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Janete C.

Vail Martins

Usuário
Apesar de saber que era apenas um sonho, talvez ele fosse mais real do que o dia que tivera. Mais um sonho. O mesmo sonho. Já tivera muitos exatamente iguais a esse. Mas ainda assim não conseguia se distanciar das emoções daquele pesadelo.
Janete corria. Com as mãos estendidas abria caminho na escuridão, mal enxergando aonde ia. Cada passo que ela dava e que não acabava num beco sem saída, ou que não a levasse a cair num buraco ou ainda a dar de cara com um animal, era um alivio. Alivio que durava pouco por que ela continuava a correr na escuridão, e sempre tinha mais um passo para arriscar. Chovia muito e estava frio, muito frio.
Havia outras mulheres correndo pela floresta, desesperadas, ao lado dela. Todas vestiam capuzes escuros e compridos, uma túnica branca sobre ele.
Perguntava a si mesma:
_Era uma delas? Como ?!? Como vim parar aqui ?!?
Mas não havia tempo para pensar. Não havia tempo.
Se era um sonho o que aconteceria se ela parasse? Será que se parrasse, ela passaria de personagem para observadora, de onde veria tudo como num filme?
Mas o seu instinto de sobrevivência se debatia em sua mente., tomando todos os espaços possiveis.
O vento frio acoitava seu corpo e a chuva gélida era os espinhos do chicote. A ânsia por mais ar para continuar a correr, para continuar a viver, era enlouquecedora.
Ela estava realmente ali naquele momento, e isso era suficiente para saber que precisava correr. Algo aterrador as perseguia, não sabia o que era.
E o não saber lhe proporcionava mais medo ainda, mas sabia que era algo terrível. O que as perseguia conseguia ser pior que a morte. Muito pior. Sabia disso por que naquele momento, incrivelmente, ela não tinha medo algum de morrer. Nada, apenas uma estranha aceitação.
Os pulmões explodiam a procura de ar. Suas pernas doiam devido aos ferimentos e exaustão e seus pés eram apenas manchas escuras em sua extremidade... Seu corpo sujo e arranhado implorava por descanso.
As mulheres corriam, entravam mais na floresta, tinham como Janete o rosto retorcido de terror. As roupas esfarrapadas e a pele rasgada pelos espinhos deixavam pefumados rastros de sangue que os cães perseguiam com facilidade.
Enquanto corria, podia ouvir gritos dos perseguidores atrás delas, gritos de raiva e ódio. Xingavam-nas, amaldiçoavam-nas.
As vozes iam chegando mais perto, cada vez mais perto. Aos poucos as mulheres, que inicialmente umas seis ou sete, uma após outra, esgotadas, iam ficando para trás. Caiam e ali ficavam sem forças para levantar e continuar a fuga. A cada uma que caia, entregue ao destino, instantes depois de a perderem de vista nas sombras, um grito de dor e morte varia a floresta, como o vento gélido do inverno. A vontade de voltar e ajuda-las era imensurável. Mas não podia. Não podia. Restavam então poucas delas.
Havia uma mulher correndo ao seu lado, extremamente familiar. Janete sentia uma dor quase física quando viu seu rosto e não se lembrou quem era ou seu nome. Quem era? Quem poderia ser? ? ?
Sentiu pela mulher tanto medo da desgraça que se aproximava quanto por ela própria. Quem seria ela? ? ?
Caindo, rasgando suas roupas e pele nos arbustos. Furando seus pés nas pedras pontiagudas. Elas corriam sós agora.
Quando a mulher, que corria ao seu lado caiu exausta, Janete voltou-se e pegou-lhe pelo braços. Arrastou-a. A dor era imensa mas ainda assim o silêncio que faziam griatava mais alto do que qualquer lamento.
Janete levava a mulher, quase a arrastava. Forçando para que ela corresse. As forças da mulher, entretanto, haviam acabado.
A mulher caía e engasgava com sua própria saliva, no desespero pelo ar, mas empurrava Janete para que continuasse a correr sozinha. Não a chamava pelo seu nome, mas por outro, que não entendia. Não entendia nada do que ela dizia. Sabia, entretanto o que queria que fizesse.
Janete não queria deixá-la ali. A mulher se desesperou mais ainda quando ouviu os gritos dos perseguidores cada vez mais perto, os latidos dos cães mais próximos e implorou que Janete partisse.
Janete correu, olhou para trás mais uma vez. A mulher fez sinal para que se apressasse. Instantes depois, pôde ouvir os gritos de dor da mulher ecoando a noite.
Fechou os ouvidos, mas ainda conseguia ouvir os gritos de dor da amiga. “A morte é mais cruel quando não vem...”, esta frase percorreu seu mente enquanto, à distancia, ouvia sua amiga agonizar.
Era a ultima. O terreno pelo qual corria terminara abruptamente, um precipício. Era o fim do caminho. Podia ouvir o som da água furiosa abaixo dela, rugia um rio negro encorpado pela chuva. Virou-se para os lados mas de todos os lugares surgiam luzes amareladas de tochas em sua direção. Estava cercada. Se escondeu num arbusto alguns instantes mas sabia que aquilo não era suficiente para enganar os cães. Mas era tarde. Quando começou a sentir o calor das tochas sabia que não tinha escolha. Estava cercada.
Janete correu por entre os homens. Um deles ainda conseguiu ficar com uma grande mecha de seu cabelo por entre os dedos antes que ela, correndo em direção ao precipicio escuro, começar a queda num passo vacilante em direção às trevas.
Queda. Um breve periodo suspensa no ar. O impacto demora ais do que deveria.
Um vazio. O frio. O suor. Ar...ar.... O corpo molhado. As roupas encharcadas. Janete acordara no chão acarpetado. Na sua casa segura e confortável. Suada e perturbada, havia urinado na cama e soluçando chorava. Sua garganta coçava pelo grito que dera mas aparentemente ninguém ouviu.
Sabia que em algum lugar, havia preferido morrer.
 
Nossa cara, como é você me faz uma coisa dessas :dente:? Uma fuga eletrizante pela floresta gélida, aquela correria toda, já estava até achando que a tal Janete era uma criminosa, que tivesse fugido com suas outras amigas detentas, mas sabe porque? Porque eu li aquele começo ali, e não levei em conta que era um sonho, eu meio que esqueci, sabe. Aí quando chegou na parte que ela acorda, ai pensei: "Putz, mas era um sonho isso né?". O caso é que você caprichou tanto na adrenalina, que eu acabei até esquecendo que aquilo não era real. Meus parabéns pelo conto!
 
Olá, Fernando, tudo bem? Que bom que achou legal. Na verdade você está certo. Esta estória fazia parte de um _veja só a pretensão_ projeto de romance que eu estava escrevendo, uma coisa bem esotérica, sabe... Talvez daí venha a sensação que você teve de que tinha algo mais, você é perspicaz.
 
Vail disse:
Olá, Fernando, tudo bem? Que bom que achou legal. Na verdade você está certo. Esta estória fazia parte de um _veja só a pretensão_ projeto de romance que eu estava escrevendo, uma coisa bem esotérica, sabe... Talvez daí venha a sensação que você teve de que tinha algo mais, você é perspicaz.
Tudo sim! Mas olha só, fazia parte de um projeto então? Conte-me mais sobre ele, fiquei curioso agora :g:.
 
Escrevi umas cinquenta páginas, mas algumas delas não decidi juntar "oficialmente " ao restante.
Bom... era meio assim... Um casal voltava para casa de um fim de semana acompanhando o funeral do pai da mulher. No caminho sofrem um acidente terrivel de carro. Provocado por uma menina que afirma ser a morte em pessoa:blah:. De uma estranha maneira, quando voltou a si o homem tá sozinho e vez por outra encontra essa menina tentando convence-lo do que é e lhe pedindo que fizesse algo para ela, e o mais estranho, ele está uma semana atrás no tempo, antes de irem ao velório do sogro.
É meio complicado, minhas histórias são um monte de coisas misturadas, terror, esoterismo, comédia, thrillers como esse que eu postei... Ás vezes é dificil encaixar tudo.
 

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