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[L][Caranthir][A casa e o mar]

Edu

Draper Inc.
Autor: Eduardo Furbino
Gênero: Sei lá o quê, ficção, eu acho.
Título: A casa e o mar


A casa e o mar​


A casa era, de fato, consumada como um ato e exemplo da grandiosidade humana, encerrada em uma pedra, mas aberta e exposta ao resto do mundo como um porto, um cais, aonde viessem pousar os pensamentos e assossegar os corações, se se permitisse a ela a constância de um momento sem muitas atribulações, pois era, ainda irrevogavelmente, uma casa d’homens e, como tal, assediada sem pausas para descansos pelas vontades desses.

Se o firmo do seu sopé e vergalhão era como o barulho surdinho do mar, não se sabe, ou melhor, se sabe, mas do que adianta? Que o mar é como a croncretitude de uma ação inabalável, verdade seja dita, é fato, pois suas ondas e remexeções o abalam, mas não o calam, nem com ele terminam. Mas a casa, se concreta assim é, se a força que a mantém também vem de seus abalos interiores, eu que sei? Eu não sei.

Eu vi, vim, passei, mas as casas se mantêm após seus donos, tremeses duram intactas, só acumulando particulinhas do fim, a poeira-da-areia, o picumã de um descaso insosso dos novos (se tiverem novos) donos e, ao fim dos meses, cai sua resistência e elas se entregam ao tempo, quebrantando suas formas parede a parede. Mas duram. Quando caem, ainda lhes resta a base. Quando essa, então, se vai, ainda lhes sobra o tempo.

Que casas não são concretas, mas duradouras para além da história, há de se saber todos os que interesse tiverem em discernir o que é casa do que é mar, o que é lar do que é tenebroso, o que é briga do que é paz. Se se disser do mar algo ruim, que antes lhes seja lembrada a casa. Não! Que, se se disser do mar algo ruim, que antes lhes sejam lembrados os homens e aquilo que constroem, pois as casas são dos homens, como esses são da terra. Se à terra eles voltam, aos homens é que elas, as casas, vão, seguem, prosseguem.

A casa não dura no chão, o tempo é que absorve as grandes paredes e a elas põe fim. Se se souber de alguém que viveu além da sua casa, que se saiba também que de vida, devidas as proporções do fato, é que esse não vive mais. O devir, devemos ir, sempre ao encontro de nós, sempre ao encontro do nosso… sempre ao encontro pode-se ir sem o lar, como sem o mar, e ao abandono deixar o que é nosso. Se soubermos o que é.

O mar engole o recife, alaga os pés, o bucho. Mas é o mar, senão, o que será?, que alimenta a segunda alma, a que não mostramos à ninguém, a que dividimos em quatro, cinco partes, para não, para, acredite, podermos ver que são pulos os risos e maneiros dessas linhas gerais que traçamos por nós. Pense em linhas que, se se esquecer do mundo, da casa, do mar, das linhas que traçastes não te esquecerás jamais!

Pois de linhas são feitas as casas, as que não foram feitas, só postas, e as que não foram postas, só erguidas. Soerguidas, diga!, imagine se soerguidas são as casas, pois eu digo não: estão no mar, ao nível do mar, a não ser que ele, e nada mais, as levante aos céus, até onde tocam o firmamento e dizem “ah, mas que zona!” ao olhar para a terra. Diga que os rios são mares, que o rio grande é isso, o mar, pois, se não, o que é rio, e o que é mar? E, suspiro, santo é aquele que contar as casas dentre as ilhazinhas dos grandes rios. Homem de bem, diferente e mais sábio que aqueles que constroem casas sem saber que mexem com o tempo, transgridem o vento, são sempre, mas também nunca!, artífices de si e do mundo. E eu, que não conto ganhar os medos dos que vieram antes de mim, mas os risos que ecoam nas, e entre as, paredes…

Se se esquecer de tudo, volte para casa tomando o caminho das águas, mas devolva-o quando acabar de usar, pois ele segue até o mar… ele segue até o mar. Ninguém te segue até lá. Que, se para terminar for a vida, o tempo se encarregue de fazê-la, também, uma outra casa nova.

Mas, ouça, ainda não é tempo de paz. Vozes ecoam no raiar da alvorada.
 
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