Marco disse:
Acredito que o grande problema com as capas feias, nem é falta de arte, pois temos muitos bons artistas no Brasil trabalhando nessa área. Entretanto mesmo assim, quando um livro é traduzido muitas vezes ele até tem uma capa fodona, mas quando chega a versão brasileira nem sempre a mesma capa é publicada.
Porque? A resposta é muito simples o mercado editorial tem o problema do poder aquisitivo do público brasileiro. E pra você lançar um livro com uma capa bonitona, implica que as vezes é necessário uma maior investimento em materiais e texturas diferentes para capa, contratação de um, bom, artista gráfico e por aí vai...
Tudo isso encarece o preço da obra. E entre vender um livro bonito pra uma minoria ou atingir o grande público, que na maioria das vezes prefere que o livro venha até sem capa se o preço compensar, é claro que as editoras preferem nivelar por baixo.
Por essa razão o número reduzido de edições mais caprichadas. E vou até um pouco mais longe, a economia até deu uma aquecida e tals, consumidores tem maior poder de comprar e tem preferido a aquisição de bens duráveis e teoricamente as editoras poderiam inestir mais no acabamento dos livros. Mas porquê não investem?
Simplesmente porque livro não é um artigo de primeira necessidade, a maioria da população sobrevive tranquilamente sem ele. Acredito que falta ainda uma maior valorização dos livros como um bem de consumo, como um bem cultural! Falta principalmente um programa[decente] de incentivo a leitura no Brasil. Começando da base nas escolas, mostrando a importância dos livros, trazendos-os para o dia a dia do cidadão brasileiro.
Eu tenho esperança que no futuro(quem sabe próximo...) possa ver adolescentes e adultos preferindo gastar o dinheiro de uma balada ou uma rodada de cerveja, na compra de um livro.
O mercado editorial (talvez até por questões econômicas que você mesmo apontou) não é voltado para a possibilidade de redução de preços, mas voltado ao público que comprará livros independente dos preços. Um sintoma disso é o fato de que simplesmente não temos paperback aqui no Brasil (enquanto lá fora as listas de mais vendidos chegam inclusive a se dividir entre 'hardcover' e 'paperback').
E por quê? Porque as pessoas que "compram" livros (não necessariamente as que lêem, devo frisar) gostam de livros bonitos, aqueles que você possa colocar na estante. Os "compradores" não gostam de papel jornal (e alguns inclusive abominam o papel pólen - aquele mais amarelado, muito mais agradável de ler).
O resultado é que nós, leitores de fato, não temos a opção "mais barata", porque as editoras nem investem nisso. Segue uma linha de raciocínio mais ou menos do tipo "Bom, se quem compra livro comprará o formato normal, por que colocar também o paperback e correr o risco de preju?". Um exemplo que costumo citar, nesse caso, é Os Filhos de Anansi, que saiu aqui no Brasil pela Conrad, numa edição em papel brancão furreca, capa furreca e que chegou ao mercado custando mais de 50 reais (agora já dá para encontrar por 38). Lá nos EUA a edição hardcover está na faixa dos 9 dólares (o que no valor atual dá algo em torno de 16 reais) e o paperback está na faixa dos 7 dólares. Há opção. Mas também há mercado.
Então, não é uma questão de "economia", até porque editoras que fizeram capaz horríveis já lançaram capas lindíssimas (Companhia das Letras, por exemplo, tem aquelas edições bacanas com a lateral colorida e a capa levemente encerada, que dá um efeito legal, e a própria Conrad lançou Deuses Americanos com efeito laminado no título, o que também deu um efeito bacaninha). Então, não é questão de valor dos produtos nem nada. Parece mais relaxo mesmo.
Ou, é claro, aquele caso básico do marketing, né? Já que a maior parte das reclamações sobre capas desse tópico são voltadas às capas baseadas nos filmes (tipo Fronteiras do Universo, Eu sou a Lenda, etc.). Aí mais do que relaxo, é querer embarcar na onda para vender os livros. E nessa situação, já acho que a culpa nem é da editora, já que para alguns leitores a associação com o filme que ele gostou (ou que "está na moda") é muito mais automática do que a associação ao nome do autor, por exemplo.
(BTW, a Arte&Letra fez uma capa MUITO foda para as Cartas, e o livro não passou da casa dos 40 reais se eu não me engano. Então, não dá para dizer que certos caprichos na arte do produto não elevem o preço, mas a realidade é que não sai muito fora do que o público já paga para edições "feias").