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Infinite Jest, David Foster Wallace

Gigio

Usuário
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Quando foi lançado, em 1996, Infinite Jest foi uma sensação tão grande quanto têm sido os livros do Bolaño por estes tempos. Eram pilhas e pilhas nas livrarias, e ninguém podia deixar de ter o seu volume. Mais do que isso, o livro se tornou quase que instantaneamente um cult, com leitores que afirmavam terem feitos duas, três passagens em seguida pelas suas mais de mil páginas. Como o livro parece ter bastante fama também aqui no Brasil (até já vieram me perguntar sobre ele no Skoob), acho que vale a pena abrir um tópico a respeito, mesmo que não exista tradução para o português. (Essa, a propósito, seria uma tarefa e tanto, que provavelmente seria tão comentada quanto as recentes de "Moby Dick" e "Anna Karenina"...)

Em um panorama geral, a história envolve dois núcleos principais: a Academia Enfield de Tênis, uma espécie de internato para jovens talentos do tênis; e a Casa de Reabilitação Ennet, um centro de recuperação modelo para viciados em todos os tipos de drogas. Em torno deles Wallace cria uma quantidade enorme de personagens, que vão sendo apresentados dentro de pequenos recortes de seus cotidianos, que tomados isoladamente já costumam funcionar como contos excelentes. Mas nessa apresentação fragmentária já começa a complexidade do livro. Sem uma lista das aparições de cada personagem pode demorar algumas centenas de páginas para realmente começar a fazer sentido quem é quem...

Uma das principais habilidades do Wallace, ele mesmo reconhecia, era a representação de diferentes tipos de pessoas. Ele tinha aquele talento dos escritores que são capazes de observar alguém e depois reproduzir, no papel, os seus maneirismos. Todos os seus personagens transmitem um grande senso de realidade, porque não se conformam a apenas um pequeno conjunto de características fechado, mas se enriquecem a cada vez que aparecem na história. Eles continuam crescendendo e crescendo, em um nível cada vez maior de detalhamento.

Não se deve pensar com isso, no entanto, que seja um livro estritamente realista. Muitas coisas fora do comum acontecem e até um aspecto de ficção científica não deixa de estar presente. A relação entre realidade e fantástico tem uma dimensão própria, em uma medida totalmente particular ao Wallace, ditada pelo fluxo da sua imaginação. Por exemplo, logo nas primeiras páginas ele apresenta em uma nota (ele adorava notas, elas ocupam mais de 100 páginas) uma relação completa da filmografia de um dos personagens, com as respectivas sinopses. Algumas delas parecem excessivamente bizarras, enquanto outras até poderiam ser algo do Tarantino... Mas todas acabam sendo incorporadas de alguma forma ao texto e de forma totalmente coerente com o restante da narrativa.

Uma outra coisa que não pode deixar de ser mencionada nesta lista mínima de características de "Infinite Jest" é o uso que Wallace faz da linguagem. Pode acreditar: como outros grandes escritores, ele tem um nicho próprio, uma forma única e inimitável de escrever. Isso envolve uma série de outras particularidades: uso de palavras raras (Wallace era obcecado pelo OED, tem até um comentário no "review" da Amazon), uso de termos coloquiais e gírias das ruas, neologismos, informalidade quanto a ambiguidades, etc.

Ah, mais uma coisa: humor. Todo o livro é permeado de momentos de ironia e situações hilárias...

O que faz um cult? Ao menos neste caso acho que algumas causas podem ser identificadas. Uma linguagem própria, exclusiva para os iniciados. Uma narrativa atual, que fala sobre as questões do nosso tempo. E acima de tudo ambição, ambição de ser um livro sobre muitas coisas, uma reunião de incontáveis referências e incontáveis reflexões, um livro que esteja à altura da própria vida.

[Editando: não lembro o que quis dizer com "momentos de ironia", mas para uma crítica mais adequada a respeito, vejam "Um tipo americano de tristeza", artigo de Caetano Galindo.]
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Há umas três ou quatro semanas, mandei um email para a Companhia das Letras perguntando se eles pretendiam traduzir este Infinite Jest ou, o que eu espero ler com ainda mais ânsia, o livro de contos Oblivion, mas eles nunca me responderam. Tenho o Infinite Jest em ebook, mas não me arrisquei a ir muito além na leitura, principlamente porque o meu inglês ainda é mais titubeante do que eu gostaria que fosse, e se é pra se ler DFW, que se leia podendo desfrutar da beleza da sua prosa.

Tenho o Breves entrevistas com homens hediondos, até agora o único livro dele lançado em português, isso lá nos idos de 2005. Espero que eles retomem o esforço de trazer o Foster Wallace pro Brasil.

Recomendo fortemente àqueles que não conhecem o autor a leitura do belíssimo "Para sempre em cima", um dos primeiros contos do Breves entrevistas, que está disponível na íntegra no site da Companhia.

Acho que o Foster Wallace é, atualmente, a minha grande paixão literária, e isso que eu não li ainda aquelas que são provavelmente as obras-primas do autor (o Infinite Jest e o Good Old Neon, um dos contos de Oblivion, que eu já li alguns trechos lindos).

A quem interessar, neste link, tem trechos de um belíssimo discurso que ele fez como paraninfo em uma formatura, que inquieta ainda mais ao se pensar que ele tenha acabado se suicidando.
 
Pois é, Rodrigo, fico pensando se existiria algum motivo para que o livro permancesse sem tradução para o português. Talvez por considerarem um livro muito difícil, que não teria muitas vendas? Mas se traduzem Thomas Pynchon... Talvez por ter muitas referências à cultura americana? Mas se traduzem tantos outros... Não sei, mas acho que o mercado editoral está crescendo no Brasil e ele não poderá ficar à margem durante muito mais tempo.

De certa forma estou seguindo o caminho contrário ao seu, começando com "Infinite Jest" e indo agora atrás de "Breves Entrevistas...". Ou então "Consider the Lobster", que também dizem ser muito bom.

Já conhecia esses discurso e realmente impressiona bastante pela honestidade. Além de ter adquirido esse lado inquietante, como você falou... A parte de que sempre me lembro, a que ficou mais gravada, é aquela em que ele nos lembra sobre nosso "egocentrismo natural e básico"...

Bem, se uma hora resolver encarar o IJ em inglês mesmo, e precisar de alguma luz no começo, estarei à disposição. :sim:
 
Tenho muita vontade de ler esse livro... Mas em inglês pra mim fica complicado. Meu nível terá que melhorar mais antes de encarar o Wallace. Ele parece ser um excelente escritor -- com um estilo de escrita que parece beirar o de Joyce ou um Guimarães Rosa.

(Putz... Esse OED tem 22000 páginas?! :calado: [censurado] Deve ter em seu interior todas as palavras da língua inglesa que já... Putz... [censurado novamente])
 
Não entendo a resistência em traduzir Infinite Jest, e o meu raciocínio foi o mesmo do Gigio: se traduzem Thomas Pynchon, Infinite Jest deveria estar a caminho. Alguém chegou a traduzir o começo do livro, se eu não me engano, e circulava um pdf com esse texto. Até consigo me virar na edição americana, mas é difícil e não flui legal.

Saiu em espanhol, né? La Broma Infinita. Em espanhol eu tenho o Girl With Curious Hair, o Oblivion e o Consider The Lobster. O Gigio citou ali a estrutura fragmentária de IJ. É mesmo. Mas Gigio, às vezes você não tinha a impressão de que um texto era independente do outro e o que ele fez foi construir pontes que fossem conectando esses pequenos contos? Talvez eu pense assim porque acabo de passar da página 300, ainda não pude ver a estrutura completa. Quanto à complexidade dos personagens: aqui eu, sei lá, eu tenho ressalvas. Acho que todos sofrem de neuroses muito parecidas. Então você enxerga a mão do autor e o texto ganha um ar mais ou menos confessional.

Outra coisa que eu não vi, ainda, em IJ e que é bem presente nos contos de Oblivion e Girl With Curious Hair(na minha leitura Extinción e La Ninã Del Pelo Raro) é a construção de situações absurdas dentro de um acontecimento banal. E essa é uma habilidade que todo mundo canta em DFW, é o lado fantástico dele. Isso fica meio morno em Infinite Jest.

Ainda sobre isso, sobre o lado fantástico. Procurei por entrevistas dele no Youtube e achei várias. Numa delas o entrevistador cita um ensaio do DFW sobre a obra do David Lynch. Esse ensaio eu não li, mas aí caiu a ficha: o que ele tem de fantástico, de surreal, de nonsense, de onírico, vem um pouco do cinema de David Lynch.

Ah, aproveito que essa é a minha primeira participação no forum para dar um alô para a turma: alô.
 
Eu li o Infinite Jest faz quase dez anos. Fico meio titubeante de falar muito bem de um livro que li há tanto tempo, e me esqueci completamente de partes enormes dele. Não sei teria energia para ler novamente, mas lembro de ser muito, muito, muito bom. Tem suas falhas, mas todos os grandes livros têm falhas. Afinal, no Moby Dick o Ishmael afirma categoricamente que baleia é peixe e não mamífero...

Quanto à comparação com Thomas Pynchon, não tenham dúvida de que as traduções deste autor deram prejuízo. Abençoada seja a Companhia das Letras por financiá-las mesmo assim. Quanto ao DFW, vejo uma série de problemas para traduzi-lo. Ele não é tão conhecido, ele é muito pessoal, me parece que ele é muito difícil de traduzir. O mercado dele é meio que uma fração do mercado diminuto do Pynchon, por definição: dentro do pequeno mercado de pessoas que aceitam 1) uma prosa desafiadora 2) a estética pós-moderna, ainda limita-se a pessoas que se interessem/importem pelo pequeno mundo brainiac do DFW, que tenham amplo contato com a cultura americana (e só ver filmes não basta), e que tenham uma "impedância" compatível com a dele. Porque, no fim das contas, o DFW definitivamente não está escrevendo para nós.

Se eu fosse botar algo dele no mercado (e não sei se isso é possível), eu botaria as reportagens dele. Acho que são mais acessíveis, mais engraçadas, se tiver sorte consegue-se até formar algum pequeno público que seja mais receptivo a lançamentos futuros. Pense em um volume com a reportagem sobre a feira de lagostas, sobre os talk-shows de rádio, sobre o passeio dele no cruzeiro... O problema do Breve Entrevistas é que ele já caiu muito rapidamente em um DFW muito virtuoso, de ficção. O cara é difícil mesmo, pertence a um contexto que não existe aqui, se é para ele ter algum público algum dia, esse público terá que ser formado.
 
Guilherme tocou num ponto muito verdadeiro, que é esse do universo do DFW ser um universo em que somos estrangeiros. Às vezes eu sinto que não deveria estar debruçado sobre o Infinite Jest - e que a problemática ali não me concerne de maneira nenhuma enquanto brasileiro, enquanto membro de uma outra sociedade, uma outra ideia de civilização. Faz todo o sentido. Por isso é bacana ler um texto do professor Caetano Waldrigues Galindo chamado "Um tipo americano de tristeza".

Agora, pelo mesmo processo em que DFW nos é estranho, dá para a gente seguir o raciocínio e dizer: não é esse o argumento determinante pra que ele não seja traduzido, oras, já que desses muito específicos, muito americanos, as nossas prateleiras estão cheias.

Uso o próprio Pynchon como exemplo, novamente. Ou também o Don DeLillo. Sério, quantos leitores de SUBMUNDO, um calhamaço que é (quase) do tamanho de Infinite Jest, há no Brasil? E lá está o texto, ainda bem, todinho em português.

Quer dizer...o Guilherme tem toda a razão, mas ainda assim a coisa segue aberta. É discutível a relevância tanto de Pynchon e DeLillo quanto de DFW para o público brasileiro. Mercado não há, mas os livros estão nas prateleiras. Tem um certo hype em DFW e eu tenho a impressão de que é bem crescente, nas grandes cidades, uma turma que vive mais de referências gringas do que das nacionais. Mas é claro que eu tô errado. Caso contrário o livro já estaria por aqui.

Pelo menos fica a discussão. Agora, DFW tem uma dimensão que é só humana e pronto acabou-se. Ele mesmo falava que a boa literatura traz em si essa capacidade de sentir empatia, de se colocar no lugar do outro. E isso tem em Infinite Jest, como tem também em diversos contos e nas reportagens/ensaios. Não seria bacana ter, em português, um volume de contos reunidos? O que nos concerne de Oblivion e Girl With Curious Hair, já que Breves Entrevistas saiu por aqui.

Aliás, esse tópico poderia ser sobre Breves Entrevistas. Ou sobre David Foster Wallace.
Vamos falar sobre os irmãos Incanden[/align]za?
 
(Nossa, nem vi que tinha rolado uma discussão alto nível no tópico! :susto: Desculpe aí, pessoal, pelo atraso... :vergonha: )

Quanto à tradução, todos os obstáculos apontados são certamente relevantes, mas acho que a comparação com o Pynchon pode dar ainda uma outra pista na solução deste dilema. Pelo que consultei no Skoob (nada muito confíavel, então me corrijam se estiver enganado), o primeiro livro dele a aparecer por aqui foi "O Leilão do Lote 49", em 1993, ou seja, 27 anos depois da publicação americana. Isso porque é um livro fininho. O "Arco-íris da Gravidade" só chegou aqui em 1998. Então talvez o mínimo que uma editora nacional exija para o investimento de traduzir esse calhamaço que certamente não será um best-seller seja uma reputação estabelecida. IJ só tem 14, quem sabe com mais uns 13...

Um ponto especial que vocês levantaram é esse fato de IJ não parecer uma história feitas para nós. Em vários pontos da leitura eu realmente me senti como se estivesse observando algo que não fosse dirigido a mim, como se o Wallace nem sequer se questionasse sobre a possibilidade do livro ser lido fora dos EUA (e do Canadá). E não só esse tipo de restrição pode ser sugerida pelo texto. Comecei a ler IJ por influência de um movimento organizado em 2009 chamado Infinite Summer, pelo qual pude acompanhar os protestos de muitas pessoas contra supostos traços de preconceito contra imigrantes, contra mulheres, negros... Não sei, talvez o DFW fosse mesmo alguém que não se importa em expor seus preconceitos, mas, na minha opinião, isso não diminui de qualquer forma a qualidade da obra. E mesmo que as referências à cultura dos EUA fossem julgadas herméticas a nós, acredito que seria algo contornável por algumas notas de rodapé.

joameme disse:
Talvez eu pense assim porque acabo de passar da página 300, ainda não pude ver a estrutura completa. Quanto à complexidade dos personagens: aqui eu, sei lá, eu tenho ressalvas. Acho que todos sofrem de neuroses muito parecidas. Então você enxerga a mão do autor e o texto ganha um ar mais ou menos confessional.

Acho que eu só consegui começar a perceber a estrutura geral lá pela página 500... :lol:

A parte das construções absurdas acho que você já deve ter encontrado também no livro, por exemplo, a cena do "Eschaton"... Já quanto à parte psicológica dos personagens, não sei, talvez você tenha razão mesmo. Certos personagens, como o Orin, acabam não recebendo uma caracterização tão convincente... Mas falei em complexidade mais no sentido de que, ao longo de todo o livro, vamos descobrindo algo mais acerca dos personagens, ao menos dos mais centrais. Pode acreditar que até o fim você ainda vai ter um Hal Incandenza em construção...

Ah, e foi uma ótima indicação o texto do Caetano Galindo. É uma tese interessante, essa do ressurgimento de uma literatura "triste"... Bem, mas melhor de tudo foram as longas citações que ele faz de um certo ensaio do DFW, "E unibus pluram". Tenho que ler isso, e logo! :eba:
 
Por falar no Caetano Galindo, já ouvi dizerem que ele estaria traduzindo o Infinite Jest. A Companhia já anunciou a publicação de Ulisses em tradução dele para 2012; ele traduziu o último do Pynchon; ao que parece, ele tem uma relação muito boa com o André Conti, editor da Companhia, que também é fã do Foster Wallace (este site é assinado pelos dois e mais o Galera e o Pellizzari); Deve sair uma antologia de textos do Foster Wallace pela Companhia este ano (tradução do Galera e do Pellizzari). Acho que ainda nesta década Infinite Jest chega ao Brasil.

Sobre o E unibus pluram, tem o texto integral aqui, e no Todoprosa saiu uma tradução de um dos trechos do ensaio.

Encomendei o Oblivion (deve chegar fins de fevereiro), e consegui o ebook. Tô traduzindo o Good Old Neon (pra consumo próprio, só pra não me perder na leitura com o meu inglês que titubeia). Tô relendo o Breves Entrevistas e é absurdo o quanto os contos crescem com a releitura.
 
Muito boas as informações, Rodrigo, e obrigado pelo link. :g:

Outro dia assisti a uma leitura na Livraria Cultura, da qual participou o Galera, e no meio das perguntas que foram fazendo ao final, ele comentou sobre a admiração que tem pelo DFW (aliás, aquela mensagem no site tem bem o jeito dele de falar, me parece). Ele comentou também sobre William Gaddis, de como seria uma espécie de precursor do DFW. E o Gaddis também é citado no artigo do Caetano Galindo. Então estou indo atrás disso agora também, de ler "The Recognitions". Alguém conhece?
 
Eu não gostei muito do The Recognitions, apesar de ser fã do W. G. Talvez fosse questão de momento. Mas eu li o W.G. de trás para frente e estava esperando algo no estilo dos livros posteriores, e fiquei meio decepcionado. Culpa minha, com certeza, e não dele. O "T-Recs" é mesmo provavelmente o melhor lugar para começar.

Meus preferidos são a quase-"bilogia" JR e A Frolic of His Own.

E os dois ensaios-polêmica obrigatórios sobre o Gaddis:

Fire the Bastards!, Jack Green: http://www.nyx.net/~awestrop/ftb/ftb.htm
Mr. Difficult, Jonathan Franzen: http://adilegian.com/PDF/FranzenEssay.pdf
 
Sobre o William Gaddis, tem alguma coisa em português, né? É o Carpenter's Gothic, que aqui ficou Alguém Parado Lá fora.

Se alguém aqui for de Curitiba, a Biblioteca Pública tem esse livro.

Mas voltando ao DFW, ao Infinite Jest.

No começo da minha leitura, eu fui com um preconceito, meio com os dois pés armados. Comecei a achar que as situações que o livro propunha, as situações de ação me eram muito familiares. E aí entendi que eram familiares porque não diferiam muito do que a gente vê no cinema americano. Mesmo os temas. Por exemplo: a competitividade da sociedade americana, o efeito dessa competitividade nos diversos personagens. As disfunções psicológicas ligadas ao uso de drogas ou a uma tragédia familiar - no caso da família Incandenza. Enfim, tudo para mim soava requentado.

Até que eu vi duas declarações do DFW que clarearam as coisas para mim.
Primeiro que no E Unibus Pluram ele diz, e disse também em entrevistas, que a geração dele foi basicamente criada na frente da televisão.

Depois, quando ele fala do valor do entretenimento em literatura. E ele diz o seguinte (algo nessa linha): "Parte da minha vontade de me tornar um escritor vem da lembrança de tardes com chuva na companhia de um livro muito bom".

Eu vi uma conexão dessas afirmações com a construção da ação em Infinite Jest. Até a montagem do livro, a sucessão dos capítulos, sugere cortes bastante televisivos/cinematográficos.

Ele disse também que, quando sentou para escrever o Infinite Jest, sentou querendo escrever algo realmente triste.

E IJ é triste mesmo. Mas o estilo do DFW nesse livro mostra essa preocupação em entreter.
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João, mesmo que as situações pareçam familiares, acredito que o DFW faça a partir disso uma representação muito superior. Tome, por exemplo, a primeira cena em que aparece o Erdedy, logo nas primeiras páginas, e toda a paranoia dele com relação à maconha: é algo muito mais vívido que qualquer outro relato que eu conheça. Existem pessoas que de fato foram viciadas e não consegueriam relatar nem de longe algo assim. E não apenas pela verossimilhança, é também o estilo, a maneira como constroi as frases, escolhe as palavras, não saberia explicar ao certo, mas tudo isso é especial no DFW.

Sob a estrutura ter uma influência televisiva, não saberia dizer... Mais para frente aparecerão referências mais diretas, como algumas ao seriado Hawaii 5-0... Mas de certas coisas da estrutura, sobre as quais muito se especula, até hoje não tive uma ideia muito clara, por exemplo: o que é esse sinal redondo que aparece às vezes separando trechos diferentes? Por que o DFW gostava tanto de notas?

(E obrigado, João e Guilherme, pelas informações sobre o Gaddis. :g: O Guilherme então, já leu a obra inteira dele! :susto: )
 
Nossa, nunca vi o Caetano tão focado. Vamos ver se as traduções dele vão diminuir nos próximos meses. E gostei do broomsday. Isto é Foster.
 

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