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Hoje, 14 de março, é o Dia Nacional da Poesia (e também do vendedor de livros)

JLM

mata o branquelo detta walker
Que tal marcar esta data deixando um poema ou trecho que vc curte nos comentários? Pode ser seu ou não. Pode ser nacional ou não. Cê que sabe. Começo eu:

Para ser grande, sê inteiro:
nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
porque alta vive.

Ricardo Reis
 
Deixarei um exemplar e um fragmento de meus dois poetas prediletos da Literatura brasileira:

Ora que de meus sonhos alongada
Vive a que vida foi de um longo sonho,
Menos vivo que morto, assim me ponho
A cuidar que foi tudo o que foi nada.

Tenho por a mor glória a malograda;
O bem perdido, por o mais risonho;
E, sem curar de me curar, suponho
Ser a melhor ferida a mal curada.

Bendigo aquela, pois, que, por mofina,
Tanto valeu a est'alma desvalida,
Tanto bem fez por mal, e de tal sorte

Somente em ser cruel me foi benigna:
Que se foi morte o que me deu na vida,
Há de ser vida o que me der na morte.

Guilherme de Almeida (Camoniana)

XVII


Adeus qu'eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!



XVIII


Lerás porém algum dia
Meus versos d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; — e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, — de compaixão.

Gonçalves Dias, Ainda uma vez -- Adeus
 
Vou deixar esta, que, mais que um poema, é uma declaração de princípios. Saiu da caneta do grande mestre alagoano, Ledo Ivo.

Queimada

"Queime tudo o que puder : as cartas de amor, as contas telefônicas
o rol de roupas sujas, as escrituras e certidões, as inconfidências dos confrades ressentidos, a confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência e anuncia a arteriosclerose
os recortes antigos e as fotografias amareladas.

Não deixe aos herdeiros esfaimados nenhuma herança de papel.
Seja como os lobos :
more num covil e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados.
Viva e morra fechado como um caracol.

Diga sempre não à escória eletrônica.
Destrua os poemas inacabados,os rascunhos,as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.
Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.A verdade não pode ser dita".
 
Off price

Que a sorte me livre do mercado
... e que me deixe
continuar fazendo (sem o saber)
fora de esquema
meu poema
inesperado

e que eu possa
cada vez mais desaprender
de pensar o pensado
e assim poder
reinventar o certo pelo errado

GULLAR, Ferreira. Em alguma parte alguma. Lisboa: Babel, 2010.
 
É só um lembrete

Porque atrás do meu sorriso estão meus dentes, atrás das minhas palavras o ácido do meu estômago e no meu aperto de mão meu punho. Prazer em conhecer, eu posso odiar você.
 
2
Subida ao dorso da dança
(vai carregada ou a carrega?)
é impossível se dizer
se é a cavaleira ou a égua.

Ela tem na sua dança
toda a energia retesa
e todo nervo de quando
algum cavalo se encrespa.

Isto é: tanto a tensão
de quem vai montado em sela,
de quem monta um animal
e só a custo o debela,

como a tensão do animal
dominado sob a rédea,
que ressente ser mandado
e obedecendo protesta.

Então, como declarar
se ela é égua ou cavaleira:
há uma tal conformidade
entre o que é animal e é ela,

entre a parte que domina
e a parte que se rebela,
entre o que nela cavalga
e o que é cavalgado nela,

que o melhor será dizer
de ambas, cavaleira e égua,
que são de uma mesma coisa
e que um só nervo as enerva,

e que é impossível traçar
nenhuma linha fronteira
entre ela e a montaria:
ela é a égua e a cavaleira.

Ultimamente tenho lido alguns poemas de João Cabral de Melo Neto e tenho gostado bastante...
essa é a parte q mais gostei do poema ESTUDOS PARA UMA BAILADORA ANDALUZA, Quaderna em A educação pela pedra e outros poemas.
 
2013

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Nossa, é tanto poema pra colocar aqui que nem sei, hein.

cabelos que me caem
em cada um
mil anos de haikai

(Paulo Leminski)

Gosto desse poema pois ele expressa bem do que a poesia é feita: de sabedoria. É algo que, infelizmente, está faltando muito... Se bem que acho que sempre faltou. Sei lá.

Como esse dia costuma ser povoado de poemas metalinguísticos, acho que esse do Manuel Bandeira pode tratar dessa questão de forma interessante também:

O RIO (Manuel Bandeira)

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.

Creio que ele está na obra Opus 10... Não me lembro direito; sei que ele rende uma ótima análise se for comparado com outros como A realidade e a imagem ou O bicho (deste último tem uma boa análise feita pela Lígia Maria Bremer, A imagem da realidade - poesia "O Bicho" de Manuel Bandeira).

De todo modo, compará-lo com este soneto, incluso no Cinza das Horas (seu primeiro livro):

VOZ DE FORA (Manuel Bandeira)

Como da copa verde uma folha caída
Treme e deriva à flor do arroio fugidio,
Deixa-te assim também derivar pela vida,
Que é como um largo, ondeante e misterioso rio...

Até que te surpreenda a carne dolorida
Aquela sensação final de eterno frio,
Abre-te à luz do sol que à alegria convida,
E enche-te de canções, ó coração vazio!

A asa do vento esflora as camélias e as rosas.
Toda a paisagem canta. E das moitas cheirosas
O aroma dos mirtais sobe nos céus escampos.

Vai beber o pleno ar... E enquanto lá repousas,
Esquece as mágoas vãs na poesia dos campos
E deixa transfundir-te, alma, na alma das cousas...

Esse último verso é lindo demais, né não?
 
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Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus-ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.

Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.

Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.

Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.

E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.


Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.

Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.

Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.

(Campo de Flores - Drummond)
 

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