Faris Farid- o Rukan
Usuário
Saudações pessoal,
Sou novo no fórum e tenho lido os textos de muitos de vocês, pelo menos os mais recentes, e não preciso dizer que tenho gostado muito. Vou postar um pequenino que escrevi. Qualquer coisa é só dizer.
Do campo
Escrevo-lhe para dizer como anda aqui, dentro deste lugar miúdo e ao mesmo tempo imenso. Tenho feito o que posso, e sempre os meus esforços não rendem muitos frutos, porém, agora, há algo diferente. Há umas oito luas atrás aproximadamente, fui até aquele velho campo aonde você costumava plantar suas débeis flores com a ingênua esperança de que viveriam para todo o sempre. E se decerto vivessem, veja como seria estranho vê-las hoje, como seria por demais utópico querer que aquelas rajadas que assaltavam teu pequeno jardim, solitário em meio a um campo extenso como este, deixassem vivas tuas amadas flores. Bem, que eu não fuja ao que pretendo dizer meu caro, você me conhece o suficiente para saber que eu posso facilmente me tornar enfadonho quando de uma idéia à outra vou por uma via diferente da qual me propus a seguir. Ouvi-me então.
O fato é que fazia um tempo já que eu vinha visitando freqüentemente aqueles campos, creio que seja a época, própria para colher sentimentos doces e ilusórios. Não obstante aqui as estações se apresentarem revoltas e diferentes de qualquer lugar, venho visitando seus campos assiduamente como lhe disse; e o que me levou até lá naqueles tempos e ainda leva, foi a morte de uma de suas flores. A última que eu vi você plantar na tua costumeira distância, que vi você plantar já consciente de que o campo se estenderia e a levaria para longe. Empenhei-me realmente, em tentar entender o que te levava a sair dia ou outro ainda pela manhã, pela madrugada úmida, com apenas uma semente na mão. Verdade, ela morreu talvez na noite, vítima da sua própria cegueira. Pedi confirmação a um lobo que passava por ali e ele me disse que sim, que ela não via mais sol qualquer que se parecesse com o nosso “talvez outro ela veja quando chegar noutro campo, e quem sabe se não terá melhor sorte?” completou ele e logo disparou atrás de uma lebre distraída que passeava perto. Mas que seja, ao menos dessa vez você já havia vivido o fim dela antes dele chegar. Fez bem, foi certo teu ato.
Contudo vejo que estes campos tomaram novo vigor e tudo parece reviver, sendo como foi uma vez apenas, desde que tu nasceste. Achegou-se do campo, certa tarde, um pássaro nunca visto por mim aqui por estas paragens. Desceu lentamente ao chão, trazendo no bico uma semente reluzente ao sol que se inclinava ao horizonte. Lançou-a ele em uma fenda que partia o solo seco, incomum vala para semear o que quer que seja, para em seguida desaparecer num vôo rápido.Confesso que fiquei deveras triste por ver assim desperdiçada uma semente, não importando qual fosse sua futura forma. Entendi então, e penso que só em parte, a razão por que tu saías pela manhã ainda fresca para semear um canto desta infindável região. Esta ave misteriosa, não obstante parecer seguir a trama invisível da natureza, contrariava qualquer senso de providência. Deixou sua semente lá e partiu, e se você me perguntar qual a razão de eu não ter feito nada pela abandonada, direi que não sei qual ordem seguia aquele ser, não podendo eu desta maneira interferir no que me fugia da compreensão. Então observei por um tempo mais e fui embora.
Sou novo no fórum e tenho lido os textos de muitos de vocês, pelo menos os mais recentes, e não preciso dizer que tenho gostado muito. Vou postar um pequenino que escrevi. Qualquer coisa é só dizer.
Do campo
Escrevo-lhe para dizer como anda aqui, dentro deste lugar miúdo e ao mesmo tempo imenso. Tenho feito o que posso, e sempre os meus esforços não rendem muitos frutos, porém, agora, há algo diferente. Há umas oito luas atrás aproximadamente, fui até aquele velho campo aonde você costumava plantar suas débeis flores com a ingênua esperança de que viveriam para todo o sempre. E se decerto vivessem, veja como seria estranho vê-las hoje, como seria por demais utópico querer que aquelas rajadas que assaltavam teu pequeno jardim, solitário em meio a um campo extenso como este, deixassem vivas tuas amadas flores. Bem, que eu não fuja ao que pretendo dizer meu caro, você me conhece o suficiente para saber que eu posso facilmente me tornar enfadonho quando de uma idéia à outra vou por uma via diferente da qual me propus a seguir. Ouvi-me então.
O fato é que fazia um tempo já que eu vinha visitando freqüentemente aqueles campos, creio que seja a época, própria para colher sentimentos doces e ilusórios. Não obstante aqui as estações se apresentarem revoltas e diferentes de qualquer lugar, venho visitando seus campos assiduamente como lhe disse; e o que me levou até lá naqueles tempos e ainda leva, foi a morte de uma de suas flores. A última que eu vi você plantar na tua costumeira distância, que vi você plantar já consciente de que o campo se estenderia e a levaria para longe. Empenhei-me realmente, em tentar entender o que te levava a sair dia ou outro ainda pela manhã, pela madrugada úmida, com apenas uma semente na mão. Verdade, ela morreu talvez na noite, vítima da sua própria cegueira. Pedi confirmação a um lobo que passava por ali e ele me disse que sim, que ela não via mais sol qualquer que se parecesse com o nosso “talvez outro ela veja quando chegar noutro campo, e quem sabe se não terá melhor sorte?” completou ele e logo disparou atrás de uma lebre distraída que passeava perto. Mas que seja, ao menos dessa vez você já havia vivido o fim dela antes dele chegar. Fez bem, foi certo teu ato.
Contudo vejo que estes campos tomaram novo vigor e tudo parece reviver, sendo como foi uma vez apenas, desde que tu nasceste. Achegou-se do campo, certa tarde, um pássaro nunca visto por mim aqui por estas paragens. Desceu lentamente ao chão, trazendo no bico uma semente reluzente ao sol que se inclinava ao horizonte. Lançou-a ele em uma fenda que partia o solo seco, incomum vala para semear o que quer que seja, para em seguida desaparecer num vôo rápido.Confesso que fiquei deveras triste por ver assim desperdiçada uma semente, não importando qual fosse sua futura forma. Entendi então, e penso que só em parte, a razão por que tu saías pela manhã ainda fresca para semear um canto desta infindável região. Esta ave misteriosa, não obstante parecer seguir a trama invisível da natureza, contrariava qualquer senso de providência. Deixou sua semente lá e partiu, e se você me perguntar qual a razão de eu não ter feito nada pela abandonada, direi que não sei qual ordem seguia aquele ser, não podendo eu desta maneira interferir no que me fugia da compreensão. Então observei por um tempo mais e fui embora.