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[L] [Lembas & FSM][Simples assim]

Lembas

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[Lembas & FSM][Simples assim]

Para dar o ar da graça aqui...

Estive no Fórum Social Mundial em Porto Alegre onde aconteceu uma oficina de contadores de histórias. Como única representante tolkieniana no evento, eu me levantei, é lógico, falei sobre o Conselho Branco e a Valinor e contei a história de Beren e Luthien (a segunda melhor depois da história dos filhos de Finwe). Lá foi contada uma história muito divertida, que eu escrevo aqui agora.
PS: Detesto Kafka

Simples Assim

Cumpadre Zeca estava deitado em sua cama, fazendo sua sesta depois daquela buchada de bode. A fazenda ia bem, embora a seca começasse a ameaçar o sossego daquela gente boa, do interior de Pernambuco. Já tinha gente fazendo simpatia e despacho pro santo fazer chover, mas o cumpadre sabia que seu cargo na prefeitura (era cunhado do prefeito) ia garantir a sua rendinha. Por isso, Cumpadre Zeca ressonava, feliz consigo mesmo, com um galinho mastigado no canto da boca, como bom matuto que era.

Mas ele sonhava um sonho cada vez mais estranho... sonhava que lhe cresciam as orelhas, como nos puxões da sua mãe quando era um moleque arteiro. E cresciam sem cessar, e o sonho ia lhe dando uma gastura, uma aflição, que ele acabou por acordar.

- Diacho! - praguejou, coçando seu pouco cabelo.
Nesse momento ele percebeu que de fato sua orelha estava maior. E maior. E já lhe tocava os ombros. E descia pela sua camisa e começava a lhe cair no colo. E o pobre Cumpadre Zeca ficou desesperado, deu um nó nas orelhas como se fosse uma gravata, pegou sua charrete e foi lá pra casa do doutor que por certo daria um jeito naquela embrulhada toda.

Mas o doutor não podia fazer nada, e conforme passavam os dias as orelhas do Cumpadre Zeca já se arrastavam no chão, esfolando-se pelo caminho, pois o chão estava cada vez mais seco e poerento pela falta de chuva.

Por fim decidiram cortar as orelhas do pobre diabo. Apesar de doer muito ele concordou, tal era o seu aperreio. Mas a lasquera da orelha continuava a crescer de sua cabeça, e o mais que cortasse, mais crescia. E já não se sabia o que fazer com tanta orelha, ainda mais porque a população inteira tinha se mobilizado pra recolher os pedaços, quase esquecendo a fome que ia chegando conforme a plantação esturricava com o sol a pino. Até que alguém teve uma idéia.

- Por que não comer essa carne de orelha? A gente se livra dela e não passa mais fome.

Assim, antes de qualquer programa assistencialista do governo chegar naquelas paradas, foi organizado um Fome Zero de orelha. E todos se alimentavam da orelha do Cumpadre Zeca, que se mostrou muito gostosa e nutritiva, e todo mundo se sentia de bucho forrado.

Mas a orelha continuava crescendo, e a população não dava conta de comer tanta carne de orelha, mesmo com almoço e janta, e todas as receitas de orelha ensopada, frita, caldo de orelha, orelha empanada, já estavam deixando a população enjoada. Então eles começaram a exportar pra outros municípios e depois outros estados, e logo o Brasil inteiro se alimentava da orelha do Cumpadre Zeca, que, coitado, já estava preso numa máquina automatizada pra lhe cortar regularmente as orelhas. Assim o progresso chegou no sertão de Pernambuco.

Mas o mercado interno brasileiro ficou pequeno pra tanta oferta de orelha, mesmo com o Ministério da Integração Nacional estocando orelha para os próximos cem anos. Então a orelha do Cumpadre Zeca foi exportada para os quatro cantos do mundo e se acabou a fome e a miséria. Mas a orelha crecia mais e mais, e mesmo todos os países cadastrados na ONU, mais os cadastrados na FIFA, não conseguiam dar conta de consumir tanta carne de orelha. E as autoridades começaram a ficar desesperadas, pois parecia que o mundo ia ser soterrado por orelhas E já não se sabia mais o que fazer, pensaram em todas as soluções possíveis.

Até que um dia uma criança que por alí passava com um churrasquinho de gato de orelha puxa a barra da farda de um policial e pergunta:

- Ué, por que não matam o dono da orelha então?[/b]
 

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