coisas que eu nunca escreveria... que não fazem parte de certas coisas que guardo dentro de mim.

Mas parabéns, muito bem redigido... claro, simples, pesado.

:kiss:
 
Obrigado, Scarlet. =)

Eu sei que poucas pessoas fariam isso. Mas eu acho que eu faria se não fosse quem eu sou. Quer dizer, eu nunca estive na situação dessa menina. Ela, além de tudo, é totalmente perturbada e vê o mundo com uma visão muito triste. Acho que existem pessoas como ela, anyway. Dá pra perceber o quão egoísta ela é, dá pra ver que ela só quer atenção no fundo. Pelo menos é a mensagem que chegou pra mim quando li. =)

Obrigado pela atenção dos que leram! =)
 
Tah ótimo cara!

Muito bem escrito, as idéias dela são claras, e vc conseguiu passa pro papel exatamente o que a personagem queria.

Parabéns veio.
 
Muito Bom Melkor! Já li vários outros textos seus e cada vez mais vou compreendendo melhor os seus textos, ou o objetivo deles. Achei esse um de seus melhores que li. Existem adolescentes suícidas por aí sim, mas o que mais existe são adolescente depresivos. Apesar de seu texto mostrar um suicída, encaixa, ou melhor, representa perfeitamente aqueles depressivos. Um defeito meu; sempre tive uma certa intolerância com esses tipos. E confesso que no início apesar de gostar do que vc escrevia, lendo os textos te achava muito depressivo. Mas, como disse, vou compreendendo melhor o que você escreve e nos passa a cada texto seu. É difícil querer conhecer a pessoa somente pelo que escreve.
 
O caminho mais fácil pra me compreender é lendo o que eu escrevo. Mas mesmo assim, você se enganou. Eu não sou depressivo! Eu sou super alegre, sério, eu chego a ser bobo. Mas eu gosto de escrever sobre coisas tristes. Só isso. =)

Pode ficar tranquilo, não sou depressivo não. Nem suicida. =)

Mas valeu pelo elogio. ^^
 
bom , qto ao texto, como disse a scarlet, claro, simples e pesado....e muito bom tb......e tipo concerteza no mundo de hj o q mais encontramos sao jovens depressivos, q passam a v o mundo de formas rudes, e q culpam a todos por sua infelicidade.....e como disse o Melkor, esse concerteza e um dos melhores textos ja escritos por vc, pq realmente eu fiquei bem baixo astral qdo o li, parecia q a menina tva escrevendo p mim......foi estranho.......mas resumindo heheh.....ficou bom sim! :mrgreen:
 
Deus essa carta , melkor você tem talento , muito talento . Expressou a tristeza e o egoismo de tal jovem de forma estupenda.
 

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