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Já era hora de um travesti ganhar o Turner Prize

Glorwendel

Usuário
Isso li no jornal O Globo de hoje. Tentem ler tudo, sim? É importante para o que eu quero discutir. :mrgreen:

O Globo disse:
Cerâmica de choque
Fernando Duarte
Correspondente LONDRES

Espantada e com um sorriso nervoso no rosto, Claire subiu na noite de anteontem ao palco armado na galeria Tate para receber o Turner Prize, um dos mais importantes prêmios de arte moderna do mundo. O ar de surpresa também estava no rosto de muita gente que esperava um desfecho diferente para a escolha: apesar do figurino à Shirley Temple, Claire nada mais é do que o ‘alter ego’ do ceramista Grayson Perry. Se um transformista ganhando o Turner já era suficiente para uma sucessão de “ohhhs”, o que dizer do fato de que as obras dele/dela são vasos decorados com motivos pornográficos e mesmo com imagens de pedofilia?

Claire (ou Perry) surpreendeu de críticos de arte às casas de apostas da capital inglesa, que apontavam os irmãos Jake e Dinos Chapman como favoritíssimos ao cheque de 20 mil libras (R$ 100 mil) e a conseqüente subida de escalão nos mercados de arte britânico e europeu. Os irmãos concorriam especialmente por causa de uma sinistra “revisão” de “Os horrores da guerra”, de Goya. O pintor Willie Doherty e a escultora Anya Gallacio eram os outros indicados, saídos de uma lista de 150 artistas.

A vitória de Perry, de 43 anos, casado e pai de uma filha, Flo, foi considerada pelos especialistas uma das maiores zebras dos 20 anos de história do prêmio. Sua presença entre os finalistas já tinha provocado polêmica, num momento em que a pedofilia é um grande problema enfrentado pela sociedade britânica — o julgamento do assassino de duas meninas no sul do país, por exemplo, tem recebido extensa cobertura da mídia.

Mas o artista explica que obras como “Encontramos o corpo de seu filho 2000”, título do vaso em que a figura de uma mãe aflita está ao lado do corpo de seu bebê, com um homem afastando-se da suposta cena do crime, leva erroneamente as pessoas a pensar tratar-se de um pedófilo, quando “mais de 90% dos assassinatos de crianças são cometidos pelos pais”.

— O resultado põe em dúvida mesmo a reputação do Turner Prize. Chega a ser ultrajante analisar a decisão dos jurados. O fato de Perry ter todo esse circo armado em torno de si mesmo falou muito mais alto que a qualidade de sua arte — afirmou o crítico Godfrey Bunker.

No ano passado, o prêmio também tinha sido alvo de críticas da ministra das Artes, Kim Howells, para quem os trabalhos indicados nada mais eram do que “um amontoado de bobagens conceituais”. O crítico de arte do jornal “Guardian”, Adrian Searle, classificou o resultado como a vitória de “uma personalidade interessante que faz arte de má qualidade e sem originalidade no formato”.

Já Michael Glover, do “Independent”, preferiu saudar a escolha inédita de um ceramista como vencedor do Turner Prize:

— Há anos a cerâmica tem sido considerada uma forma inferior de arte. Ceramistas são olhados pelos colegas como meros artesãos. A decisão dos jurados foi importantíssima.

O trabalho de Perry faz sucesso entre os compradores. Seus vasos geralmente alcançam preços maiores que o valor do Turner Prize, sendo vendidos a cerca de R$ 125 mil cada, valor que agora certamente irá aumentar. Seu trunfo é pintar os vasos de maneira que os espectadores só percebam os temas mais fortes, incluindo o sadomasoquismo, quando chegam perto dos trabalhos. De longe, parecem vasos que qualquer madame mais tradicional teria em sua sala de estar.

“Estou acostumado a ser um guerrilheiro das artes”

Há 25 anos, quando começou a freqüentar aulas de cerâmica numa tentativa de ganhar um dinheiro extra, Perry não imaginou que a projeção de seus traumas de infância e a vida passada num apartamento invadido teriam tanto apelo. Apesar de ele mesmo não esperar arrebatar o prêmio, o ceramista não perdeu a pose em seu discurso.

— Já estava na hora de um travesti ceramista ganhar o Turner Prize. Acho que o mundo artístico terá mais dificuldades para aceitar meu ofício do que minha opção de figurino. Mas estou acostumado a ser uma espécie de guerrilheiro das artes — disse Perry, que também fez um comovente agradecimento à esposa, Phillipa (“Minha melhor patrocinadora, diretora e, principalmente, minha amante”).

Assim como seus vasos, o vestido púrpura usado por Perry na cerimônia de entrega do prêmio também trazia sátira e nonsense . A peça, que custou cerca de R$ 10 mil, era decorada com figuras de corações, coelhos e trazia por várias vezes a palavra sissy , um dos termos pejorativos usados em inglês para descrever homossexuais. O artista recebeu o prêmio das mãos de Sir Peter Blake, artista gráfico cujo principal trabalho foi a capa do revolucionário disco dos Beatles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, de 1967.

A frase que coloquei como título tá aí, não foi inventada por mim.

Agora, por que dão prêmios pra tudo que é polêmico? Os irmãos artistas que eram tidos como favoritos ao prêmio e que a matéria citou também não fizeram mais do que pixar as obras de Goya com rabiscos infantis. Fica difícil assim não concordar com os tais críticos que consideram os tais indicados "um amontoado de lixo conceitual".

Agora, antes que esse post fique grande demais, digam suas impressões sobre o texto. Depois escrevo mais do que penso. :mrgreen:

O artigo com fotos pode ser encontrado aqui:
http://oglobo.globo.com/jornal/suplementos/segundocaderno/132110713.asp
 
Isso foi na Tate Gallery? 8O The times they are a'changing, como disse Bob Dylan certa vez. Bom, o que dizer? O pós-moderno prima pela falta de significação do material "artístico" e da reapropriação de estilos e gostos de épocas distintas, numa releitura que em 90% dos casos é mais fruto de crise criativa do que talento e interpretação saída de reflexão madura. O conceitual se tornou uma válvula de escape pra artistas medíocres cuja "arte" não fala por si, precisa de acadêmicos e pseudo-intelectuais forjando justificativas pra existência da mesma. O artista rouba a cena, e não mais seu trabalho. Não pensamos mais na Monalisa de Da Vinci, na Capela de Michelangelo, no Guernica de Picasso, nas Meninas de Velasquez, ou nos ready-mades de Duchamp. A pop-art em Warholl talvez tenha vivido um último surto de movimento artístico autêntico antes do marasmo criativo (no âmbito mais coletivo, claro que há artistas individuais talentosíssimos, mas não constituem um movimento artístico coeso).

A aura que W. Benjamin via no material artístico vem sendo sistemáticamente substituida por uma fuga para a visão idealizada e fútil do "artista" conceitual, um agravamento do conceito de figura pública vitoriana só que sem a prerrogativa do artista como alguém que rompia tabus na época e produzia material de qualidade.

Vivemos numa era de imagens, não imagens arte, mas imagens de pessoas tão belas por fora quanto inócquas por dentro, imagem da mass media, imagens pastiche, imagens reproduzidas e sem semântica, imagens que substituem nossa própria carência e surgem como uma alternativa "matrix" para o nihilismo que se abate sobre a sociedade contemporânea como um todo.

Desde os anos 70, com as artes performáticas (coisas do nível do cara que multila o próprio corpo e mancha de sangue uma parede branca), estabeleceu-se uma visão equivocada do artista "show man", do performer, do pseudo-céfalo que manda um pedaço de papel higienico pra uma galeria achando que isso vai tornar ele um Duchamp.

Sobre a matéria, pode não parecer mas isso que eu falei falei o tempo todo pensando nela. Deram um prêmio para um travesti porque tinham que dar um prêmio para um travesti. Premiaram a H. Berry com um Oscar porque tinham que premiar uma artista negra. Deram um grammy pra Hillary Clinton e um diploma de profissional de educação física honoris causa pro Pelé, que nunca deve ter estudado anatomia.

A falta de material de qualidade deve fazer os caras pensarem: "Bom, então vamos premiar algum palhaço que chame atenção pelo menos, que aí a mídia vem, faz cobertura e nos projeta aos olhos do público, reforça a nossa imagem (lembram do que eu falei sobre imagem alí encima?)". Ou pior, realmente passaram a acreditar piamente que esses trabalhos que requerem mais esforço pra justificá-los que pra executá-los são dignos de crédito e valor. Ou simplesmente não chama tanta atenção premiar um bom trabalho que tenha algo de canônico e pouco polêmico nele. Eu não saberia dizer, mas qualquer alternativa aí é torpe.

De qualquer forma acho tudo isso muito lamentável. Mais tarde eu vejo se posto mais alguma coisa pros infelizes lerem... ou não! :lol:
 

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