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Por que inútil, rç?
Tou colocando o que acho de falar de maneira ofensiva em relação à fé alheia, por que seria inútil?
Nem achei "niilismo" ofensivo.
Sinceramente concordo com o primeiro post da Clara. Repito o que falei em outro tópico: O que importa para os não-católicos se a Igreja perdoará ou não os católicos? Uma dica: Nada. Enfim, continuem.
Clara V disse:E esse negócio de vida espiritual, de acreditar (ou não) em Deus é uma coisa tão íntima, tão profunda que às vezes acho que a gente nem devia ficar discutindo, e muito menos ridicularizando alguém por crer, duvidar ou não crer em algo.
Há sim uma relação. A questão está tanto no que a graça é quanto no fato dela ser criada ou incriada. A graça não é apenas um livre ato de Deus como é o restabelecimento gradual da semelhança divina, da imagem de Deus no nous (intelecto espiritual, cerne da personalidade, coração) do homem. O mais atroz efeito da Queda é exatamente o obscurecimento 'natural' do nous, sua predisposição às afeiições terrenas e às paixões violentas, e o gradual esquecimento das coisas celestiais, de Deus, da imagem divina.
Portanto, é doutrina ortodoxa o pecado ancestral, que nada mais é que esse efeito de obscurecimento do nous e de perda imortalidade e estado edênico, concedidos ao homem por Deus. Não se trata da noção agostiniana de 'pecado original' que é sim, herética e uma deturpação da Tradição da Igreja, da doutrina da perda da imagem divina. Não existe pecado original, não há nenhum pecado nem no ato sexual, mesmo não-procriativo, nem uma 'culpa' herdada, há simplesmente os efeitos da Queda.
"Vede, Senhor, que nasci na iniquidade, e pecador já minha mãe me concebeu." (Salmo 50,7)
"Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores..." (Romanos 5,19)
Vejamos o 'criada'. Ignorante como era da distinção dos Padres capadócios (são Gregório Nazianzo, São Basílio Magno e São Gregório de Nissa), entre essência e energia divinas. Soubesse Agostinho da 'gratia increata', a doutrina veramente tradicional da Igreja, não teria formulado tão ousada e herética doutrina. A graça não é criada, é incriada, no sentido de que não 'provém' de Deus como qualquer criatura, como eu e você, o sol e as estrelas, ou mesmo os anjos, mas é tão divina como o Verbo, tão Deus como o Espírito Santo e tão ininteligível e excelsa quanto o é a infinitude do Pai. A graça é incriada porque não é simples ato, como Deus não é um Ato Puro, mas uma essência que complementando sua essência supra-essencial, é dotado de energias que são divinas, coeternas, são atos, ou melhor, forças que atuam nos homens e no mundo, constantemente, são a Luz incriada que brilhou diante dos Apóstolos lhes permitindo enxergar, com seu nous obscurecido, puderam contemplar o Cristo em sua glória. O que a glória de Deus senão a energia incriada? Como são incriadas as energias de São Dionísio Areopagita, seus prodoi, as processões ou emanações do poder atuante e divino de Deus que firma e estabelece os diversos graus das diversas hierarquias de existência, das mais materiais às mais celestiais. Para o Areopagita toda a criação só o é enquanto movida, vivificadas pelas processões particularizadas sem divisão do mesmo poder divino. O mesmo se dá com os logoi de São Máximo, o Confessor, os estruturantes de todo os cosmo, as razões transcendentais que estabelecem o ser de todas as coisas, sua constituição, sua fixidez e devir, sua constância e perendiade. Os logoi são a direta imagem do Logos no mundo criado. Tal tradição de distinção entre substância (ousia) e energeia é reafirmada por toda a Tradição dos padres, culiminando no grande Pilar da Ortodoxia, São Gregório Palamas, que nas suas 'Tríadas pela defesa dos santos hesicastas' afirma não apenas que os atos divinos em favor do homem, a graça, são energias incriadas como elas permeiam toda a criação e que o método hesicasta de oração nada mais é que uma escola da humildade e do sofrimento, no sentido de abrir o coração à iluminação e purificação pelas divinas. Doutrina ortodoxa ratificada pelo IX Concílio Ecumênico (século XIV), onde as teses de seu oponente, Barlaão, repletas de pura metafísica de tradição agostiniana foram condenadas.
Ele não ignorou Tradição alguma! Ele e seus escritos são parte dessa magnífica Tradição! E o fato de que ele não possa ter usado os escritos desses Santos Padres não faz dele menos certo, já que não só estes foram iluminados pelo Espírito Santo! Também tem os demais Padres e as Escrituras!No entanto, o que faz Agostinho dessa Tradição? Ignora, como ignorou os escritos dos Padres capadócios, e ignorou a distinção entre ousia e energeia, afirmando, ao contrário, sua união, a união de uma essência que, em Deus, se identifica com sua energias, ou seja, seu ato puro e simples de Ser. Eis aí fundadas a metafísica racionalista a que os ocidentais chamam de 'teologia', mas que não representa em NADA a Tradição dos Padres da Igreja, orientais e ocidentais.
Muito diferente das estéreis controvérsias entre justificação pela fé somente ou pela fé + obras. O entendimento da salvação é completamente outro, assim como o é o de sua teologia sacramental, onde os sacramentos e seus efeitos não são o de outorga de certo 'estado' de graça ou de condenação, mas de uma graça e condenação que só existem em função do estado da alma diante da Luz. Os sacramentos se tornam não documentos e licenças para pecar ou remissão de penas temporais (temporalidade sendo uma distinção puramente racional, portanto, limitada e jamais uma base reta para que se possa compreender o incompreensível, a saber, o processo pelo o homem se torna Deus.
Essa é a base das indulgências e de muitos fenômenos devocionais e espirituais análogos no Ocidente, um entendimento racionalista das estruturas de governo e do próprio entendimento e prática da teologia que deixa de ser um campo de prática das virtudes cristãs, da ascese purificadora e se torna exercício estéril e impio de formulação de doutrinas e metafísicas, de uma arrogância que pretende compreender a fé e Deus pela pura razão, e que reduz a salvação a uma aquisição de conhecimentos morais e metafísicos. E mata-se a ascese no mundo, abrindo o caminho às teorias racionalistas e iluministas do mundo moderno, pela rejeição da vida realmente mística ou sua relativização.
As indulgências são impensáveis na Ortodoxia, pelo simples fato de jamais concebermos a autoridade eclesiástica dos bispos e sacerdotes como vocês concebem, como dispensadores e ministros de sortilégios que atuam de forma mecânica e racional, mas como aquilo que nos legou a Tradição. A autoridade só existe em função do serviço e o serviço sacramental é visto como uma verdadeira terapia espiritual, um auxílio onde atua a própria Luz incriada, ao recriar o homem e purificá-los dos ataques dos demônios à imagem de Deus em si, lhe restabelecendo o Eden interior e expulsando a serpente de seu paraíso. Os bispos são doutores, e os padres são enfermeiros. Entender a hierarquia eclesiástica, conforme bem define o Pe. John Românides, é uma impiedade, impiedade em que os ocidentais não deixaram de incorrer desde os primeiros erros e sanhas supremacistas.
Já respondido acima.Eu sei que não, mas elas continuam atreladas a práticas de devoção e a uma lógica ferrenha de troca, compra e venda. A única diferença de agora apra a Idade média é que não se troca mais dinheiro, mas práticas espirituais que são quase materialmente 'trocadas' por indulgências. A fé mística é trocada por um bocado de escolasticismo devocional, tu rezas pelo Papa e ganhas tal graça criada, vinda do depósito das graças, como belas 'licenças' de que dispõe Roma. E uma perversão da eclesiologia.
Ah, sim, claro! É muito fácil falar da quarta Cruzada e toda a destruição que causaram esses cruzados etc, etc, etc... Mas se é assim, por que não falarmos um pouco do Massacre dos Latinos". O brutal assassinato dos habitantes latinos de Constantinopla quando Andrônico Commeno começou a reinar, e isso é história:Não são preconceitos. Quem nos ameaçou, chantageou, perseguiu, torturou e chacinou aos montes não foram ortodoxos mas, pelo menos antes do comunismo, foram nossas 'irmãos na fé'. A Cruzada Bandida de 1204, as insídias uniatas dos séculos finais do Império Bizantino, as perseguições aos ortodoxos em países ocidentais, o holocausto sérvio, enfim... a lista é longa. Existe muito rancor contra Roma ainda, mas melhor que rancor é não existe entusiasmo com ecumenismo e há muita sobriedade, felizmente, nos diálogos teológicos. A
"A chegada de Andrônico a Constantinopla foi precedida de uma terrível revolta de populares contra todos os ocidentais que residiam na capital. O massacre dos latinos fora selvagem e geral. Ninguém fora poupado. Até os doentes foram degolados em seu leitos e os próprios mortos desenterrados de suas sepulturas". (GIORDANI, 1992, p. 86).
O foco estava na vida eterna. Seja de felicidade ou danação. O homem medieval respirava espiritualidade em todos os momentos e tinha diante de si sempre o terror do inferno e a maravilha do Céu. Dizer que o inferno foi o único foco é muito errado!A doutrina romanista pode afirmá-lo mas não é assim que a consciência medieval e moderna nos transmitiu. E isso,caro, não muda o terror psicológico e a 'cultura do medo do inferno' que os pregadores romanistas popularizaram. O Ocidente nasceu às voltas com essa psicose.
Ao mistério da vida íntima do Deus-Trindade chamamos "Theologia" ao passo que "Economia" é as obras pelas quais Deus se revela anós, vocês parecem usar 'energia' para ambos. Particularmente eu acho 'energia' um termo muito amplo, os termos latinos descrevem melhor esses aspectos do Divino, isso é claro na minha opinião. E como assim nós, romanos, somos incapazes de compreender, e vocês são? Isso é prepotência! A linguagem oriental é tão falha como a nossa o é! Nenhuma linguagem, mentalidade ou mente humana é capaz de conceber o Deus Altíssimo!Isso só demonstra o grau de desconhecimento. Energias divinas não são a economia de vocês ou as 'obras' de Deus. As energias incriadas são de um 'grau' tão excelso que o entendimento romano da glória de Deus sequer pode conceber, até pela ignorância espiritual da 'função' dessas mesmas energias como cerne da recuperação divina no homem. As energias não são meras atividades exteriores, mas um verdadeiro movimento interior e íntimo, embora não-essencial, da divindade.
Idem.Relativize essas diferenças e você jamais compreenderá a Ortodoxia e sua tradição teológica, espiritual, monástica.
Não é não! A Orientale Lumen foi emitida em razão do centenário da Orientalium Dignitas de Leão XIII, anos antes do Concílio. Não vejo contradição alguma nas Igrejas Católicas Orientais, que chamaste com esse termo pejorativo, tudo o que vejo são verdadeiras Igrejas Orientais em comunhão com o Papa, fidelíssimas as suas tradições e costumes. Um magnífico exemplo da Catolicidade da Igreja! E eu chamo às Igrejas cismáticas de ortodoxas por pura convenção! Pois não são ortodoxas de forma alguma! A única Igreja ortodoxa é a Igreja Católica Apostólica Romana! Pois nela é que se conversou toda a Tradição de Cristo e dos Apóstolos em sua inteireza! As outras Igrejas também tem a Tradição, mas não em sua plenitude.Isso é verdade, Limpe, mas é recente. Data do II Concílio Vaticano. No entanto permanece o uniatismo. Não é uma contradição a simples exist~encia e ainda mais atividade dos uniatas? E permanece o abismo entre a teologia ocidental e a ortodoa. Veja que disse ortodoxa e não oriental, porque de ambas se nutre a Tradição ortodoxa. O que a Ortodoxia condena não é o Ocidente, mas o Ocidente pós-Agostinho e os erros por ele engendrados.
O que não impede que certos contatos, desde que sóbrios e racionais, livres de paixões e entusiasmos da parte do maligno, não venham a envenenar os diálogos.
Obrigado Paganus! Aproveito e pergunto se vós também possuis uma oração semelhante ao ofício, tendes?Ademais, cá estou feliz de saber que você cultiva a pia recitação do Ofício Divino da tradição ocidental, uma belíssima, canônica e litúrgica forma de devoção, minha preferida dentre todas e que eu mesmo cultivei quando era católico romano.
Não existe "papismo", mas o Papado, o ministério universal do Bispo de Roma, sucessor de Pedro, o Príncipe dos Apóstolos!Papismo.
Tem sim! Pois se a mentalidade ocidental é culpada pelos males que citaste, então a mentalidade oriental também é pelos males e heresias que no Oriente surgiram. Claro que não concordo com isso, já que heresias e males não são frutos de uma mentalidade, seja ela oriental, ocidental, meridional, setentrional, ou seja lá de onde for, são frutos do pecado, e onde há pecado, lá haverá heresias, cismas, males, etcO que não tem nada a ver com o assunto. Constantinopla não é mais impecável ou infalível que Roma nem é maior que qualquer diocese em algum canto obscuro da Grécia. Essas comparações não vão te servir muito onde sempre se teve ojeriza a qualquer forma de centralização de tipo papista.
I dont follow...Concordo plenamente. Concorda a escolástica?
Meu caro amigo, Paganus! Me sinto lisonjeado... Se não fosse pela distância gostaria de te conhecer em pessoa. Mas... como isso não é possível... me satisfaço com o fórum. É bom ter mais um cristão tradicional no fórum. E o mundo precisa de cristãos orientais fiéis as suas tradições como você o é! Não sei quando a você, mas eu nutro a esperança de poder ver ainda em vida o fim desse cisma lamentável que já se arrasta por quase mil anos! Quanto a sua forma de se expressar: sem problema!
Quero encerrar esse post dizendo que só venho a confirmar minha impressão de tê-lo visto como um católico fiel e inteligente, um dos poucos de que se poderia esperar a regeneração espiritual do Ocidente decaído. Tenho fé em você e respeito pelo cristianismo ocidental, ainda que a ele se oponha teologicamente. Só que, como disse, sou bem escroto na forma de me expressar, ás vezes, e isso pode passar uma imagem deturpada de mim mesmo. Sempre um prazer falar contigo!
Um presente de cortesia, de uma cismático :