[Lembas][rapsódia do vestibulando]
Uhn, desafiei-me a escrever sobre algo que não queria. Acho que ficou legal....
Rapsódia do Vestibulando
Luzes, câmera, ação! O despertador toca, filho da mãe. Mas uma ironia cruel do cotidiano que esse maldito aparelinho paraguaio made in China seja o arauto do novo dia. E hoje, da nova vida. Ou não, pois como em todos os dias cruciais, seu final era incerto e angustiante. Não obstante, ela se levanta e se arruma, tentando pescar nos resquícios do sonho mal dormido algum augúrio para o teste. O Teste. Testando seus últimos onze anos de vida... Valeram a pena ou foram privada abaixo? Um arrepio gélido percorre seu estômago. O primeiro de muitos, por certo. Beija seu escalpulário e veste-se com esmero. Até mesmo cuidar da vaidade era uma tentativa desesperada de melhorar seu ego naquele dia. E se não passasse? E se passasse? E se se sentisse sensível (aliteração é uma figura de linguagem onde os sons são repetidos para gerar musicalidade)? E se vomitasse em cima da prova? Pega a bolsa, checa a ponta do lápis, a carga da caneta, o passe de ônibus e sai. É tudo ou nada. É guerra. É o Vestibulaaaar.
"Come as you were...as you are... as I wanted you to be" Nirvana a todo pique pelos fones do diskman. Da janela do ônibus, a cidade até parece a mesma, sem parecer se importar com os tantos futuros que serão definidos hoje. Ele também não se importa. De que adianta ficar nervoso? Qualquer tentativa de planejamento é como implorar para o destino puxar o seu tapete. Então, que se dane. Ele só se lembrou de pagar a inscrição meia hora antes do prazo final, bicho estúpido. Mas pelo menos tinha dado certo. Ele está curioso com a densidade de metaleiros fazendo a prova, e quantos deles serão realmente bangers e quantos seriam nerds e posers disfarçados. No ano passado, tinha dado pra analizar a fauna graças ao atraso no início da prova. Esse ano não seria diferente. No entanto, no ano passado também ele cultivava esperanças, também ele traçava sonhos e planos. A pneumonia de depois do resultado do exame, pega na noite em que ele celebrava seu sucesso no vestibular, acabara com isso. Agora, ele era o vestibulando soro positivo. E daí? De certa maneira significava que ele tinha liberdade total para gabaritar ou zerar as provas. "come as you are, vestibular!". Ele brinca com as rimas, trovador urbano que não deixara de ser.
Multidões se juntando na frente do portão. Gente se amontoando pra conferir as listas das salas. Mas o que importava isso? " A DDP DOS RESISTORES ASSOCIADOS EM PARALELO É CONSTANTE!!!!!" Com os cadernos no colo ele estuda febrilmente. Ele vai passar. Ele tem que passar. Em primeiro, para honrar o nome da família. Para isso os dois anos de cursinho entremeados no Ensino Médio. Por isso ele ainda era o ÚNICO VIRGEM de sua turma. Ele franze o rosto com tal desespero que o óculos desliza até a ponta do nariz. Seu hálito tem a fragrância do vício de cafeína. Por quê ele não podia ser um nissei normal, baladeiro e fanático por animes? Ora, porque seu pai, Yuri Kawasaki, havia sido o PRIMEIRO. Era seu dever, sua honra. Para isso ele praticava kendô com a física, ju jitsu com a matemática e figurava como o estereótipo do japonês neurótico para sua aloprada professora de História, quer carinhosamente o apelidara de Hirohito.
Os portões se abrem. Os caras dos cursinhos fazem um corredor polonês enfiando panfletos, suquinhos, lanchinhos e fichas de fórmulas ao bando de condenados àquele sistema segregador e injusto (maldito Vargas!). Seguindo coincidentemente juntos, a patricinha, o meteleiro e o nissei se dirigem à mesma sala 5A, junto a outras patricinhas, metaleiros, nisseis, cdfs, paraquedistas e "amadurecidos" em busca de novos horizontes. A fauna é diversa sim, mas os elementos que compôe e sua história são sempre os mesmos em diferentes combinações: citosina, guanina, timina e adenina. Estudiosos, vagabundos; ricos, pobres; desesperados, non chalants... todo mundo com garrafinha de água mineral, barra de cereal e estoque de bombons como seu parco arsenal contra uma prova de fogo. Silêncio. O fiscal dá as instruções. O metaleiro percorre o olho pela sala, divisando quem alí se sairá bem. A patricinha brinca com o cabelo, lembrando de (puxa!) rezar um Santo Anjo. O nissei repassa fórmulas "compostos aromáticos possuem um anel em seu interior!!!". As provas circulam lentas, como relutantes oráculos do futuro deles, todos crianças entre 16 e 55 anos, apavorados com mais um descarrego do mundo cão.
- Podem começar!!!! - e subitamente o mundo acaba num papel.
Uhn, desafiei-me a escrever sobre algo que não queria. Acho que ficou legal....
Rapsódia do Vestibulando
Luzes, câmera, ação! O despertador toca, filho da mãe. Mas uma ironia cruel do cotidiano que esse maldito aparelinho paraguaio made in China seja o arauto do novo dia. E hoje, da nova vida. Ou não, pois como em todos os dias cruciais, seu final era incerto e angustiante. Não obstante, ela se levanta e se arruma, tentando pescar nos resquícios do sonho mal dormido algum augúrio para o teste. O Teste. Testando seus últimos onze anos de vida... Valeram a pena ou foram privada abaixo? Um arrepio gélido percorre seu estômago. O primeiro de muitos, por certo. Beija seu escalpulário e veste-se com esmero. Até mesmo cuidar da vaidade era uma tentativa desesperada de melhorar seu ego naquele dia. E se não passasse? E se passasse? E se se sentisse sensível (aliteração é uma figura de linguagem onde os sons são repetidos para gerar musicalidade)? E se vomitasse em cima da prova? Pega a bolsa, checa a ponta do lápis, a carga da caneta, o passe de ônibus e sai. É tudo ou nada. É guerra. É o Vestibulaaaar.
"Come as you were...as you are... as I wanted you to be" Nirvana a todo pique pelos fones do diskman. Da janela do ônibus, a cidade até parece a mesma, sem parecer se importar com os tantos futuros que serão definidos hoje. Ele também não se importa. De que adianta ficar nervoso? Qualquer tentativa de planejamento é como implorar para o destino puxar o seu tapete. Então, que se dane. Ele só se lembrou de pagar a inscrição meia hora antes do prazo final, bicho estúpido. Mas pelo menos tinha dado certo. Ele está curioso com a densidade de metaleiros fazendo a prova, e quantos deles serão realmente bangers e quantos seriam nerds e posers disfarçados. No ano passado, tinha dado pra analizar a fauna graças ao atraso no início da prova. Esse ano não seria diferente. No entanto, no ano passado também ele cultivava esperanças, também ele traçava sonhos e planos. A pneumonia de depois do resultado do exame, pega na noite em que ele celebrava seu sucesso no vestibular, acabara com isso. Agora, ele era o vestibulando soro positivo. E daí? De certa maneira significava que ele tinha liberdade total para gabaritar ou zerar as provas. "come as you are, vestibular!". Ele brinca com as rimas, trovador urbano que não deixara de ser.
Multidões se juntando na frente do portão. Gente se amontoando pra conferir as listas das salas. Mas o que importava isso? " A DDP DOS RESISTORES ASSOCIADOS EM PARALELO É CONSTANTE!!!!!" Com os cadernos no colo ele estuda febrilmente. Ele vai passar. Ele tem que passar. Em primeiro, para honrar o nome da família. Para isso os dois anos de cursinho entremeados no Ensino Médio. Por isso ele ainda era o ÚNICO VIRGEM de sua turma. Ele franze o rosto com tal desespero que o óculos desliza até a ponta do nariz. Seu hálito tem a fragrância do vício de cafeína. Por quê ele não podia ser um nissei normal, baladeiro e fanático por animes? Ora, porque seu pai, Yuri Kawasaki, havia sido o PRIMEIRO. Era seu dever, sua honra. Para isso ele praticava kendô com a física, ju jitsu com a matemática e figurava como o estereótipo do japonês neurótico para sua aloprada professora de História, quer carinhosamente o apelidara de Hirohito.
Os portões se abrem. Os caras dos cursinhos fazem um corredor polonês enfiando panfletos, suquinhos, lanchinhos e fichas de fórmulas ao bando de condenados àquele sistema segregador e injusto (maldito Vargas!). Seguindo coincidentemente juntos, a patricinha, o meteleiro e o nissei se dirigem à mesma sala 5A, junto a outras patricinhas, metaleiros, nisseis, cdfs, paraquedistas e "amadurecidos" em busca de novos horizontes. A fauna é diversa sim, mas os elementos que compôe e sua história são sempre os mesmos em diferentes combinações: citosina, guanina, timina e adenina. Estudiosos, vagabundos; ricos, pobres; desesperados, non chalants... todo mundo com garrafinha de água mineral, barra de cereal e estoque de bombons como seu parco arsenal contra uma prova de fogo. Silêncio. O fiscal dá as instruções. O metaleiro percorre o olho pela sala, divisando quem alí se sairá bem. A patricinha brinca com o cabelo, lembrando de (puxa!) rezar um Santo Anjo. O nissei repassa fórmulas "compostos aromáticos possuem um anel em seu interior!!!". As provas circulam lentas, como relutantes oráculos do futuro deles, todos crianças entre 16 e 55 anos, apavorados com mais um descarrego do mundo cão.
- Podem começar!!!! - e subitamente o mundo acaba num papel.