Eli Nerwen
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[Eli Nerwen][Páginas em Branco]
Páginas em Branco
Perdi-me em algum ponto. Algures algum dia hei de encontrar a saída desse maldito inferno em que me encontro, um gigantesco labirinto de dantescos demônios que modificam os caminhos, removem as paredes e empurram-me cada vez mais para dentro e para dentro...
Perdi-me em algum ponto. Mas como saber onde, se nem ao menos sei quando?No meu livro há paginas em branco, e ninguém pode escrevê-las agora. Pois não foi essa tarefa a mim designada? Mergulhado nas águas escuras em que me encontro, não existe no mundo pessoa capaz de me salvar.
Atravesso agora a rua. Um pobre homem doente que carrega o peso de suas angustias pelos tortuosos caminhos de um labirinto estranho, onde cada caminho revela apenas que não existe caminho...
Sim, sim, me perdi e nunca mais hei de me encontrar. Mas o que é isso? Oh, droga! Por que há sangue nas minhas calças? Foi será aquele maldito gato que vazou sobre mim? Não, não... isso já faz semanas... então por que sangue insiste em manchar minhas calças, corroborar o mistério, turvar minha visão?
Sou capaz ainda de encontrar o caminho de casa, minhas pernas o fazem por mim... E que horrível cheiro será esse que inunda minha narinas e mistura-se ao meu sangue? Agora posso senti-lo por todo o corpo...
A chave gira na porta. Oh! Malditas moscas que não me deixam em paz. “ao acaso existe carne nessa casa?” ou quem sabe um porco morto esquecido... Sim, sim, talvez haja de fato um grande porco morto no chão da sala. Atravesso agora a cozinha. As gavetas reviradas (alguém à procura de uma faca?), cadeiras tombadas; houve luta aqui.
Agora, a sala, o último ato, a página em branco...
Vejam só! Ao menos nesse ponto acertei, oh, sim... jaz aqui um porco morto...
Inverossímil! Meus olhos me traem? Mas não é isso um porco... se as malditas moscas ao menos me deixassem vê-lo... Oh, não! Também isto não pode ser! A mais horrível das cenas descortina-se diante de mim! É essa criatura um homem, Santo Deus! E o sangue nas minha calças agora mistura-se ao sangue coagulado da horrenda figura... as faces dilaceradas e carcomidas com as moscas a devorar-lhe vagarosamente a carne. A ultima peça do quebra-cabeças, a cartada final.
Minhas pernas enfraquecem. Ficarei de joelhos aqui para todo o sempre. Não há mais como escapar. No labirinto, minhas crias, os demônios, escarnecem de mim. Não é preciso procurar a saída. Ela nem mesmo existe. Não mais.
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Páginas em Branco
Perdi-me em algum ponto. Algures algum dia hei de encontrar a saída desse maldito inferno em que me encontro, um gigantesco labirinto de dantescos demônios que modificam os caminhos, removem as paredes e empurram-me cada vez mais para dentro e para dentro...
Perdi-me em algum ponto. Mas como saber onde, se nem ao menos sei quando?No meu livro há paginas em branco, e ninguém pode escrevê-las agora. Pois não foi essa tarefa a mim designada? Mergulhado nas águas escuras em que me encontro, não existe no mundo pessoa capaz de me salvar.
Atravesso agora a rua. Um pobre homem doente que carrega o peso de suas angustias pelos tortuosos caminhos de um labirinto estranho, onde cada caminho revela apenas que não existe caminho...
Sim, sim, me perdi e nunca mais hei de me encontrar. Mas o que é isso? Oh, droga! Por que há sangue nas minhas calças? Foi será aquele maldito gato que vazou sobre mim? Não, não... isso já faz semanas... então por que sangue insiste em manchar minhas calças, corroborar o mistério, turvar minha visão?
Sou capaz ainda de encontrar o caminho de casa, minhas pernas o fazem por mim... E que horrível cheiro será esse que inunda minha narinas e mistura-se ao meu sangue? Agora posso senti-lo por todo o corpo...
A chave gira na porta. Oh! Malditas moscas que não me deixam em paz. “ao acaso existe carne nessa casa?” ou quem sabe um porco morto esquecido... Sim, sim, talvez haja de fato um grande porco morto no chão da sala. Atravesso agora a cozinha. As gavetas reviradas (alguém à procura de uma faca?), cadeiras tombadas; houve luta aqui.
Agora, a sala, o último ato, a página em branco...
Vejam só! Ao menos nesse ponto acertei, oh, sim... jaz aqui um porco morto...
Inverossímil! Meus olhos me traem? Mas não é isso um porco... se as malditas moscas ao menos me deixassem vê-lo... Oh, não! Também isto não pode ser! A mais horrível das cenas descortina-se diante de mim! É essa criatura um homem, Santo Deus! E o sangue nas minha calças agora mistura-se ao sangue coagulado da horrenda figura... as faces dilaceradas e carcomidas com as moscas a devorar-lhe vagarosamente a carne. A ultima peça do quebra-cabeças, a cartada final.
Minhas pernas enfraquecem. Ficarei de joelhos aqui para todo o sempre. Não há mais como escapar. No labirinto, minhas crias, os demônios, escarnecem de mim. Não é preciso procurar a saída. Ela nem mesmo existe. Não mais.
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