Eu vi
Sonata de Outono (1978) agora pouco e adorei...
É essencialmente sobre o relacionamento de uma mãe pianista chamada Charlotte (Ingrid Bergman, já nos seus 60/70 anos, ainda maravilhosa) que, após 7 anos, é convidada para uma visita na casa das suas filhas, Eva (Liv Ullmann, espetacular no papel) e Helena. Eu gosto de como o Bergman cria uma narrativa lenta, mas com um foco forte no momento, relevância e intensidade de cada cena; nada passa despercebido e você é imediatamente envolvido. O filme é repleto de diálogos, as vezes se desenvolvendo em discussões pesadas, sobre o passado de Eva, quando criança, e Charlotte, no começo da sua experiência como mãe, e como a carreira da mãe como pianista atrapalhou e traumatizou a infância da filha, que permanecia isolada e deprimida.
O filme é
muito forte, qualquer um que possa se identificar com os protagonistas, que já teve raiva e ressentimento dos pais ou repulsão pelos filhos, vai sentir o poder devastador. O melhor de tudo é que Bergman não escolhe um lado, ele não culpa Charlotte por ser tão distante e egocêntrica e nem a Eva por ser tão imperdoável; as duas sofrerão. A cena de destaque é uma ainda na primeira metade no filme, em que a mãe meio que corrige a filha quando esta tenta tocar no piano um prelúdio de Chopin. Charlotte assume o controle do piano e toca com precisão, Bergman usa a sua famosa tomada de "duas faces" (inventada em "Persona") da filha olhando para a mãe, com (talvez) inveja ou raiva do talento/correção dela. A cena não tem diálogo, e a música que acompanha é espetacular; Bergman alcança perfeição cinematográfica.
8/10
O filme é uma obra-prima e fica um pouco acima de "Morangos Silvestres" como o meu segundo filme favorito do Ingy.