Glorwendel
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Isso li no jornal O Globo de hoje. Tentem ler tudo, sim? É importante para o que eu quero discutir.
A frase que coloquei como título tá aí, não foi inventada por mim.
Agora, por que dão prêmios pra tudo que é polêmico? Os irmãos artistas que eram tidos como favoritos ao prêmio e que a matéria citou também não fizeram mais do que pixar as obras de Goya com rabiscos infantis. Fica difícil assim não concordar com os tais críticos que consideram os tais indicados "um amontoado de lixo conceitual".
Agora, antes que esse post fique grande demais, digam suas impressões sobre o texto. Depois escrevo mais do que penso.
O artigo com fotos pode ser encontrado aqui:
http://oglobo.globo.com/jornal/suplementos/segundocaderno/132110713.asp
O Globo disse:Cerâmica de choque
Fernando Duarte
Correspondente LONDRES
Espantada e com um sorriso nervoso no rosto, Claire subiu na noite de anteontem ao palco armado na galeria Tate para receber o Turner Prize, um dos mais importantes prêmios de arte moderna do mundo. O ar de surpresa também estava no rosto de muita gente que esperava um desfecho diferente para a escolha: apesar do figurino à Shirley Temple, Claire nada mais é do que o ‘alter ego’ do ceramista Grayson Perry. Se um transformista ganhando o Turner já era suficiente para uma sucessão de “ohhhs”, o que dizer do fato de que as obras dele/dela são vasos decorados com motivos pornográficos e mesmo com imagens de pedofilia?
Claire (ou Perry) surpreendeu de críticos de arte às casas de apostas da capital inglesa, que apontavam os irmãos Jake e Dinos Chapman como favoritíssimos ao cheque de 20 mil libras (R$ 100 mil) e a conseqüente subida de escalão nos mercados de arte britânico e europeu. Os irmãos concorriam especialmente por causa de uma sinistra “revisão” de “Os horrores da guerra”, de Goya. O pintor Willie Doherty e a escultora Anya Gallacio eram os outros indicados, saídos de uma lista de 150 artistas.
A vitória de Perry, de 43 anos, casado e pai de uma filha, Flo, foi considerada pelos especialistas uma das maiores zebras dos 20 anos de história do prêmio. Sua presença entre os finalistas já tinha provocado polêmica, num momento em que a pedofilia é um grande problema enfrentado pela sociedade britânica — o julgamento do assassino de duas meninas no sul do país, por exemplo, tem recebido extensa cobertura da mídia.
Mas o artista explica que obras como “Encontramos o corpo de seu filho 2000”, título do vaso em que a figura de uma mãe aflita está ao lado do corpo de seu bebê, com um homem afastando-se da suposta cena do crime, leva erroneamente as pessoas a pensar tratar-se de um pedófilo, quando “mais de 90% dos assassinatos de crianças são cometidos pelos pais”.
— O resultado põe em dúvida mesmo a reputação do Turner Prize. Chega a ser ultrajante analisar a decisão dos jurados. O fato de Perry ter todo esse circo armado em torno de si mesmo falou muito mais alto que a qualidade de sua arte — afirmou o crítico Godfrey Bunker.
No ano passado, o prêmio também tinha sido alvo de críticas da ministra das Artes, Kim Howells, para quem os trabalhos indicados nada mais eram do que “um amontoado de bobagens conceituais”. O crítico de arte do jornal “Guardian”, Adrian Searle, classificou o resultado como a vitória de “uma personalidade interessante que faz arte de má qualidade e sem originalidade no formato”.
Já Michael Glover, do “Independent”, preferiu saudar a escolha inédita de um ceramista como vencedor do Turner Prize:
— Há anos a cerâmica tem sido considerada uma forma inferior de arte. Ceramistas são olhados pelos colegas como meros artesãos. A decisão dos jurados foi importantíssima.
O trabalho de Perry faz sucesso entre os compradores. Seus vasos geralmente alcançam preços maiores que o valor do Turner Prize, sendo vendidos a cerca de R$ 125 mil cada, valor que agora certamente irá aumentar. Seu trunfo é pintar os vasos de maneira que os espectadores só percebam os temas mais fortes, incluindo o sadomasoquismo, quando chegam perto dos trabalhos. De longe, parecem vasos que qualquer madame mais tradicional teria em sua sala de estar.
“Estou acostumado a ser um guerrilheiro das artes”
Há 25 anos, quando começou a freqüentar aulas de cerâmica numa tentativa de ganhar um dinheiro extra, Perry não imaginou que a projeção de seus traumas de infância e a vida passada num apartamento invadido teriam tanto apelo. Apesar de ele mesmo não esperar arrebatar o prêmio, o ceramista não perdeu a pose em seu discurso.
— Já estava na hora de um travesti ceramista ganhar o Turner Prize. Acho que o mundo artístico terá mais dificuldades para aceitar meu ofício do que minha opção de figurino. Mas estou acostumado a ser uma espécie de guerrilheiro das artes — disse Perry, que também fez um comovente agradecimento à esposa, Phillipa (“Minha melhor patrocinadora, diretora e, principalmente, minha amante”).
Assim como seus vasos, o vestido púrpura usado por Perry na cerimônia de entrega do prêmio também trazia sátira e nonsense . A peça, que custou cerca de R$ 10 mil, era decorada com figuras de corações, coelhos e trazia por várias vezes a palavra sissy , um dos termos pejorativos usados em inglês para descrever homossexuais. O artista recebeu o prêmio das mãos de Sir Peter Blake, artista gráfico cujo principal trabalho foi a capa do revolucionário disco dos Beatles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, de 1967.
A frase que coloquei como título tá aí, não foi inventada por mim.
Agora, por que dão prêmios pra tudo que é polêmico? Os irmãos artistas que eram tidos como favoritos ao prêmio e que a matéria citou também não fizeram mais do que pixar as obras de Goya com rabiscos infantis. Fica difícil assim não concordar com os tais críticos que consideram os tais indicados "um amontoado de lixo conceitual".
Agora, antes que esse post fique grande demais, digam suas impressões sobre o texto. Depois escrevo mais do que penso.
O artigo com fotos pode ser encontrado aqui:
http://oglobo.globo.com/jornal/suplementos/segundocaderno/132110713.asp