Título: Mago, O caminho
Autor: Mateus Cavanholi
Gênero: fantasia medieval
Cap 1 - O Achado
Ainda não havia amanhecido quando o jovem rapaz levantou da cama. Na noite anterior, antes de ir dormir, seu pai lhe mandara acordar cedo e ir buscar lenha, o tempo era de chuva, e eles tinham pouca guardada para usar na forja.
Seu pai era o único ferreiro da pequena vila montanhosa, quando jovem, ele fora para a grande cidade aos pés da montanha estudar forja. Depois de alguns anos, ele voltara para sua terra natal e passara a fazer armas de excelente qualidades para a milícia. Porém, com o tempo os ataques dos goblins, criaturas humanóides de aparência horrenda e de coração malígno, pararam e a milícia perdeu sua função.
As lanças viraram arpões na pesca do pequeno lago perto da vila, os escudos tornaram-se bandejas assim como os elmos viraram vasos para plantas que raramente floresciam, e as espadas acabaram perdidas em algum armário escuro.
Erik nunca vira um soldado da milícia trajado para combate, tão pouco vira um goblin, mas achava que sabia indentificar um pelas histórias que seu avô lhe contava quando ainda era vivo.
Ele tomou o pobre café da manhã rapidamente, tendo apenas algumas fatias de pão seco e um copo de água para ajudar a engolir. Assim que terminou, ele colocou mais algumas fatias junto com pedaco também seco de carne de bode e um cantil com água numa sacola de couro.
Passou na ferraria, pegou alguns rolos curtos de corda que iria precisar para amarrar a madeira que ia pegar assim como uma pequena machadinha de lenha para caso de necessidade.
Logo que saiu na rua, sentiu nos ossos o frio da noite de inverno, o grosso e surrado casaco de lã mal o protegia das pontadas de gelo do vento. O céu estava limpo e com poucas estrelas, de acordo com seu pai, teriam uma manha de sol com chuva vindo logo após o almoço. Em geral, seu pai acertava as previsões.
Ele foi em direção ao sul, para o centro da vila, onde se localiza o Salão Comunal. Seu avô costumava dizer, que nos tempos de prosperidade da vila, durante o verão faziam grandes festas nele, e também armazenavam comida para o inverno quando chegava a hora. E em algumas ocasiões, se reunia toda a vila entre suas paredes para discutir sobre assuntos importantes que o mestre não podia decidir sozinho. Do Salão, passou pela frente da velha taverna, "O Belo Goblin", disse pra si mesmo. Ele sabia ler, com grande dificuldade, e conhecia todas as placas da vila.
Não havia luz dentro da taverna, nas noites de inverno, nem os beberrões costumeiros ousavam ficar fora de suas casas.
Conforme subia o caminho a sudeste do vilarejo, o vento ia ficando mais forte. Logo acima da trilha, ficava o caminho que levava para o abandonado quartel da milícia, mas não era por aquele caminho que Erik deveria proseguir, mas sim em direcão a Floresta Morta, como chamavam os aldeões o bosque de árvores que já não floresciam mais.
Da trilha que subia pelas rochas Erik chegou a um trecho de terreno aberto, alí o vento era mais forte e o frio mais intenso. Não haviam trilhas naquela área, mas o bosque seco era facilmente visível a frente. O dia já estava clareando, e ele podia ver o céu azul, limpo, sem sinal de que iria chuver. Mas ele confiava no que seu pai lhe falara, e apertou o passo em direcão as árvores sem vida.
Desde que tem memória, o bosque era daquele jeito, morto. Nenhuma folha brotava na primavera, nenhum pássaro cantava no verão naquele lugar. Segundo seu avô, o mago tentou fazer algum feitiço nas árvores, que saiu totalmente errado e as matou todas, porém deu a elas uma resistência que podia partir em dois o melhor dos machados. Essa parte da história podia ser facilmente confirmada batendo com algum objeto metálico em seus galhos nús, um som como se tivesse atingido uma pedra era ouvido, e se batesse com forca seu braco tremeria e você deixaria cair o que quer que estivesse carregando.
Conforme ia andando pela trilha da floresta, preservada porque nada mais crescia ali, as núvens comecaram a preencher o céu, imensas e brancas a princípio. "Acho que o sol não vai mostrar sua cara hoje." Disse pra si mesmo tentando esquecer o frio. As árvores em volta de nada ajudavam contra o vento.
Se as árvores de nada ajudavam contra o vento, ficou ainda pior quando ele saiu do bosque descendo em direção a plataforma dos bodes. Um larga área verde totalmente aberta ao lado sul do monte.
A trilha ali era perigosa, não mais usada por humanos com frequência a décadas. Enquanto descia por ela, Erik observava a imensidão verde que se estendia apartir dos pés da montanha. Quando olhou para o lado, para a plataforma dos bodes, além dos animais que alí se encontravam, havia no meio deles um homem todo coberto por seu manto cinza.
Ele já tinha sido visto por Erik uma ou duas vezes na vila, sempre perto da taverna, sempre sozinho.
Mal Erik terminou a descida para a plataforma e começava a contornar uma grande pedra para poder chegar ao outro lado, os bodes começaram a se mover, passando a sua frente, prensando-o contra a pedra. Levou algum tempo para que todos eles passassem, não apenas bodes, mas carneiros, cabras e ovelhas também, e o velho acompanhando vagarosamente todos eles, nenhum caiu montanha abaixo, nenhum subiu para o lado errado do monte.
Com cuidado Erik prosseguiu seu caminho trilha acima. Não demorou e o vento passou a ficar mais fraco. Ele estava agora protegido pela própria montanha. Porém o céu ficava mais escuro, e em pouco tempo ele não enchergava mais que 5 metros a sua frente. O barulho da chuva pesada vindo podia ser ouvido acima do assovio do vento.
Ele apertou o passo, chegando a correr nos últimos instantes antes da chuva lhe atingir. O esforço em ter levantado sedo tinha sido em vão agora. Não haveria mais boa madeira para ser recolhida, apenas madeira molhada, que de nada serviria para ele.
Correndo ele se manteve concentrado na tilha logo a seus pés, tanto que não reparou quando passou direto do ponto que ela se bifurcava e acabou indo direto montanha acima. Ele não viu também o bosque que estava a sua direita, nem a grande casa que se aproximava a sua frente até que já estivesse na soleira da sua porta.
Ele nunca tinha ido alí, mas conhecia histórias sobre aquela casa a muito desabitada. Segundo todos os moradores mais velhos da vila, era a casa em que morava o mago antigamente. Sem pensar muito, querendo apenas se proteger do vendo e da chuva, Erik virou a macaneta da porta que estava aberta e entrou, fechando a porta atrás de si.
Demorou algum tempo para que ele se acostumace com a escuridão dentro da casa, mas ainda assim alí ele enchergava mais do que se estivesse na chuva. Num dos cantos do pequeno cômodo, havia uma velha cadeira de madeira, ainda em bom estado, uma pequena mesinha ao seu lado com livro grosso e pesado sobre ela, e também uma antiga lanterna ao lado do livro.
Ele caminhou lentamente até a cadeira empoeirada e se sentou nela, mas não antes sem tirar o grande casaco todo encharcado que estava usando, deixando-o no chão, ao lado da cadeira.
Colocou os pés sobre a cadeira e abraçou seus joelhos. Ele estava cansado, pois não era de seu costume correr tão rápido por tanto tempo, molhado e tremendo de frio, mesmo assim acabaou dormindo enquanto os trovões roncavam do lado de fora.
Quando acordou o silêncio era completo, não havia mais sinal de chuva e a luminosidade dentro da casa havia melhorado. "O céu deve estar limpo lá fora." Ficou pensando enquanto se levantava da cadeira e dava mais uma olhada em volta.
Além do que ele havia visto quando entrou desesperadamente na casa, havia também, na parede oposta uma grande pintura, manchada e empoeirada de forma que ele não conseguia indentificar mais do que uma forma vagamente humanoide dentro dela. "Deve ser o tal mago." Disse pra sí mesmo. Fora isso, não havia mais o que se ver naquele cômodo. "Acho que vou olhar por aí e ver se acho alguma coisa que me sirva como lenha." Foi o que disse. "Ao menos não volto de mãos vazias."
Olhou mais uma vez para os móveis daquela sala e deu uma examinada no livro. Pegou-o sem abrí-lo. Era de fato pesado. Por um momento lembrou de quando seu falecido avô lhe ensinava a ler e a escrever e resolveu levar o livro consigo, guardando-o na mochila junto com a corda, os pães secos e o pedaço de carne também seco.
"Cof-cof." Ouviu alguém tossir quando colocou a mochila por sobre seus ombros e se preparava para entrar na próxima sala. O som parecia vir do lado de fora e, por um tempo, não deu um passo se quer. "Cof-cof-cof." Ouviu novamente, havia alguém fora da casa e estava bem próximo da porta. Sem pensar direito saiu correndo para a outra sala, esbarrando nas caideiras de uma grande mesa de jantar e caindo junto com elas, quebrando algumas. Rapidamente se levantou e foi em direcão a primeira porta que viu, do lado oposto da sala de jantar, que era onde Erik estava naquele momento.
Ele passou correndo pela porta a fechando sonoramente em seguida. Apenas esperava que quem quer que fosse não o tivesse visto. Talves fosse o velho dos bodes, que a uma mosca sequer fazia mal, mas pouco a pouco a idéia de que o mago não estivesse morto tomou espaco em sua cabeça e ele passou a ficar horrorizado. Alí naquela casa abandonada era fácil pensar em magos malígnos comandando mortos-vivos para atacar aqueles que ousassem entrar em seus domínios.
Após algum tempo recuperando o fôlego, Erik deu uma olhada em volta. O que viu não ajudou em nada no seu medo crescente do antigo mago. A sala estava quase que totalmente queimada do lado de dentro. Pilhas e mais pilhas de madeira queimada e cinzas cobriam o centro da sala e as paredes. Não havia mais cortinas nas janelas quebradas. As únicas coisas inteiras alí eram a porta por onde havia entrado e uma outra do outro lado da sala.
Por algum tempo ficou debatendo com sí se seria seguro sair dalí ou não. Como não ouvira mais sons vindo de lugar algum, acabou decidindo que era melhor se arriscar e talvez sair daquela casa do que esperar anciosamente por algo que talves viesse, talves não.
Com cuidado, e mesmo assim fazendo muito barulho, Erik foi em direcão a outra porta. Através das janelas podia ver que ainda era dia. "Talves eu chegue em casa antes do anoitecer." Foi o que ficou pensando constantemente enquanto caminhava para evitar pensar no velho mago.
A porta abriu com muito barulho, e se ouvesse alguém dentro da casa certamente saberia onde Erik se encontrava agora.
O que viu do outro lado da porta o deixou desnorteado. Uma cama numa das paredes, várias mesas e armários ao longo das outras, nada quebrado, nada queimado, apenas cobertos por uma densa camanada de poeira.
Talvez, se vasculhasse o quarto, achasse algo de interessante, algum objeto mágico valioso. Quem sabe conseguisse algumas peças de bronze, ou até de prata por uma bola de cristal ou varinha mágica.
Mas ele não encontrou nada disso alí. Nem se deu ao trabalho de procurar quando viu mais uma porta perto da cama. Pensando apenas em sair dalí ele se dirigiu rapidamente para a porta, abriu-a sem se importar com o rangido e acabou se encontrando numa escada de pedra, protegida ao lado e acima como se fosse um túnel. Porém escada acima, mais ou menos na metade do caminho, a luz do dia entrava por uma abertura na parede.
Um resmungo pelas costas de Erik o fez esquecer toda a precalção e correr em direção a passagem. Naquele ponto, a escada também estava quebrada, e seria impossível continuar até o topo. Sem parar para verificar a altura ele pulou da passagem, errando por pouco as pedras que se amontoavam abaixo e ao lado da escada. Rapidamente ele contornou a casa e chegou até a porta de entrada, de onde seguiu caminho pela trilha que passava ao lado do bosque.
Quando chegou de volta no ponto que descia para a plataforma dos bodes Erik parou para descansar, olhou em volta e como não viu nem ouviu nenhum sinal de estar sendo seguido resolveu sentar e comer o que havia trazido consigo.
O pão estava meio úmido por causa da chuva que havia pego, e com isso estava horrível, já a carne, apesar de já não ter mais gosto nenhum, não estava mais seca, e foi um pouco mais fácil de engolir.
No final ele acabou comendo tudo e tomado toda a água que tinha trazido. Quando terminou, o sol já estava quase mergulhando pelas montanhas do outro lado da vila, apenas algumas núvens avermelhadas pelo sol baixo restavam no céu, nenhum sinal de que havia chovido, a não ser pela lama e pedras molhadas no chão.
E lama foi o que Erik encontrou quando chegou na plataforma dos bodes, a bota afundava facilmente, tornando difícil andar por alí. Mas com calma ele foi indo, passo a passo, até chegar na trilha de subida para a floresta morta.
Alí ele encontrou mais dificuldade ainda, pois as pedras lisas molhadas escorregavam sob seu pé coberto de lama. E por várias vezes ele quase caiu, rolando trilha abaixo, sempre recuperando o equilíbrio no último instante.
A caminhada pelo bosque seco foi mais tranquila, tempestade alguma tinha o poder de mudar aquela área, nem as árvores, nem a terra debaixo delas. Foi olhando em direcão a passagem na montanha ao norte que ele viu, ou ao menos pensou ter visto, alguma coisa se mover, era pequena, e se movia sorrateiramente, mas como logo desapareceu ele não deu importância e continuou seguindo seu caminho para casa. Apesar disso, manteve sua mão sobre a machadinha que estava carregando.
Não havia ninguém na rua quando ele chegou na vila, e o vento começava a soprar frio novamente. O que era pior para Erik que não estava totalmente seco. Não se demorou na rua e foi direto para casa. Sua mãe estava preocupada, pois a tempestade havia caído muito antes do que se era esperado. Ela rapidamente esquentou uma sopa e lhe trouxe roupas quentes e secas, que ele não tardou em vestir.
Enquanto estava sentado na cozinha, após ter comido um pouco, seu pai chegou, da ferraria que era anexa a casa e perguntou se ele tinha conseguido alguma coisa. "Vamos ter dificuldade neste inverno se não conseguirmos mais lenha." Disse ele quando Erik terminou de contar o que havia acontecido, como tinha pego chuva e ido parar na velha casa, e de como havia dormido lá. Mas obviamente não contou sobre o livro ou sobre ter ouvido alguém mais na casa, nem sobre o que achou ter visto na passagem acima nas montanhas.
A noite avançou e uma chuva calma começou a cair sobre as montanhas. Logo Erik estava deitado em seu quarto sob uma coberta de peles quentes. A lanterna ainda estava acesa e ele olhava com curiosidade o livro. A fraca luz o impedia de ver detalhadamente como era a sua capa. "Talvez amanhã eu de uma olhada em você!" Disse em voz baixa, e então colocou o livro perto da cama, apagando a lanterna para poder dormir.
<nota do autor>
<a história se passa em Forgotten Realms, numa vila completamente esquecida nas montanhas ao norte de Haruaa>
<mais partes podem ser vistas em http://grimoirium.wordpress.com, porém eu irei postar semanalmente um capítulo aqui nesse forum>
<a história que está no meu blog, apesar de ser mais avancada (ligeiramente apenas) possui varios erros e pode sofrer leves modificoes quando for postada aqui>
<exístem outras histórias no blog também>
Autor: Mateus Cavanholi
Gênero: fantasia medieval
Cap 1 - O Achado
Ainda não havia amanhecido quando o jovem rapaz levantou da cama. Na noite anterior, antes de ir dormir, seu pai lhe mandara acordar cedo e ir buscar lenha, o tempo era de chuva, e eles tinham pouca guardada para usar na forja.
Seu pai era o único ferreiro da pequena vila montanhosa, quando jovem, ele fora para a grande cidade aos pés da montanha estudar forja. Depois de alguns anos, ele voltara para sua terra natal e passara a fazer armas de excelente qualidades para a milícia. Porém, com o tempo os ataques dos goblins, criaturas humanóides de aparência horrenda e de coração malígno, pararam e a milícia perdeu sua função.
As lanças viraram arpões na pesca do pequeno lago perto da vila, os escudos tornaram-se bandejas assim como os elmos viraram vasos para plantas que raramente floresciam, e as espadas acabaram perdidas em algum armário escuro.
Erik nunca vira um soldado da milícia trajado para combate, tão pouco vira um goblin, mas achava que sabia indentificar um pelas histórias que seu avô lhe contava quando ainda era vivo.
Ele tomou o pobre café da manhã rapidamente, tendo apenas algumas fatias de pão seco e um copo de água para ajudar a engolir. Assim que terminou, ele colocou mais algumas fatias junto com pedaco também seco de carne de bode e um cantil com água numa sacola de couro.
Passou na ferraria, pegou alguns rolos curtos de corda que iria precisar para amarrar a madeira que ia pegar assim como uma pequena machadinha de lenha para caso de necessidade.
Logo que saiu na rua, sentiu nos ossos o frio da noite de inverno, o grosso e surrado casaco de lã mal o protegia das pontadas de gelo do vento. O céu estava limpo e com poucas estrelas, de acordo com seu pai, teriam uma manha de sol com chuva vindo logo após o almoço. Em geral, seu pai acertava as previsões.
Ele foi em direção ao sul, para o centro da vila, onde se localiza o Salão Comunal. Seu avô costumava dizer, que nos tempos de prosperidade da vila, durante o verão faziam grandes festas nele, e também armazenavam comida para o inverno quando chegava a hora. E em algumas ocasiões, se reunia toda a vila entre suas paredes para discutir sobre assuntos importantes que o mestre não podia decidir sozinho. Do Salão, passou pela frente da velha taverna, "O Belo Goblin", disse pra si mesmo. Ele sabia ler, com grande dificuldade, e conhecia todas as placas da vila.
Não havia luz dentro da taverna, nas noites de inverno, nem os beberrões costumeiros ousavam ficar fora de suas casas.
Conforme subia o caminho a sudeste do vilarejo, o vento ia ficando mais forte. Logo acima da trilha, ficava o caminho que levava para o abandonado quartel da milícia, mas não era por aquele caminho que Erik deveria proseguir, mas sim em direcão a Floresta Morta, como chamavam os aldeões o bosque de árvores que já não floresciam mais.
Da trilha que subia pelas rochas Erik chegou a um trecho de terreno aberto, alí o vento era mais forte e o frio mais intenso. Não haviam trilhas naquela área, mas o bosque seco era facilmente visível a frente. O dia já estava clareando, e ele podia ver o céu azul, limpo, sem sinal de que iria chuver. Mas ele confiava no que seu pai lhe falara, e apertou o passo em direcão as árvores sem vida.
Desde que tem memória, o bosque era daquele jeito, morto. Nenhuma folha brotava na primavera, nenhum pássaro cantava no verão naquele lugar. Segundo seu avô, o mago tentou fazer algum feitiço nas árvores, que saiu totalmente errado e as matou todas, porém deu a elas uma resistência que podia partir em dois o melhor dos machados. Essa parte da história podia ser facilmente confirmada batendo com algum objeto metálico em seus galhos nús, um som como se tivesse atingido uma pedra era ouvido, e se batesse com forca seu braco tremeria e você deixaria cair o que quer que estivesse carregando.
Conforme ia andando pela trilha da floresta, preservada porque nada mais crescia ali, as núvens comecaram a preencher o céu, imensas e brancas a princípio. "Acho que o sol não vai mostrar sua cara hoje." Disse pra si mesmo tentando esquecer o frio. As árvores em volta de nada ajudavam contra o vento.
Se as árvores de nada ajudavam contra o vento, ficou ainda pior quando ele saiu do bosque descendo em direção a plataforma dos bodes. Um larga área verde totalmente aberta ao lado sul do monte.
A trilha ali era perigosa, não mais usada por humanos com frequência a décadas. Enquanto descia por ela, Erik observava a imensidão verde que se estendia apartir dos pés da montanha. Quando olhou para o lado, para a plataforma dos bodes, além dos animais que alí se encontravam, havia no meio deles um homem todo coberto por seu manto cinza.
Ele já tinha sido visto por Erik uma ou duas vezes na vila, sempre perto da taverna, sempre sozinho.
Mal Erik terminou a descida para a plataforma e começava a contornar uma grande pedra para poder chegar ao outro lado, os bodes começaram a se mover, passando a sua frente, prensando-o contra a pedra. Levou algum tempo para que todos eles passassem, não apenas bodes, mas carneiros, cabras e ovelhas também, e o velho acompanhando vagarosamente todos eles, nenhum caiu montanha abaixo, nenhum subiu para o lado errado do monte.
Com cuidado Erik prosseguiu seu caminho trilha acima. Não demorou e o vento passou a ficar mais fraco. Ele estava agora protegido pela própria montanha. Porém o céu ficava mais escuro, e em pouco tempo ele não enchergava mais que 5 metros a sua frente. O barulho da chuva pesada vindo podia ser ouvido acima do assovio do vento.
Ele apertou o passo, chegando a correr nos últimos instantes antes da chuva lhe atingir. O esforço em ter levantado sedo tinha sido em vão agora. Não haveria mais boa madeira para ser recolhida, apenas madeira molhada, que de nada serviria para ele.
Correndo ele se manteve concentrado na tilha logo a seus pés, tanto que não reparou quando passou direto do ponto que ela se bifurcava e acabou indo direto montanha acima. Ele não viu também o bosque que estava a sua direita, nem a grande casa que se aproximava a sua frente até que já estivesse na soleira da sua porta.
Ele nunca tinha ido alí, mas conhecia histórias sobre aquela casa a muito desabitada. Segundo todos os moradores mais velhos da vila, era a casa em que morava o mago antigamente. Sem pensar muito, querendo apenas se proteger do vendo e da chuva, Erik virou a macaneta da porta que estava aberta e entrou, fechando a porta atrás de si.
Demorou algum tempo para que ele se acostumace com a escuridão dentro da casa, mas ainda assim alí ele enchergava mais do que se estivesse na chuva. Num dos cantos do pequeno cômodo, havia uma velha cadeira de madeira, ainda em bom estado, uma pequena mesinha ao seu lado com livro grosso e pesado sobre ela, e também uma antiga lanterna ao lado do livro.
Ele caminhou lentamente até a cadeira empoeirada e se sentou nela, mas não antes sem tirar o grande casaco todo encharcado que estava usando, deixando-o no chão, ao lado da cadeira.
Colocou os pés sobre a cadeira e abraçou seus joelhos. Ele estava cansado, pois não era de seu costume correr tão rápido por tanto tempo, molhado e tremendo de frio, mesmo assim acabaou dormindo enquanto os trovões roncavam do lado de fora.
Quando acordou o silêncio era completo, não havia mais sinal de chuva e a luminosidade dentro da casa havia melhorado. "O céu deve estar limpo lá fora." Ficou pensando enquanto se levantava da cadeira e dava mais uma olhada em volta.
Além do que ele havia visto quando entrou desesperadamente na casa, havia também, na parede oposta uma grande pintura, manchada e empoeirada de forma que ele não conseguia indentificar mais do que uma forma vagamente humanoide dentro dela. "Deve ser o tal mago." Disse pra sí mesmo. Fora isso, não havia mais o que se ver naquele cômodo. "Acho que vou olhar por aí e ver se acho alguma coisa que me sirva como lenha." Foi o que disse. "Ao menos não volto de mãos vazias."
Olhou mais uma vez para os móveis daquela sala e deu uma examinada no livro. Pegou-o sem abrí-lo. Era de fato pesado. Por um momento lembrou de quando seu falecido avô lhe ensinava a ler e a escrever e resolveu levar o livro consigo, guardando-o na mochila junto com a corda, os pães secos e o pedaço de carne também seco.
"Cof-cof." Ouviu alguém tossir quando colocou a mochila por sobre seus ombros e se preparava para entrar na próxima sala. O som parecia vir do lado de fora e, por um tempo, não deu um passo se quer. "Cof-cof-cof." Ouviu novamente, havia alguém fora da casa e estava bem próximo da porta. Sem pensar direito saiu correndo para a outra sala, esbarrando nas caideiras de uma grande mesa de jantar e caindo junto com elas, quebrando algumas. Rapidamente se levantou e foi em direcão a primeira porta que viu, do lado oposto da sala de jantar, que era onde Erik estava naquele momento.
Ele passou correndo pela porta a fechando sonoramente em seguida. Apenas esperava que quem quer que fosse não o tivesse visto. Talves fosse o velho dos bodes, que a uma mosca sequer fazia mal, mas pouco a pouco a idéia de que o mago não estivesse morto tomou espaco em sua cabeça e ele passou a ficar horrorizado. Alí naquela casa abandonada era fácil pensar em magos malígnos comandando mortos-vivos para atacar aqueles que ousassem entrar em seus domínios.
Após algum tempo recuperando o fôlego, Erik deu uma olhada em volta. O que viu não ajudou em nada no seu medo crescente do antigo mago. A sala estava quase que totalmente queimada do lado de dentro. Pilhas e mais pilhas de madeira queimada e cinzas cobriam o centro da sala e as paredes. Não havia mais cortinas nas janelas quebradas. As únicas coisas inteiras alí eram a porta por onde havia entrado e uma outra do outro lado da sala.
Por algum tempo ficou debatendo com sí se seria seguro sair dalí ou não. Como não ouvira mais sons vindo de lugar algum, acabou decidindo que era melhor se arriscar e talvez sair daquela casa do que esperar anciosamente por algo que talves viesse, talves não.
Com cuidado, e mesmo assim fazendo muito barulho, Erik foi em direcão a outra porta. Através das janelas podia ver que ainda era dia. "Talves eu chegue em casa antes do anoitecer." Foi o que ficou pensando constantemente enquanto caminhava para evitar pensar no velho mago.
A porta abriu com muito barulho, e se ouvesse alguém dentro da casa certamente saberia onde Erik se encontrava agora.
O que viu do outro lado da porta o deixou desnorteado. Uma cama numa das paredes, várias mesas e armários ao longo das outras, nada quebrado, nada queimado, apenas cobertos por uma densa camanada de poeira.
Talvez, se vasculhasse o quarto, achasse algo de interessante, algum objeto mágico valioso. Quem sabe conseguisse algumas peças de bronze, ou até de prata por uma bola de cristal ou varinha mágica.
Mas ele não encontrou nada disso alí. Nem se deu ao trabalho de procurar quando viu mais uma porta perto da cama. Pensando apenas em sair dalí ele se dirigiu rapidamente para a porta, abriu-a sem se importar com o rangido e acabou se encontrando numa escada de pedra, protegida ao lado e acima como se fosse um túnel. Porém escada acima, mais ou menos na metade do caminho, a luz do dia entrava por uma abertura na parede.
Um resmungo pelas costas de Erik o fez esquecer toda a precalção e correr em direção a passagem. Naquele ponto, a escada também estava quebrada, e seria impossível continuar até o topo. Sem parar para verificar a altura ele pulou da passagem, errando por pouco as pedras que se amontoavam abaixo e ao lado da escada. Rapidamente ele contornou a casa e chegou até a porta de entrada, de onde seguiu caminho pela trilha que passava ao lado do bosque.
Quando chegou de volta no ponto que descia para a plataforma dos bodes Erik parou para descansar, olhou em volta e como não viu nem ouviu nenhum sinal de estar sendo seguido resolveu sentar e comer o que havia trazido consigo.
O pão estava meio úmido por causa da chuva que havia pego, e com isso estava horrível, já a carne, apesar de já não ter mais gosto nenhum, não estava mais seca, e foi um pouco mais fácil de engolir.
No final ele acabou comendo tudo e tomado toda a água que tinha trazido. Quando terminou, o sol já estava quase mergulhando pelas montanhas do outro lado da vila, apenas algumas núvens avermelhadas pelo sol baixo restavam no céu, nenhum sinal de que havia chovido, a não ser pela lama e pedras molhadas no chão.
E lama foi o que Erik encontrou quando chegou na plataforma dos bodes, a bota afundava facilmente, tornando difícil andar por alí. Mas com calma ele foi indo, passo a passo, até chegar na trilha de subida para a floresta morta.
Alí ele encontrou mais dificuldade ainda, pois as pedras lisas molhadas escorregavam sob seu pé coberto de lama. E por várias vezes ele quase caiu, rolando trilha abaixo, sempre recuperando o equilíbrio no último instante.
A caminhada pelo bosque seco foi mais tranquila, tempestade alguma tinha o poder de mudar aquela área, nem as árvores, nem a terra debaixo delas. Foi olhando em direcão a passagem na montanha ao norte que ele viu, ou ao menos pensou ter visto, alguma coisa se mover, era pequena, e se movia sorrateiramente, mas como logo desapareceu ele não deu importância e continuou seguindo seu caminho para casa. Apesar disso, manteve sua mão sobre a machadinha que estava carregando.
Não havia ninguém na rua quando ele chegou na vila, e o vento começava a soprar frio novamente. O que era pior para Erik que não estava totalmente seco. Não se demorou na rua e foi direto para casa. Sua mãe estava preocupada, pois a tempestade havia caído muito antes do que se era esperado. Ela rapidamente esquentou uma sopa e lhe trouxe roupas quentes e secas, que ele não tardou em vestir.
Enquanto estava sentado na cozinha, após ter comido um pouco, seu pai chegou, da ferraria que era anexa a casa e perguntou se ele tinha conseguido alguma coisa. "Vamos ter dificuldade neste inverno se não conseguirmos mais lenha." Disse ele quando Erik terminou de contar o que havia acontecido, como tinha pego chuva e ido parar na velha casa, e de como havia dormido lá. Mas obviamente não contou sobre o livro ou sobre ter ouvido alguém mais na casa, nem sobre o que achou ter visto na passagem acima nas montanhas.
A noite avançou e uma chuva calma começou a cair sobre as montanhas. Logo Erik estava deitado em seu quarto sob uma coberta de peles quentes. A lanterna ainda estava acesa e ele olhava com curiosidade o livro. A fraca luz o impedia de ver detalhadamente como era a sua capa. "Talvez amanhã eu de uma olhada em você!" Disse em voz baixa, e então colocou o livro perto da cama, apagando a lanterna para poder dormir.
<nota do autor>
<a história se passa em Forgotten Realms, numa vila completamente esquecida nas montanhas ao norte de Haruaa>
<mais partes podem ser vistas em http://grimoirium.wordpress.com, porém eu irei postar semanalmente um capítulo aqui nesse forum>
<a história que está no meu blog, apesar de ser mais avancada (ligeiramente apenas) possui varios erros e pode sofrer leves modificoes quando for postada aqui>
<exístem outras histórias no blog também>