[Forfirith][O Dia]
O Dia
E as vozes, as vozes entorpecentes, enlouquecidas, perturbavam e ludibriavam a mente, atordoavam e faziam esquecer as poesias e as cores. Um passo. Dois. As pernas de haste não sustentaram o som, e um grito monocromático agora preenchia o ambiente. A morte. A vida. O renascimento florescia da boca e as cordas vocais vibravam em aprovação, em angústia. O que viria, não se sabia. Sabia-se que tudo começava denovo.
O primeiro feixe de luz escapou para dentro pela janela e acordou o olho castanho. Mais um dia começava. Continuávamos nós a beber o wisky que amarelecia nossas vidas de viés, e flambava na frigideira os brotos de almôndegas do dia novo. Pássaros já não mais existiam, apenas os pardieiros caídos em plantas verdes e suculentas, a preencher as bocas assassinas e animalescas dos resultados híbridos dos homens. Almocreves que guiam almocreves, e a cadeia continua.
O almeirão borbulhava fagulhas de ganância vegetal na panela; os noventa graus se aproximam efemeramente ligeiros, zurzindo nas cabeças do gado diário, sem interlúdio, sem piano. Apenas o fogo na panela. Quando não tínhamos mais o que fazer, amávamo-nos, ou melhor, esfregávamos o sebo da labuta matutina em meio à pestilência dos lençóis, esperando que alguma espécie de prazer de cheiro de orégano nos alimentasse as narinas para que esquecêssemos do sexo e só pensássemos no vodka.
O ácido pôr-do-sol mergulhado no molho de tomate já abandonara a razão havia tempo, agora era, transexualmente falando, o desrespeito de um verme alaranjado que nos orfanizava diariamente, ao mesmo horário. As nuvens, cúmplices do crime passional que a natureza cometia. Assim como os nossos lençóis. Tanto quando o fogo do fogão.
Os pecados capitais aconchegavam-se nos dobramentos vaginais da lua minguante que dilacerava novamente o céu da noite. A gula dos jantares dos amantes, a inveja da cúprica, a avareza das camas de casal, o orgulho dos atores de teatro, a preguiça dos gatos de rua, a ira do traído e a luxúria de todos nós, que tingia de sangue virginal o manto branco de Deus, sem se lembrar de como fora no início, sem se preocupar em como seria o fim.
Mas quando finalmente o copo verde do absinto começaria a jorrar, e a fada verde tingiria as fontes e cairia das cascatas e a denunciaria o oceano, as vozes voltaram.
O Dia
E as vozes, as vozes entorpecentes, enlouquecidas, perturbavam e ludibriavam a mente, atordoavam e faziam esquecer as poesias e as cores. Um passo. Dois. As pernas de haste não sustentaram o som, e um grito monocromático agora preenchia o ambiente. A morte. A vida. O renascimento florescia da boca e as cordas vocais vibravam em aprovação, em angústia. O que viria, não se sabia. Sabia-se que tudo começava denovo.
O primeiro feixe de luz escapou para dentro pela janela e acordou o olho castanho. Mais um dia começava. Continuávamos nós a beber o wisky que amarelecia nossas vidas de viés, e flambava na frigideira os brotos de almôndegas do dia novo. Pássaros já não mais existiam, apenas os pardieiros caídos em plantas verdes e suculentas, a preencher as bocas assassinas e animalescas dos resultados híbridos dos homens. Almocreves que guiam almocreves, e a cadeia continua.
O almeirão borbulhava fagulhas de ganância vegetal na panela; os noventa graus se aproximam efemeramente ligeiros, zurzindo nas cabeças do gado diário, sem interlúdio, sem piano. Apenas o fogo na panela. Quando não tínhamos mais o que fazer, amávamo-nos, ou melhor, esfregávamos o sebo da labuta matutina em meio à pestilência dos lençóis, esperando que alguma espécie de prazer de cheiro de orégano nos alimentasse as narinas para que esquecêssemos do sexo e só pensássemos no vodka.
O ácido pôr-do-sol mergulhado no molho de tomate já abandonara a razão havia tempo, agora era, transexualmente falando, o desrespeito de um verme alaranjado que nos orfanizava diariamente, ao mesmo horário. As nuvens, cúmplices do crime passional que a natureza cometia. Assim como os nossos lençóis. Tanto quando o fogo do fogão.
Os pecados capitais aconchegavam-se nos dobramentos vaginais da lua minguante que dilacerava novamente o céu da noite. A gula dos jantares dos amantes, a inveja da cúprica, a avareza das camas de casal, o orgulho dos atores de teatro, a preguiça dos gatos de rua, a ira do traído e a luxúria de todos nós, que tingia de sangue virginal o manto branco de Deus, sem se lembrar de como fora no início, sem se preocupar em como seria o fim.
Mas quando finalmente o copo verde do absinto começaria a jorrar, e a fada verde tingiria as fontes e cairia das cascatas e a denunciaria o oceano, as vozes voltaram.