Tão certamente o
Kalevala influenciou Tolkien que o próprio admitiu isso, como é visto nas
Cartas:
Carta 75 disse:
(...) o finlandês quase arruinou meu Bach[arelado] e foi o germe original do Silmarillion.
Carta 131 disse:
(...) Havia [lendas] gregas, celtas e românicas, germânicas, escandinavas e finlandesas (que muito me influenciou) (...)
Carta 163 disse:
(...) Contudo, o início do legendário, do qual a Trilogia é parte (a conclusão), foi uma tentativa de reorganizar algumas partes do Kalevala, em especial o conto de Kullervo, o infeliz, em uma forma de minha própria autoria.
Carta 257 disse:
(...) O germe de minha tentativa de escrever lendas minhas para adequarem-se a meus idiomas particulares foi o conto trágico do infeliz Kullervo no Kalevala finlandês. Permanece um aspecto importante nas lendas da Primeira Era (que espero publicar como O Silmarillion), embora como "O Filhos de Húrin" esteja inteiramente modificado, exceto no final trágico.
Mencionei mais detalhadamente a influência do conto de Kullervo no de Túrin
neste post.
Quanto a influência do finlandês em si no Quenya, isso também foi reconhecido por Tolkien:
Carta 144 disse:
(...) Na verdade, pode-se dizer que é composto sobre uma base latina com dois outros ingredientes (principais) que por acaso proporcionam-me um prazer "fonoetético": o finlandês e o grego. Todavia, é menos consonantal que qualquer um dos três [o terceiro sendo o latim]. Esse idioma é o Alto-Élfico, ou em seus próprios termos Quenya (Élfico).
Quanto ao
Kalevala em si:
É um poema dividido em 50
runos (cantos), compilado pelo médico (por profissão) e mitólogo (amador) Elias Lönnrot basicamente no interior do leste da Finlândia. A versão preliminar do poema foi publicada em 1835 e é conhecida como
Kalevala Antigo, enquanto que a versão definitiva foi publicada em 1849. Dados os movimentos nacionalistas da época na Finlândia, o poema foi recebido e adotado como o épico nacional do país.
Há várias histórias no poema, mas elas tratam principalmente dos feitos de três "heróis", Väinämöinen, Lemminkäinen e Ilmarinen, e das peripécias destes e outros personagens com relação ao Sampo, um moinho mágico de três lados que produz ouro, sal e grãos em quantidades ilimitadas, forjado pelo ferreiro Ilmarinen. A história de Kullervo é inserida no meio do poema, e vai dos cantos 31 a 36.
Apesar de a história de Kullervo ser a influência mais óbvia n'
O Silmarillion, há ainda outros elementos do poema que podem ser percebidos na obra de Tolkien, em especial a relação do Sampo com as Silmarils em sua função e criação (vide o artigo
O que Tolkien realmente fez com o Sampo para mais detalhes) e o fato de um dos "Três Grandes", Väinämöinen, um bardo, usar canções de poder para realizar alguns feitos (alguma semelhança com Tom Bombadil e Finrod x Sauron?

).
Quanto às traduções, há para diversas línguas, mas para o português daqui do Brasil ainda não. Pelo visto uma para o português de Portugal está em andamento; vamos ver se ficará realmente boa. Em inglês há pelo menos quatro traduções bem conhecidas, sendo que delas para a mim a melhor é a de Francis Peabody Magoun, Jr. Se forem ler em inglês, leiam esta. A que está disponível online, como no site Sacred Texts, foi feita a partir da tradução do alemã; logo, é uma tradução da tradução, e realmente não é das melhores.
Em suma, é um poema fantástico e de uma beleza ímpar, que merece ser admirado e lido não só porque foi uma das principais influências em Tolkien, e sim por mérito próprio.
