@Lew Morias
Po, Amon, mas pegando as frases soltas assim, na conclusão do relatório, você não esperava que as coisas fizessem sentido, né? Assume-se que no corpo do relatório os caras justificaram o porque desses estudos não seres confiáveis. E, pelo que da entender, esses estudos não foram 'deliberadamente descartados': eles são apresentados no corpo do relatório em conjunto com as razoes por terem sido classificados como not reliable. Geralmente, grupos pequenos, falta de rigor metodológico, entre outras razoes.
Correto, como falei, não li o treco todo. Mas ali, na conclusão mesmo, já tem uma contradição de fluxo absurda. Como falei, todo caso reportado pelo conselho de homeopatia passou por uma avaliação criteriosa e imparcial quanto ao método adotado, isso por um grupo desvinculado do conselho de homeopatia. Se chegou ao HMRC, necessariamente foi aprovado por essa avaliação. Me faz pensar que, se o NHMRC descartou algum caso reportado, e coincidentemente foram todos que apresentaram eficácia, então provavelmente os descartes foram parciais e tendenciosos. Ou isso, ou o grupo independente que eles selecionaram para avaliar os casos não funcionou.
Eu dei uns page down e peguei um caso aleatório no documento, o 4.7.1
4.7 Infections and infestations
4.7.1 Amebiasis and giardiasis
The effectiveness of homeopathy for the treatment of amebiasis and giardiasis was assessed in one systematic review (Linde and Melchart, 1998; AMSTAR score 8/11) as summarised in Table 15. Linde and Melchart (1998) examined the efficacy of homeopathy in a number of chronic conditions and infectious diseases, and identified one Level II study that specifically examined homeopathy as a treatment for amebiasis and giardiasis (Solanki and Gandhi, 1995). Solanki and Gandhi (1995) investigated the number of patients that were cured using individualised homeopathic simillimum compared with a placebo group. The Level II study reported a better response in the homeopathy group (58%) compared to placebo (13%), and the systematic review authors calculated a rate ratio of 4.34 (95% CI 1.13, 16.7).
Linde and Melchart (1998) reported that the methodological quality of Solanki and Gandhi (1995) was “not assessable” and it was thought to have “major flaws”. It was suggested by the systematic review authors that insufficient reporting, particularly the absence of any description of how outcomes were defined/measured, may explain the “extremely positive results”. Overall, Linde and Melchart (1998) concluded that, across all clinical conditions, any evidence suggesting that homeopathy has an effect over placebo is “not convincing because of methodological shortcomings and inconsistencies”.
Ou seja, foi apresentado o estudo de Solanki e Gandhi (1995), que comprovava a eficácia. Em seguida, pegaram os estudos de Linde e Melchart (1998) que afirmavam a falta de método dos estudos de Solanki e Gandhi. Não se preocuparam em avaliar os critérios utilizados por Linde e Melchart, conforme citado no próprio documento:
however, the meta-analysis has not been discussed in detail in this summary.
Apenas assumiram um como verdadeiro, e outro como falso.
Dei mais uns page down, e parei no seguinte:
4.7.3 Human immunodeficiency virus (HIV)
The effectiveness of homeopathy for the treatment of patients with HIV was assessed in one systematic review (Mills et al, 2005; AMSTAR score 8/10) as summarised in Table 17. This systematic review aimed to assess the effectiveness of complementary therapies, including homeopathy, for HIV and HIV-related symptoms. Two poor-quality Level II studies were included in the review that used homeopathic regimens as the intervention. Rastogi (1999) examined the effect of an unspecified homeopathic treatment on CD4 cell count in HIV-positive patients. It was reported that “in the persistent generalised lymphadenopathy group, there is a significant difference in CD4 cell count before and after the treatment. There was no change in placebo group and asymptomatic HIV infection”. Mills et al (2005) noted that there were concerns about the conduct of this Level II study and that there were potential fatal flaws related to ethical concerns. Struwe (1993) investigated the effect of homeopathic dronabinol on the weight, body fat, and distress of HIV-positive patients. The study found a significant increase in body fat (p=0.04) and a significant decrease in symptom stress (p=0.04) in the treatment group compared with placebo. However, the systematic review noted that Stuwe (1993) was limited by a small study size with large dropouts in both groups; a total of seven patients (58% of participants) dropped out of the trial. Mills et al (2005) thus concluded that there is no good-quality evidence to support the use of homeopathy as a treatment for HIV.
Ou seja, descartaram esse resultado de eficácia pois o grupo estudado apresentou alta taxa de evasão, possivelmente distorcendo o resultado. Pode ser que as pessoas que interromperam o tratamento não apresentaram melhora de quadro e estavam preocupadas se iriam morrer? Pode, who knows....
E por aí vai................É sempre um atacando, outro rebatendo, típico de polêmica.
Eu n vou entrar nessa briga de defender ou atacar a homeopatia, pois eu não entendo lhufas disso (e, pelo teor dos posts, ninguém aqui entende). Só tô alertando que não entender nunca pode implicar completo descarte. Se eu te falo que, como leigo, não entendo a física quântica, e por isso não a considero válida, vc vai rir da minha cara, certo? No teu caso, vc teria propriedade para responder, uma vez que é o teu objeto de estudos. Mas, supondo que vc é leigo no tema, vc se apoiaria em um órgão de autoridade maior para dar a tua resposta, que supostamente avalia o assunto com um método bem definido.
No caso da física, é bem tranquilo se apoiar na comunidade científica, uma vez que temos os maiores estudiosos, ao longo da nossa história, reforçando os seus axiomas. Já no caso da homeopatia, este é um estudo bastante recente; não faz sentido buscar embasamento similar ao das outras ciências, que possuem muitos séculos de vantagem.
Porém, tenho um fato importante como base: se eu apresentar o método do abraço no boo, citado pela
@Ana Lovejoy , ao CFM, certamente eles irão desprezar a minha colocação. Agora, se na época do fim da ditadura, onde o governo era mais tecnocrata do que nunca, eu apresento um outro método ao CFM, e ele aprova, isso signfica alguma validade mínima neste método.
Se eu acho a decisão do CFM absurda, tenho que ter, no mínimo, uma opinião pautada sobre isso. Tenho que conhecer a homeopatia, certo? Aqui no tópico, a única coisa que temos é a afirmação categórica que a homeopatia serve balinhas de açúcar aos pacientes, uns quotes de talk shows do mundo afora, e uma pesquisa pra lá de duvidosa...
E a gente vai basear a competencia do CFM por causa de uma decisao que eles tomaram?
Sim. Se eles declaram como oficial um método ineficaz, eles são incompetentes. Ou seja, não estão aptos a cumprir a própria função, que é a de definir as diretrizes necessárias para o bom funcionamento da nossa saúde pública.
Por fim, okay, CFM é o órgão que define a validade e se pronunciou em 1980. Informação interessante, útil, mas que deixa de lado uma pergunta fundamental: quais foram as razoes, evidencias, estudos, whatever, que fizeram o CFM validar o uso da homeopatia no Brasil em 1980?
Eu é q pergunto. Vcs estão alegando que a decisão do CFM é duvidosa, mas ainda não mostraram o pq disso. No documento citado pelo Morfs, existem inúmeros estudos (invalidados pelo documento) indicando a eficácia da homeopatia. Talvez o NHMRC os tenha considerado inválidos, e o CFM os tenha considerado válidos (exemplo tosco, a maior parte dos estudos do documento são datados de 1990+).
O que com certeza não aconteceu foi o CFM aceitar a homeopatia ao acaso, sendo que aparentemente não existe qualquer razão política, social, ou externa à esfera da medicina para fazê-lo.
Mas você esta descartando uma possibilidade, Amon: enquanto o homeopata adota apenas o tratamento homeopático, a situação da doença pode evoluir complicando o tratamento usual. Existem doenças que o tempo é um fator determinante no tratamento. Essa é uma das minhas preocupações com relação a homeopatia: a pessoa acha que esta se tratando quando na verdade não esta. Se ele adotar ambos, ai esta tranquilo.
Relembrando que o homeopata homologado está APTO a identificar os casos que EXIGEM tratamento convencional. Se pegar o exemplo da diarréia. Tratamento homeopático enquanto a pessoa não apresentar evolução preocupante no quadro clínico soa tão coerente quanto prescrever determinada medicação enquanto a pessoa não apresentar evolução preocupante no quadro clínico. E é assim que a prescrição funciona, certo? Homeopática ou não.