Dar a si oportunidades para tal me soou meio... hã... promíscuo.
Entendo o ponto do Ristow... só é desconfortável e deixa uma pessoa homossexual infeliz, não necessariamente porque a pessoa acredite que é errado, mas porque muitas vezes as pessoas te julgam uma coisa só porque você é magrelo, nerd, tem zoio azul do Bombadil...
Esse "sofrimento" provém nào porque a pessoa faz algo errado, mas porque a angústia do que as outras pessoas vão fazer contigo é insuportável. Se Deus é uma figura boa, mesmo sendo pai severo, a gente não fica tão mal... o ruim é quando te apedrejam quando muitos não tem moral ou mesmo direito para fazer isso.
Uma coisa no entanto, Tasatir você deve se perguntar... você faz essa exortação porque seu Deus vai te castigar se não salvar o seu semelhante, ou você faz essa exortação no sentido de julgar teu próximo?
Não necessariamente os escritos antigos foram compelidos por gente que foi inspirado por Deus. Há até uma controversa a respeito de onde foram parar certos textos antigos, ao mesmo tempo que Paulo nos é suspeito hoje em dia. Não foi Deus quem eliminou tais textos, e com certeza, a supressão deixa muita gente curiosa que vai atrás. A curiosidade matou o gato...
Também tem outro problema: o Judaísmo dá base para o Cristianismo, e por seu lado, tem diversas ramificações. Estou supondo que tu tens em mãos a Bíblia já editada pela Igreja Católica... (mesmo protestante, luteranos).
Essa Bíblia é claramente anti-semita, e daí vem todo o alvoroço com o filme de Gibson. O ponto anti-semita da Bíblia levou a sociedade ocidental considerar os judeus como culpados pela morte do Salvador (se bem que SEM o sacríficio, não haveria salvação, e sem o carrasco não haveria o suplício, que tornaria Cristianismo tão popular)
Com base na Bíblia, temos o problema de idolatria na Igreja Católica. Mas mesmo sem os santos, temos o problema de idolatrar uma imagem (a cruz).
Engraçado que o primeiro símbolo cristão tenha sido o peixe, pois a cruz causava muita dor e sofrimento aos primeiros crentes.
A idolatria foi vetada por Jesus (evitarei usar o termo Salvador-Cristo pois isso refere-se apenas ao ramo Cristão) e de tal forma foi eficaz que por muito tempo não houve um símbolo, ou relíquia sagrada para idolatrar (mesmo sua própria cruz ou o falado Graal). Isso se devia a um motivo: para que o ser humano parásse de achar "vou até o templo, pago um sacrífio, vou fazer uma oferenda e acabaram-se meus problemas pois Deus vai dar um jeito".
Pois o sacrífico do melhor novilho tinha um papel em séculos anteriores a Jesus: o fruto de trabalho duro, o desprendimento do orgulho de seu rebanho em favor a um amor maior que seria dado ao Pai. Foi deturpado por matar bichinhos comprados no mercado na frente do templo.
Jesus roga por perdão, mas não é bobo não... ele fez um adendo à pecadora "vá e não peques mais"
(o que é ruim de hoje em dia do pessoal ir se confessar e refazer os mesmos erros, já que limpou a ficha)
Mesmo assim, ele foi humano (sim, eu sei que ele também é deus, já que até hoje ele está vivo
) e não podia prever que mesmo assim, haveria como perverter seus ensinamentos. E ter sempre gente que entende tudo errado o que ele quis dizer.
Nesse ponto, fiquei muito interessada pelo Budismo, que num determinado ponto me chamou a atenção por uma frase praticamente científica. Sobre não confiar nos ensinamentos e escritos cegamente.
Há outros pontos interessantes do Budismo, como o fato de não citar Deus (não diz que Deus existe, mas não diz que Deus não existe). Claramente a iluminação pode ser almejada por qualquer pessoa, mas ele não diz que no final do caminho o que encontraremos. Talvez seja Deus, talvez o paraíso, mas ele não disse.
Esses dois pontos fundamentais tornam essa religião quase impar: não é possível ter fundamentalismos, pois o próprio fundador impele as pessoas de procurar respostas e não de seguir cegamente os conselhos de outros.
Tanto foi assim, que ao contrário de Cristo que não teve suas palavras escritas por muito tempo, por conta de sua escolha de pessoas humildes como apóstolos (e com isso salvando sua palavra de ser pervertida - por algum tempo - como algo certo e verdadeiro... pois seus apóstolos tinham de falar às pessoas) Sidarta o Buda também viu o perigo de deixar algo escrito, e somente muito tempo depois foram postos no papel.
Pois o perigo do escrito é que se foi escrito é porque a pessoa pensou muito antes de escrever bobeira. Então o leitor vai achar e confiar que é a verdade.
Aí que mora o perigo do fundamentalismo. Cristo não preveu que haveria alguém que escreveria. Ele confiava mais na palavra, em falar, em estar presente olho no olho. Ele dava o livre arbítrio para a pessoa pensar... pois até então as pessoas também estavam presas a um sistema e não pensavam.
Ele as fez questionar o mundo em que viviam, e a ter esperanças. A não serem presas por leis escritas por homens. A lei de Deus é muito mais forte e garante a felicidade, e não é usando regra de 3 que dá para conseguir o Reino dos Ceus.
Podem até achar que o Budismo é concorrente, mas diz exatamente a mesma coisa. Sidarta teve de tudo, e não era feliz. Resolveu usar da austeridade e auto-flagelação para alcançar a iluminação, e viu que isso também não funcionava. Ele encontrou no entanto a Iluminação, o ponto onde o sofrimento não podia alcançá-lo em vida (pois em morte ninguém mais pode nos fazer sofrer
). Isso para um principe nascido em uma sociedade de castas, onde um marginal é filho de marginal e não poderia sair desse karma interminavel de miséria. (coisa que ainda ocorre na Índia).
Jesus ao ensinar usava de parábolas para ensinar. Pois sabia que fazer uma lei seria o mesmo que a gente faz para passar no vestibular: decoramos mas não aprendemos. E achamos que aquilo não deve ser contestado jamais. Mesmo que a contestação seja um simples "vou pensar um pouco no que ele quer dizer".
O ponto é que ambos fazem menção a um caminho. Na verdade, o ser humano é medroso por natureza em começar uma jornada. Ele gosta de ficar quietinho em sua casa, e jornadas tendiam a ser perigosas no passado. Ele prefere ficar acorrentado a grilhões do que sair e procurar sua vida, sua felicidade e sua salvação.
O ponto é que ficar citando palavras de homens mortos que dizem que Jesus disse alguma coisa, é o princípio. Prender-mo-nos apenas a essas palavras, seria o mesmo que ouvir uma pessoa e dando mais crédito nas palavras apenas porque tá no papel. O ponto principal de todas as teologias foi evitar essa cegueira compulsiva das tradições. Dar o dedivo valor e ouvidos, sim. Mas obedecer cegamente, não. E muito cuidado nas entrelinhas, pois são as nossas entrelinhas e não as do autor. E fazendo isso, cuidado para distribuir a nossa justiça e não a de Deus.
Agora deu sono e tenho de ir medir umas histereses.