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[L] [Dimitra Wormwood] [Sem Título]

queria pedir a opinião dos interessados =)

A imagem se distorcia e turvava diante de si. O pó de arroz ordinário dava uma aparência lúgubre e mortiça sobre a luz insuficiente. Ele levou os nós dos dedos às pálpebras e esfregou-as enérgica e cautelosamente para não ter de passar aquele pó asfixiante uma segunda vez. Fitou-se no espelho rachado. A imagem estabilizou-se por um momento, mas não tardou a rodopiar e saltitar alegre à melodia apressada que jorrava estridente da arena.
Estava cansado. Muito cansado. Era isso.
Ele esboçou um sorriso forçado e engoliu uma saliva grossa e pegajosa.
Pegou o lápis negro e aproximou-se de seu gêmeo mímico que o copiava do outro lado do vidro. Seu cabelo liso aparado pouco abaixo da orelha luzia cheio de brilhantina sobre a luminosidade que adentrava tímida entre as lonas dependuradas. Deslizou com suavidade a ponta preta por entre as longas pestanas, até o ponto que viu seu gêmeo exibir um sorriso desvairadamente insano. Atônito, pressionou o lápis com tanta intensidade que tal escorregou e aferroou seu olho direito. Sua visão anuviou-se, e ele teve a impressão de ver seu sósia abafando um riso debochado. Entrelaçou seus cílios, enquanto uma lágrima negra riscava seu rosto, deixando um rastro de pele nua atrás de si.
Era uma alucinação. Não sorria de tal maneira atroz. Ele imaginara aquilo. Estava perturbado. E cansado.
“Cinco minutos para a sua entrada” vociferou alguém do outro lado do cortinado.
“Tá legal” respondeu à meia voz.
Estava cansado.
Esperou sua mão estabilizar-se e abriu os olhos. Encarou a si mesmo esguio em um terno preto de camisa de mesmo tom, rodeado de caixotes com roupas, fantasias, apetrechos e bugigangas, emanando uma certa aura de temor e aflição. Experimentou levantar o braço esquerdo. O homem do espelho fez o mesmo. Ele levou o lápis ao olho, repetido impecavelmente pelo seu reflexo. Completou a maquiagem de ambos os olhos e fez um risco por cima do rastro de lágrima. Hesitou por alguns instantes, a observar atentamente seus próprios gestos nervosos. Em seguida riscou o outro lado e guardou a maquiagem em cima de um caixote fechado. Apanhou a capa negra enquanto ele mesmo consultava as horas em seu relógio de bolso, através da placa vítrea. Mortificado, verificou que seu relógio estava intacto dentro do bolso do paletó, expondo apenas sua corrente prateada.
Ergueu os olhos a tempo de ver seu sósia lhe assoprando um beijo através da mão enluvada.
Respirou fundo, apanhou a cartola, ajeitou-a na cabeça e saiu.
Um homem corpulento caminhava a passos largos em sua direção.
“Já ia lhe chamar” disse, e após uma pausa, comentou “Mudou a maquiagem hoje?”.
“Ah sim. Estava enjoado da antiga” respondeu polidamente e revelou um sorriso encantadoramente faiscante.
[27.02.2007]
 
Última edição:
Re: [Sem Título]

boa narração. realmente. vc tem talento, q tal colocar seus textos na valinor, quero dizer, caso vc escreva, lógico...
 
Muito boa sua narrativa, mas você pode melhorar ainda mais se utilizar a narração onisciente. Se, a sua intenção for inserir o leitor "dentro" da personagem para que ele veja ou sinta os tormentos daquele instante. Tem de incorporar a persona, Dimitra. Não tenha medo de "puxar" o leitor para dentro do turbilhão e deixá-lo pertubado com alguns flashbacks.

Boa sorte e bem-vinda ao clube!
 
ah, eu prefiro utilizar de um narrador parcialmente onisciente =P
porque se ele for completamente onisciente minha história não sai do lugar (ela já tem um andamento retardado por causa da abundância de descrição, embora nao tão presente neste texto específico),
obrigada pela dica ;D (vou tentar fazer um onisciente de verdade ;P)
 

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