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Jair Bolsonaro e a Síndrome de Boromir na política

Já faz alguns dias, vi a frase mais famosa do Faramir em “O Senhor dos Anéis” (a clássica sobre “não amar a espada luzente por sua agudeza, nem o guerreiro por sua glória”, mas “amar apenas o que eles defendem”) usada num meme do Bolsonaro. Achei curioso, porque, dos dois filhos de Denethor, é difícil associar o Capitão ao mais novo. Do meu ponto de vista, pensando em termos tolkienianos, o problema do candidato (um deles, ao menos) é sofrer de Síndrome de Boromir.

Reparem: Boromir não é um vilão. Pode até ser considerado um herói trágico, segundo a tradição clássica. (Não sei se Bolsonaro tem as virtudes de Boromir. Se, como diz o Senhor, a boca fala do que o coração está cheio, parece que não, mas não sou Deus pra julgar o que está no coração do cara.) O problema do Boromir está muito claro no texto de “O Senhor dos Anéis”, no entanto:

“A coragem precisa de força e, depois, de uma arma. Que o Anel seja vossa arma, se tem tal poder como dizeis. Tomai-o e avançai para a vitória!”

Ou, na conversa fatídica com o Frodo:

“É loucura não usá-lo, não usar o poder do Inimigo contra ele. Os indômitos, os impiedosos, apenas esses alcançarão a vitória. O que não poderia um guerreiro fazer nesta hora, um grande líder?”

E então ele começa um monólogo sobre “muralhas e armas, e a reunião de homens; e fez planos para grandes alianças e vitórias gloriosas que viriam; e derrotou Mordor, e se tornou ele próprio um grande rei, benevolente e sábio.”

A resposta do Elrond?

“Ai de nós, não. (...) O mero desejo do Anel corrompe o coração.”

Chamo a atenção de vocês para o ponto que me parece crucial: o desejo que move o Boromir é “mau”? NÃO! É perfeitamente legítimo (fora a parte em que ele, sem querer, usurpa o trono do Aragorn, mas deixa pra lá...). A questão são os MEIOS. A ideia de que é possível “derrotar o mal” na base da força superior, sem levar em conta as consequências do uso dessa força, é que “corrompe o coração”.

E outra força corruptora poderosa é justamente a crença de que, estando disposto a ir até as últimas consequências para impor o “bem”, você não corre o risco de se transformar naquilo que está combatendo. É justamente o contrário: é quando você está nessa posição que você corre o maior risco imaginável.

É essa crença “boromiriana” inabalável na própria bondade e justiça que vejo no Bolsonaro e numa parcela significativa de seus apoiadores. (Uma crença que, paradoxalmente, também está presente em muitos na esquerda.) O que eu sugeriria a eles (não me perguntaram, mas como alguns são meus amigos e outros são colegas fãs de Tolkien, digo assim mesmo): duvidem um pouco mais dos seus próprios motivos antes de agir. Se vocês acham que “sabem” o que fariam quando chegassem às Sammath Naur, é porque não se olharam direito no espelho.

O paradoxo da política é esse: com frequência, a fé excessiva na própria virtude é que produz os males. Sujeitos levemente venais, mas que têm crença menos ferrenha na capacidade de produzir o bem absoluto, às vezes causam menos estrago.

Um último ponto: acho difícil questionar o fato de que o centro de gravidade ético da obra de Tolkien é a compaixão. Poder sem compaixão é tirania. Independentemente de quem vença o atual certame, essa é a verdadeira prova dos nove.
 
"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha devolta."

Embora seja difícil pôr em prática, pelo menos racionalmente eu acredito na ética kantiana. Escolher "o menor entre os males" ou basear a ação na consequência que a gente acha que ela vai causar é receita para o desastre. Ninguém pode prever o futuro. Como, então, alguém pode se achar no direito de cometer uma injustiça sob a desculpa de que supõe que a consequência vai compensar?
 
"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha devolta."

Embora seja difícil pôr em prática, pelo menos racionalmente eu acredito na ética kantiana. Escolher "o menor entre os males" ou basear a ação na consequência que a gente acha que ela vai causar é receita para o desastre. Ninguém pode prever o futuro. Como, então, alguém pode se achar no direito de cometer uma injustiça sob a desculpa de que supõe que a consequência vai compensar?
Ezatamentchy :sacou: :sacou: :sacou::sacou::ruiva::ruiva:😍😍:fones::fones::fones:

Confira aí
 
https://www.polygon.com/lord-of-the...11-christian-evangelical-protest-harry-potter

Pq a Direita Evangélica Neopeopentecostal, mormente nos EUA, é tão enamorada do Senhor dos Anéis e tão crítica de Harry Potter. E pq a interpretação que eles dão ao livro não é, necessariamente, nem a mais correta e nem, tampouco, a que melhor encapsula as intenções do autor.

O texto aí em cima discute isso e talvez ajude a esclarecer o que é no corpus da literatura do Tolkien que parece tão atraente pra Extrema Direita ao passo que a Esquerda mais radical tende, pelo contrário, a menosprezá-lo.







 
Última edição:
O cara vai tentar ter esse tipo de conversa sobre Tolkien no Twitter...?”,

É isso que eu entendi?



Boa sorte pra ele.

Uma abordagem muito boa sobre o tema de Tolkien e doutrinas racialistas é essa aqui que a galera do Tolkienista traduziu...




O ironico é que o SdA foi um libelo anti status quo e anti-totalitário na antiga União Soviética.

 
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