Lórien
Última General de Nanto
[Lorien] [A Rosa]
No canto da sala estava jogada uma rosa. Cor de rosa, quase sem pétalas,
que se espalhavam ao seu redor como uma memória esquecida de tempos
imemoriais. Confinada à inércia de ser rosa sem ter perfume, de ser triste,
de ser trágica, a trágica rosa que perdeu a beleza pisoteada pelos homens
austeros da Incredulidade.
Desalmada, a rosa. Quieta e fria, descrente, não venceria tal estado
mórbido, não continha mais seiva, não tinha mais a textura suave que tivera
outrora. Era uma rosa morta. No estado latente sepulcral de coisa
abandonada, não chorava mais a rosa, pois suas lágrimas já tinham sido todas
vertidas, e apenas o que lhe restava era um poeta triste para cantá-la, mas
cansado demais para compor versos.
Com a alma vazia, a mente estagnada, o poeta observava o jazigo
incrédulo da flor. E se lembrava de como era bela a sua juventude, como eram
belos os vestidos das jovens que com ele dançavam, deliciando-se ao ouvir os
seus gracejos líricos entoados com a voz embriagada de vinho barato. Aquele
poeta costumava caminhar pelos jardins de sua universidade munido de um
lápis, um bloco de anotações e o desleixo típico de um estudante apaixonado.
Assim, quando se sentia inspirado, sentava-se sob a sombra de uma árvore
qualquer - mas que naquele momento parecia emitir um verde particularmente
brilhante e poético - e sangrava o papel com a ponta do lápis, desenhando
versos em homenagem a qualquer coisa bela que lhe atravessava os olhos.
O que o jovem despreparado e desprendido poeta não sabia, era que as
belezas que ele cantava eram só dele, frutos de uma imaginação pura,
bucólica e pueril - mas principalmente, crente. Por isso, depois de cantar
seus versos e deslumbrar as jovens, ele se encontrava sozinho, pois não
sabia viver em um mundo que não fosse esse de sonhos e crepúsculos
avermelhado; um mundo que não tem um céu azul de primavera imaculada, muito
menos uma jovem de beleza atemporal senhora do amor e da suavidade, não
sabia que o mundo não era feito de sonhos e ele não podia voar e nem viajar
durante eras procurando caminhos escondidos entre as montanhas e horizontes.
Quando se via sozinho, o poeta pensava que seu sonho era errado, e que sua
vida era pobre e desprezível, queria ele queimar todos os seus versos e
acabar com sua existência, para passar a jazer inerte como a rosa no canto
da sala.
Entretanto, ele observava, depois de muita dor e sofrimento causados
pela solidão incompreensível, a flor em seu descanso eterno, e via que
existe mais na vida do que a própria morte, e também há além da vida um
lirismo natural das coisas naturais. Os sonhos são apêndices terríveis
quando se não os controla. Depois disso, o poeta largou a pena, e passou a
cantar com os olhos as verdades provindas do mundo que o cercava, deixando
de lado o seu mundo inventado (inventado sem perceber, como se ele fosse uma
percepção mais que natural da vida - o surrealismo o tomou de tal forma que
ele próprio se distorcia como em uma câmara de espelhos), para procurar
beleza e inspiração nas coisas palpáveis.
Ele as encontrou, mas não se deixou levar por elas como havia se deixado
levar pelos sonhos: sempre se recordava da bela rosa deitada ao chão, morta,
destruída, recordando-se sempre de que nada é eterno, mesmo que seja belo.
Ser iludido pelos conceitos dos sonhos é intenso, pois se tem controle
sobre todos os resultados. Mas causa tensão muito grande por saber que na
realidade nada acontecerá como planejado. Daí nasce o pessimismo, a
insegurança, o Medo. O monstro de faces arroxeadas que emana vapores de
embriaguês.
Medo, medo, medo - livrarei-me eu destes grilhões gélidos e terríveis?
No canto da sala estava jogada uma rosa. Cor de rosa, quase sem pétalas,
que se espalhavam ao seu redor como uma memória esquecida de tempos
imemoriais. Confinada à inércia de ser rosa sem ter perfume, de ser triste,
de ser trágica, a trágica rosa que perdeu a beleza pisoteada pelos homens
austeros da Incredulidade.
Desalmada, a rosa. Quieta e fria, descrente, não venceria tal estado
mórbido, não continha mais seiva, não tinha mais a textura suave que tivera
outrora. Era uma rosa morta. No estado latente sepulcral de coisa
abandonada, não chorava mais a rosa, pois suas lágrimas já tinham sido todas
vertidas, e apenas o que lhe restava era um poeta triste para cantá-la, mas
cansado demais para compor versos.
Com a alma vazia, a mente estagnada, o poeta observava o jazigo
incrédulo da flor. E se lembrava de como era bela a sua juventude, como eram
belos os vestidos das jovens que com ele dançavam, deliciando-se ao ouvir os
seus gracejos líricos entoados com a voz embriagada de vinho barato. Aquele
poeta costumava caminhar pelos jardins de sua universidade munido de um
lápis, um bloco de anotações e o desleixo típico de um estudante apaixonado.
Assim, quando se sentia inspirado, sentava-se sob a sombra de uma árvore
qualquer - mas que naquele momento parecia emitir um verde particularmente
brilhante e poético - e sangrava o papel com a ponta do lápis, desenhando
versos em homenagem a qualquer coisa bela que lhe atravessava os olhos.
O que o jovem despreparado e desprendido poeta não sabia, era que as
belezas que ele cantava eram só dele, frutos de uma imaginação pura,
bucólica e pueril - mas principalmente, crente. Por isso, depois de cantar
seus versos e deslumbrar as jovens, ele se encontrava sozinho, pois não
sabia viver em um mundo que não fosse esse de sonhos e crepúsculos
avermelhado; um mundo que não tem um céu azul de primavera imaculada, muito
menos uma jovem de beleza atemporal senhora do amor e da suavidade, não
sabia que o mundo não era feito de sonhos e ele não podia voar e nem viajar
durante eras procurando caminhos escondidos entre as montanhas e horizontes.
Quando se via sozinho, o poeta pensava que seu sonho era errado, e que sua
vida era pobre e desprezível, queria ele queimar todos os seus versos e
acabar com sua existência, para passar a jazer inerte como a rosa no canto
da sala.
Entretanto, ele observava, depois de muita dor e sofrimento causados
pela solidão incompreensível, a flor em seu descanso eterno, e via que
existe mais na vida do que a própria morte, e também há além da vida um
lirismo natural das coisas naturais. Os sonhos são apêndices terríveis
quando se não os controla. Depois disso, o poeta largou a pena, e passou a
cantar com os olhos as verdades provindas do mundo que o cercava, deixando
de lado o seu mundo inventado (inventado sem perceber, como se ele fosse uma
percepção mais que natural da vida - o surrealismo o tomou de tal forma que
ele próprio se distorcia como em uma câmara de espelhos), para procurar
beleza e inspiração nas coisas palpáveis.
Ele as encontrou, mas não se deixou levar por elas como havia se deixado
levar pelos sonhos: sempre se recordava da bela rosa deitada ao chão, morta,
destruída, recordando-se sempre de que nada é eterno, mesmo que seja belo.
Ser iludido pelos conceitos dos sonhos é intenso, pois se tem controle
sobre todos os resultados. Mas causa tensão muito grande por saber que na
realidade nada acontecerá como planejado. Daí nasce o pessimismo, a
insegurança, o Medo. O monstro de faces arroxeadas que emana vapores de
embriaguês.
Medo, medo, medo - livrarei-me eu destes grilhões gélidos e terríveis?