• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Jorge Amado

Lucas_Deschain

Biblionauta
[align=center][size=medium]Jorge Amado[/size][/align]

Uma breve biografia:

Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912 — Salvador, 6 de agosto de 2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Existem dúvidas sobre o exato local de nascimento de Jorge Amado. Alguns biógrafos indicam que o seu nascimento se deu na Fazenda Auricídia, à época município de Ilhéus. Mais tarde as terras da fazenda Auricídia ficaram no atual município de Itajuípe, com a emancipação do distrito ilheense de Pirangy. Entretanto, é certo que Jorge Amado foi registrado no povoado de Ferradas, pertencente a Itabuna.

Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa. Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta, Gabriela e Tereza Batista são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos.

A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos.

Mesmo dizendo-se materialista, era simpatizante do candomblé, religião na qual exercia o posto de honra de Obá de Xangô no Ilê Opó Afonjá, do qual muito se orgulhava. Amigos que Jorge Amado prezava no candomblé as mães-de-santo Mãe Aninha, Mãe Senhora, Mãe Menininha do Gantois,Mãe Stella de Oxóssi, Olga de Alaketu, Mãe Mirinha do Portão, Mãe Cleusa Millet, Mãe Carmem e o pai-de-santo Luís da Muriçoca.

Como Érico Veríssimo e Rachel de Queiroz, é representante do modernismo regionalista (segunda geração do modernismo).

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Amado

Gosto muito da maneira fluida como escreve esse brasileiro. Não li a obra completa, devido a quantidade de obras publicadas. Espero estar ao nível de meus honoráveis colegas para participar das discussões.
 
Terminei recentemente Capitães da Areia, até agora foi o único livro que li dele. Também gostei da maneira como ele escreve, a leitura é leve e corre sem problemas. Acho que seria interessante postar aqui o post com indicações de livros dele que você( Lucas) fez no tópico do Capitães da Areia:

Lucas_Deschain disse:
Bom, Gabriela Cravo e Canela é o mais lembrado e o mais clássico, se você quiser tomar como base esses argumentos. Mas Tocaia Grande é um livro ótimo também, se fosse você leria o primeiro antes. Com o tempo você pode ir lendo os outros, muitos deles bons também, como Seara Vermelha, Terras do Sem Fim,, por exemplo. Tenda dos Milagres e Mar Morto são dois que não li, mas ouvi dizer que são ótimos.
Quando ler poste no tópico do Jorge Amado que criei no sub-fórum Autores Nacionais, OK?
 
[align=justify]Sabe que nunca me animei a ler nada do Jorge Amado, não sei se porque me sinto tão alheia as obras muito regionais do norte e nordeste, me lembro quando li Morte e Vida Severina, que estranhamento pra mim, as palavras diferentes, os locais tão distantes do que vejo aqui, já me disseram uma vez que gaúchos quando leêm obras do norte/nordeste é a mesmo coisa que estrangeiro lendo, as vezes me sinto assim, e a recíproca deve ser a mesma, imagino um baiano lendo por exemplo Tempo e o Vento deve ser bem diferente!
Lucas vou aproveitar a tua sugestão e vou ler esse Tocaia Grande, tem na biblioteca e vou lá hoje, depois posto aqui o que achei!

estrelinhas coloridas...[/align]
 
-Arnie- disse:
Mi, você não consegue gostar nem de Graciliano Ramos? .-.

E tem como não gostar de Graciliano?! É claro que gosto, até porque eu não disse que não gosto, e sim que me sinto distante das obras, é mesmo uma questão de identificação mesmo, as obras não me tocam tanto e ai acabo deixando eles para depois, mas é só isso, eu adoro por exemplo Ariano Suassuna e me sinto distante das obras deles, acho que exemplificando melhor, pra mim é a mesma coisa que ler um autor estrangeiro, eles falam de um Brasil que eu não conheço, que só está no meu imaginário.

estrelinhas coloridas...
 
[align=justify]Depois que você lê, sei lá, três obras pelo menos do Jorge Amado, acaba percebendo que certos elementos e personagens são constantes em suas histórias. O erotismo, por exemplo, de uma forma mais velada ou mais pujante, acaba por aparecer nas obras; homens turrões e mulheres "apimentadas" também são comuns.
Embora não tenha lido muita coisa dele, confesso que é uma literatura que me agrada muito, até mesmo pela fluidez dela. O que mais me chama a atenção na obra do Jorge Amado, digamos assim, é o conteúdo e o retrato que ele faz sobre aquilo tudo. A forma é algo meio "ofuscado" pela riqueza do conteúdo, embora, repito, a narrativa dele seja muito agradável de ser lida.[/align]
 
Mi Müller disse:
-Arnie- disse:
Mi, você não consegue gostar nem de Graciliano Ramos? .-.

E tem como não gostar de Graciliano?! É claro que gosto, até porque eu não disse que não gosto, e sim que me sinto distante das obras, é mesmo uma questão de identificação mesmo, as obras não me tocam tanto e ai acabo deixando eles para depois, mas é só isso, eu adoro por exemplo Ariano Suassuna e me sinto distante das obras deles, acho que exemplificando melhor, pra mim é a mesma coisa que ler um autor estrangeiro, eles falam de um Brasil que eu não conheço, que só está no meu imaginário.

estrelinhas coloridas...

Ah sim, agora entendi. Deve ser muito estranho mesmo um leitor que está desligado do Nordeste pegar um Morte e Vida Severina, ou Sei Lei Nem Rei, de Maximiano Campos. Nordeste e Sul são dois países dentro do Brasil. Fico até curioso (na verdade, ainda mais curioso) para ler O Tempo e o Vento. hm/

E por causa da imagem populista que tenho de Jorge Amado, nunca me interessei em ler nada dele.
 
Lucas_Deschain disse:
[align=justify]Depois que você lê, sei lá, três obras pelo menos do Jorge Amado, acaba percebendo que certos elementos e personagens são constantes em suas histórias. O erotismo, por exemplo, de uma forma mais velada ou mais pujante, acaba por aparecer nas obras; homens turrões e mulheres "apimentadas" também são comuns.
Embora não tenha lido muita coisa dele, confesso que é uma literatura que me agrada muito, até mesmo pela fluidez dela. O que mais me chama a atenção na obra do Jorge Amado, digamos assim, é o conteúdo e o retrato que ele faz sobre aquilo tudo. A forma é algo meio "ofuscado" pela riqueza do conteúdo, embora, repito, a narrativa dele seja muito agradável de ser lida.[/align]

Já conseguistes me convencer a ler algo dele Lucas XD



-Arnie- disse:
Mi Müller disse:
-Arnie- disse:
Mi, você não consegue gostar nem de Graciliano Ramos? .-.

E tem como não gostar de Graciliano?! É claro que gosto, até porque eu não disse que não gosto, e sim que me sinto distante das obras, é mesmo uma questão de identificação mesmo, as obras não me tocam tanto e ai acabo deixando eles para depois, mas é só isso, eu adoro por exemplo Ariano Suassuna e me sinto distante das obras deles, acho que exemplificando melhor, pra mim é a mesma coisa que ler um autor estrangeiro, eles falam de um Brasil que eu não conheço, que só está no meu imaginário.

estrelinhas coloridas...

Ah sim, agora entendi. Deve ser muito estranho mesmo um leitor que está desligado do Nordeste pegar um Morte e Vida Severina, ou Sei Lei Nem Rei, de Maximiano Campos. Nordeste e Sul são dois países dentro do Brasil. Fico até curioso (na verdade, ainda mais curioso) para ler O Tempo e o Vento. hm/

E por causa da imagem populista que tenho de Jorge Amado, nunca me interessei em ler nada dele.


Pois então Arnie este distanciamento da realidade do Norte/Nordeste acaba sempre me levando à outras leituras, mas estou buscando ler mais autores brasileiros que não sejam gaúchos, porque este país que guarda tantos outros dentro dele é muito rico para mim ficar me apegando nisso :timido:

estrelinhas coloridas...
 
[align=justify]
Mi Müller disse:
Pois então Arnie este distanciamento da realidade do Norte/Nordeste acaba sempre me levando à outras leituras, mas estou buscando ler mais autores brasileiros que não sejam gaúchos, porque este país que guarda tantos outros dentro dele é muito rico para mim ficar me apegando nisso :timido:

Quando lemos obras como as do Jorge Amado, que revelam muitos elementos típicos do regionalismo, de uma realidade distintíssima da nossa própria, tendemos a ter uma leitura e interpretação completamente diferente do que se conhecessemos mais a fundo aquilo sobre o que se fala.
Contudo, não vejo isso de maneira ruim, já que, além de abrir a oportunidade para que você conheça uma série de "coisas" que ainda não conhece, o livro te instiga a pensar sobre uma porção de outras coisas, é como conhecer outros mundos, outros universos, outras realidades. É mais ou menos como o -Arnie- tão brilhantemente falou no tópico sobre Stephen King:

-Arnie- disse:
Como o próprio Jake, persnagem da Torre Negra, diz: existem outros mundos além deste. Pena que os leitores só entendem isso como o plano astral.

Essa capacidade de transportar-se para outras realidades é uma das coisas que faz a Literatura ser tão rica.[/align]
 
Interessante isso, o tópico acabou gerando uma discussão legal acerca de regionalismo e literatura (o que poderia ser melhor explorado num tópico específico, não sei se já existe, mas fica aí a sugestão). Um país de proporções continentais como o nosso acaba sendo berço de diversas subculturas e um dos maiores beneficiados disso é justamente a literatura. O fator negativo da questão é, justamente, esse distanciamento, mas sempre procurei encará-lo com certa curiosidade e interesse.

Bem, voltando ao Jorge Amado. É um de meus autores nacionais preferidos, apesar de não ter lido tanto de sua obra. Das que li posso dizer que são um tanto folhetinescas (o que não as torna necessariamente ruim), a leitura flui bem, os personagens apesar de bem recorrentes são cativantes ao seu modo, as tramas são bem construídas e, por fim, consegue expressar muito bem os usos e costumes tão tipicamente nordestinos.
 
JORGE AMADO, UM DOS MELHORES DO BRASIL NO MUNDO

Jorge Amado, Para Muitos, o Maior Escritor do Brasil, Famoso e Popular no Mundo Inteiro


“Com o povo aprendi tudo quanto sei, dele me alimentei e, se meus são os defeitos da obra realizada, do povo são as qualidades porventura nela existentes. Porque, se uma virtude possui, foi a de me acercar do povo, de misturar-me com ele, viver sua vida, integrar-me em sua realidade. Quem não quiser ouvir pode ir embora, minha fala é simples e sem pretensão(...)” (AMADO, Jorge. Os Pastores da Noite)

Para os experts em literatura de um modo geral, estamos entre Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Machado de Assis e Carlos Drumond de Andrade, como os maiores e melhores escritores brasileiros de todos os tempos. Mas, de literatos ditos populares mesmo no mundo inteiro, acrescentamos a esses nomes os de Érico Veríssimo de Porto Alegre e principalmente Jorge Amado da Bahia. Jorge Amado com sua literatura que fica entre crítica social, um lado belamente exótico, e mesmo o lado bat-macumba do norte-nordeste brasileiro, mais a sensibilidade louca de suas personagens arrancadas de becos, bordéis, bares e ruas. Foi esse Brasil popularesco que Jorge Amado ventilou nas plagas do mundo inteiro, porque, certamente é o escritor brasileiro mais lido de todos os tempos, e, ainda certamente infinitamente melhor do que Paulo Coelho e até Luis Fernando Veríssimo. Enquanto Érico Veríssimo fica entre O Tempo e o Vento, e Incidente em Antares, como duas obras primas, do nível de Dom Casmurro, Macunaíma, Vidas Secas e Grandes Sertões Veredas, Jorge Amado, com mais de trinta livros, pontua no cenário bibliográfico mundial com clássicos extremamente difundidos e populares, como Dona Flor e seus Dois Maridos, Os Subterrâneos da Liberdade, Morte de Quincas Berro D´Água, Seara Vermelha, Gabriela Cravo e Canela, Capitães de Areia, Tenda dos Milagres, Teresa Batista Cansada de Guerra, Tieta do Agreste, entre outros. Todos eles vendendo o Brasil moreno-tropical, sensual, exótico, terras do sem fim com suas plagas de muito sol, latifúndios de cacau, praias e becos, os cultos afros, as crendices, as prosopopéias que cativaram, mais, seduziram leitores de centenas de países do mundo, muitos deles virando temas musicais, minisséries, novelas e até mesmo filme, inclusive em Hollywood.
A biografia de JORGE AMADO é bem extensa e muito bem retrata seu potencial criativo sem igual, e que num resumo imediato podemos relatar assim, em rápidas pinceladas:
-Jorge Amado, o maior representante do ciclo do romance baiano, nasceu na Bahia, em 1912. É o romancista brasileiro mais lidos no Brasil e no mundo. Com livros traduzidos para diversos idiomas, suas obras refletem a realidade dos temas, as paisagens, dramas humanos, secas e migrações, êxodos, sensualidade e rituais afros. Escritor desde a adolescência, Jorge Amado segue o estilo literário do romance moderno. Em seus livros existe o domínio do físico sobre a consciência. Suas personagens geralmente são plantadores de cacau, pescadores, artesãos e gente que vive próximo ao cais, em Salvador, Capital da Bahia. O estilo do autor também é conhecido como “romances da terra” e seus livros possuem uma linguagem agradável e de fácil compreensão. Suas obras literárias conquistaram não só os falantes da língua portuguesa como de outros idiomas: inglês, espanhol, francês, italiano, alemão, etc. O literato Jorge Amado morreu em Salvador (Bahia), no dia 6 de Agosto de 2001, poucos dias antes de completar 89 anos de idade.
Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o chamado prêmio Nobel da língua portuguesa. É também o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos televisivos como Tieta, Gabriela e Tereza Batista são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de várias escolas de samba do Brasil, o que o consagrou. Seus livros foram os mais traduzidos do Brasil, existindo também exemplares em braile e em fitas gravadas para cegos. Mesmo dizendo-se materialista, era simpatizante do candomblé, religião na qual exercia o posto de honra de Obá de Xangô no Ilê Opó Afonjá, do qual muito se orgulhava. Amigos que Jorge Amado prezava no candomblé, são as mães-de-santo Mãe Aninha, Mãe Senhora, Mãe Menininha do Gantois, Mãe Stella de Oxóssi, Olga de Alaketu, Mãe Mirinha do Portão, Mãe Cleusa Millet e Mãe Carmem. Com Rachel de Queiroz, Jorge Amado é representante do modernismo regionalista, a segunda geração do modernismo.
Segundo Dorine Cerqueira (Professora de literaturas, jornalista e ensaísta), “O estilo de Jorge Amado caracteriza-se por dois modos opostos: a crueza da linguagem e o tratamento poético do tema. O duramente realista e o de clima de poema, pois sua força poética está principalmente na conjugação do tema com a concepção das coisas populares que vivem animicamente em seus romances. Para Miécio Táti, o autor corre o risco de vir a jogar “artisticamente” com o sofrimento alheio, de tal forma que a simpatia do leitor seja levada a interessar-se mais pela “expressão poética do fato”, do que pelo “próprio fato”. O escritor confessa contudo que continua comprometido com o povo e que seus livros “buscam servir à transformação da sociedade”.
Em sua obra, Jorge Amado dá ênfase aos problemas sociais. É considerado um escritor de grande talento narrativo e de grande força sócio-poética, “Um contador de estórias”, como ele mesmo se achava. Sua linguagem é rica de elementos populares e folclóricos, e de grande conteúdo humano, além de narrativa descontraída e oralista. O escritor é um dos representantes do regionalismo brasileiro, e seus romances documentam a passagem de uma sociedade agrária para a industrial, e ainda trazem a preocupação com os problemas coletivos, ambientando suas narrativas no quadro rural e urbano da Bahia, sua terra. Sua obra, por estas e outras faces, é importante para a compreensão de nossa realidade social e histórica. Jorge Amado escreveu sobre a infância abandonada e delinqüente, meninos de rua (Capitães da Areia); a miséria do cais do porto da cidade (Mar Morto); os retirantes da seca, o cangaço (Seara Vermelha); a exploração do trabalhador urbano e rural (do cacau) e o coronelismo latifundiário (Cacau, Terras do Sem fim, São Jorge dos Ilhéus, Gabriela, Cravo e Canela, Tocaia Grande); denunciou a discriminação racial, abordando a vida do povo, a participação política, cultural e social das camadas humanas (Tenda dos Milagres, Pastores da Noite), entre outros temas que aborda com talento e preciosidade. O autor fixa ainda toda a atmosfera de encantamento e mistério da Cidade do Salvador, da Bahia de Todos os Santos: os orixás, os pais de santo, as rezas em nagô para Iemanjá, Oxóssi, Oxalá, os negros e as populações operárias, os saveiristas do recôncavo baiano, os pardieiros do velho Bairro da Sé, com seus malandros e suas prostitutas. Enfim, o mundo mágico da Bahia. Num processo intertextual, Jorge Amado entrelaça a fantasia na realidade da vida do povo baiano, e todas as crendices parecem se transformar numa força superior às teorias, força atávica, mitos que a inteligência do escritor assimila, como personagens ativos e presentes. Ele interpenetra, às vezes, o mito e a realidade, criando um clima sobrenatural e grandemente poético, como em Mar Morto: Iemanjá, Oxóssi, os demais orixás e mães-de-santo; em Jubiabá; nos despachos, em todos os feiticeiros, no poder milagroso das ervas, no olho da ruindade, nos cabelos perfumados da princesa de Aiocá, em Iansã, Exu e Ogum, no lobisomem, na caipora e nas mulas-de-padre, na macumba e no próprio candomblé, e na poesia da cidade negra, numa bonita e preciosa intertextualidade.
Talvez o mais "Amado" Jorge dos brasileiros de todos os tempos, segundo Edoardo Pacelli que dele muito bem diz:
“...Do encontro de mundos tão diferentes como o do índio, o do africano e o latino, temperado por óleo de dendê baiano, nasce o estilo de Jorge Amado. A novidade e a diversidade deste grande autor brasileiro são tão luxuriosas que alcançam um estado de espírito tão longe do estado recorrente de triunfo, orgulho e exaltação intelectual, característico da literatura ocidental. Com Jorge Amado as letras brasileiras enriqueceram a humanidade que experimentou e reviveu sua obra de arte, num gozo mental que acompanha o ato da cognição, da assimilação dos temas apresentados, tão novos e diferentes, tão profundamente misteriosos e místicos que provocam o desejo de viver numa vida mais intensa e radiante, moral e espiritualmente.
A prosa de Amado domina os leitores pela tendência deles a identificar-se e submeter-se voluptuosamente. Conseguindo criar um mundo próprio - completo em si, com configurações convincentes e atmosfera espiritual, sem se esquecer das problemáticas sociais - Jorge Amado trata seus heróis e heroínas de modo plástico, dando sensações e vitalidades novas, deixando o leitor se identificar com uma energia maior. Descrevendo os estados de espírito e tensões, alegrias e tristezas, aspirações e decepções de seus personagens, a literatura de Jorge Amado e, com ela, a literatura brasileira, tornou-se universalmente conhecida e reconhecida, desvelando ao mundo a riqueza do patrimônio cultural do Brasil e da Bahia, a grandeza de seus escritores, a maravilha do mundo encantado do interior, a luta para a libertação dos oprimidos e dos sofridos; das minorias que são maiorias rejeitadas e ignoradas, afastadas pelo ambiente em que vivem.
Mais que crítica social, pode-se chamar, as páginas literárias de Jorge Amado de construção social. Poder-se dizer que Jorge Amado representa o desvão da noite da cultura brasileira esquecida e ignorada, tornando-se o nascer da aurora de uma nova literatura, de um mundo, até então, perdido; recuperando uma geografia de tristezas e alegrias, um mundo de lembranças e realidades, ensinando aos leigos a aprender as paisagens, a escutar os ventos, a regressar a um universo sofrido e arcaico mas que, igualmente, reluz beleza”.
Tadeu Luciano Siqueira Andrade (UNEB) de Jorge Amado diz: “A obra de Jorge Amado não descreve apenas a vida do povo humilde da Bahia, mas, acima de tudo, uma revelação de classes sociais marginalizadas e com falares estigmatizados. Como disse Antonio Cândido, a obra de Jorge Amado é “uma ida ao povo.” E nessa ida, encontramos o falar dos pais e mães-de-santo em cultos aos orixás, quando sofriam a perseguição imposta pela polícia nos terreiros de candomblé. O falar dos grevistas, exigindo respeito e dignidade humana, liderados por Pedro Bala. O falar dos capitães da areia que, mais tarde, ressoaria na Candelária e em outras partes do Brasil. O falar das prostitutas, vítimas da sociedade preconceituosa, em que a mulher ainda é explorada. O falar dos saveiros, tangidos pelas águas da Baía de Todos os Santos, despedindo-se das mulheres no cais. O falar de muitas Gabrielas, Terezas e Tietas que, com guerra, conquistaram os seus espaços no contexto social. O falar autoritário dos coronéis em Ilhéus. O falar sangrento na disputa pelas terras do cacau. O falar do negro discriminado que aqui chegou e constituiu grande parte de nosso patrimônio cultural. Todos os falares da gente simples e humildes que, vivendo de forma trágica, sem esperança e numa sociedade opressora constituiu os personagens vivos e atuantes. É assim que se constitui a obra de Jorge Amado: Escritor do povo, muito bem mostra o que povo tem bom, inspirado pelo povo e escrevendo para o povo.
Autor dos mais respeitados na literatura brasileira, desde os anos trinta, Jorge Amado é sucesso de crítica e de público. Sua obra explora os mais diferentes aspectos da vida baiana: a posse violenta da terra, com as conseqüências sociais, como ocorreu na colonização da zona cacaueira do Sul da Bahia, está imortalizada em Cacau, São Jorge de Ilhéus, Gabriela, Cravo e Canela e Terras do Sem Fim. Os tipos folclóricos das ladeiras de Salvador estão presentes em Tenda dos Milagres, Capitães da Areia, Mar Morto. A literatura engajada, comprometida com a ideologia política do autor é presente em Os Subterrâneos da Liberdade, O Cavaleiro da Esperança. Os perfis de mulheres extraordinárias que comovem e seduzem estão em Tieta do Agreste, Dona Flor e seus Dois Maridos, Gabriela e muitas outras. Há um proposital descompromisso do Autor com o registro formal da chamada norma culta; para se entender melhor o comentário que se faz constantemente sobre seu "estilo". Jorge Amado já se autoproclamou "Um baiano romântico e sensual". É o que a crítica costuma rotular de contador de estórias. Não segue, intencionalmente, o rigor da técnica de construção literária e nem dá a mínima para as normas gramaticais e ortográficas. Incorpora à língua escrita, termos e expressões típicas da língua oral e de sua Bahia idolatrada. Seus textos saborosos transpiram a trópico, a calor, a vida. Suas histórias são tramadas sobre o povo simples e rude, numa língua que esse povo fala e entende. Centra-se na fixação dos tipos marginalizados para, por intermédio deles, analisar e criticar toda a sociedade amoral. A ação dá-se, basicamente, em Salvador e gira em torno da boêmia das cercanias do cais do porto.
Jorge Amado é isso: Vox Populi. A voz do povo retrazida da rua com suas sequelas sociais, seus enredos de amargurados entre boêmios, entre seus guetos e rituais, suas dívidas sociais impagas, uma rica cultura afro-tupi-luso. Ele retratou o povo que bem conheceu de cheiro e floração, olhar astuto. A miscigenação humana no letral, na carga de personagens que cheiram a povo, trazem as mazelas políticas e sócio-culturais na alma dessa humanagente. Não é a toa que muito bem ganhou o mundo, da Ásia à Rússia, levando a oralidade brasileira em literatura com feição de gente de qualquer lugar, carregando nossas características geográficas, de colonização de exploração, da escravatura, das casagrandes e senzalas, passando pelo carnaval, cantilenas de terreiros, mais a gente com a cara de todo ser, de marinheiros e trabalhadores explorados de ermos, uma visão comunitária do micro-espaço bahiano que ele levou ao mundo em obras modernas, populares, gigantes.
Amado pelo povo, leitores em potencial, disfarçadamente meio que “odiado” por parte da inteligentszia burguesa midiática de pseudos letrados e acadêmicos de ocasião, chulos críticos reacionários que não avaliam Jorge Amado num contexto lógico-sequencial histórico, mas num tendencioso prisma marxista que na verdade referendava sua obra como verdadeira, realista, social, contundente, pontuada de ironia, humor, musicalidade, mais tambores, cheiros, credos, o canto do povo, de seu tempo, de seu meio, de seu lugar, de sua aldeia, origem, terra-chã, terra-brasilis, brasileirinhos e brasileiríssimos.
A cara de Jorge Amado é a cara do Brasil. Nada mais do que um autor-identidade desses cafundós praieiros até os sertões gerais em um Brasil S/A que ele divulgou, difundiu, retratou, delatou, mostrou a cara deslavada de mestiços, quase brancos, quase pretos, terras sangrentas dessas nossa tantas áfricas utópicas que Caetano Veloso mais a frente cantou. O Haiti sempre foi aqui?. Jorge Amado é a cara do Brasil em suas páginas de rostos, de ritos, de paisagens e de personagens cheirando a chão. Um dos maiores escritores brasileiro de todos os tempos, o mais popular. No entanto, tem essa cara do Brasil. Trouxe o Brasil com essa cara para as lides do sul, do planeta terra da história litero-cultural do mundo moderno.
-0-
Silas Correa Leite - Santa Itararé das Artes/Augusta Sampa - E-mail: poesilas@terra.com.br – Blogue www.portas-lapsos.zip.net
Autor de Porta-Lapsos, Poemas, e Campo de Trigo Com Corvos, Contos

________________________________________
 
Uma vez na Manchete passou um seriado baseado no Livro Capitães de Areia, lembro que gostei muito. Gostaria de assistir outra vez. O livro vou ler em 2011.
 
Olha, eu nunca me interessei por ler Jorge Amado. Acho que a culpa é de um colega de escola. A gente teve que ler e debater o Cortiço, e eu meti pau no livro (não me pergunte com que fundamentos porque já não lembro), porque eu tinha detestado. Aí ele vira e diz: Ih, já vi que vc nunca vai gostar de Jorge Amado. Pronto, virou profecia.

Mas, pra meu espanto, me deparei com O País do Carnaval na minha mesa de cabeceira ontem, por culpa de uma revista que está vendendo livros de autores lusófonos por um eurito. Compro tudo sem nem saber o título, e eis o que me acontece. Agora vamos ler pra ver se meu colega era profeta ou blasfemo. =P
 
[align=justify]O Jorge Amado tem certos problemas, mas a fluidez da narrativa dele é fantástica. Ele pode parecer meio rasteiro pela simplicidade do relato, sem grandes inovações, mas o conteúdo de seus livros, embora com elementos recorrentes em várias obras, deixa a leitura agradável e seus livros com valor. Pela temática e pelo tom realista, Jorge Amado talvez possa ser comparado a Steinbeck, guardadas as devidas proporções.[/align]
 
Vou anhar uma coleção inteira de Jorge Amado, e tenho planos séríssimos de ler seu livros, só não consegui tempo ainda. O primeiro será Capitães de Areia, pois morro de curiosidade.
 
eu nao conhecia os livros de Jorge Amado, até que surgiu um trabalho da escola pra fazer sobre ele e agora estou gostando bastante de sua obra...
 
Rachel disse:
Vou anhar uma coleção inteira de Jorge Amado, e tenho planos séríssimos de ler seu livros, só não consegui tempo ainda. O primeiro será Capitães de Areia, pois morro de curiosidade.

Ótimo livro =]
Jorge Amado mandou muito bem retratando a vida da gurizada que vive a margem da sociedade, não expondo que as crianças são uns anjos, mas tb elas não são más.Conseguiu manter o meio termo.
Apesar de ser um grupo, Jorge mostra as múltiplas personalidades e como cada um vai criando a sua identidade.
Quero reler quando der tempo, deu saudades ^^
 
Olha, eu finalmente li O País do Carnaval e... humpf, achei meio assim, sei lá. Não me disse muita coisa. Considerando que era livro de estreia de um autor de 18 anos, a gnt releva, mas não me animei muito a procurar outras coisas dele, não. Mas um dia eu vou dar uma chance pro Capitães da Areia, mas só um dia. Desanimei mesmo. =/
 
[align=justify]O País do Carnaval é o próximo dele que quero ler. Li Cacau e Suor, também os primeiros, e bem, me pareceram bem mais panfletários do que propriamente literários. Contudo, intercedo aqui em favor do Jorge Amado, que, no prefácio de Cacau escreveu o seguinte (mais ou menos, não tenho o livro em mãos): tentei escrever o presente livro com mais honestidade que literatura (...) então penso que é uma forma de expressão válida, que não é profundamente literária no sentido poético, elaborado, romantizado etc., mas que foi construído baseando-se em tal perspectiva, o livro quer ser uma arma de ação, é pragmático por querer que suas páginas suscitem a fagulha revolucionária que Jorge Amado defendia em sua militância comunista.[/align]
 
Cheguei a fazer uma resenha de O País do Carnaval. Ele não chega a ser panfletário, mas tem um pé e meio lá. Eu acho válida a "honestidade" de Jorge Amado, mas, pessoalmente, me desagrada. Mesmo fagulhas revolucionárias podem ser bem tratadas literariamente, mas precisam de tempo e maturidade do autor pra isso (dizem que os russos eram mestres no assunto, mas não conheço praticamente nada deles). Talvez por serem seus primeiros livros, e por ele ter começado bem jovem e ser modernista, esse panfletarismo seja "perdoável", mas não é minha praia. Pode ser besteira minha, mas considero que um livro mais panfletário que "literário" é sinônimo de desleixo e/ou pressa, e não gosto de nenhum dos dois. =)

Mas o que me fez não desistir dele completamente foi a quantidade de prêmios que ele recebeu em vida. Um homem tão aclamado assim por gente de peso não pode ser ruim, provavelmente eu é que não tenho a boa disposição necessária pra querer entende-lo, rs. Aliás, há também a chance dele ser bom e mesmo assim eu não gostar. Acontece, né? hehe
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo