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Notícias Inéditos de Fernando Pessoa sobre sebastianismo e Quinto Império publicados nesta 5ª

Haleth

Sweet dreams
Saiu no Público. Não deve ser a coisa mais interessante do mundo, mas um inédito de Fernando Pessoa sempre é digno de nota.

Inéditos de Fernando Pessoa sobre sebastianismo e Quinto Império são publicados quinta-feira
Quarenta e três textos inéditos de Fernando Pessoa sobre sebastianismo e o Quinto Império foram encontrados na sua famosa arca pelos investigadores Pedro Sepúlveda e Jorge Uribe e publicados com outros 58 já conhecidos sobre o mesmo tema.


O resultado estará a partir de quinta-feira nas livrarias portuguesas, numa edição da Ática, chancela da Babel, sob o título “Sebastianismo e Quinto Império”, mais um volume da Nova Série de Obras de Fernando Pessoa, coordenada pelo pessoano colombiano Jerónimo Pizarro.

“[Em D. Sebastião], Pessoa encontra uma figura para falar de Portugal de uma maneira que, ao mesmo tempo, o aproxime a uma tradição popular, que é o que lhe interessa, mas também faça um certo afastamento de outros autores”, disse à Lusa o investigador colombiano Jorge Uribe.

“Acho que um dos principais interesses de Pessoa pela figura de D. Sebastião tem que ver com uma maneira de fazer frente a Camões: D. Sebastião é uma personagem de ‘Os Lusíadas’, de Camões, todo o poema épico é dedicado a D. Sebastião, mas o D. Sebastião que está por vir depois de ‘Os Lusíadas’ é uma oportunidade para Pessoa se defrontar com aquele que era o seu precursor literário mais importante”, defendeu.

Segundo este pessoano, entre muitos outros aspectos, o mais importante é que a utilização da figura de D. Sebastião é, para Fernando Pessoa (1888-1935), “uma maneira de entrar na História de Portugal onde Camões a deixou”.

Esta obra – que abre logo com o horóscopo de D. Sebastião feito por Pessoa, não é -- sublinham os investigadores na introdução – um volume que o escritor tivesse deixado pronto para dar à estampa ou a que tivesse sequer dado alguma organização específica.

Trata-se, sim, de “uma compilação temática dos fólios do autor”, que implicou que percorressem “diversos géneros de obra escrita (manifestos, respostas a inquéritos, cartas, planos, ensaios), assim como distintos tons dessa mesma obra (o sociológico, o provocatório, o hermético, entre outros)”.

Também na introdução, Pedro Sepúlveda e Jorge Uribe explicam que “o critério fundamental de reunião dos materiais que se seguiu foi o de que o livro reuniria a prosa de Pessoa sobre a dimensão mítica da nacionalidade portuguesa, expressa em dois mitos fundamentais, o regresso de D. Sebastião e a concretização do Quinto Império”.

Sobre o Quinto Império, Jorge Uribe explicou à Lusa a aproximação de Pessoa a essa tradição profética: “O Quinto Império é uma tradição profética muito extensa, muito grande, que vem de uma leitura de um texto hebraico, do Livro de Daniel, que está no Antigo Testamento, mas que começa na tradição cristã desde muito cedo a tentar descobrir que Nação será esse Quinto Império definitivo”.

“Estamos a falar de alguns intérpretes de profecias ou dos pais da Igreja, mesmo – como, por exemplo, Tertuliano – que começaram a tentar fixar qual ia ser essa Nação definitiva”, sublinhou.

Trata-se – prosseguiu – de uma tradição profética “que está à procura da compreensão da revelação última, da Nação última, e isto faz com que Pessoa, procurando essa interpretação para Portugal, esteja a aproximar-se de uma tradição de quase mil anos – do lado cristão, porque do lado hebraico são mais”.

“São grandes tradições, de grandes livros, de grandes nomes, de grandes leituras, dos quais Pessoa era um constante seguidor. Realmente, o que nos interessou, neste livro, foi aproximarmo-nos de um Pessoa leitor, um Pessoa que está em constante contacto com centenas de livros e cuja escrita depois reflecte o que ele aprende nestes livros”.

A existência de tantos inéditos sobre este tema é explicada pelos dois pessoanos pela “dificuldade de leitura de uma boa parte dos documentos” e pela sua “dispersão pelo espólio”, que se encontra dividido entre a Biblioteca Nacional e a Casa Fernando Pessoa.

Inquirido pela Lusa sobre o que acrescentam estes inéditos ao já conhecido interesse de Pessoa por esta temática, Jorge Uribe respondeu: “Não é que exista um inédito que venha mostrar-nos uma coisa que ninguém pudesse imaginar que Pessoa tivesse escrito. Digamos que há uma espécie de sintonia, uma espécie de lógica naquilo que encontrámos de novo”.“Aquele que é, se calhar, o inédito mais curioso é o esboço de um ensaio sobre o Quinto Império que tem 21 folhas manuscritas por Fernando Pessoa – um número que nos surpreendeu muitíssimo –, em que Pessoa apresenta mais ou menos todas as questões gerais do que é isto do Quinto Império”, destacou.

“E essas 21 folhas inéditas chamam mais a atenção porque levantam a pergunta: como foi que uma coisa tão grande passou tanto tempo despercebida? Mas também é verdade que o espólio é um lugar complicado, e eu tenho a ideia de que se calhar outros editores, em tempos anteriores, não arriscaram a publicação porque não estavam certos de ser um texto de Fernando Pessoa em vez de, por exemplo, uma tradução de outro texto”, observou.

“Em termos gráficos, é evidentemente um texto de Pessoa, mas não se sabia se estava a tentar traduzir outra coisa. Agora, com as tecnologias da nossa geração, tentar verificar se um texto pertence ou não a um autor é mais simples”, concluiu.
 
Tendo em base que a arca pessoana tem mais de vinte e sete mil documentos... Quarenta e três é aperitivo. Mas muito interessante, sim, observar isto. O Quinto Império é a quintessência do "Mensagem" e da tônica épica do ortônimo... Além do fato do Pessoa se identificar com o mito sebastianista e do encoberto colocando sua própria pessoa em evidência, visto que ele acreditava ser o encoberto -- e fazer bem o que o artigo fala, “uma maneira de entrar na História de Portugal onde Camões a deixou”. Porque, de fato, Pessoa o fez: Pessoa inicia um novo ciclo poético em Portugal, sendo o poeta mais bem acabado desde Camões na história da literatura portuguesa...
 
"O Encoberto" ou "O Adormecido" é uma designação vinculada ao mito sebastianista, que diz que o rei Dom Sebastião um dia voltaria, numa manhã de nevoeiro ("Ó Portugal, hoje és nevoeiro..."), para salvar a Nação (uma reencarnação do D. Sebastião).

Existe um poema do "Mensagem" do pessoa que fala explicitamente acerca do Encoberto, de título homônimo, na terceira parte também homônima, primeira subdivisão, Símbolos:

O Encoberto disse:
Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.

Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa que é o Cristo.

Que símbolo final
Mostra o sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.

O livro inteiro discorre acerca deste mito, do sebastianista e do surgimento do Encoberto. As bases do mito estão nas trovas do Bandarra, sapateiro português com caráter de Nostradamus, e em alguns outros estudiosos, em especial o Padre Antônio Vieira (que funda o mito do Quinto Império* com bases sebastianistas). O Pessoa acreditava, tomando como base Bandarra, de que a data do surgimento do Encoberto coincidia com seu nome; mas aí nós teríamos que nos referir a uma gama de outros escritos pessoanos, como o que ele vincula o Quinto Império a um domínio cultural antes que bélico...

* Quinto Império seria o império da nova nação que dominaria o mundo, tendo os passados sido os Assírios, os Persas, os Gregos e os Romanos (e o Quinto o de Portugal), fundada crença esta pelo Antônio Vieira e posteriormente reformulada pelo Pessoa no que tange os antigos impérios: Grego, Romano, Cristianismo e Europa, onde o Quinto continuaria a ser o Português (notar que a crença do Pessoa de um domínio cultural começa já no terceiro império).
 

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