É um autor com as melhores indicações, creio que gostar depende bem da fase em que se está vivendo, o livro exige profundidade e em época de férias é um dos momentos que somos mais donos de nosso tempo.
... O primeiro romance de Singer,
Satã em Gorai, foi publicado em fascículos pela revista Globus, fundada pelo seu amigo e poeta Aaron Zeitlin em 1935. O romance conta a história de eventos ocorridos na pequena cidade de Gorái, próxima a Bilgoraj, depois da terrivel catástrofe de 1648, quando dois terços dos judeus poloneses foram mortos pela ação de cossacos. O último capítulo do livro é escrito num estilo que imita as crônicas medievais escritas em iídiche. [Wikipédia]
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Saiu na Imprensa da Livraria Cultura" que pode ajudar você a decidir se esta é a sua hora de ler os "47 Contos de Isaac Bashevis Singer"
Saiu na Imprensa:
Jornal do Brasil / Data: 9/10/2004
Das raízes ídiches ao presente
Luciana Souto Maior
Singer: contos que parecem fábulas
A leitura deste livro [47 Contos de Isaac Bashevis Singer] é um convite ao mergulho na literatura de Issac Bashevis Singer e no imaginário de cultura ídiche. Mais do que isso, encontramos aqui temas universais, como o amor, o ódio, a morte, o demônio, a doença, Deus, o sofrimento e o orgulho. O que dizer do conto Os pequenos sapateiros? É a história da prosperidade, da opulência, do progresso. O personagem Abba, já ancião, vê um grande vazio em sua vida quando os filhos vão morar na América. Ele está na casa de um dos filhos, meio doente, e reconhece seu equipamento de sapateiro: a fôrma, o martelo, os pregos, a faca e o alicate, a lima e o furador, e até mesmo um sapato estragado. Olhando para aquilo tudo, ele quer voltar a trabalhar, quer ser útil, como nos velhos tempos, mas sua nora o repreende dizendo que ele vai se cortar. O desfecho consiste em uma lição de sabedoria, demonstrando o quanto uma pessoa de idade pode continuar ativa e fazer suas orações.
Os contos têm temática recorrente. Em O cavaleiro de Cracóvia, há novamente o contraste entre a simplicidade e a opulência. Os personagens ''só comiam carne no shabbat e conheciam poucos luxos''. No fim, o milagre se apresenta na reconstrução da cidade de Frampol. O narrador comenta que a compaixão dos judeus é conhecida e que todo um movimento de solidariedade foi feito para reconstruir a cidade, que tinha sido tomada por demônios.
Singer lembra os imaginários dos contos de fada e de diversas lendas européias. Percebemos, num dado momento, que o cavaleiro de Cracóvia é o demônio com um chifre na testa, horrenda criatura coberta de escamas. E que Hodde, a filha de Lipa, o catador de trapos, era, na verdade, Lilith, o lado obscuro da Lua.
Às vezes, a morte aparece com significado mítico de solução, de decisão dos céus, irrevogável, desestruturando o destino dos personagens. Em Breve sexta-feira, os personagens Schmul-Leibele e Shoshe, marido e mulher, vão para o shabbat na sinagoga e se dão conta de que não voltarão para casa, de que já estão no túmulo.
O conto O escritor de cartas é singular, original. Passa-se depois da Segunda Guerra Mundial, e Singer faz a observação de que o judaísmo, que havia ficado em segundo plano na América, ressurgiu com o hitlerismo e a guerra. O escritor mencionado no título é Herman ou Hayim David, que na verdade é um revisor de uma editora hebraica. Um tipo de trabalhador lento que demorava horas para procurar a palavra exata no dicionário.
Como se nota, a temática de Singer é bastante variada e há também um forte componente de humor. Estes 47 contos mostram a coexistência do novo com o velho. Há contos em que Singer recorda tudo o que diz respeito às suas raízes ídiches; há outros em que ele se situa apenas no presente. É como se fossem vários livros num só, vários contos que parecem continuações de outros, é uma tecitura de textos sem fim, rica e fértil.
Moacyr Scliar, no prefácio, aborda a questão da esquizofrenia do judeu:
''Constantemente perseguidos e ameaçados, os judeus muitas vezes tiveram que emigrar; constituíam assim um povo errante, sempre em movimento, entre dois ou vários países, entre dois ou vários mundos.''
O conflito que daí emerge pode resultar em benefícios inesperados e proliferar em uma turma de escritores criativos. Scliar refere-se especialmente ''ao grupo de literatura judaico-americana'' formado por Saul Bellow e Philip Roth.