Fëaruin Alcarintur ¥
Alto-rei de Alcarost
[Fëaruin Alcarintur][Glória e Angústia]
Aqui vai, o primeiro capítulo é o mais comprido.
Glória e Angústia
O Conto de Fëaruin, o Noldo
Capítulo Primeiro
Valinor e a Primeira Era do Sol
Fëaruin, cujo nome na forma plena é Fëarúnyo, era filho de Nolwë, um grande lorde dos noldor, e nasceu na bem-aventurança de Valinor, em Tirion sobre Túna, e sob a Luz das Duas Árvores. Cresceu belo e forte, e era um dos mais poderosos noldor fora da Casa de Finwë, e mesmo assim era parente dos filhos do Grande Rei, pois seu pai era parente muito próximo do próprio Finwë. E ele vivia em Valinor juntamente com os outros Primogênitos.
Como fruto da união de poderosos senhores noldorin, sendo seu pai grande amigo e discípulo de Aulë, Fëaruin era bastante hábil nas artes e em todos os ofícios, sendo um grande mestre artífice, principalmente na forjaria, pois era ele mesmo grande entre aqueles a quem Aulë ensinava, e dos noldor, apenas Mahtan, pai de Nerdanel, ocupava maior espaço do que Fëaruin no coração do Vala.
Fëaruin era um elfo notável; cresceu muito sábio e forte, e era alto e de cabelos lisos e muito compridos, negros e lustrosos, e seus olhos brilhavam intensamente um verde-mar acinzentado. Era um dos noldor que recebia ensinamentos do sábio Olórin, o Maia, e dos Valar, os que mais admirava além de Varda eram Aulë e Ulmo. Mas Oromë também ele estimava muito, e com ele Fëaruin saía para caçar, assim como Celegorm, filho de Fëanor. E Oromë lhe deu Ninquënor, um grande cavalo branco, como presente. Pouco antes de chegar à plena maturidade, Fëaruin desposou Helyanwë, uma das mais belas donzelas dos noldor; com ela, teve em Valinor dois filhos, Inglor e Maegnor, e mais tarde já na Terra-média nasceria Silmë, o seu terceiro filho.
Como todos os outros quendi naqueles tempos, vivia em tranqüilidade, e era amigo e parente dos filhos de Fëanor, sendo que tinha Maedhros e Maglor em maior estima, e de Fingolfin, com quem aprendeu grande parte do talento das armas e a ser corajoso, e com Finarfin, ele aprendeu que nem sempre devemos seguir os impulsos de nosso orgulho. Pelo sangue, poderia fazer parte do povo de Fëanor, mas preferiu escolher fazer parte do povo de Fingolfin, também seu parente, pois tinha mente e ideais mais parecidos com eles; e desses, era um dos mais poderosos entre os capitães do príncipe élfico, era amigo de Fingon; e Fingolfin aprovava mais a amizade de Fingon e Fëaruin do que a de seu filho para com Maedhros, amizade essa que entretanto era bem mais forte do que a de Fingon e Fëaruin. Mesmo assim Fëaruin permaneceu ao lado de Fingon até que ele tombasse. Ele era amigo também de seu outro parente, Fëanor, e reconhecia a sua grande força, e com ele muito aprendeu, mas nele não confiava muito.
O tempo passou e depois que Melkor destruiu as Árvores e roubou as Silmarilli, Fëanor começou a Rebelião dos Noldor. Todos marcharam no começo, e com Fëaruin, da poderosa Casa de Fingolfin, não foi diferente. Relutante, o noldo partiu para honrar seu parentesco. Ora, ele sabia da força de Fëanor, mas as palavras do primogênito de Finwë não causaram o devido efeito em Fëaruin, e ele partia pesaroso. Porém, no Fratricídio de Alqüalonde, Fëaruin não tomou parte, assim como vários outros da Casa de Fingolfin. Ele vinha no final da segunda comitiva de elfos, já que Fingolfin o designara a comandar uma pequena parcela de sua hoste, e quando chegou, seu coração se abalou com o acontecimento, e ele não acreditou nos boatos que rapidamente se espalhavam de que os teleri haviam preparado uma emboscada para os noldor a mando dos Valar. A batalha já tinha quase se encerrado, mas mesmo assim Fëaruin não ousou desembainhar sua espada, e não permitiu que seus filhos o fizessem.
Na Condenação de Mandos, quando a Casa de Finarfin virou-se para retornar a Valinor, Fëaruin lembrou-se dos conselhos que o próprio Finarfin lhe havia dado, e em seu íntimo teve o desejo de retornar. Entretanto viu que Fingolfin continuaria, e resolveu segui-lo, pois tinha grande estima no príncipe noldo, além disso, sentia-se obrigado a ir, pelo seu parentesco. E então, Fëaruin, capitão da Casa de Fingolfin, marchou, continuando a árdua e triste jornada. Enquanto isso muitos presságios passavam por sua mente. Presságios de dor, força, agonia, glória, traição, destruição e morte.
Quando Fëanor queimou as alvas embarcações dos teleri em Losgar, Fëaruin enraiveceu-se e ficou decepcionado, mas prosseguiu por Helcaraxë e seu frio atritante junto com seus companheiros. Montado em seu cavalo Ninquënor, Fëaruin fez a travessia rapidamente, pois Ninquënor era um cavalo dos bosques de Oromë; forte, veloz e imortal. Muitos porém, morreram, e difícil foi consolar Turgon quando Elenwë, sua esposa, perecera.
Depois de muita exaustão e frio, a hoste de Fingolfin chegou na Terra-média. E assim que eles pisaram nas praias de Beleriand uma grande luz prateada surgiu no leste distante, que lhes deu um pouco de esperança. Era Isil, a ilha da Lua, conduzida por Tilion, do povo dos Maiar.
Fëaruin permaneceu em Beleriand juntamente com os príncipes dos noldor, e até sua partida para o Leste, relatada adiante, ele lutou em todas as Grandes Batalhas que marcaram a Primeira Era do Sol após a sua chegada; e dos capitães e guerreiros dos noldor, Fëaruin era um dos mais poderosos e temíveis. Vivia com o povo de Fingolfin aos arredores do Lago Mithrim, no período em que ele reinava sobre os noldor. Era um dos principais comandantes das hostes de Fingon, mas Fingolfin achava que Fëaruin era extremamente valoroso e necessário, e o convocava sempre para Eithel Sirion com o intuito de ajudar na vigília de Ard-Galen, pois Fëaruin era resistente e forte, e os orcs o temiam; e além disso, ele sempre foi um estrategista brilhante, e o Rei Supremo dos noldor o estimava e nele confiava muito. Em Eithel Sirion, então, Fëaruin passava a maior parte do ano, ao lado de Fingolfin e Fingon, mas sempre retornava a Mithrim, onde era sua bela casa e vivia sua família. Mas servindo a Fingon que ele atingiu seus maiores louvores em batalha, e ganhou sua fama, estando entre os maiores dos guerreiros dos noldor, pois em combate revelava-se cruel e destemido. Estava inclusive entre aqueles da comitiva de cavaleiros que atacou Glaurung quando esse saiu de Angband pela primeira vez. Foi no período de tranqüilidade e vigia que, em Hithlum, nasceu o terceiro filho de Fëaruin, e Silmë era seu nome, e seus irmãos mais velhos eram Inglor e Maegnor, que haviam nascido ainda em Valinor.
Na Dagor Bragollach, os exércitos de Hithlum foram assombrosamente rechaçados, e não puderam auxiliar os filhos de Finarfin, pois foram empurrados de volta às suas montanhas, e uma grande quantidade de inimigos estava entre eles e os outros príncipes dos noldor. Foi quando Fingolfin desiludiu-se, e estava encolerizado e partia para enfrentar Morgoth. Fëaruin, que havia recentemente retornado da batalha nas fronteiras, ouviu soldados dizendo da fúria de Fingolfin, e que ele partira, sem que ninguém pudesse contê-lo. Grande pesar sentiu então Fëaruin, e viu que este seria o fim do valente filho de Finwë.
Grande dor ele então sentiu quando Fingolfin tombou, e Fingon, o agora Rei Supremo dos noldor, tornou Fëaruin seu principal comandante e conselheiro, pois tinha nele uma grande estima e amizade; e tinha ciência do quão forte e sábio ele era, e o seu valor como guerreiro. E ao lado de Fingon, Fëaruin guerreou heróica e incansavelmente, e os orcs fugiam perante a sua fúria, pois quando enraivecido, o semblante de Fëaruin tornava-se terrível, e diziam que ele aparentava até mesmo Oromë em ira.
Finalmente, quando tudo o mais já parecia ter acontecido, veio o grande ataque de Angband; os orcs se aproximaram da Ered Wethrin, e provocaram os elfos. Como relatado no Silmarillion, os capitães de Fingon queriam avançar, mas Húrin disse-lhes para que se acautelassem e esperassem. Com as mesmas idéias que Húrin estava Fëaruin, pois cria que aquela não era toda a força de Morgoth; - Ouça as palavras do filho de Galdor – disse ele a Fingon – Pois se fizermos o contrário, e cedermos às provocações dos orcs, haveremos de sofrer enormes perdas e grandes suplícios. Morgoth pode ser um tolo, mas não é desprovido de inteligência ou astúcia.
Fingon confiava muito em Húrin e Fëaruin, e esperou. Quando os orcs mataram Gelmir, e Gwindor, seu irmão, começou a atacar, uma sombra veio no coração de Fëaruin, e ele pressentiu que da impaciência de alguns, muitos sofreriam demais. Ele tentou censurar Fingon quando esse colocava seu elmo e ordenava tocar seus clarins, mas foi inútil. Avançou então Fëaruin, e batalhou de maneira inconcebível, e os orcs se intimidaram. E os exércitos avançaram até Anfauglith, e a lâmina de Fëaruin, o maior entre os comandantes de Fingon, fendia os orcs que ousavam desafiá-lo. Por fim, Morgoth enviou reforços, e o exército de Fingon foi atacado e obrigado a recuar, com grandes perdas. Mas eles foram cercados pelos flancos por um enorme número de orcs, e Fëaruin lutava com aflição, pois eles dificilmente escapariam dali com vida.
Quando a esperança estava perdida, foram ouvidas as trompas de Turgon. Ele chegara em auxílio a Fingon, e com ele vinha grande exército, e abriu uma grande fissura na horda de orcs, e finalmente encontrou-se com Fingon, e com Húrin e Fëaruin, que estavam ao lado do Rei Supremo. E alegraram-se e estavam esperançosos, mas rapidamente voltaram à batalha. Foi então que ouviram os clarins de Maedhros. Ele finalmente chegara.
Daí veio o ataque final de Morgoth. Vieram Glaurung, dragões, e balrogs e trolls, e cavaleiros sobre lobos. Glaurung atacou Maedhros, e separou a sua hoste da de Fingon. E os balrogs vieram sobre Fingon, e Fëaruin lutou contra eles e os trolls, e muitos trolls tombaram frente a ele. Mas Gothmog veio, e ele foi separado de Fingon. Húrin conseguiu permanecer ao lado de Turgon, mas Fëaruin estava apenas com uma guarda reduzida; mas ainda assim lutou admiravelmente, abatendo inúmeros soldados rivais; ele havia ordenado a seus filhos mais velhos, Inglor e Maegnor, que recuassem da batalha e corressem, para proteger a mãe e o jovem irmão deles, e com eles foi Ninquënor, o cavalo magnífico de Fëaruin; mas o próprio Fëaruin continuou lutando, e muitos inimigos ele destruiu, orcs nefastos e trolls gigantescos. Restava apenas ele de sua guarda, quando lutava contra Morthaur, o balrog, o principal tenente de Gothmog. O duelo era assaz árduo para ambos, e já durava muito. Finalmente, Morthaur foi auxiliado por outro balrog, que trouxe consigo mais trolls, e eles derrubaram Fëaruin, que já estava muito ferido e exausto da peleja, e o capturaram vivo, pois achavam que por ele podiam saber mais das estratégias dos elfos em combate. Foi levado então para Angband, e deixado acorrentado e sozinho no inferno de Melkor, onde sofreu atrozes torturas e escravidão. Porém, manteve-se firme e esperançoso, apesar de grande tristeza estar em seu coração, e ele nem bem sabia o porquê. E Morthaur não conseguiu obter informação alguma de Fëaruin, e este zombava do tenente de Angband, chamando-o de covarde e escravo.
Todavia, ao ver que seria pego, Fëaruin deixou Valnáril, sua poderosa espada e Cálëmehtar, sua cota magnífica feita para ele pelos anões de Nogrod, com seu cavalo Ninquënor, quando o ordenou que fugisse e se escondesse, e que buscasse sua família. Ninquënor, como o fogo pela mata seca, correu para longe, temendo por seu senhor e amigo. Valnáril, que na Alta-Língua dos Noldor significa Brilho do Fogo Poderoso, era o maior tesouro material de Fëaruin. Tão poderosa era a espada que, diz-se, com ela podia-se cortar quase qualquer material; e ela era cara para Fëaruin como eram as Silmarils a Fëanor; uma obra tal qual ele nunca mais poderia repetir. De fato, Fëaruin demorou-se na forjaria da espada, e começou seu trabalho bem cedo e o fez com cuidado, pois temia pelo futuro vindouro, futuro no qual ele precisaria de uma arma poderosa, para que perante tal os inimigos tombassem e se amedrontassem; e nessa espada utilizou todo seu conhecimento adquirido com Aulë, e grande força ele colocou em sua lâmina. Ela refulgia imponente quando erguida, e nunca se manchava nem perdia o corte, e Fëaruin sempre a empunhou sem nenhum escudo, e quando entrava em combate, usava apenas a espada, e não precisava de mais nenhuma arma. Das espadas de todo o Reino de Arda, poucas superavam o poder de Valnáril, e dessas, a maioria já se perdeu.
Depois de passar muito tempo naqueles calabouços imundos e escuros, com o cheiro da própria morte, Fëaruin resolveu tentar escapar, num movimento desesperado. Sua chance era quando orcs o levariam para trabalhar nas minas das Montanhas de Ferro.
Foi então que, num ato ousado, Fëaruin atacou os guardas, munido apenas da picareta que tinha em mãos. Matou todos os guardas que mantinham ele e alguns outros noldor e sindar, vigiando-os nas minas. Agora juntos, Fëaruin e os outros elfos roubaram as armas dos orcs e vestiram as armaduras negras, e com sua habilidade de elfo, Fëaruin ilusionou o grupo em sombras por um curto período. Ora, Fëaruin era hábil nas batalhas e manufaturas, mas também tinha outras habilidades, já que era um grande elda que havia vivido sob a Luz das Duas Árvores.
Disfarçados, Fëaruin conduziu o grupo de elfos, que agora o seguiam, pelos corredores de pedra das Montanhas de Ferro. Quando finalmente saiu, o Sol ardeu os olhos do noldo, pois muito tempo ele passara na quase total escuridão, e dos aprisionados da Batalha, foi ele possivelmente quem sofrera os maiores suplícios, à óbvia exceção de Húrin. Correram então para o leste de Angband, esquecendo-se da fome e do cansaço, livrando-se da negra armadura e do disfarce depois que estavam numa distância segura. Mas o grupo só parou de correr quando chegaram numa caverna na fronteira de Dorthonion, próxima a Passagem de Aglon. Lá, eles descansaram, menos Fëaruin, que se manteve alerta, e não fechava os olhos para nada.
Por sorte ou destino, dois dias depois Ninquënor os encontrou, e junto com ele vinham guardas de confiança de Fëaruin e alguns parentes mais próximos que haviam sido separados dos outros, fugindo por causa da guerra, e entre esses estavam os três filhos do noldo, Inglor, Maegnor e Silmë. Eles lhes trouxeram comida e água, e ficaram espantados ao olhar Fëaruin, pois ele agora parecia muito mais forte, como alguém que enfrentou a própria morte de perto, e seus olhos traziam um novo brilho pálido, amedrontador e imponente. Com muita agonia ele recebeu a notícia funesta que seus filhos traziam, e porque de sua aflição foi revelada, pois nas decorrências à grande batalha, foi tomada a vida de Helyanwë, a sua amada e mãe de seus filhos, e seus olhos se encheram de lágrimas.
Depois de pensar um pouco e refletir sobre suas ações passadas e vindouras, Fëaruin finalmente chegou a uma decisão, e resolveu então dizer aos outros sobre o que ele pretendia fazer.
- Para o Leste hei de partir – disse ele – Irei buscar vida nova, pois o Oeste está perdido, e as terras de Beleriand me trazem lembranças de dor. E nada do que disserem ou fizerem irá me dissuadir. Se necessário for, irei sozinho, levando apenas minha espada e minha malha prateada.
E então seus companheiros silenciaram, mas Ninquënor, seu grande cavalo branco, postou-se a seu lado – Não te abandonarei – disse ele, pois sabia a língua dos senhores dos elfos.
Maegnor, em seguida, ergueu sua cabeça, e encarou seu pai. – Minha mãe foi assassinada, o Rei Fingon está morto e os elfos e homens estão desorientados. Nada mais me resta além de meu pai, e se ele partirá para o Leste, não ousarei abandoná-lo, e partirei com ele – e então se colocou ao lado de Fëaruin. Seus dois irmãos repetiram o ato de Maegnor, e decidiram que iriam com o pai para o exílio.
Dos outros elfos que lá estavam, a maioria resolveu acompanhar o poderoso Fëaruin, já que eles viam nele a força, coragem e nobreza dos grandes príncipes dos calaquendi; a Luz das Árvores ainda brilhava em seus olhos cinzento-esverdeados, e os anos de cativeiro em Angband lhe deram nova força. Foi assim que partiram Fëaruin e seus filhos, seus amigos e parentes mais próximos, cansados, famintos, sem-rumo e sem-esperança. À exceção do próprio Fëaruin, que parecia ter em mente o que planejava fazer, e Maegnor, de tanta estima que tinha no pai. E enquanto caminharam, alguns outros elfos perdidos e desorientados se uniram a eles, já que eles já haviam perdido tudo o mais.
Depois de muito tempo de viagem, e após atravessarem as Ered Luin, eles encontraram um bando bárbaro e nômade, mas não eram homens, eles eram mais altivos e tinham uma beleza parecida com a deles próprios. Fëaruin então soube: eram avari, os Relutantes, elfos que recusaram a Grande Marcha dos Eldar. Nunca ele imaginara que eles haveriam de chegar até ali. Surpreendeu-se então, pois sabia que os avari haviam explorado muito da Terra-média, enquanto que os Calaquendi viviam à Luz de Laurelin e Telperion.
Devido à imponência de Fëaruin montado em seu cavalo magnífico e vestido de cota prateada e capa azul, e sua poderosa espada ao seu lado, os avari o reverenciaram, e apesar da língua um pouco diferente, já que os avari e os calaquendi haviam sido separados muito tempo atrás e a língua havia tomado rumos diferentes, Fëaruin interpretou rapidamente a fala dos Relutantes, e soube que havia uma pequena cidade avari à Leste. Eles então partiram para lá, onde puderam descansar e se alimentar, estabelecendo morada em Grothbar, “Caverna da Morada”, na costa leste das Ered Luin.
Após alguns anos vivendo entre os avari, Fëaruin e os outros fugidos ensinaram muito àquele povo, inclusive ensinava-os já a falar, ler e escrever sindarin, e os ritos a Ilúvatar. O quenya dos noldor era mais difícil, e apenas alguns dos avari conseguiam aprendê-lo.
Muitos já haviam sido os feitos do noldo a prol dos avari quando, após um ataque duma companhia de homens servos de Morgoth, que Laitahero, o então líder dos moriquendi rebelou-se, pois vira que o calaquendi tinha então mais poder que ele. Sucedeu-se o duelo de Fëaruin e Laitahero, e no final Fëaruin prevaleceu, pois era bem mais forte e poderoso, e Laitahero, derrotado, humilhado e nutrindo ódio eterno, foi expulso da cidade pelos avari, sendo Fëaruin eleito pelos elfos de lá como Rei e governante.
Os avari estavam no meio da construção de uma cidade fortaleza para viverem, quando irrompeu a Guerra da Ira. E eles sentiam a repercussão da guerra, pois o chão tremia e a terra rachava. Mais uma vez em sua longa vida, Fëaruin soube que era hora de partir, desta vez para o Sul, ou melhor, o Sudeste, para ficar ainda mais longe de Melkor. E Fëaruin podia sentir o mal de Melkor inquieto e irritado.
Eles marcharam durante toda a Guerra da Ira, e quando esta finalmente terminou, Fëaruin sentiu o mal de Melkor sendo levado e derrotado, e a Terra havia mudado. Entretanto, ele ainda sentia o mal de Sauron. Nos calendários de seu povo, Fëaruin marcou então aqueles acontecimentos como o final da Primeira Era do Sol, e início da Segunda Era, a que mais tarde ele chamaria de outro nome.
Aqui vai, o primeiro capítulo é o mais comprido.
Glória e Angústia
O Conto de Fëaruin, o Noldo
Capítulo Primeiro
Valinor e a Primeira Era do Sol
Fëaruin, cujo nome na forma plena é Fëarúnyo, era filho de Nolwë, um grande lorde dos noldor, e nasceu na bem-aventurança de Valinor, em Tirion sobre Túna, e sob a Luz das Duas Árvores. Cresceu belo e forte, e era um dos mais poderosos noldor fora da Casa de Finwë, e mesmo assim era parente dos filhos do Grande Rei, pois seu pai era parente muito próximo do próprio Finwë. E ele vivia em Valinor juntamente com os outros Primogênitos.
Como fruto da união de poderosos senhores noldorin, sendo seu pai grande amigo e discípulo de Aulë, Fëaruin era bastante hábil nas artes e em todos os ofícios, sendo um grande mestre artífice, principalmente na forjaria, pois era ele mesmo grande entre aqueles a quem Aulë ensinava, e dos noldor, apenas Mahtan, pai de Nerdanel, ocupava maior espaço do que Fëaruin no coração do Vala.
Fëaruin era um elfo notável; cresceu muito sábio e forte, e era alto e de cabelos lisos e muito compridos, negros e lustrosos, e seus olhos brilhavam intensamente um verde-mar acinzentado. Era um dos noldor que recebia ensinamentos do sábio Olórin, o Maia, e dos Valar, os que mais admirava além de Varda eram Aulë e Ulmo. Mas Oromë também ele estimava muito, e com ele Fëaruin saía para caçar, assim como Celegorm, filho de Fëanor. E Oromë lhe deu Ninquënor, um grande cavalo branco, como presente. Pouco antes de chegar à plena maturidade, Fëaruin desposou Helyanwë, uma das mais belas donzelas dos noldor; com ela, teve em Valinor dois filhos, Inglor e Maegnor, e mais tarde já na Terra-média nasceria Silmë, o seu terceiro filho.
Como todos os outros quendi naqueles tempos, vivia em tranqüilidade, e era amigo e parente dos filhos de Fëanor, sendo que tinha Maedhros e Maglor em maior estima, e de Fingolfin, com quem aprendeu grande parte do talento das armas e a ser corajoso, e com Finarfin, ele aprendeu que nem sempre devemos seguir os impulsos de nosso orgulho. Pelo sangue, poderia fazer parte do povo de Fëanor, mas preferiu escolher fazer parte do povo de Fingolfin, também seu parente, pois tinha mente e ideais mais parecidos com eles; e desses, era um dos mais poderosos entre os capitães do príncipe élfico, era amigo de Fingon; e Fingolfin aprovava mais a amizade de Fingon e Fëaruin do que a de seu filho para com Maedhros, amizade essa que entretanto era bem mais forte do que a de Fingon e Fëaruin. Mesmo assim Fëaruin permaneceu ao lado de Fingon até que ele tombasse. Ele era amigo também de seu outro parente, Fëanor, e reconhecia a sua grande força, e com ele muito aprendeu, mas nele não confiava muito.
O tempo passou e depois que Melkor destruiu as Árvores e roubou as Silmarilli, Fëanor começou a Rebelião dos Noldor. Todos marcharam no começo, e com Fëaruin, da poderosa Casa de Fingolfin, não foi diferente. Relutante, o noldo partiu para honrar seu parentesco. Ora, ele sabia da força de Fëanor, mas as palavras do primogênito de Finwë não causaram o devido efeito em Fëaruin, e ele partia pesaroso. Porém, no Fratricídio de Alqüalonde, Fëaruin não tomou parte, assim como vários outros da Casa de Fingolfin. Ele vinha no final da segunda comitiva de elfos, já que Fingolfin o designara a comandar uma pequena parcela de sua hoste, e quando chegou, seu coração se abalou com o acontecimento, e ele não acreditou nos boatos que rapidamente se espalhavam de que os teleri haviam preparado uma emboscada para os noldor a mando dos Valar. A batalha já tinha quase se encerrado, mas mesmo assim Fëaruin não ousou desembainhar sua espada, e não permitiu que seus filhos o fizessem.
Na Condenação de Mandos, quando a Casa de Finarfin virou-se para retornar a Valinor, Fëaruin lembrou-se dos conselhos que o próprio Finarfin lhe havia dado, e em seu íntimo teve o desejo de retornar. Entretanto viu que Fingolfin continuaria, e resolveu segui-lo, pois tinha grande estima no príncipe noldo, além disso, sentia-se obrigado a ir, pelo seu parentesco. E então, Fëaruin, capitão da Casa de Fingolfin, marchou, continuando a árdua e triste jornada. Enquanto isso muitos presságios passavam por sua mente. Presságios de dor, força, agonia, glória, traição, destruição e morte.
Quando Fëanor queimou as alvas embarcações dos teleri em Losgar, Fëaruin enraiveceu-se e ficou decepcionado, mas prosseguiu por Helcaraxë e seu frio atritante junto com seus companheiros. Montado em seu cavalo Ninquënor, Fëaruin fez a travessia rapidamente, pois Ninquënor era um cavalo dos bosques de Oromë; forte, veloz e imortal. Muitos porém, morreram, e difícil foi consolar Turgon quando Elenwë, sua esposa, perecera.
Depois de muita exaustão e frio, a hoste de Fingolfin chegou na Terra-média. E assim que eles pisaram nas praias de Beleriand uma grande luz prateada surgiu no leste distante, que lhes deu um pouco de esperança. Era Isil, a ilha da Lua, conduzida por Tilion, do povo dos Maiar.
Fëaruin permaneceu em Beleriand juntamente com os príncipes dos noldor, e até sua partida para o Leste, relatada adiante, ele lutou em todas as Grandes Batalhas que marcaram a Primeira Era do Sol após a sua chegada; e dos capitães e guerreiros dos noldor, Fëaruin era um dos mais poderosos e temíveis. Vivia com o povo de Fingolfin aos arredores do Lago Mithrim, no período em que ele reinava sobre os noldor. Era um dos principais comandantes das hostes de Fingon, mas Fingolfin achava que Fëaruin era extremamente valoroso e necessário, e o convocava sempre para Eithel Sirion com o intuito de ajudar na vigília de Ard-Galen, pois Fëaruin era resistente e forte, e os orcs o temiam; e além disso, ele sempre foi um estrategista brilhante, e o Rei Supremo dos noldor o estimava e nele confiava muito. Em Eithel Sirion, então, Fëaruin passava a maior parte do ano, ao lado de Fingolfin e Fingon, mas sempre retornava a Mithrim, onde era sua bela casa e vivia sua família. Mas servindo a Fingon que ele atingiu seus maiores louvores em batalha, e ganhou sua fama, estando entre os maiores dos guerreiros dos noldor, pois em combate revelava-se cruel e destemido. Estava inclusive entre aqueles da comitiva de cavaleiros que atacou Glaurung quando esse saiu de Angband pela primeira vez. Foi no período de tranqüilidade e vigia que, em Hithlum, nasceu o terceiro filho de Fëaruin, e Silmë era seu nome, e seus irmãos mais velhos eram Inglor e Maegnor, que haviam nascido ainda em Valinor.
Na Dagor Bragollach, os exércitos de Hithlum foram assombrosamente rechaçados, e não puderam auxiliar os filhos de Finarfin, pois foram empurrados de volta às suas montanhas, e uma grande quantidade de inimigos estava entre eles e os outros príncipes dos noldor. Foi quando Fingolfin desiludiu-se, e estava encolerizado e partia para enfrentar Morgoth. Fëaruin, que havia recentemente retornado da batalha nas fronteiras, ouviu soldados dizendo da fúria de Fingolfin, e que ele partira, sem que ninguém pudesse contê-lo. Grande pesar sentiu então Fëaruin, e viu que este seria o fim do valente filho de Finwë.
Grande dor ele então sentiu quando Fingolfin tombou, e Fingon, o agora Rei Supremo dos noldor, tornou Fëaruin seu principal comandante e conselheiro, pois tinha nele uma grande estima e amizade; e tinha ciência do quão forte e sábio ele era, e o seu valor como guerreiro. E ao lado de Fingon, Fëaruin guerreou heróica e incansavelmente, e os orcs fugiam perante a sua fúria, pois quando enraivecido, o semblante de Fëaruin tornava-se terrível, e diziam que ele aparentava até mesmo Oromë em ira.
Finalmente, quando tudo o mais já parecia ter acontecido, veio o grande ataque de Angband; os orcs se aproximaram da Ered Wethrin, e provocaram os elfos. Como relatado no Silmarillion, os capitães de Fingon queriam avançar, mas Húrin disse-lhes para que se acautelassem e esperassem. Com as mesmas idéias que Húrin estava Fëaruin, pois cria que aquela não era toda a força de Morgoth; - Ouça as palavras do filho de Galdor – disse ele a Fingon – Pois se fizermos o contrário, e cedermos às provocações dos orcs, haveremos de sofrer enormes perdas e grandes suplícios. Morgoth pode ser um tolo, mas não é desprovido de inteligência ou astúcia.
Fingon confiava muito em Húrin e Fëaruin, e esperou. Quando os orcs mataram Gelmir, e Gwindor, seu irmão, começou a atacar, uma sombra veio no coração de Fëaruin, e ele pressentiu que da impaciência de alguns, muitos sofreriam demais. Ele tentou censurar Fingon quando esse colocava seu elmo e ordenava tocar seus clarins, mas foi inútil. Avançou então Fëaruin, e batalhou de maneira inconcebível, e os orcs se intimidaram. E os exércitos avançaram até Anfauglith, e a lâmina de Fëaruin, o maior entre os comandantes de Fingon, fendia os orcs que ousavam desafiá-lo. Por fim, Morgoth enviou reforços, e o exército de Fingon foi atacado e obrigado a recuar, com grandes perdas. Mas eles foram cercados pelos flancos por um enorme número de orcs, e Fëaruin lutava com aflição, pois eles dificilmente escapariam dali com vida.
Quando a esperança estava perdida, foram ouvidas as trompas de Turgon. Ele chegara em auxílio a Fingon, e com ele vinha grande exército, e abriu uma grande fissura na horda de orcs, e finalmente encontrou-se com Fingon, e com Húrin e Fëaruin, que estavam ao lado do Rei Supremo. E alegraram-se e estavam esperançosos, mas rapidamente voltaram à batalha. Foi então que ouviram os clarins de Maedhros. Ele finalmente chegara.
Daí veio o ataque final de Morgoth. Vieram Glaurung, dragões, e balrogs e trolls, e cavaleiros sobre lobos. Glaurung atacou Maedhros, e separou a sua hoste da de Fingon. E os balrogs vieram sobre Fingon, e Fëaruin lutou contra eles e os trolls, e muitos trolls tombaram frente a ele. Mas Gothmog veio, e ele foi separado de Fingon. Húrin conseguiu permanecer ao lado de Turgon, mas Fëaruin estava apenas com uma guarda reduzida; mas ainda assim lutou admiravelmente, abatendo inúmeros soldados rivais; ele havia ordenado a seus filhos mais velhos, Inglor e Maegnor, que recuassem da batalha e corressem, para proteger a mãe e o jovem irmão deles, e com eles foi Ninquënor, o cavalo magnífico de Fëaruin; mas o próprio Fëaruin continuou lutando, e muitos inimigos ele destruiu, orcs nefastos e trolls gigantescos. Restava apenas ele de sua guarda, quando lutava contra Morthaur, o balrog, o principal tenente de Gothmog. O duelo era assaz árduo para ambos, e já durava muito. Finalmente, Morthaur foi auxiliado por outro balrog, que trouxe consigo mais trolls, e eles derrubaram Fëaruin, que já estava muito ferido e exausto da peleja, e o capturaram vivo, pois achavam que por ele podiam saber mais das estratégias dos elfos em combate. Foi levado então para Angband, e deixado acorrentado e sozinho no inferno de Melkor, onde sofreu atrozes torturas e escravidão. Porém, manteve-se firme e esperançoso, apesar de grande tristeza estar em seu coração, e ele nem bem sabia o porquê. E Morthaur não conseguiu obter informação alguma de Fëaruin, e este zombava do tenente de Angband, chamando-o de covarde e escravo.
Todavia, ao ver que seria pego, Fëaruin deixou Valnáril, sua poderosa espada e Cálëmehtar, sua cota magnífica feita para ele pelos anões de Nogrod, com seu cavalo Ninquënor, quando o ordenou que fugisse e se escondesse, e que buscasse sua família. Ninquënor, como o fogo pela mata seca, correu para longe, temendo por seu senhor e amigo. Valnáril, que na Alta-Língua dos Noldor significa Brilho do Fogo Poderoso, era o maior tesouro material de Fëaruin. Tão poderosa era a espada que, diz-se, com ela podia-se cortar quase qualquer material; e ela era cara para Fëaruin como eram as Silmarils a Fëanor; uma obra tal qual ele nunca mais poderia repetir. De fato, Fëaruin demorou-se na forjaria da espada, e começou seu trabalho bem cedo e o fez com cuidado, pois temia pelo futuro vindouro, futuro no qual ele precisaria de uma arma poderosa, para que perante tal os inimigos tombassem e se amedrontassem; e nessa espada utilizou todo seu conhecimento adquirido com Aulë, e grande força ele colocou em sua lâmina. Ela refulgia imponente quando erguida, e nunca se manchava nem perdia o corte, e Fëaruin sempre a empunhou sem nenhum escudo, e quando entrava em combate, usava apenas a espada, e não precisava de mais nenhuma arma. Das espadas de todo o Reino de Arda, poucas superavam o poder de Valnáril, e dessas, a maioria já se perdeu.
Depois de passar muito tempo naqueles calabouços imundos e escuros, com o cheiro da própria morte, Fëaruin resolveu tentar escapar, num movimento desesperado. Sua chance era quando orcs o levariam para trabalhar nas minas das Montanhas de Ferro.
Foi então que, num ato ousado, Fëaruin atacou os guardas, munido apenas da picareta que tinha em mãos. Matou todos os guardas que mantinham ele e alguns outros noldor e sindar, vigiando-os nas minas. Agora juntos, Fëaruin e os outros elfos roubaram as armas dos orcs e vestiram as armaduras negras, e com sua habilidade de elfo, Fëaruin ilusionou o grupo em sombras por um curto período. Ora, Fëaruin era hábil nas batalhas e manufaturas, mas também tinha outras habilidades, já que era um grande elda que havia vivido sob a Luz das Duas Árvores.
Disfarçados, Fëaruin conduziu o grupo de elfos, que agora o seguiam, pelos corredores de pedra das Montanhas de Ferro. Quando finalmente saiu, o Sol ardeu os olhos do noldo, pois muito tempo ele passara na quase total escuridão, e dos aprisionados da Batalha, foi ele possivelmente quem sofrera os maiores suplícios, à óbvia exceção de Húrin. Correram então para o leste de Angband, esquecendo-se da fome e do cansaço, livrando-se da negra armadura e do disfarce depois que estavam numa distância segura. Mas o grupo só parou de correr quando chegaram numa caverna na fronteira de Dorthonion, próxima a Passagem de Aglon. Lá, eles descansaram, menos Fëaruin, que se manteve alerta, e não fechava os olhos para nada.
Por sorte ou destino, dois dias depois Ninquënor os encontrou, e junto com ele vinham guardas de confiança de Fëaruin e alguns parentes mais próximos que haviam sido separados dos outros, fugindo por causa da guerra, e entre esses estavam os três filhos do noldo, Inglor, Maegnor e Silmë. Eles lhes trouxeram comida e água, e ficaram espantados ao olhar Fëaruin, pois ele agora parecia muito mais forte, como alguém que enfrentou a própria morte de perto, e seus olhos traziam um novo brilho pálido, amedrontador e imponente. Com muita agonia ele recebeu a notícia funesta que seus filhos traziam, e porque de sua aflição foi revelada, pois nas decorrências à grande batalha, foi tomada a vida de Helyanwë, a sua amada e mãe de seus filhos, e seus olhos se encheram de lágrimas.
Depois de pensar um pouco e refletir sobre suas ações passadas e vindouras, Fëaruin finalmente chegou a uma decisão, e resolveu então dizer aos outros sobre o que ele pretendia fazer.
- Para o Leste hei de partir – disse ele – Irei buscar vida nova, pois o Oeste está perdido, e as terras de Beleriand me trazem lembranças de dor. E nada do que disserem ou fizerem irá me dissuadir. Se necessário for, irei sozinho, levando apenas minha espada e minha malha prateada.
E então seus companheiros silenciaram, mas Ninquënor, seu grande cavalo branco, postou-se a seu lado – Não te abandonarei – disse ele, pois sabia a língua dos senhores dos elfos.
Maegnor, em seguida, ergueu sua cabeça, e encarou seu pai. – Minha mãe foi assassinada, o Rei Fingon está morto e os elfos e homens estão desorientados. Nada mais me resta além de meu pai, e se ele partirá para o Leste, não ousarei abandoná-lo, e partirei com ele – e então se colocou ao lado de Fëaruin. Seus dois irmãos repetiram o ato de Maegnor, e decidiram que iriam com o pai para o exílio.
Dos outros elfos que lá estavam, a maioria resolveu acompanhar o poderoso Fëaruin, já que eles viam nele a força, coragem e nobreza dos grandes príncipes dos calaquendi; a Luz das Árvores ainda brilhava em seus olhos cinzento-esverdeados, e os anos de cativeiro em Angband lhe deram nova força. Foi assim que partiram Fëaruin e seus filhos, seus amigos e parentes mais próximos, cansados, famintos, sem-rumo e sem-esperança. À exceção do próprio Fëaruin, que parecia ter em mente o que planejava fazer, e Maegnor, de tanta estima que tinha no pai. E enquanto caminharam, alguns outros elfos perdidos e desorientados se uniram a eles, já que eles já haviam perdido tudo o mais.
Depois de muito tempo de viagem, e após atravessarem as Ered Luin, eles encontraram um bando bárbaro e nômade, mas não eram homens, eles eram mais altivos e tinham uma beleza parecida com a deles próprios. Fëaruin então soube: eram avari, os Relutantes, elfos que recusaram a Grande Marcha dos Eldar. Nunca ele imaginara que eles haveriam de chegar até ali. Surpreendeu-se então, pois sabia que os avari haviam explorado muito da Terra-média, enquanto que os Calaquendi viviam à Luz de Laurelin e Telperion.
Devido à imponência de Fëaruin montado em seu cavalo magnífico e vestido de cota prateada e capa azul, e sua poderosa espada ao seu lado, os avari o reverenciaram, e apesar da língua um pouco diferente, já que os avari e os calaquendi haviam sido separados muito tempo atrás e a língua havia tomado rumos diferentes, Fëaruin interpretou rapidamente a fala dos Relutantes, e soube que havia uma pequena cidade avari à Leste. Eles então partiram para lá, onde puderam descansar e se alimentar, estabelecendo morada em Grothbar, “Caverna da Morada”, na costa leste das Ered Luin.
Após alguns anos vivendo entre os avari, Fëaruin e os outros fugidos ensinaram muito àquele povo, inclusive ensinava-os já a falar, ler e escrever sindarin, e os ritos a Ilúvatar. O quenya dos noldor era mais difícil, e apenas alguns dos avari conseguiam aprendê-lo.
Muitos já haviam sido os feitos do noldo a prol dos avari quando, após um ataque duma companhia de homens servos de Morgoth, que Laitahero, o então líder dos moriquendi rebelou-se, pois vira que o calaquendi tinha então mais poder que ele. Sucedeu-se o duelo de Fëaruin e Laitahero, e no final Fëaruin prevaleceu, pois era bem mais forte e poderoso, e Laitahero, derrotado, humilhado e nutrindo ódio eterno, foi expulso da cidade pelos avari, sendo Fëaruin eleito pelos elfos de lá como Rei e governante.
Os avari estavam no meio da construção de uma cidade fortaleza para viverem, quando irrompeu a Guerra da Ira. E eles sentiam a repercussão da guerra, pois o chão tremia e a terra rachava. Mais uma vez em sua longa vida, Fëaruin soube que era hora de partir, desta vez para o Sul, ou melhor, o Sudeste, para ficar ainda mais longe de Melkor. E Fëaruin podia sentir o mal de Melkor inquieto e irritado.
Eles marcharam durante toda a Guerra da Ira, e quando esta finalmente terminou, Fëaruin sentiu o mal de Melkor sendo levado e derrotado, e a Terra havia mudado. Entretanto, ele ainda sentia o mal de Sauron. Nos calendários de seu povo, Fëaruin marcou então aqueles acontecimentos como o final da Primeira Era do Sol, e início da Segunda Era, a que mais tarde ele chamaria de outro nome.