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[L][Cervus][Supernova]

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Draper Inc.
Supernova


As ovelhas berram fora de casa. Deve ser uma nova sinfonia caprina sendo ensaiada, retificada pela mãe-carneiro e orquestrada pelo pai. O som irrita, mas com o passar do tempo se torna familiar, e assim deixa de perturbar. É como se mil manhãs raiassem e fossem embora em um segundo apenas (e como se no outro segundo tudo começasse novamente). É como se parte do céu despencasse sobre o teto de madeira da casa, e ressoasse pelo horizonte a voz irada de Deus, que grita: “mais barbantes! mais barbantes!”.
Quando as ovelhas cessam seus berros, e tudo fica silencioso outra vez, como deveria ser, é possível ouvir o barulho de todas as crianças que nascem mundo afora naquele instante. Vem abafado, como o som do mar ouvido dentro de uma concha, mas mesmo assim vem. Não falha. Nauseia a alma escutar os berros dos pequenos homens no lugar do das velhas ovelhas, mas, assim como o dos enovelados animais cessa, também o dos pequenos se vai, e tudo se torna nada outra vez.
Com o silêncio que invade o mundo após as crianças se calarem vem também uma nova voz, que dessa vez não é divina, nem pede barbantes. E ela ecoa pelos campos, distorcendo-se conforme tromba com um obstáculo qualquer, até chegar a ser ouvida: “caboom!”. E então também se vai — também some. Mas logo depois é explicada por uma outra coisa, maior e ainda mais bela: um grande facho de luz ora branca, ora dourada, que se desprende dos altos céus, do grande Universo, para vir iluminar a Terra e a casa. A luz não faz barulho: ela só está — e permanece brilhando, mas mesmo assim ainda é mais mítica do que a serenata das cabras, os barbantes santos ou o choro dos jovens homens.
Mas como todo o resto, o facho de luz também termina. É o ponto final, que finda mais um capítulo da carochinha dos anjos, intitulada “Sempre e De Volta Outra Vez”, onde o homem é bordado como aquele que só existe para apreciar o espetáculo angélico, como os olhos e ouvidos de um pobre macaco qualquer, que se embriaga com o cheiro da champanhe que é servida na recepção celeste em honra à essa peça teatral. Tontos, acabamos perdendo a maior parte da superprodução, tanto que muitos de nós não conseguem ver nem mesmo o final, a última grande surpresa da noite.
Vendo Deus onde só há ovelhas, e crianças onde não há nada, já mais que embriagados pelos cheiros e sons da festa que acontece nos Sete Céus, só resta aos pobres macacos deitarem em suas camas e se esquecerem de tudo; buscarem um mundo onde possam sonhar com tudo isso, por estarem demasiados cansados para conseguirem assistir a peça até o final — até quando explode a última supernova do Universo, e tudo o que aconteceu antes perde o significado. E o sentido. E a razão de ter sido admirado um dia. O último raio de luz antes das cortinas se fecharem sempre será o motivo de tudo ter acontecido. É como se fosse posto no fim para que nós não o enxergássemos mesmo, pois, de um jeito ou de outro, jamais entenderíamos o que há de tão misterioso e onipotente em um punhado de claridade, já que a peça não é inteligível, nem consegue despertar em nós a vontade de viver em um lugar melhor ou mais bonito do que o que estamos acostumados a ver todos os dias; pois não se trata de entender como as coisas funcionam, porque elas funcionam ou acontecem, já que, no fim, tudo se resume a amar — e — viajar — pelas — estrelas.
 

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